sábado, 6 de fevereiro de 2010

Alfredo Keil e a República

«No centenário da sua morte, surgem a lume algumas verdades: que Alfredo Keil nunca foi republicano, que não era um pintor sofrível e antes de grande qualidade, um músico elegante e empenhado e que A Portuguesa foi um acaso, um feliz acaso mas um acaso!» Notícia da Lusa, que acrescenta: «Alfredo Keil, autor do Hino Nacional, cujo centenário da morte se completa quinta-feira, foi um “homem genuíno do século XIX, pela sua formação cultural”, afirmou à Lusa a historiadora Ana Xavier, uma estudiosa da sua obra. “Ele fez todo o percurso de uma figura genuína do século XIX, nomeadamente a viagem que encetou pelas principais cidades europeias, além da sua formação”, disse a investigadora.
Alfredo Keil foi “um homem programático, que sabia o queria e que, curiosamente, se torna conhecido por algo que não programou, por um impulso, levado pela reacção nacionalista ao Ultimato inglês [1870]“, sublinhou Ana Xavier. “A Portuguesa” foi “absorvida pela República, sem Keil nada ter feito por isso, tanto mais que não há um único elemento que nos indique qualquer referência republicana em si”. “A Portuguesa”, que rapidamente se tornou popular, foi adoptada como hino nacional em 1911. Além de “A Portuguesa”, Keil foi autor de várias polcas, valsas, peças para piano além de óperas, de que “A serrana” é a mais conhecida, havendo outras que nunca foram levadas à cena no século XX como “Irene” e “Dona Branca”. (…) Para o maestro João Paulo Santos, que em 2002 levou à cena “A Serrana” no São Carlos, Alfredo Keil é um compositor que “procurou um idioma nacional para a música”.
Mas a par da composição, Alfredo Keil “foi um pintor compulsivo e apaixonado” tendo-se inspirado muito nas paisagens da zona de Sintra, onde tinha casa. Estudou pintura em Munique e Nuremberga e mais tarde em Lisboa. Expôs pela primeira vez em 1875, tendo recebido duas medalhas de bronze. Concorreu à Exposição Universal de Paris de 1878, onde obtém uma Menção Honrosa, e no ano seguinte recebe uma medalha de ouro na exposição do Rio de Janeiro. Em 1890 expõe em Madrid, sendo condecorado com a Ordem de Carlos III. Era um pintor bem aceite na sua época e vivia essencialmente da pintura, embora tivesse fortuna familiar. Em 1890 abre uma galeria em sua casa, que se situava no número 77 da Avenida da Liberdade em Lisboa. “Vendeu quase tudo” e o próprio Rei D. Luís comprou algumas telas para a sua galeria no Palácio da Ajuda, segundo João Paulo Santos. O pintor e compositor oferecerá aliás ao monarca o primeiro volume das suas obras musicais, editado pela Neuparth. (…)
Keil, que começou a pintar aos 14 anos, traz uma técnica diferente e isso mesmo lhe nota o crítico de arte António Enes, aquando de uma das suas exposições. A crítica de arte relativamente a Keil foi sempre “exacerbada”, diz António Rodrigues, referindo que o Grupo Leão, dominado por Silva Porto, “preferiu antes ignorar Keil, pelas suas origens românticas”. “Podendo ter sido um diletante, até porque era originário de uma família abastada que fez empréstimos à Coroa, o pintor foi essencialmente um artista empenhado na sua sociedade, um incansável trabalhador que com afinco tanto se aplicou na música como na pintura”, frisa António Rodrigues, sendo esta opinião partilhada por João Paulo Santos e Ana Xavier. (…)
Uma outra faceta desconhecida de Alfredo Keil é a de coleccionador e museólogo em termos profissionais, tendo chegado a organizar um museu de instrumentos musicais que no final da vida foi disperso. Parte deste espólio integra actualmente o Museu da Música, ao Alto dos Moinhos, em Lisboa. “Além de vários instrumentos, alguns fazendo parte da exposição ao público, há no Museu também várias partituras suas”, disse à Lusa fonte da instituição. Esse museu, cujo catálogo foi escrito por Keil, reunia 400 objectos da Europa, África e Ásia. »
Lisboa, 02 Out 2008 (Lusa) – excerto

Fonte: http://portadovento.blogs.sapo.pt/56611.html

5 comentários:

Nuno Castelo-Branco disse...

Seria interessante deitarmos a unha à dedicatória de A Portuguesa a D. Miguel (II).

Rui Monteiro disse...

Nuno

Seria bom encontrar algum documento da época a constatar isso, nós os monárquicos sabemos isso mas um documento vale por mim palavras escritas sobre o assunto.

Anónimo disse...

E as telas foram das que "arderam", ou foram das que foram vendidas depois de ardidas, em Londres e Paris.
Seria bom começarmos a levantar todas estas questões.
Há Processos que podem ser reabertos!

Quanto à dedicatória a D. Miguel, basta que esteja referida numa publicação.

Mas encontrar o original, e publicá-lo confesso que seria a realização de um sonho.

Matrix

JSM disse...

Isso é que era. Mas é difícil, a lavandaria república dá conta de tudo.

Bartolomeu disse...

Dedicatória ou autógrafo (como lembrança de uma oferta em mão)?

A Portugueza é apenas um leitmotiv patriótico feito no calor da tensão inglesa.

Em verdade, um panfleto disso mesmo. Um panfleto popular gravado numa tipografia em papel de jornal! Milhares por sinal, a expensas do próprio compositor.
Nunca foi uma encadernação de luxo dedicada a figura alguma, como era gáudio nos anos subsequentes, para melhor patrocínio e protecção da obra e a sua fácil difusão social.

(conheço o espólio musical e o seu catalogo, e neles nada há que assim o indique. Mito urbano? Tome-se como exemplo, a Cantanta Primavera, encomendada pelo Sr. D. Luís e decicada aos esposos reais Sr. D. Carlos e Sr. D. Amélia).