quarta-feira, 19 de maio de 2010

Os boys da República (1911)

«Senhores Deputados. A vossa comissão de petições examinou cuidadosa e escrupulosamente os documentos com que um grupo de indivíduos, alegando os serviços prestados como revolucionários para a implantação da República, instruiu as respectivas petições. São todas elas no sentido de serem colocados em cargos públicos onde possam ganhar a vida de uma forma modesta mas honrada, visto encontrarem-se todos em difíceis circunstâncias, e tão difíceis que chegam para alguns à extrema miséria.

Na selecção feita pela vossa comissão foram em numero de 48 os indivíduos que, não só pelos documentos apresentados como por informes particulares, provaram a sua interferência dedicada e patriótica nos movimentos revolucionários que levaram à implantação da República; e sendo a sim concorda a vossa comissão na justiça do pedido, é ela do parecer que os indivíduos mencionados na lista junta sejam pelos diversos Ministérios colocados em empregos públicos, conforme fossem sendo necessários, e segundo as suas aptidões e habilitações.

Segue a respectiva lista:

José Sales Sousa.
Albino Francisco Fernandes.
Adriano Alberto Pires.
Ernesto Cirilo de Carvalho.
Alfredo Lopes.
Artur Evaristo Ferreira Peixoto.
Armando Assis.
João Jeremias Profeta.
Manuel da Rocha Júnior.
Ezequiel de Morais.
Modesto Duarte Garcez.
José Maurício Guimarães.
José Salvador Correia.
António Joaquim.
José Vitorino.
Adriano Cardoso.
António Gregório de Sousa Mascarenhas.
António Augusto Baptista.
Carlos Henriques Garcia.
Alfredo José da Silva Banha.
António Delgado Louro.
António Faria.
Manuel Lourenoo Godinho.
António Manuel de Vilhena.
Eduardo Gomes da Silva Neves.
António Francisco.
Luís Dias.
António de Almeida.
José Seabra Ramos.
José da Costa.
Manuel Joaquim Paulo Freire.
João Vilhena de Lagos.
António Antunes.
Manuel Ferreira Migueis.
Armando da Silva Almada.
Álvaro Franco Ramos.
José Egídio Marques.
Francisco Cintra.
José Manuel de Deus.
Augusto Fernandes Vaz.
António de Alcobia.
Manuel Joaquim Fontão.
Joaquim Lopes de Abreu Castelo.
Alberto Carlos Cardoso e Sousa.
Davi Fonseca.
Augusto Duarte.
Eugénio Alves.

Lisboa, 17 de novembro de 1911. - José Afonso Pala (Presidente) = António Caetano Celorico Gil = João Luís Ricardo = Vítor Hugo de Azevedo Coutinho = José da Silva Ramos (relator).»

Diário da Câmara dos Deputados, ano de 1911.

15 comentários:

O Faroleiro disse...

Nuno Resende.

Perdoe-me a veleidade, até porque o blogue é monárquico mas assim em jeito de sátira, ao ler o seu comentário sobre as "recompensas" em espécie dadas por préstimos à causa, vem-me à memória aquela célebre frase do Almeida Garret "Foge cão que te fazem varão. Para onde se me fazem visconde !"

Nuno Castelo-Branco disse...

Bom, temos de pesquisar um pouco. nesta lista, talvez encontremos antepassados de gente hoje bem conhecida. Ora vejam lá bem como as coisas são "por acaso"...

João Afonso Machado disse...

Caro Nuno: Essa frase é do Visconde de Almeida Garrett, Fraquesas.
Mas mesmo quanto aos títulos nobiliárquicos há uma ligeira diferença: título pagava «taxa». Rendia ao Erário público; era fonte de receita.
A lista que o N. Rendeiro publicou não. Pelo contrário, parasitou o Estado. à moda (com o devido respeito) dos excedentes na Função Pública.

João Afonso Machado disse...

Caro Nuno:

O autor dessa frase (célebre) foi... o Visconde de Almeida Garrett. Fraquezas.
Há, em relação à lista do N. Resende e aos títulos banalizados nos últimos reinados uma diferença muito grande: o título pagava taxa. E, para ser renovado, voltava a pagar taxa. E a taxa pertencia ao erário público. Logo, o título nobiliárquico não empobrecia o Estado - era receita liquida.

Já os galardoados do rol supra constituiam despesa: o prémio deles sobrecarreva os encargos estatais sem contrapartidas que o justificassem. Era o «tacho», a despesa pública, o deficit. Tal como hoje, em que nos carregam nos impostos porque o Estado não tem outra modo de cobrir as despesas dispensáveis se houvesse coragem de dar uma volta no funcionalismo público.

O Faroleiro disse...

João Afonso.

Foi só para espicaçar.

Mas olhe que o rotativismo criava muitos desses tachos ;).

Um abraço

JSM disse...

