Acontece que estes modernos tempos de igualitária república "democratizaram" uma casta de gente mesmo “importante”, que se reproduz como coelhos de aviário, com supostas e ocultas ligações ao poder. Há momentos testemunhei aqui na rua aquela cena clássica que já todos um dia testemunhámos, em que um palerma enfarpelado, junto ao seu carro topo de gama mal estacionado, intimida um jovem polícia com um “você sabe com quem está a falar?!”.
Presumo que esta vulgar fórmula bem portuguesa da intimidação, atravessando os tempos até aos nossos dias, tenha origem no advento dos celebres “cidadãos limpos”, do devorismo liberal, cuja cartola, casaca e polainas não chegavam para os distinguir na sua intrínseca incorruptibilidade e inopinado poderio social.
Pela minha parte, que iniciei a minha vida profissional na hotelaria, mundo em que experimentei quase todos os papéis quase sempre em contacto com público, confesso que ainda hoje me revolta visceralmente este “guião” de profunda arrogância com que se identifica um tuga endinheirado… quase sempre um pobre diabo, afinal. Se não perante a lei, certamente perante Deus.
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