sábado, 24 de julho de 2010

Domingos e dias santos

Devo ressalvar que nada me obsta que as grandes superfícies comerciais passem a abrir ao Domingo. Não concordo com o proteccionismo ao comércio de proximidade que tem e teve ao longo do tempo todas as oportunidades para se adaptar. Se assim fosse, também se criavam barreiras para o comércio electrónico (de que sou fã) que prolifera de mansinho, 24,00hs por dia 365 dias por ano: do pão quente ao leite do dia, aos discos, livros e medicamentos, quase tudo podemos comprar com grande economia através do computador em lojas virtuais. Por exemplo, veja-se aqui como criar e comprar a sua camisa exactamente à sua medida. Quanto à questão religiosa que alguma Igreja levanta, considero irrelevante: sempre existiram feiras e mercados ao Domingo a atrair comunidades e famílias “ao consumo”. Se um cristão falta à missa para ir ao hipermercado o problema é outro, bem mais difícil de resolver.

Interessante é constatar como a polémica afinal se repete, como encontra-mo-la no princípio do século XX com iguais argumentos do foro moral e económico relativamente aos Grandes Armazéns que então nasciam. Curioso é que, sabendo nós que o republicanismo em Portugal foi um movimento essencialmente burguês, foram personagens como Teófilo Braga, talvez sob os auspícios de outro eminente republicano, Francisco de Almeida Grandella, que em 1904 se opunha categoricamente e levantou a voz contra a instituição do descanso semanal dos trabalhadores, uma reivindicação popular na Europa desde o final do Séc. XIX: o descanço dominical, isto é, a morte de toda a actividade intellectual e fabril de um paiz, é o tédio ou a ruína. É o suicídio social para a gente fina que se diverte. Um domingo de Londres é, para os habitantes de Londres, o peor e o mais negro e húmido dos seus nevoeiros.

Adaptado daqui

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