sábado, 23 de janeiro de 2010

Um poema em homenagem a João Camossa

Eu, monárquico, me confesso!

Um dia, bem distante e tão presente,
perguntei a meu pai porque sorria.
E ele, num ímpeto de carinho e desalento,
me respondeu: - Meu filho, por te conhecer
aceito a verdade da tua escolha.
Mas ao percorrer a vida passo a passo,
sofro pelo futuro que te espera.
Singelas palavras, sábia profecia!
Quisera eu que essa visão não fosse
nada mais do que um fantasma,
tentando ensombrar a claridade deste sonho!

Os dias e os anos foram desgastando,
vertiginosamente, deixando em mim presentes
as palavras sussurradas naquele momento
de discreto e sugerido lamento.
Apenas um instante, um instante apenas,
feito de mastros de navios, em marés acordadas.
Era uma canção escrita com cenas dum grito
de revolta, repulsa e desalento. E eu, em cada crise
em que me envolvo, transfiguro-me e vagueio por
todos os locais feitos de imagens, sozinho e nu.

Eu pecador me confesso! No meu grito de revolta,
alcanço ainda forças para um poema de esperança,
qual regato de águas serenas e cantantes, vibrando
pelo Rei ausente, mas de desejo bem constante.
E, de súbito, todo aquele poema de espadas e penas
se transforma num sonho pueril e distante.
Ser monárquico, é sonhar a inocência singular duma
fidelidade a ideais de cavaleiro andante, a juramentos
impregnados da candura do acreditar na beleza original.
Ser monárquico, é recriar a imagem da saudade paterna,
do aconchegante regaço maternal, da inocência de padrões
de conduta, que mergulham nas raizes mais distantes.

Por isso me confesso pecador! Por acreditar nessa simbiose
de saudade e futuro, de passado e presente, qual grito rebelde
de liberdade, voando por memórias renascidas.
Por isso me confesso pecador! Por ter presente dia a dia,
que o Rei da minha nostalgia desejada, transforma em poema
todas as vagas profundas e enfurecidas dum grito de igualdade,
suportado por recordações de injustiças e mãos vazias.
Por acreditar nesta bandeira azul e branca, símbolo dum dia
claro de sol vibrante e águas límpidas.
E se o sonho for poema acrescentado, rebelde como um grito
de criança, constante como marés acordadas, intenso como
paixão de secretas cores, onde me possa afogar absorvendo
a beleza nesse limiar do infinito, com vigor gritarei ainda:
Real, Real, pelo Rei de Portugal!

Deixai-me ainda acreditar no sonho!
Deixai embora que essa ofuscante claridade,
rasgue as vestes sombrias dos sentidos
e percorra todo o meu ser, até ao limiar do infinito.
Deixai que o símbolo da minha demência, seja a demência dos
símbolos da dignidade renascida, da portugalidade recriada,
do orgulho numa fraternidade de diferenciação entre iguais.
Deixai que eu seja um mero menestrel
duma sociedade de sentido renascido,
cantando a beleza da minha bandeira azul e branca,
gritando esse brado do Álcacer da nossa perdição,
qual Sebastião de Sá, que me honra o sangue, morrendo,
entre iguais sem desistir de lutar: - O meu cavalo não sabe voltar!

Fernando de Sá Monteiro

Ler o preâmbulo aqui

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