O caos está instalado. Num quadro de governo minoritário, a elite política portuguesa prova mais uma vez que não sabe fazer política na base da negociação. A política, em Portugal, sempre feita através da imposição de uma vontade. E daí nasce essa aberração da cultura política portuguesa: a maioria absoluta, dizem, a única forma de governar. Que bela cultura democrática.
Mas de onde vem esta aberração? A resposta está nos últimos 200 anos da nossa história. Em Uma História da Violência em Portugal de 1834-1851 (Tribuna da História), Fátima Bonifácio recorda uma coisa: depois da guerra civil oficial entre miguelistas e liberais, Portugal conheceu uma guerra civil oficiosa (1834 e 1851) entre a esquerda (os setembristas) e a direita (os cartistas) do liberalismo português. Neste período, as mudanças de poder nunca ocorreram de forma normal, dentro das regras institucionais. Essas mudanças assentaram sempre na violência política. Ninguém estava interessado em desenvolver hábitos de negociação dentro de um quadro institucional partilhado por todos.
Após 1851, Portugal conheceu um período de relativa estabilidade, que durou até 1890. Mas foi só isso. Entre 1890 e 1910, a instabilidade regressou em força com a Monarquia Constitucional. E, depois, tivemos um longo Inverno político, composto pela I República e pelo Estado Novo, dois regimes que assentaram no desrespeito pelas regras institucionais de uma sociedade livre. Portanto, até 1974, Portugal teve apenas 30 anos de alguma normalidade dentro de um quadro institucional respeitado por todos. Tirando esses 30 anos, a nossa política passou sempre pela imposição da vontade do mais forte. E, como natural, 30 anos de democracia não chegam para tirar esse veneno maioritário do nosso ADN político.
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