Hoje, por estar bom tempo, gostava de acrescentar o seguinte: - é muito difícil criticar a república tomando como base os valores vigentes a partir de 1817, data da revolta (maçónica) do Porto. Apesar de vencidos (e condenados os seus cabecilhas), graças sobretudo á intervençâo inglesa, a verdade é que os afrancesados já dominavam o país em termos ideológicos. Portanto, a chamada monarquia constitucional, anti-clerical, anti-portuguesa, era de facto uma república serventuária da revolução francesa onde existia um rei, devidamente aprisionado no texto constitucional, e unicamente à espera de ser liquidado. Foi o que aconteceu. Aliás se consultarmos o ilustre maçon e historiador que foi A.H. Oliveira Marques, ele próprio afirma que a partir de 1817 e até aos nosssos dias a história de Portugal confunde-se com a história da maçonaria. E atente-se que Oliveira Marques morreu já depois do 25 de Abril. Isto para concluir que embora o rei, por ser rei, assegurasse o essencial da tradição e dos valores permanentes, a situação moral do país ía-se degradando. E foi-se degradando até aos nossos dias como se vê pela gravura junta. O salazarismo não contrariou esta tendência anti-clerical, anti-católica, e sempre, sempre contra a raiz. Apenas mascarou a situação através de um pacto com a maçonaria. Outra coisa não podemos concluir se quisermos perceber a mentalidade das nossas (pseudo) elites. Como bem comprovam os textos que aqui vêm sendo abundantemente reproduzidos. A única diferença é o plano inclinado, ou seja, estamos sempre pior.
Saudações monárquicas

O Faroleiro disse...

Caro JSM

De acordo com a tese de que o vintismo foi uma república encapuçada, sou no entanto da opinião de que a constituição vintista foi proclamada pela ausência de João VI no Brasil e pelo seu provável não regresso que se afigurava naquele tempo. A regência de Bersford também não ajudou, o que veio a dar origem ao Sinédrio no Porto, onde os republicanos tentaram "minar" por dentro o exército.

Estou plenamente convencido que se D João regressa para a assinatura do tratado de Sintra, o protagonismo seria dele e o próprio tratado teria condições bem mais honrosas para os Portugueses.

O Rei a meu ver foi indiferente a Portugal e com isso as ideias iluministas da França jacobina começaram a fazer sentido em algumas cabeças do reino.

João Afonso Machado disse...

Caro Nuno:
As ideia jacobinas vinham de trás.
Por isso aqui referi, no outro dia, as faraónicas comemorações do centenário da morte do Marquês de Pombal, promovidas pela Maçonaria.
E por isso o papel de Pina Manique: andar à caça de «afrancesados».
O Constitucionalismo era inevitável, por boas e más razões. As más são essas, as boas resultam de necessidade de modernização e de orientar o país num sentido que infelizmente não foi seguido, politicamente falando.
Há aí um ensaio sobre Luis de Magalhães (ministro de J. Franco) de Luis Loia, com prefácio de um colaborador deste blog: Mendo Castro Henriques. Magalhães faz a ponte entre o Tradicionalismo e o Constitucionalismo, defenindo a Carta como um foral colectivo. Talvez dê um bom post.

JSM disse...

Estou de acordo que a ausência do rei terá pesado nos acontecimentos, assim como a descolonização (separação) forçada do Brasil terá deixado as suas marcas, e que marcas! De descolonização já aprendemos (e vivemos) o suficiente, ou talvez não! Mas o tema político que mais me preocupa é a rejeição das nossas elites a tudo o que tem a ver com a tradição. Tradição no verdadeiro sentido do termo. São as causas deste divórcio que como disse me preocupam e que continuo a tentar compreender. Não há nesta busca nem bons nem maus (embora existam na realidade) o que há é a necessidade de compreender primeiro para dar uma resposta eficaz depois.
O que aventei sobre a influência da maçonaria é verdade mas não chega para explicar tudo. Também houve falhas do lado da tradição concerteza e houve por certo imponderáveis históricos (Você citou um deles)sem esquecer a força da envolvente externa e que muitas vezes determinou (e determina) o curso da história.
Fica para outra oportunidade, quando estiver outra vez bom tempo, uma questão pouco falada e que tem a ver com os custos políticos (para a causa monárquica e para o país) que resultaram do banimento do ramo miguelista. Fica para a próxima.
Saudações monárquicas

JSM disse...

Estava a responder ao 'Bicho' e entretanto interpôs-se o comentário de JAM, mas não tem qualquer importância. Tudo como dantes....

JSM disse...

Já instruído como o comentário de JAM, completo o meu raciocínio - o constitucionalismo era inevitável, de acordo, escusava era de ser anti-católico, escusava de ser afrancesado,ou seja, escusava de ser anti-português. As razões porque foi assim, expliquei-as eu em parte no meu primeiro comentário. Mas as razões porque continua a ser assim esse é que é o busilis da questão.
Abraço.

João Afonso Machado disse...

JSM: creio que sim que está tudo como antes, ou seja que vamos continuando - diversos intervenientes - uma conversa que já começou ontem, e à qual V. é muito bem vindo hoje.
Fora deste contexto, confesso que não percebo as suas reticências.
Esteja à vontade se achar que mereço qualquer outro esclarecimento, quando voltar a estar bom tempo.

O Faroleiro disse...

E como está bom tempo aproveito também para saudar o João Afonso pelo que acabou de dizer, Marquês de Pombal, fazem sentido as suas palavras...

O Marquês de Pombal pode bem ter sido a semente que anos mais tarde viria a desencadear o 5 de Outubro, com mil nuances pelo meio pois está claro...

Uma tese a estudar !

JSM disse...

Caro João Afonso Machado não tenho quaisquer reticências em relação ao que escreveu, pois concordo em absoluto, a questão é anterior. E estou sempre disponível para ler e comentar no centenário independentemente do bom ou mau tempo. Um aparte desnecessário, admito. E as reticências também se prestam a confusões, mas apenas queriam significar que nada mudou entre nós e continuaremos a lutar pelos nossos ideais ombro a ombro.
Saudações monárquicas
Saudações monárquicas

João Afonso Machado disse...

Caro JSM
Agradeç-lhe as suas palavras. É certíssimo . continuaremos a lutar pelos nossos mesmos ideias.
E esteja certo que muitos nos ouvem e vão percebendo como afinal foi, e é e será.
Saudações monárquicas.