segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Elites


No decurso da pergunta do Miguel Castelo Branco, "Há elites em Portugal?" eu digo que há e que houve. Elites que não no campo político. Pensando bem, desde o séc. XVIII que a política só atraiu gente menor, interesseira e criou escola no Liberalismo. Olhar para as elites políticas é olhar para um ocupado espaço vazio de gente. Fora da vida política, a que interessa mas que também está sobre a alçada da gente que governa, existem elites composta por cidadãos íntegros e distantes da choldra. O nosso problema não é só a falta de gente que imponha credibilidade é a noção, martelada pela propaganda do igualitarismo, que recita ao povo a lenga-lenga dos direitos, do direito às vagas das cadeiras do poder. Depois, o povo hipnotizado pelo romance desta democracia republicana não distingue o odor do trabalho do odor do roubo. Não distingue o público do privado. Não distingue honra de pretenciosismo. Nunca vislumbraria uma elite porque para o povo esclarecido "elite" é algo que já devia ter sido esmagado numa qualquer revolução.


3 comentários:

PPA disse...

Também vou mais pela sua leitura, João.

Mas há um ponto de acordo entre nós 3: na presente data não temos elites de qualidade!
Já o Gen. Ramalho Eanes havia chamado à atenção para isso, numa entrevista com a Maria Flor Pedroso.

Cumprimentos.

César disse...

E eu acrescentarei, não tanto e não só, que «que a política só atraiu gente menor, interesseira», que efectivamente atraíu e atrai, e que «criou escola no Liberalismo», mas que o Liberalismo, essencialmente incompatível com uma verdadeira Democracia, é, em si mesmo, um regimen de «gente menor, interesseira», naturalmente atraída por um poder arquitectado a sua medida. Mas isso não significa que «cidadãos íntegros e distantes da choldra», que também os há evidentemente, não se sintam atraídos pela Política, no seu sentido nobre, não politiqueiro. Significa tão somente que o sistema funciona com dados viciados, sem espaço para «esta» Política nem para a integridade dos cidadãos íntegros, cuidadosamente mantidos politicamente neutralizados, a bem da subsistência da choldra...
Um abraço,
César Guerreiro

João Amorim disse...

caros PP e César

É bem verdade, o regime tem de sobreviver e aniquilar os que se lhe opõem e, como parece óbvio, o filme está a ser visto por uma plateia que gosta do espectáculo; a que não gosta não aparece e não vai aos comes.
Quanto ao Gen. Eanes tem-se revelado – nos últimos anos – uma figura de carácter.