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quinta-feira, 1 de abril de 2010

MONARQUIA DO NORTE - afinal em que ficamos, Academia Portuguesa de História?

«É assim declarada restaurada a Monarquia (...) pelas forças da guarnição militar da cidade do Porto (...).
O Porto estava em festa. Entusiasticamente o público solta vivas a Portugal, ao Rei e à Monarquia (...). Todos assistem ao desfile das tropas pelas ruas, até ao quartel-general (...). É para aí que Paiva Couceiro se encaminhou.
Tão vasta era a multidão que o automóvel onde seguia só com dificuldade percorreu a última parte do percurso (...). nova bandeira é içada no quartel-general e repetem-se uma vez mais as manifestações monárquicas de apoio, sem desacatos, sem perseguições e na sua maioria populares, por todas as freguesias da cidade Invicta.
(...)
Em várias localidades esse acontecimento é assinalado com o hastear de bandeiras azuis e brancas nos mastros dos edificios públicos e nas casas particulares, o hino da Carta, o repicar dos sinos, procissões religiosas (...). As populações davam largas ao seu contentamento, rebentando foguetes, queimando bandeiras republicanas e, inevitávelmente, perseuindo e prendendo os democratas republicanos da terra. Convictas de que com a Monarquia seria possivel ter novamente a paz e prosperidade (...) tão necessárias a Portugal.
(...)
Também o mesmo se passou nos primeiros meses de 1919 quando no Norte se tentou recuperar o regime do trono, provando os populares, mais uma vez, a sua apatia relativamente à política, apesar de os monárquicos teimarem em dizer que o ambiente era de grande euforia e satisfação.
(...)
De facto, o Norte e os meios rurais em Portugal sempre se revelaram mais resistentes à mudança, mais conservadores e mais religiosos, sendo nítido o pedomínio dos monárquicos. Factos justificaveis (...) pelo facto de se tratarem de populações marcadas, na sua maioria, pelo analfabetismo, pela ignorância e pelo subdesenvolvimento económico.
(...)
Assim, fartos de anos de impotência política e de perseguições, os católicos de vários quadrantes que, na sua quase totalidade, tinham tendências monárquicas, logo aderiram com grande convicção a esta cruzada, pelo regresso ao regime que não os afrontava
(...)
Para percebermos a manipulação que nesses dias se sentiu no Norte do País, basta vermos quem foram aqueles que se manifestaram a favor da Monarquia. Eram, quase todos, pessoas humildes, mulheres, crianças e gente "duvidosa", que, por interesse, defendiam algo que, na maior parte das vezes, nem sequer percebiam o que se tratava.
(...)
No entanto, em qualquer dos casos, seja por interesse, por indiferença ou por receio de retaliações, a grande maioria da população do Norte dava mostras de ceder fácilmente a qualquer tipo de sistema de organização».


in Helena Moreira da Silva, «A Monarquia do Norte (A tentativa de restauração monárquica no Porto e a reacção do regime republicano - 1919)», col. Batalhas da História de Portugal, vol. 19, ed. Academia Portuguesa de História, 2006, págs. 45-59.