Quando somos chamados a reflectir sobre uma qualquer doutrina política, principalmente se a mesma for referente à chefia de estado de um país, neste caso do nosso país, arrastamo-nos quase sempre para o facilitismo do “porque sim”. Gostava que um qualquer republicano, ou monárquico que seja, me explicasse o porquê de preferir um rei ou um presidente para chefiar o seu país, neste caso Portugal. Os argumentos recorrentes dos “porque sim” levam-nos ao marialvismo monárquico por um lado e ao jacobismo esquerdista por outro. No fundo, os dois “porque sim” são a mesma coisa – transformados anualmente em material de show business, pronto a animar as madrugas televisivas dos vários primeiros de Dezembro.
Para uma pessoa defender uma doutrina política, enganem-se os que pensam que não falamos de um doutrina política, é preciso ter uma argumentação sólida sobre a mesma. Não basta sermos crentes, não basta sermos monárquicos ou republicanos “porque sim”, se assim fosse não estaríamos a reflectir sobre política, mas sim sobre religião. Gostava então de começar por expor o porquê de eu me dizer monárquico. Vou tentar ser breve e ao mesmo tempo não pecar por falta de argumentação, que aliás comecei por criticar.
Defendo uma monarquia moderna para Portugal, uma chefia de estado de cariz hereditário e europeísta, herdeira do legado deixado pelos nosso últimos reis. Pegando neste ponto, a primeira razão para me dizer monárquico é uma motivação histórica e identitária de um jovem do século XXI que olha para Portugal. Estamos perto de comemorar o centenário da república e a esta distância podemos começar a reflectir sobre as verdadeiras motivações do regicídio e também da revolução republicana do 5 de Outubro. Não me quero alongar neste ponto, até porque muito já foi dito e escrito neste último ano, mas basta compararmos as personalidades dos nossos dois últimos reis com a dos nossos vários presidentes do século XX português. Cem anos de república, foram em parte 40 anos de ditadura fascista, de isolamento diplomático e de um retroceder cultural. Tudo aquilo contra o qual o Rei D. Carlos e o Rei D. Manuel II lutaram. Um rei é um garante da soberania, da cultura e da história de um povo – o rei é livre, o país também.
A segunda razão é óbvia para quem observa esta questão sem filtros, sem palas e sem preconceitos. Portugal é hoje um país de compadrios, onde impera a corrupção, os escândalos que envolvem políticos e gestores das grandes empresas, onde os ricos são cada vez mais ricos e conseguem com facilidade manipular os políticos, nascidos e criados nos aparelhos partidários. Tem alguma lógica que um chefe de estado venha do próprio sistema? Sendo o chefe de estado o arbitro e moderador das relações políticas do país, deverá ele vir dos próprios aparelhos partidários? Esta promiscuidade não existe quando o chefe de estado já o nasce sendo, sem precisar de vender a sua alma ao capital, aos interesses e aos lobbys. É este o principal paradigma da república, que a faz ser cada vez mais questionada.
A terceira e última razão é de ordem prática. Um rei, ao contrário de um presidente da república, tem por parte do povo e da comunidade internacional uma legitimidade que um presidente da república não tem. Por parte do povo, porque o rei é rei de todos os portugueses, ao contrário do presidente da república que é eleito apenas por uma parte dos eleitores, que posteriormente não se reflectem na sua figura – Cavaco Silva é um exemplo por demais evidente. Por parte da comunidade internacional, por razões históricas, familiares e mais importante do que as outras duas, por ser independente face a pressões políticas de grupos partidários de cariz internacional.
Assumo-me assim como um monárquico sem vergonha de o ser. Como diria o Miguel Esteves Cardoso, “os monárquicos são o maior partido clandestino existente em Portugal” e para ser monárquico não basta ter um autocolante estampado na traseiro do carro e dizer que o somos “porque sim”. Por esse motivo, para que se desmascare a república e se faça uma reflexão séria sobre o ideal monárquico, aceitei o simpático convite do João Távora e assim começo a minha travessia no “Centenário da República”.
18 comentários:
Sê bem vindo caro João!!!
Desejo-te as maiores felicidades nesta caminhada para 2010. :-)
Bem prega Frei Tomás!
Ao menos "este" para explicar o porquê de ser monárquico!
Já estava a ver que ninguém o fazia.
Á meses que ando a cuscar este blog e ainda não tinha visto ninguém explicar porque é que é monárquico.
Os unicos argumentos eram que a República era má, mais nada.
Foi preciso entrar alguém de fora!
Eu já expliquei várias vezes porque sou republicano.
Pena que como todos os monarquicos não compreenda que um presidente da República, mesmo não tendo tido o voto de muitos eleitores, continua a ser seu presidente, e os que nele não votaram obedecem-lhe e respeitam-no não deixando de o criticar abertamente.
Isto sim é liberdade e respeito, ao contrário da monarquia.
Aliás vemos em Espanha que o rei não sendo eleito é odiado por muitos espanhois que nem sequer o respeitam. Acha que Juan Carlos é o rei de todos os espanhois? Perguntem então aos espanhois se gostam todos dele.
A sua lógica é muito falaciosa, até me fez lembrar o banqueiro anarquista
Outra coisa, Existe o PPM, que representa os monarquicos, logo não é clandestino.
O PNR é capaz de ser maior do que PPM e também é "clandestino".
