Ex-líbris adaptado de um desenho à pena do pintor Almada Negreiros (1893-1970) feito em 1957 para ilustrar a capa de uma revista dedicada à visita de Estado de S.M. a Rainha Isabel II (18-21 Fevereiro de 1957).
A intervenção contra a I República surgiu de vários quadrantes da sociedade, nomeadamente dos artistas. O Movimento Modernista, de que destacamos Fernando Pessoa e Almada Negreiros, foi bastante crítico em relação ao novo regime. Um dos mais famosos e severos manifestos contra a República surgiu pela mão de Almada Negreiros. Intitulava-se "A Cena do Ódio" e, como o autor refere, foi escrita durante o clima de rebelião que se instalou nas vésperas do 15 de Maio de 1915 (Ditadura de Pimenta de Castro). Nesse longo poema, A.N. expõe o carácter burguês da revolução e dos seus agentes, criticando o laxismo da sociedade de Lisboa, o oportunismo político e a falta de oportunidade das revoluções («aprende a ler corações, que há muito mais que fazer do que fazer revoluções»):
[...]
Eu creio na transmigração das almas
por isto de Eu viver aqui em Portugal.
Mas eu não me lembro o mal que fiz
durante o Meu avatar de burguês.
Oh! Se eu soubesse que o Inferno
não era como os padres mo diziam:
uma fornalha de nunca se morrer...
mas sim um Jardim da Europa
à beira-mar plantado...
Eu teria tido certamente mais juízo,
teria sido até o mártir São Sebastião!
E inda há quem faça propaganda disto:
a pátria onde Camões morreu de fome
e onde todos enchem a barriga de Camões!
[...]
Eu creio na transmigração das almas
por isto de Eu viver aqui em Portugal.
Mas eu não me lembro o mal que fiz
durante o Meu avatar de burguês.
Oh! Se eu soubesse que o Inferno
não era como os padres mo diziam:
uma fornalha de nunca se morrer...
mas sim um Jardim da Europa
à beira-mar plantado...
Eu teria tido certamente mais juízo,
teria sido até o mártir São Sebastião!
E inda há quem faça propaganda disto:
a pátria onde Camões morreu de fome
e onde todos enchem a barriga de Camões!
[...]
O poema integral pode ser lido aqui, e ouvido aqui, pela boca de Mário Viegas
2 comentários:
brutal!
bem haja
isto na vaele nada
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