segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um discurso importante

«Tem vindo a crescer em Portugal um sentimento de insegurança quanto ao futuro, sentimento avolumado por uma crise internacional, económica e social, de proporções ainda não experimentadas pela maioria dos portugueses. São momentos em que importa colocar perguntas à Democracia que desejamos. Admitindo-se que a situação concreta é grave, torna-se necessário encará-la de frente, antevendo todos os aspectos em que os portugueses experimentam dificuldades.
Os tempos de crise vão-nos trazer privações mas também vêm exigir reflexão. Este é o momento de olharmos para o que somos. Para este país tão desaproveitado. Para a sua costa atlântica com Portos tão ameaçados, para uma fronteira tão vulnerabilizada, para um património cultural tão desaproveitado.
Temos de perguntar até onde deixaremos continuar o desordenamento do território, que levou a população a concentrar-se numa estreita faixa do litoral, ocupando as melhores terras agrícolas do país e esquecendo o interior, reduzido a 10% do PIB.
Temos de perguntar à economia portuguesa por que razão os bens de produção são despromovidos perante os “serviços”, o imobiliário, e ultimamente, os serviços financeiros. O planeamento das próprias vias de comunicação se subjugaram a essa visão.
Temos de perguntar até onde o regime democrático aguenta, semana após semana, a perda de confiança nas instituições políticas e uma atitude de “caudilhização” do discurso.
Temos de perguntar até onde continuaremos a atribuir recursos financeiros a grandes naufrágios empresariais, ou a aeroportos e barragens faraónicas que são erros económicos.
Temos de perguntar até onde o sistema judicial aguenta, sem desguarnecer os direitos dos portugueses, a perda de eficácia e a morosidade crescente dos processos.
Temos de perguntar se não deveríamos estabelecer um serviço de voluntariado cívico em que os desempregados possam prestar um contributo à comunidade.
Temos de perguntar até onde as polémicas fracturantes que só interessam a uma ínfima minoria política, não ofendem a imensa maioria das famílias, preocupadas com a estabilidade pessoal e económica.
Temos de perguntar como vamos aproveitar o ciclo eleitoral que se avizinha, a começar pelas eleições europeias, onde será desejável que apareçam independentes que lutem pelos interesses nacionais.
Temos de perguntar se nas relações lusófonas, estamos a dar atenção suficente às relações especiais que sempre existiram entre Portugal e o Brasil.
Para ultrapassarmos as dificuldades, precisamos de todos os nossos recursos humanos em direcção a uma economia mais “real”, mais sustentada, mais equitativa, uma economia em que respirem todas as regiões a um mesmo “pulmão”.
Apesar de tudo, o nosso sector bancário fugiu das estrondosas irresponsabilidades dos congéneres mundiais. Saibam os Governos regulamentar os apoios para as empresas grandes, médias ou pequenas mas que sejam produtivas.
Em regime democrático, exige-se processos e discursos ditados pelo imperativo de responsabilidade. A equidade e integridade territorial só poderão ser obtidas com a participação de todos, e com sacrifícios para todos.
Estamos confiantes que somos capazes de fazer das nossas fragilidades as nossas maiores vantagens. Onde outros tiveram soluções muito rígidas que falharam, nós venceremos promovendo os portugueses que lutam por um país de imensas vantagens competitivas.
Mostremos como somos um grande País, uma Pátria em que todos cabem porque acreditam na Democracia. Portugal precisa de mostrar o seu projecto para o século XXI. Pela minha parte, e pela Casa Real que chefio, estou, como sempre, disponível para colaborar.»

Dom Duarte de Bragança - Discurso de encerramento no I Congresso Marquês de Sá da Bandeira, em 03 de Março de 2009.

domingo, 19 de junho de 2011

Dinheiro. República

"PRESENTES LUXUOSOS
Luciana e Djaló não se cansam de trocar mimos. Recentemente, o jogador do Sporting decidiu surpreender a mulher e ofereceu-lhe um Porsche Panamera. Lucy retribuiu com um Audi R8."

