quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
O Natal no ano do Centenário da República
De bolo-rei a bolo Arriaga
Temos assim que o bolo-rei atravessou com êxito os reinados da Rainha D. Maria II e dos reis D. Pedro, D.Luís, D.Carlos e D. Manuel II. Com a República, houve alguns problemas que depressa foram ultrapassados.
Vieram depois sem novidade o Estado Novo de Salazar e Marcelo Caetano e a Revolução de 25 de Abril de 1974.
Cinco dias depois da Revolução do 5 de Outubro de 1910 eram já centenas os padres e freiras detidos. O ministro da Justiça e Cultos, Afonso Costa, dirigia pessoalmente interrogatórios a ponto de os seus adversários repescarem, para lha atirarem à cara, a alcunha de “mata frades” dada a Joaquim António de Aguiar.
Ainda em Outubro abolia-se o juramento religioso nos atos civis, suprimia-se a Faculdade de Teologia de Coimbra, extinguia-se o ensino da doutrina cristã nas escolas primárias e terminava-se com os feriados em dias santificados. A única exceção era o Natal, que passava a chamar-se Dia da Família.
Em boa verdade, os piores tempos para o bolo-rei foram os que se seguiram à proclamação da República, em 5 de Outubro de 1910. Meses depois, em 7 de Janeiro de 1911, o Diário de Notícias não fazia as coisas por menos: «O bolo-rei tende a decair ou desaparecer-Terá de ser substituído?» Poderá parecer estranho, mas a proclamação da República pôs em risco e existência do bolo-rei, na altura já considerado tradicional.
Tudo por causa da palavra rei, «símbolo do poder supremo», dizia o Diário de Notícias, que numa lógica que hoje nos faz sorrir, acrescentava na sua notícia-comentário: «Ora, morto este símbolo, o bolo tinha de desaparecer ou tomar o expediente de se mascarar para evitar a guerra que lhe podia ser feita.»
Em face disto, que fizeram os industriais de confeitaria? Partindo do princípio de que o negócio é negócio e política é política, seguiram naturalmente a segunda via, ou seja, continuaram a fabricar o bolo-rei, mas sob outra designação.
Os menos imaginativos passaram a anunciar um bolo que dava pelo nome de ex-bolo-rei, mas a maioria preferiu chamar-lhe bolo de Natal e bolo de Ano Novo.
A designação de bolo nacional era talvez a melhor, uma vez que remetia para a confeitaria que introduziu o bolo-rei em Portugal e também para uma certa ideia relacionada com Portugal, o que fica sempre bem em períodos revolucionários. Não contentes com nenhuma destas soluções os republicanos mais radicais chamaram-lhe bolo Presidente e até houve quem anunciasse… bolo Arriaga! Não se sabe como reagiu o primeiro presidente da República, Manuel de Arriaga, mas convenhamos que a homenagem dos confeiteiros não foi a melhor.
Fonte aqui
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