quarta-feira, 30 de junho de 2010
ESTA REPÚBLICA QUERIA FESTA...
A Moral republicana
Cronologia da república - 30 de Junho
- 1911
É fechado o jornal “A Gazeta” de Chaves
- 1912
Confrontos em Barcelos
A Lei D.G nº158 retira a pensão aos familiares de Eça de Queiroz, estabelecida pela lei de 12 de Junho de 1901
- 1914
A assembleia da república é encerrada
Tumultos em Idanha
Tumultos na Azambuja
Conflitos estudantis em Coimbra, com a prisão de 200 estudantes
Greve dos operários das moagens por falta de trigo
Greve dos tecelões no Porto
Assaltos a armazens de alimentos em Almada
- 1921
É noticiada em Paris a venda dos Açores aos Estados Unidos da América
- 1925
Decretado o estado de sítio em Lisboa com o exercício da censura à imprensa
Fontes: aqui
terça-feira, 29 de junho de 2010
Cronologia da república - 29 de Junho
É fechado o jornal “O Distrito de Aveiro”
1921
É fechado o jornal “O Comércio da Madeira”
1922
É fechado o jornal madeirense “A Terra”
1923
Alerta para o perigo de uma conspiração fascista
São lançadas bombas contra três juízes do Tribunal de Defesa Social
Fontes: aqui
segunda-feira, 28 de junho de 2010
O que era o Partido Republicano?
Memórias divertidas da 3ª República
Cronologia da república - 28 de Junho
- 1911
É fechado o jornal “O Notícias de Coimbra”
O exército é posto de prevenção na fronteira
Greve da Carris do Porto
Rebentamento de várias insurreições monárquicas
Os jovens turcos protestam contra a falta de zelo republicano do ministério do interior
Mobilização de 10 mil reservistas
Os carbonários, são incentivados pelo ministério da guerra, a formarem batalhões civis para apoiarem o exército por todo o país
120 Prisões políticas
32 Padres são presos
Cerco do paço episcopal da Guarda pela polícia e carbonária, com o sequestro do bispo da referida diocese
- 1913
É fechado o jornal “A Tribuna” de Coimbra
- 1924
É fechado o jornal “A Pátria” de Lisboa
Fontes: aqui
domingo, 27 de junho de 2010
Portugal e a República Portuguesa
Cronologia da república - 27 de Junho
- 1911
É fechado o jornal “Correio do Norte” de Braga
Inventário do tesouro da Sé de Lisboa
- 1914
Demissão de 3 ministros democráticos, acusados de corrupção
- 1921
É fechado o jornal “O Diário da Tarde” de Lisboa
Greve dos eléctricos em Lisboa
- 1924
Tumultuosa sessão parlamentar devido à saida de 49 toneladas de moeda de prata para Londres, como garantia da contração de um empréstimo externo
Fontes: aqui
sábado, 26 de junho de 2010
Mário Soares em passeio pelo Minho
Um "principio" sem fim
Centenário ferroviário
Considerada pela Newsweek como a sétima mais bela do mundo. A Estação Central de Caminhos de Ferro, foi construída em Lourenço Marques,sendo uma grande obra da "ominosa monarchia" de D. Carlos I. Inaugurada em Março de 1910, é um edifício da autoria do atelier de Eiffel, que também assinaria a chamada Casa de Ferro, situada hoje no Jardim Vasco da Gama (Tunduru) à Av. D. Luís I.
Conheci bem este edifício, dele partindo de férias para a África do Sul. Situado na Praça Mac-Mahon, a imponente arquitectura impressiona e é um testemunho da presença portuguesa numa cidade que foi bela, cuidada e com uma certa grandeza.
Os fraudulentos senhorzinhos do Centenário ainda estão a tempo de reivindicar a obra, pois em 1916 colocaram-lhe uma esfera sobre o pavilhão central. Depois do Terreiro do Paço e do Museu dos Coches, deles tudo aguardamos. Descaramento não lhes falta.