Não há movimentos monarquicos clandestinos no nosso país.
Oh Space e tu porque és republicano ? explica lá isso :) Não há ninguém que nos esclareça
Para o Space:
Passemos ao registo "material" que é aparentemente do agrado dos "racionalistas" e dos "marxistas":
1. Todos os inquéritos de opinião em espanha dão como resultado, uma aprovação de mais de 84% à forma monárquica de representação do Estado (em Portugal o contrário não se passa, porque apesar de mais de 100 anos de propaganda, 30% declaram-se monárquicos abertamente).
2. Nós não percebemos nem perceberemos jamais a razão racional - pois está o interesse do país em jogo - de se ser "republicano". A única explicação advirá certamente da ambição, ou pior ainda do preconceito/inveja. É feio.
3. O sr. Aníbal Silva NÃO é o meu chefe de Estado, esperneiem o que espernearem. Aliás, nem o considero como tal.
4. O Space diz que ... obedecem-lhe e respeitam-no... Olhe, nem uma coisa, nem outra, como se viu na questão do estatuto dos Açores, quando o parlamento praticamente o ignorou. Pior, cuspiu-lhe em cima e prepara-se para lhe esvaziar a atribuição de poderes que a Constituição lhe confere. espere e verá.
5. O PPM representa alguns monárquicos, como existem monárquicos sentados no Parlamento e representando o PS, o PSD e o CDS. Quer nomes? Aliás, o PPM é um partido que entre outras coisas, é monárquico. Está no seu direito, mas não poderá jamais reivindicar a condição de "partidos dos monárquicos".
6. Diz que não há movimentos monárquicos clandestinos no nosso país. Como movimentos, não há (que eu saiba, mas...), no entanto, existem monárquicos que por óbvias razões, preferem ocultar o facto. Lembre-se da vergonhosa votação da moção no 1 de Fevereiro de 2008 e se tiver uma gravação/video, observe o ar cabisbaixo de vários deputados de certa bancada que votou contra. Sei bem quem são e que bandeira têm em casa. Um dia surgirão.
É de facto lamentável e uma vergonha que hajam deputados monarquicos na Assembleia da república.
Mas se de facto tem medo de o serem é porque estão lá pro tacho, o que prova que tal como os republicanos, muitos monarquicos tensam da mesma forma.
Alias não é por acaso que o pais ja anda mal desde a Monarquia.
Outra coisa é que não vejo uma unica vantagem da Monarquia.
Um rei com ainda menos poderes k um presidente é um autentico fantoche. E já ha quem diga isso do nosso presidente, imagine o que diziam do D. Duarte...ou sera que nems eria o D. Duarte? Nem os monarquicos se entendem para arranjar um herdeiro, quanto mais para gerir o país!
Quanto ao estatuto ods Açores, não é preocupante, e o presidente podia ter dissolvido a Assembleia, mas não o fez.
Provavelmente o rei nem isso poderia fazer. Portanto neste ponto estamos conversados.
Quem seria rei? D. Duarte? Alguem do PPM? Um estrangeiro? Ou o sr. conde Castelo Branco?
Disse que 30% dos portugueses são monarquicos abertamente? Pois é, são os mesmos 30% que querem ser espanhois. Coincidencia?
Oh Space
"É de facto lamentável e uma vergonha que hajam deputados monarquicos na Assembleia da república."
És mesmo democrata :))
Lamentável é num país democrático como o nosso haver gente como tu que contesta a democracia, o Tarrafal devia ainda existir para gente como tu !
Oh Anónimo:
"Tarrafal devia ainda existir para gente como tu !"
És mesmo democrata :))
Caro João Gomes,
Li o seu texto com atenção. Mas não percebo onde foi buscar os 40 anos de ditadura fascista. Foi onde? Em Portugal não foi de certeza, pois nunca houve ditadura fascista a não ser na imaginação dos que há anos nos andam a tentar impingir outras ditaduras.
Ricardo Pinheiro Alves
Então de 1926 até 1974 a ditadura foi a ditadura da Artrite Reumatóide não foi RPA ? que ditadura tivemos então ? quer alguma foto de Salazar com o braço esquerdo esticado ? ... é só dizer :)
João Gomes ... Amen !
Fascista, Salazarista, nacionalista, o que lhe quiser chamar. Sabemos que é tudo a mesma coisa, so o nome e a bandeira é que mudam.
Pois, space aye e a bandeira de m... que estava hasteada na sede da PIDe era a verde-vermelha. Pudera, reciclaram os Formigas Brancas do Afonso Costa!
... e já agora, o ÚNICO PR que esteve sempre acima de qualquer suspeita, foi o almirante Canto e Castro que "por acaso" era monárquico. E mais. O que tem a dizer do general Eanes se ter passado para a monarquia, dizendo agora que a monarquia constitucional é a melhor garantia de imparcialidade e transparência? Não me venha dizer que também "é fascista"... Isso era o Cunhal!
Caro Rui Monteiro,
Explique-me, se souber, porque é que um braço esticado faz um regime fascista. Os regimes não se fazem com braços esticados ou dobrados.
«Pudera, reciclaram os Formigas Brancas do Afonso Costa»
Nem mais, muitos desses caceteiros arranjaram facilmente emprego como PVDEs. ~E nem tiverem de aprender muito.
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