Assim canta uma notícia no pasquim da profundidade da República Portuguesa, o "Correio da Manhã". Penso, às vezes, quais as principais características da nova sociedade instalada. Ódio e inveja são duas das principais. Não há jornal que não aponte a cor do dinheiro e o cole ao luxo, embrulhando os detentores com os mais hilariantes adjectivos. No novo mundo, principalmente o território do socialismo cantante, é VIP quem aparece na TV e nas revistas cor-de-rosa e é rotulado quem tem dinheiro; às vezes sinto que há um desconto para quem tem dinheiro mas tem uma tatuagem, se tiver duas, se calhar, está perdoado. Se o sujeito, ou sujeita, tiver dinheiro mas usar gravata está feito. É um pulha, com "amigos" na sucata ou no phoder. Também há outro perigo maior que o dinheiro: o nome de família. Por isso só convém assinar ou referir um só apelido não vá o jornalista chamar fascista ou colar a personagem ao lado de um jogador de futebol ou vedeta de strip. Nunca, muito menos, referir qualquer história familiar, a menos que seja de familiares com percurso no terrorismo carbonário ou profissões mecânicas. Por último, e à laia desta notícia acima referida, devo dizer que a república portuguesa evoluiu imenso desde 1910! Realmente, vê-se pelo manto da inveja e ciúme que cobre este país que a escadaria da ascensão social e da igualdade por decreto foi uma empreitada nunca conseguida pelo regime terrorista. Os jornaleiros lá tentam, os políticos de caserna lá tentam, os doutores e engenheiros lá tentam, mas o país real está bem à vista; as estatísticas não mentem. Não basta pôr verniz, colar diplomas ou divulgar ordenados chorudos para que a sociedade se disfarce e se julgue sentir cumprida.
Por outro lado, o que mais me choca nesta notícia é a colagem do amor ao "benefício" do dinheiro. Como se um Porsche Panamera fosse, nesse contexto, mais válido que uma flor.
Somos, de facto, uma República. Todos iguais, todos candidatos naturais à presidência. Uma sociedade que vive educada a ser cheia de amor "à Djaló". Pode ser que um dia este povo, que não se cansa de querer mimos, ofereça, de presente, a presidência da república à Luciana.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Abastardados

Um dos tiques dos empossados é avisar o povo das dificuldades que aí vem. Também falam da esperança, da esperança que devemos ter "neles". Avisa o primeiro dos ministros, avisa o Presidente da república. Todos avisam porque demonstrar é coisa diferente. Sempre a cantilena da "protecção" das figuras do estado... e é por essa suposta "protecção" que nos encontramos, agora, de mão estendida...
Esta república, centenária, viveu sempre bem a extorquir, a fingir e a propalar a sacra divisão por todos, a sacra indistinção entre pares, a distribuir a liberdade equitativamente, segundo a "tabela" das constituições. Contudo, o que a história nos prova é que este regime tem sido em tudo contrário à sua doutrina: a república não é o mar da Liberdade nem tão pouco a "inventou"; não é a "paz entre os homens"; não é a fonte da riqueza bem distribuída por todos; não é o fim das "regalias" e privilégios! Não, a República é sim tudo aquilo que critica ver de mal na Monarquia, seja ela do ideário medieval ou nas realezas modernas, porque se não fosse não permitiria certos devaneios governativos no seu território. Se o regime se alicerça no compadrio o que poderemos esperar da assembleia governativa? Que governe para fazer cair o regime? Não. A assembleia não governa para fazer cair a mais pequena cadeira, governa para que o regime – de tantas coisas – se mantenha. Dito isto, o regime republicano não tem uma única figura ou organismo que possa ser Imparcial perante todos independentemente de nem todos se reverem nessa figura. Somos um país abastardado. Se é que ainda somos um país.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os Donos do Regime.

Agora sim, começamos a ter uma percepção mais nítida do quadro intitulado "Centenário da República". Aos poucos, primeiro com a ajuda da Fundação Mário Soares, depois com a colaboração de alguns académicos, a Maçonaria foi-se apresentando como principal obreira da República em Portugal. Hoje escancara as portas, não é só obreira. É dona. Em Mafra até já se comemoram os 100 anos da dita associação. Como historiador, nada tenho a questionar sobre os fins e a utilidade de uma agremiação secreta, que existe, como muitas outras, com objectivos bastante claros mas sob posições nem sempre honestas. Já cidadão e indivíduo crítico, não consigo compreender para que serve este género de ajuntamento, às escondidas, com rituais francamente apalhaçados. É que para mim, a solidariedade ou o bem pratica-se às claras e a fraternidade deve ser uma qualidade inerente a todos, não apenas a um restrito grupo de iluminados que se consideram donos da liberdade. A solidariedade num grupo como a maçonaria, restritiva através do seu código e dos juramentos, em que só os irmãos partilham de uma sabedoria metafísica, causa-me muitos engulhos. É que quase sempre, nestes casos de redes ideológicas e partidárias, etc, uma mão lava a outra e as duas lavam muita coisa, desde dinheiro à honra. E vem à lembrança casos como o das Binubas, na I República, do Ballet Rose na Segunda e hoje, nesta III República, o famoso enredo Casa Pia. Ou ainda, mais recentemente, em França, o caso Jack Lang, ao que parece abafado graças a uma rede de solidariedades várias...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Homenagem do povo de Timor-Leste



Nem vinte e quatro horas decorridas desde mais uma pitoresca tentativa de criar-se um absurdo "caso" digno da tasca da ginginha, eis que chega de Timor, uma notícia que a ninguém causará estranheza.