Cronologia da república - 26 de Junho
- 1911
Greve do pessoal de armações de pesca de Setúbal
Eduardo de Abreu defende a manuntenção das cores azul e branca na bandeira e a revisão da lei da separação
Fernando Pessoa crítica a escolha verde e vermelha para as cores da bandeira nacional. Para ele, o vermelho simboliza o sangue que os repúblicanos fizeram derramar e o verde a erva com a qual devem alimentar-se
- 1920
O governo condiciona a exportação do azeite
O decreto 6950 aprova o regulamento para o serviço rural da GNR
Fontes: aqui
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Edis e historiadores de hoje
Cronologia da república - 25 de Junho
- 1912
Bernardino Machado é nomeado embaixador no Brasil
- 1913
O deputado João de Freitas, acusa Afonso Costa de não actuar no escândalo de terrenos em São Tomé, que estariam a ser ocupados por particulares
Quando outro deputado interpela-o, João de Freitas ameaça-o com uma pistola
- 1920
Protestos contra o alto custo de vida
- 1922
É fechado o jornal açoriano “A Folha de Angra”
- 1925
Invasão policial de várias associações resultando na prisão de 50 operários
Fontes: aqui
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Republicanas fraudes
A MENTIRA oportuna
A VERDADE incómoda
A patética comissãozinha das pífias comemorações do maior barrete campínico da nossa história, decidiu-se a propagandear A Portuguesa. Aproveitando um dos mais sólidos pilares do regime - o futebol que faz o momento político, económico e social-, aí está o "encarte" oportuno, induzindo em erro. Esta geração intelectual da péssima safra de Setenta - uma triste e repetitiva sina duo-secular -, treinada pelos exemplos de Vichinsky, Iezov, Ehrenburg, Ponomariov ou incómodos e escondidos correspondentes berlinenses, sempre se salientou pelas habilidades no reescrever da História.
Talvez possamos prestar um serviço à perdulária comissão de gente de "negócios milionários" e fora de cotação bolseira, fornecendo-lhe para Arquivo, a capa da partitura original de A Portuguesa, Hino nada "republicano" e em tudo avesso aos entusiastas comemoracionistas de sarjeta.
A República explodiu...
Paiva Couceiro exilado por Salazar !
Exilado pelo salazarismo a 16 de Setembro de 1935, por seis meses, por ter criticado publicamente a política colonial do regime.
Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (mais tarde P.I.D.E.) – “Certificado de viagem” com que Henrique Paiva Couceiro saíu de Portugal para o seu último exílio em Espanha. Ia fazer 77 anos! Mesmo assim foi tratado por Salazar como o pior dos criminosos…
A carta que escreveu a Salazar a 31/10/1937 e que lhe valeu esse derradeiro exílio pode ser lida no link seguinte:
http://www.angelfire.com/pq/unica/ultramar_1937_paiva_couceiro_ultramar.htm
Fonte : Miguel Paiva Couceiro
Cronologia da república - 24 de Junho
- 1911
É fechada a publicação “O Silvense”
São detectadas em Viana do Castelo, notas falsas de 5.000 réis
- 1912
Greve da CP
- 1915
É fechado o jornal “O Proletário” de Lamego
- 1922
Gomes da Costa é convidado para chefiar uma conspiração contra o governo
- 1924
O deputado Cancela de Abreu declara na assembleia que o país está entregue a uma quadrilha de ladrões
Fontes: aqui
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Perfil de um candidato a presidente da república
Cronologia da república - 23 de Junho
- 1912
Greve da Carris
- 1919
Fecho da sede da União Operária Nacional
Fecho da sede da Federação da Construção Civil
- 1923
Detenção de João de Almeida, o herói dos Dembos, para garantir a ordem pública
- 1925
Greve geral em Coimbra
Fontes: aqui
terça-feira, 22 de junho de 2010
GRANDES CAUSAS DA MONARQUIA
Cronologia da república - 22 de Junho
- 1912
Os funcionários da CP convocam a greve geral
Distúrbios em Lisboa que resultam num morto
- 1916
O decreto 2465 declara em vigor nas colónias a censura postal e telegráfica
- 1925
O jornal “A Batalha” de Lisboa é alvo de censura
Fontes: aqui
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Cá se fazem, cá se pagam...ou da inutilidade de um regime.
