No dia 24 de Janeiro é cercada a cidade de Évora e cerca das 12 horas chegou à Praça do Geraldo um esquadrão da guarda nacional a cavalo que faz debandar os trabalhadores para o Rossio de São Brás e depois de os perseguir à espadeirada, no Largo Severim de Faria quando encontram resistência começam aos tiros, um dos quais atinge mortalmente o operário rural Manuel Charneca, de Machede, havendo ainda muitos feridos, alguns deles entre os militares, conforme nos relata o quinzenário da Associação dos Empregados de Comércio Local, "O Despertar".
Por seu lado "O Sindicalista", semanário defensor da classe trabalhadora, publicado em Lisboa, pela boca do seu enviado a Évora, que assistiu aos acontecimentos, e de outros dois participantes nos mesmos, fala da investida conjunta da Cavalaria 5 e da guarda municipal pelo início da tarde no Largo Severim de Faria, onde os grevistas estavam reunidos, distribuindo cutiladas e fazendo fogo sobre os operários causando a morte do trabalhador de Machede e muitos feridos graves, tendo de seguida sido feitas numerosas prisões, mais de trinta entre homens e mulheres, e encerrada a Associação da Construção Civil e Artes Auxiliares que terá ficado com a fachada crivada de balas e parte da ombreira despedaçada.
desenho de Stuart de Carvalhais -publicado no "A Lanterna"-a ilustrar os acontecimentos de janeiro de 1912
O diário republicano mais importante da época, O Mundo, traz-nos um relato ainda mais acutilante na base de depoimentos de cidadãos eborenses « cavalheiros insuspeitos, completamente alheios à greve, dedicados republicanos que só procuram manter a paz » que, ouvidos pelo delegado do Governo, falam de homens e mulheres deitados no chão e espancados ameaçados por espingardas, de bandeiras republicanas rasgadas e de uma verdadeira carnificina quando a indignação de alguns grevistas perante este tratamento inumano os levou a arremessar algumas pedras contra a força armada que, como se disso estivesse à espera, logo alvejou os trabalhadores brutalmente, um deles mortalmente e crivou de balas a sede da Associação das Classes Mistas, satisfazendo a raiva de alguns lavradores e do governador civil, eles porque não cederam e este porque desprezou as reclamações operárias e conservou as associações encerradas.
O governador civil triunfante, todavia, não se deu por satisfeito com a carnificina e numa reunião com representantes dos proprietários e dos trabalhadores, imediatamente posterior a estes trágicos acontecimentos, manda prender dois membros da comissão dos trabalhadores, o que parece tratar-se de uma cilada antecipadamente preparada....entretanto em Lisboa elabora-se a tese da "conspiração monárquica"
Mas a feroz repressão atinge não apenas os trabalhadores rurais mas também os opositores republicanos do vitorioso governador. O corticeiro António Moura e o professor de liceu Vasques Mesquita são presos enquanto Evaristo Cutileiro logra escapar a um mandado de captura ("O Sindicalista"). Depressa este aproveitamento para linchar opositores politicos republicanos se faz sentir em Lisboa.
O Governo, convencido que a greve tinha terminado,e numa tentativa de evitar cisões entre republicanos publica uma nota oficiosa com uma versão muito particular dos acontecimentos, onde sobressai a tese da conspiração monárquica.
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Os tumultos chegam à Capital, como já foi referido noutro post, culminando com a entrega da capital ás forças de segurança, recolher obrigatório e o assalto e encerramento da Casa Sindical, na Rua Formosa (em Lisboa)- a casa ao fundo à esquerda, com bandeiras- no dia 31 de janeiro de 1912...
...21 anos depois do 31 de janeiro de 1891, a Republica consegue comemorar uma data essencial na sua história com a junção dos trabalhadores e dos monárquicos num concluio contra a "República" dos lavradores.
é preciso ter talento para tanto
3 comentários:
Caro Ricardo o seu post, na minha modesta opinião é suficiente para que os objectivos deste projecto sejam alcançados. Porque depois da descrição da repressão sobre os trabalhadores: Só não vê quem for completamente apático (Para não dizer outra coisa pior)
Já coloquei uma chamada no e.S. Há coisas - coo esta - que convém divulgar.
Obrigado, caros amigos
Mas acho que estes 100 anos foram de tal forma sinistros que o povo português já excluiu qualquer hipotese de ponderar o passado recente...talvez prefiram viver o "conto de fadas" que julgam ter na República...um "paraiso social" que nunca existiu nem nunca irá existir
...mas como se diz a esperança é a última a morrer...talvez tenhamos sorte e ela morra antes que nos mate!
bem haja
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