O Duque de Bragança recebeu a nacionalidade timorense, numa excepcional decisão tomada pelo Parlamento Nacional de Timor-Leste. Para que não haja qualquer dúvida acerca das razões dessa atitude, os parlamentares timorenses concedem a S.A.R. essa grande honra, "por relevantes serviços prestados a Timor-Leste e ao seu povo. Desde 1975 e nos momentos mais difíceis em que a luta pela independência não era falada, nem comentada pelos meios de comunicação internacionais, S.A.R. Dom Duarte de Bragança, foi um dos maiores ativistas em prol da causa timorense, advogando desde cedo o direito à auto-determinação do Povo timorense. Foram inúmeras as campanhas em que se envolveu, de onde se destacam a campanha “Timor 87 Vamos Ajudar” e em 1992 a campanha que envolveu o navio “Lusitânia Expresso”. O trabalho humanitário de D. Duarte, também levou ao reconhecimento do “papel fundamental que S.A.R. Dom Duarte de Bragança teve no apoio às comunidades timorenses que foram acolhidas em Portugal”.


Algo fica ainda por dizer. De facto, durante décadas os presidentes de Belém fizeram vista grossa quanto à invasão indonésia e sendo este um assunto incómodo que beliscava a legitimidade do regime de Lisboa, jamais tiveram uma atitude que fosse no sentido da reparação da criminosa displicência com que a chamada descolonização foi tratada. Diz-se que um dos antigos presidentes chegou mesmo ao ponto de referir o território como ..."essa ilha indonésia". Durante anos, o solitário e pelo actual regime sempre abandonado Ramos-Horta, era invariavelmente visto em público com o Duque de Bragança - recepções em embaixadas, comemorações de eventos como aquele a que um dia assisti no Sheraton, quando do Dia Nacional da Tailândia -, ao mesmo tempo que o chefe da Casa Real estabelecia contactos essenciais à resolução do conflito que opunha Portugal ao regime do general Suharto.

Esta homenagem do Parlamento Nacional timorense, honra Portugal inteiro.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O exercício de Votar – A diferença entre o Presidente da República e o Rei

Ontem dia 5 de Junho Portugal foi a eleições, o Povo foi ouvido nas urnas, desde já os parabéns democráticos a Pedro Passos Coelho e a todos os portugueses que votaram.
Até aqui tudo é normal num regime Constitucional excepto algo … o Presidente Cavaco Silva foi votar. Parecendo que não é uma grande diferença entre o Regime Constitucional Monárquico e o Republicano, no primeiro o Rei nunca vota enquanto que no segundo o Presidente vota. No meio disto tudo é natural que se pergunte “onde está a imparcialidade do Presidente da República quando vota ? em que partido vota ? no dele ? favorece qual ?”. Ora seguindo os últimos 25 anos de democracia depreende-se que o Presidente tem vindo sempre de um passado político afecto a um dos partidos do arco da governação, portanto é de questionar só por isso a sua imparcialidade … ainda mais quando ao representar o Povo Português toma partido de uma facção do Povo e não de todos.
Como sabemos a Eleição Presidêncial condicionou a entrada do FMI em Portugal e como tal é legitimo pensar que todos os últimos meses nada foi ao acaso. Segundo a Constituição Portuguesa um Presidente só pode ser demitido pelo Parlamento em caso de Crime, se for doente ou maluco nada se pode fazer … Nunca poderia “arbitrar” um jogo de futebol porque iria beneficiar uma das equipas …
Precisamos mais do que nunca de um Chefe de Estado que una o país e que encontre consensos entre todas as forças políticas, com um Rei todos os partidos teriam a certeza de que a eleição legislativa seria justa e não condicionada.

Se a Crise agudizar provavelmente ainda vamos ver Cavaco Silva a sair de helicóptero de Belém … algo que já aconteceu à Argentina em 2002 pelas mesmas razões que afectam hoje condicionam o nosso país … o FMI

Paiva Monteiro