Palavras do deputado Barbosa de Magalhães (Ministro da Justiça no governo dos Miseráveis, que durou um mês entre Dezembro de 1914 e Janeiro de 1915), acta da sessão de 30-07-1919 da Câmara dos Deputados da República Portuguesa.
A República dos atentados
Cronologia da república - 21 de Junho
- 1911
Fim formal da “ditadura” do governo provisório
- 1912
A circulação de eléctricos está dependente de escolta polícial
- 1914
É fechado o jornal “Sul Democrático” de Évora
O governo de Bernardino Machado apresenta a demissão
- 1924
Tumultos em Silves
- 1925
É fechado o jornal “A Voz de Tomar”
Fontes: aqui
domingo, 20 de junho de 2010
Congresso da Causal Real em Viseu – Discurso de Rui Monteiro
Sr. Presidente Dr. Paulo Teixeira Pinto
Ilustres Congressistas
Portugueses
Ao longo de quase 200 anos, desde a instauração da Monarquia Constitucional passando pela revolta da Rotunda chegando até hoje, o sistema político foi sempre definido à Esquerda e à Direita. Durante este período uma parte da direita esteve por razões históricas ligada à Causa Monárquica, e no entanto apesar do esvaziamento político provocado pelo Estado Novo, a Esquerda teve sempre a sua componente monárquica mesmo que por vezes tenha sido esquecida.
Alguns dos mais ilustres políticos da nossa Pátria destacaram-se em Monarquia antes mesmo da criação de partidos de esquerda monárquicos como por exemplo : Partido Socialista Português, ou mesmo o Partido Regenerador. Ilustres portugueses como Fernandes Tomaz, José Estevão e Passos Manuel originários da extrema-esquerda monárquica nunca colocaram em causa a sua Rainha ou mesmo o regime. Hoje são injustamente reclamados pelos republicanos como exemplos de proto-republicanismo, como se uma amnésia propositada fosse incutida de modo a ignorar que fazem parte do nosso DNA ideológico-político.
Quando da criação em 1875 do Partido Socialista Português de Antero de Quental e Oliveira Martins, este não era de modo nenhum republicano, rejeitava o anarquismo preocupando-se mais com as questões do proletariado do que com a questão do regime. Antero de Quental deixou ferretado em muitos lugares o seu horror pela “fantasia republicana”, como lhe chamava em carta a Oliveira Martins sobre a revolução em Espanha. Por declarar “raça pérfida” foi declarado traidor pelas hostes republicanas inspiradas por Teófilo de Braga.
Este Socialismo inspirado por Proudhon também na mesma altura em França tinha os seus seguidores preocupados com os problemas da economia moderna e da filosofia da história, onde se juntavam escritores monárquicos e sindicalistas. Tal como Proudhon Antero de Quental era um mestre da contra-revolução. Manter o seu nome na tabuleta de um centro republicano, é vergonhoso testemunho da mais rotunda pedantesca ignorância. Como ele mesmo dizia “a nossa república é de garotos”. Oliveira Martins também não escondia o seu monarquismo, em 1885 em eleições para deputado pelo Porto respondia “E quem lhes disse aos senhores, que sou republicano ? Não sou, sou socialista … “ e acrescentava “República, anarquia e Castela !”.
É óbvia a perseguição feita pelo Partido Republicano Português ao Partido Socialista Português, no entanto o PSP não deixava de respeitar as regras da Democracia ao concorrer às eleições e elegendo os seus deputados.
Em 1894 já existiam contactos entre o PSP e o Partido Regenerador de Hintze Ribeiro, e depois do Regicídio D.Manuel II continuou esses mesmos contactos dizendo mesmo que “era o único partido que melhor representava a vontade do Povo”.
Exemplo disso é a carta de El Rei a Venceslau Lima : “O PSP encontra-se desorganizado e dividido desde 1891. O Partido Republicano tem-lhe feito uma guerra de morte e arranjou sempre as coisas de maneira que o partido se encontrasse em desacordo (…) O Partido Socialista encontra-se há poucos dias completamente unido : a pessoa que conseguiu isso é Alfredo Aquiles Monte Verde (…) Eu tenho–me interessado muito há bastante tempo por essa questão, que tenho vindo seguindo e ajudando.” Os contactos para formação do governo foram feitos tendo Monte Verde reconhecido e agradecido por escrito o grande empenho de El-Rei D.Manuel II para com os “seus” operários.
