... é um detalhe quando a comparamos com o que significou a Revolução Liberal. Há um país antes de 1820, ou mais exactamente antes de 1832-34, e outro depois. Na República não mudam os paradigmas, com o triunfo da Revolução Liberal mudou tudo na relação dos portugueses com o Estado. Como disse Almeida Garret, foi nessa altura que um Portugal Velho acabou e começou um Portugal Novo. Todas as instituições, algumas delas seculares, desapareceram. Até acabou a velha relação das pessoas com a terra, que não correspondia à ideia de propriedade individual e absoluta dos dias de hoje. O mapa dos concelhos é todo alterado, na prática destruiu-se um poder municipal que vinha desde o nascimento do país. É também então que começa realmente a separação de poderes. Mas a "maior revolução social da história portuguesa", como se lhe referiu Alexandre Herculano, também destruiu as condições para um equilíbrio entre o Estado e a sociedade que permitisse a modernização, no contexto de uma sociedade tradicional que vai evoluindo sem destruir.
1832-34 é o nosso 1789, a nossa "revolução francesa"?
Oliveira Martins foi o primeiro a dizê-lo. O Portugal Velho acabou de uma maneira abrupta, violenta, com uma guerra civil, tornando inviáveis todos os arranjos que estavam implícitos na Carta Constitucional. A possibilidade de uma evolução à inglesa, em que houvesse sempre os pólos de poder alternativos e concorrentes ao Estado de que falava Tocqueville, desapareceu também nessa altura. Outro aspecto que sublinhamos, e que muitas vezes foi desvalorizado, é a importância da questão religiosa, que não teve a ver com poderes ou determinismos económicos mas derivou de haver muita gente que estava disposta a matar ou a morrer em defesa da Igreja, tal como outros estavam dispostos a matar ou a morrer em defesa do anti-clericalismo. (...)
Rui Ramos ao Público - para ler na integra aqui
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