sábado, 5 de junho de 2010

As três Repúblicas


Qual terá sido a menos má República? Eis uma pergunta cuja resposta não é fácil. Todas se distinguiram mais pela negativa do que pela positiva. Ainda assim, é de justiça se reconheça a actual III República garante aos cidadãos um muito satisfatório direito à liberdade de expressão. Algo que, sem dúvida, a superioriza em relação às suas antecessoras.
Mas permanecem, a manchá-la, a sua incapacidade para lançar o País nos caminhos da verdaeira modernidade, a corrupção que a mancha de cima a baixo e a desacredita perante os portugueses,
mesmo o facciosismo e a demagogia com que olha para trás, no tempo, e multiplica as mentiras com que pretende lavar a cara.
Todos o sabemos, todos o sentimos: vivemos dias muito dificeis, o futuro é incerto. Os 10 milhões de euros para a comemoração do centenário republicano é pão, toneladas de pão deitadas à arena do Coliseu romano.
Falta-nos um algo que é uma imensidão: a consciência de um Destino comum.
Vivemos de ilusões. Já em 1968 Marcello Caetano se iludia pensando ter o País consigo. Pois se até às Forças Armadas tinham assegurado ao Presidente da República plena liberdade de escolha do sucessor de Salazar, desde que fosse civil e não intentsse afrouxar a politica de defesa da integridade do Ultramar!
Alguns anos volvidos, eram essas mesmas Forças Armadas que punham cobro à II República. Aparentemente zangadas pela equiparação (remuneratória, sobretudo) dos oficiais milicianos aos do quadro permanente...
O que equivalerá a dizer que foi a partir de uma questão salarial que se concluiu pela inoportunidade da guerra colonial; pela pertinência da Revolução, do Conselho da Revolução, da descolonização, das nacionalizações...; e, felizmente, pela necessidade do 25 de Novembro também.

3 comentários:

Francisco RB disse...

Caro amigo, faz cada pergunta difícil! A questão de saber qual das 3 foi menos má ou melhor é uma questão filosófica, só próxima do sentido da vida (mas acho que não há Mounty Phinton para fazerem um filme sobre esta questão).
Por mim acabo por sempre dizer que entre as 3, a 1ª sempre foi a menos má, pretendia ser liberal e democrática, sem falsidades como a 3ª e sem ser ditatorial como a 2ª.

João Afonso Machado disse...

meu caro, por acaso penso que a 1ª foi a pior. Pelo anti-clericalismoe pelas muitas morte que causou, quer nas sucessivas revoltas internas quer na Guerra Mundial. A 2ª não cuidou do futuro e a 3ª começou por nos pregar um grande susto com o PREC e depois, em velocidade de cruzeiro é o que vamos assistindo - o risco de naufrágio não é desprezivel.

JSM disse...

A república é sempre a perder, parafraseando a cantiga de uma geração sem esperança. Por isso a pior é sempre a ùltima porque é a inevitável consequência das outras duas. A primeira era apesar de tudo mais ingénua, numa linguagem tauromáquica poderia dizer-se que marrava de frente; a segunda era manhosa, cultivou a mentira, deu cabo da herança ao tentar apropriar-se da história ilegitimamente; esta terceira é a pior porque mantém todos os defeitos da primeira e acrescenta-lhes a matreirice da segunda. Senão vejamos: - anti-clerical, banindo os símbolos católicos do espaço público; criminosa - lembremos apenas Sá Carneiro; e faz tudo isso de forma matreira - porque tem a justiça e a comunicação social no bolso. Porque usa os meios do estado para se proteger nenhum dos seus próceres será alguma vez julgado. Neste aspecto ultrapassa o estado novo! Basta comparar os processos ballet rose e ballet blue. O primeiro ainda teve algumas consequências.
E finalmente é a pior porque foi ela que feriu de morte a nossa independência política. A descolonização seguida de uma união apressada foi um péssimo sinal.
É esta a minha resposta (demasiado extensa) a uma pergunta tão simples. Afinal poderia ter dito apenas que as três são uma e a mesma república.
Um abraço.