Como diria por carta em 1911 o Ajudante de Campo Lobo Vasconcelos a El-Rei D.Manuel II :
“Vossa Majestade, segundo a sua Religião, é socialista, mas socialista “prático”, que procura dizer o bem e não o “utópico” que acaba em anarquia. Amar o próximo como nós próprios, digo mesmo, é um dos seus mandamentos …”
Depois de 1910 os Socialistas continuam a ser perseguidos mesmo em plena República, Carlos Malheiro Dias em 1911 diz mesmo “os proletariados acusam a república de ter mandado fuzilar os operários grevista de Setúbal como nunca se tinha feito no tempo da monarquia”.
Alguns republicanos vendo o descalabro da republica tornaram-se monárquicos de esquerda como o caso do Grande Gago Coutinho que dizia já na fase final da sua vida o seguinte :
“Nunca me meti na política, mas, até 1914, julguei que o regime República seria o melhor, por terem falido os políticos que aconselhavam os reis. A seguir às revoluções da República, que provaram também a falência dos seus homens, passei a considerar preferível um regime monárquico constitucional, como o inglês… mas mais socialista do que trabalhista. Este está arrebentando a Inglaterra, e se a rainha Vitória voltasse a este mundo, fugiria logo para outro… Almirante Gago Coutinho”
Como é sabido o PSP como todos os outros partidos foram ilegalizados em 1933 em pleno Estado Novo. Apesar desta claustrofobia ditatorial não deixou de haver quem defendesse o ideal monárquico e a democracia. A pesar da forte presença de monárquicos afectos ao regime de Salazar também os houve do outro lado da barricada lutando pela Democracia e pela Liberdade. Exemplo disso era o grupo “Monárquicos Independentes de Lisboa” onde militavam Gonçalo Ribeiro Teles, Francisco Sousa Tavares, Fernando Amado, Rodrigo Costa Félix, Carlos Camossa. Alguns participaram em acções revolucionárias da “Convergência Monárquica”, mais tarde participaram em vários movimentos nas eleições de 1969 como a CEUD e o CEM.
Foi no dia 25 de Abril de 1974 que o país viu Francisco Sousa Tavares em cima de uma Chaimite com um megafone : “Povo português, vivemos um momento histórico como desde os dias de 1640 não se vive : é a libertação da Pátria”.
Com a Liberdade os monárquicos democratas de esquerda não deixaram de participar na Democracia, Francisco Sousa Tavares e sua esposa Sofia Melo Breyner foram deputados pelo Partido Socialista. Em 1985 Gonçalo Ribeiro Teles fez uma aliança com o Partido Socialista tendo o PPM três deputados na bancada Socialista na Assembleia da República. Já em 1969 Gonçalo Ribeiro Teles tinha concorrido na lista da CEUD de Mário Soares às eleições na época de Marcelo Caetano.
Gonçalo Ribeiro Teles em 1973, com Barrilaro Ruas, consegue que o 3.º Congresso da Oposição se passe a denominar 3º Congresso da Oposição Democrática, em vez da recôndita fórmula “republicana”.
A história mostra-nos os inúmeros exemplos de uma Esquerda Monárquica que nunca esqueceu os ideais de Liberdade e Democracia. É por isto injusto dizer que a Causa Monárquica ao logo destes quase 200 anos seja um activo exclusivo da direita.
Sem dúvida que nenhum dos ideais da esquerda democrática actual em Portugal e nos outros países democráticos põem em causa o regime monárquico :
- rejeitar a revolução e outras ideias tradicionais do marxismo como a luta de classes, mas exigência de uma revolução económica e social para combater os problemas que atacam a nossa sociedade nesta crise económica sem precedentes.
