
António Barreto é outro nome que manda a honestidade seja respeitado. Um socialista que fala por si e não quer saber a quem atinge, sempre fiel à verdade pura. Para mim, uma referência intocável. Li, por isso, o seu »Tempo de Mudança» (Relógio d' Água, 1996) com a deferência devida e sem prejuizo das minhas convicções, aliás, nunca posts em causa.
Quando o Autor se refere à - imprescindível - educação cívica, vou lá apanhar:
A partir de 1910 «só encontramos manuais de inspiração republicana, onde, a par do nacionalismo e do colonialismo, é a república o objecto do principal elogio cívico». Os «programas oficiais (...): educar os cidadãos no espírito republicano e defender o "regime vigente".
Sobrevém o "28 de Maio": «com o Estado Novo, a ideologia republicana é banida, apesar, apesar de ser formalmente o regime vigente, passando os eixos ideológicos a serem constituidos pelo nacionalismo, o colonialismo, o cristianismo e o corporativismo».
E depois conclui: «Em nenhum dos mutos manuais que consultei foi possivel encontrar uma visão serena da história de Portugal. Do princípio ao fim, todos os parágrafos traduzem o puro culto do patriotismo e do nacionalismo nas suas formas mais delirantes».
Manifestamente, A. Barreto fala da República. Melhor: da «ideologia republicana». O que nos transporta, fatalmente, para a luta dos sistemas politicos opcionais: a social-democracia, a democracia-cristâ, o socialismo, o marxismo-leninismo, o liberalismo...
Daí a conclusão: o republicanismo pôs-se ao nível de uma eleição restringida ao leque partidário. E a Monarquia, que todos sabemos viver - e conviver - acima - e com todas (quase todas) - essas opções ideológicas? Afinal, porque intentam continuar a mentir aos portugueses?
A escolha nacional é muito simples: um chefe do Estado eleito ou, se quisermos todo, uma chefia nacional hereditária.
Olhem os portugueses por essa Europa fora...
Caro amigo.
ResponderEliminarNão me parece que António Barreto (um dos bons políticos que tivemos, sem dúvida) ponha em causa o regime.
Se pensarmos em 1910, a monarquia já vinha de si muito desgastada, as novas ideias herdadas do iluminismo Francês começavam a colar mas o que é facto é que republicanos eram uma minoria neste tempo, haviam-nos em Lisboa e no Porto mas recorde-se que quando foram as eleições em que subiu ao poder João Franco, 1907 penso eu, com o seu partido regenerador liberal recém formado, a república, ou melhor o PRP, elegeu 3 deputados para a câmara.
Quando se dá o golpe, rapidamente se alterou a constituição de forma a banir por decreto a monarquia, a mentalidade do povo foi mudada com o recurso à carbonária e à formiga; daí esse "culto" à república, que não é mais que uma reacção de medo pelo que ainda dominava o pensamento da população.
Como V sabe, eu acredito que a monarquia não foi restaurada por culpa própria, muito em particular em 1919; os monárquicos podem queixar-se deles próprios em particular dos integralistas e dos legitimistas, Sidónio Pais seria a ponte natural entre os regimes, (aliás a ele sucedeu Canto e Castro) até porque o "sidonismo" tinha um apoio mais militar que político; as "juntas" é que conspiraram e precipitaram-se.
Esse "medo" pela restauração, originado pelas incursões monárquicas do "D Quixote" fez com que a república e todos os movimentos a ela associados, carbonária, maçonaria, etc. influenciassem toda a história demonizando o antigo regime; o António Barreto, segundo a minha leitura, apenas contacta um facto.
Eu concordo consigo quanto ao permitir aos Portugueses que se pronunciem mas para os monárquicos penso ser um tiro no pé. A monarquia assim como a história são umas grandes desconhecidas de um povo que passa 24 horas a ver a selecção desde a hora em que se levantam os jogadores da cama até ao minuto em que o avião descola; o que vocês têm feito de andar pelas escolas em debates é bonito e instrutivo, mas não é divulgado.
Para muitos Portugueses, a monarquia é uma coisa de revista cor de rosa, inútil e cara, basta ver os comentários de escárnio sobre a figura de D Duarte sobre a qual não conhecem nada, eu pelo menos pouco dele conheço...
Primeiro há que debater as coisas, informar a população, instruir a população que é o mais importante, depois de acordo, faça-se lá o referendo !
Instruir a população... João Afonso, não acha um pouco de lirismo da minha parte ?
Meu carissimo Amigo:
ResponderEliminarComeçando pelo fim, estou de acordo consigo - instruir a população é algo muito complicado e que ultrapassa a minha capacidade de vozear.
Não sou capaz.
Por outro lado, sei que Barreto é republicano convicto. Quem sou eu para o mudar?
Nem pretendo. V. não é desse tempo (eu sou) e lembro com respeito o seu percurso como ministro da Agricultura. Grande Homem! Para mim basta isso.
Do que eu falo é da procura de... grandes homens (ou mulheres).
De pessoas que saibam ler a História.
E façam juizos imparciais. E não aldrabem a História.
Será que na parte final do meu texto não ficou claro que Barreto, republicano, vale pela análise serena dos factos e que a opção de regime se resume a - (chefe de estado) eleição vs. hereditariedade?
Entre nós essa é a diferença: V. gosta de votar; eu gosto dos sinos a badalar.
Mas isso não mata ninguém. Clarificada a História, o «colectivo» que escolha.
Eu só me bato pela clarificação da história.
Um abraço, meu amigo.