Fundação Casa de Bragança tem um vasto património,
mas esconde as contas de 2010. Os monárquicos acham "muito estranho".
S.A.R. D. Duarte não comenta as voltas da Fundação
mas esconde as contas de 2010. Os monárquicos acham "muito estranho".
S.A.R. D. Duarte não comenta as voltas da Fundação
A Fundação da Casa de Bragança não permite o acesso às suas contas, alegando ser necessária autorização prévia da Presidência do Conselho de Ministros, O Governo estranha a atitude e remete para a instituição a prestação de contas sobre o seu vasto património imobiliário que inclui os bens pessoais do último rei de Portugal, D. Manuel II. Entre este pingue-pongue, o Expresso aguarda há duas semanas pelo acesso ao documento. "É inacreditável", diz. Augusto Ferreira do Amaral, monárquico e consultor jurídico de D. Duarte, o último duque de Bragança. "A Fundação, como entidade pública, devia ter a mesma obrigação de transparência exigida de qualquer outra pessoa colectiva", afirma ao Expresso. A verdade, porém, é que "não existe qualquer inventário de bens ou balanço publicado pela Fundação", prossegue Ferreira do Amara, que condena o facto de a gestão da instituição ser feita "em circuito fechado, sem qualquer transparência". Natália Correia Guedes, presidente da Junta da Fundação Casa de Bragança, disse ao Expresso que o "último Relatório e Contas da Fundação, referente ao exercício de 2010, foi aprovado em 31.3.2011", mas condicionou a divulgação do documento a prévia e "competente autorização da Presidência do Conselho de Ministreis", O Governo autorizou. Mesmo assim, a Fundação não cedeu ao Expresso o relatório e contas.
O clima de crispação entre a família Bragança e os administradores da Fundação ê indisfarçável. Por diversas vezes e nos últimos anos, garante Ferreira do Amaral “esteve para ser accionado um contencioso" contra os dirigentes da Fundação.
Os monárquicos apoiantes do duque de Bragança, D. Duarte, não escondem que "há matéria jurídica" para contestar a decisão de "confisco dos bens da família" em favor do Estado, decretada por Oliveira Salazar em 1933 e que deu origem à actual fundação. "D. Duarte esteve, várias vezes, para fazer sair esse contencioso", garantiu.
A tensão aumentou, nos últimos anos, quando foi abandonado o princípio - consagrado por Salazar — de que metade dos dirigentes da Fundação da Casa de Bragança fosse indicada pela família. "Essa cláusula desapareceu, nenhum membro da actual Junta da FCB tem qualquer ligação à família", diz Ferreira do Amaral. A verdade, porém, é que com a morte do último administrador, João Amaral Cabral, e a sua substituição por Marcelo Rebelo de Sousa, fica vago um lugar na direcção da Fundação da Casa de Bragança, composta por sete membros, nomeados de forma vitalícia. A necessidade de preencher o lugar, aliada à mudança da direcção para uma personalidade "inteligente e com sensibilidade" pode ajudar a "encontrar uma solução", diz o monárquico. Para já, afastou-se a possibilidade de processar a fundação e confia-se na capacidade de Marcelo Rebelo de Sousa para “estabelecer conversações com a família”.
Para Augusto Ferreira do Amaral, "pode ser negociado um plano que leve a família Bragança a ter uma presença mínima na Fundação". O fundador do PPM, Gonçalo Ribeiro Telles, espera "um gesto" de Marcelo para pacificar as relações entre os Braganças e a Fundação. Mas o gesto ainda não chegou.
Rosa Pedroso Lima – Expresso 17 de Março 2012
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