- o reformismo é uma maneira possível de atingir o socialismo
- regulação estatal e da criação de programas que diminuem ou eliminem as injustiças sociais inerentes ao capitalismo
- direitos humanos e preservação ambiental
- laicidade do Estado
Tudo isto não põe em causa a imparcialidade do Chefe de Estado, a monarquia não é incompatível com a democracia pluralista, da esquerda à direita; o alto cargo não-eleito que é a Chefia do Estado, aparte os juízes – que não é só herdada por sucessão mas também preparado durante a educação e crescimento do sucessor, para servir o interesse nacional. Processo definido na Constituição e fiscalizado pelo Parlamento. Precisamos de bons chefes de estado, dispostos a sacrificar a sua vida em prol do Bem Comum. Os governantes, hoje como ontem, gostam dos palácios mas não gostam da rua onde se vê a pobreza e o analfabetismo que não ajudam a mudar. E, na sua maioria, não estão preparados para ocupar nem uma coisa nem outra. Logo, vamos avançando por iniciativas quase individuais ou de pequenos grupos, que são os heróis de todos os dias.
Temos os exemplos de países monárquicos constitucionais onde os partidos de esquerda convivem bem com a direita. Exemplos do PSOE em Espanha, os Trabalhistas em Inglaterra ou mesmo os partidos sociais-democratas nórdicos. No geral os partidos de esquerda europeus de países monárquicos preferem um Rei pois este defende melhor os ideais republicanos.
Fala-se na Revisão Constitucional e como tal a questão da legitimação do regime é lícita, mas para que tal seja possível através de referendo tanto é valido o contributo da direita como o contributo da esquerda. Como nas eleições presidenciais o voto é obtido ao centro e como tal num referendo é esse o caminho que tem que ser seguido para não extremar posições.
Está na altura de retirar a Causa Monárquica do gueto ao qual ficou confinado por interesse político de alguns grupos ou mesmo pelos meios de informação. Está na altura daqueles que são de esquerda e que acreditam num regime legítimo como o monárquico deixarem de ter medo e complexos de o serem para que todos possamos ajudar na transição para uma democracia monárquica e na aclamação de D Duarte II.
“Este é o tempo …
Esta é a hora !”
Rui Monteiro
19 de Junho de 2010
Viseu
Cavaco Silva ausente do funeral de José Saramago
No fim o Chefe de Estado não representou todos os portugueses.
Para todos os mortais “Os actos ficam com quem os praticam”, Saramago não foi diferente.
Qual é coisa, qual é ela...?
«Vem o sr. Afonso Costa… Aquilo é que é uma besta!»
(Fernando Pessoa)
Afonso Costa não é, como escreveu A.H. de Oliveira Marques, o mais querido e o mais odiado dos Portugueses. É, com certeza, uma das figuras mais ridículas e abjectas da História de Portugal, epítome do que constituiu a I República, ou seja, um regime de vale-tudo, de ameaças, de extorsões, de perseguições e ódios. Afonso Costa jamais foi querido. Foi sempre temido, odiado, repudiado e no fim respeitado, pois ser amado significava perder a força necessária à consolidação da sua obra. A República Portuguesa, sobretudo nos seus defeitos (sim, porque não podemos esconder-lhe algumas virtudes) foi da sua lavra. Desde a tentativa de erradicação da Igreja Católica, às sovas que deu ou mandou dar aos seus opositores, passando pelos pequenos furtos ou os grandes roubos em que esteve envolvido, sem qualquer pejo, embaraço ou vergonha. Como escreveu Fernando Pessoa: «Não podendo Afonso Costa fazer mais nada, é homem para mandar assassinar. Tudo depende do seu grau de indignação.». Ora, a indignação de Afonso Costa teve vários graus, tantos ou mais do que aqueles que subiu na hierarquia da Maçonaria que o acolhia com fraternidade. Aliás, a raiva deste paladino da República nunca foi elitista, faça-se-lhe justiça: tanto se dirigia a monárquicos como a republicanos, dependendo de quem se atrevia a fazer-lhe frente.
