(...) «A violência da perseguição à Igreja é uma das críticas mais consensuais ao primeiro período da República, mas não é a única. O PRP recorria oficiosamente a milícias populares para "meter na ordem" os descontentes, destruir jornais da oposição e garantir outras tarefas de protecção do regime. E a repressão das greves operárias deu a Afonso Costa a alcunha de "racha-sindicalistas". Ao contrário do sufrágio universal masculino que a propaganda republicana prometera, a capacidade eleitoral continuou a ser vedada aos analfabetos, que eram a maioria da população. O voto das mulheres, esse, estivera sempre fora de questão.
Para o historiador Rui Ramos, os primeiros anos da República correspondem ao domínio exclusivo do PRP de Afonso Costa, que, diz, "representava a extrema-esquerda jacobina da época". Lembrando que Portugal era, "nos anos 20 do século passado, um dos poucos regimes europeus sem sufrágio universal", e que "só em 1915 foram convocadas as primeiras eleições gerais", defende que a monarquia constitucional "esteve sempre à frente da I República face aos padrões políticos, e até sociais, da Europa do tempo". E conclui: "Em termos de democratização, não foi um avanço, foi um dos mais graves retrocessos desde meados do século XIX."
Ramos contesta, aliás, a própria expressão "I República", argumentando que as suas sucessivas fases - os anos de Afonso Costa, com a sua "propensão para a violência e o confronto", a breve ditadura de Sidónio Pais e o período final, marcado pelos governos de António Maria da Silva e pela tentativa de reconciliação com a Igreja - não correspondem a um mesmo regime. E também lhe inspira reservas o próprio numeral, já que, defende, a monarquia constitucional fora já "uma república com rei".» (...)
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