Político experimentado dos últimos anos do Rotativismo e da experiência do Franquismo, A. Costa sabia uma coisa: para governar um país como Portugal, a Democracia só podia vir depois. Mais, o primeiro passo para mandar nos portugueses, não é suspender o Parlamento, ou calar a Imprensa, é alimentar o mais possível o caciquismo e os clientelismos. Por isso, com uma mestria nem sequer igualada pelo seu sucessor das Finanças a partir de 1926, rodeou-se da família, criando uma Dinastia de Costas (a expressão aparece na sua correspondência), leal, forte, incorruptível (na qual a sua mulher teve um papel fundamental, mesmo apesar de às mulheres a República ter negado o direito ao voto), distribuiu benesses aos mais próximos, amigos ou inimigos, mantendo-os no bolso como qualquer bom gangster o faria.
Contudo, Costa tinha um lado medroso que faz dele esse político tão extraordinário e vivo da nossa História. Rodeava-se da púrria (adolescentes vadios e marginais a quem oferecia bombas e armas para assustar a população) e ele próprio manejava a pólvora como ninguém; por outro lado era incapaz de enfrentar um opositor num frente a frente. E tinha medo, muito medo, do próprio terror que lançara. Quando, em 1917, Sidónio o mandou ir prender ao Porto andou escondido em guarda-fatos e dali saiu apupado por uma fila de mulheres. Passou vexames inacreditáveis: viu a sua casa ser esbulhada de alguns dos objectos que ele tinha furtado nos Palácios Reais e um dia de Julho de 1915, seguindo num eléctrico atirou-se pela janela fora ao som e à vista de um clarão que pensava vir de uma bomba. Não fora um atentado, apenas um curto-circuito…estatelou-se no chão de onde foi levantado pelos transeuntes em estado grave e, durante meses e anos a fio, Lisboa transformou esta cena patética numa adivinha popular: Qual é coisa, qual é ela, que entra pela porta e sai pela janela?
Afonso Costa participou em negociatas e estranhos casos de favorecimento. Desapareceram processos durante o seu ministério na Justiça e não poucas vezes viu o Parlamento envolvê-lo na "roubalheira" de que fala Raul Brandão e na qual políticos e militares participavam. Em França um banqueiro virou-se para António Cabral, ex-ministro da Monarquia perguntando-lhe: - “Conhece um tal de Afonso Costa, em Portugal”. António Cabral disse que sim, que o conhecia bem… ao que o capitalista respondeu – “Pois deve ser um dos homens mais ricos do seu país, dada a quantia que possui na conta que por cá abriu…”
Nada o detia. Para além de manipular a legislação a seu favor (algo que facilmente podia fazer dado que controlava, a partir da proeminência do seu Partido Democrático, veja-se o Caso das Binubas, de que hoje ninguém fala…) executava malabarismos financeiros, como o que envolveu a sua mulher para quem fez desviar, sob a desculpa da caridade, meio milhão de francos, destinados à Comissão de Hospitalização da Cruzada das Mulheres Portuguezas, de que a D. Alzira Costa era presidente.
Claro está que no meio de governos maioritários, ditatoriais e não fiscalizados, no meio do clima de terror que Afonso Costa ajudara a criar e mantinha para sua segurança e a da própria República, os roubos não só eram frequentes, como absolutamente seguros (prova-o a “habilidade” de Alves dos Reis, em 1925). Nenhuma investigação sendo efectivamente aberta levaria a alguma condenação. Não deixa de ser curioso que às despesas e aos roubos que os republicanos faziam questão de apontar antes de 1910 tornaram-se frequentíssimos durante a os loucos anos da I República: armamento, fardas militares, promiscuidades várias com empresas estrangeiras, etc, etc.
Através da figura de Afonso Costa é fácil entender as actuais comemorações do Centenário e como, a meio deste ano de 2010, os seus mandatários resolveram assumir a celebração dos primeiros anos da República, evitando assim o Estado Novo e, na 3.ª República, fugir à inevitável glorificação de uma certa “oposição” não socialista. É que a Primeira República, intolerante e exclusiva como hoje alguns dos seus admiradores é a melhor e talvez a única maneira de regressar às raízes e à autenticidade da República Portuguesa tal qual ela foi gizada.
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