sexta-feira, 14 de novembro de 2008

"Voltarei, portanto a ser o que dantes era..."

Por aqueles anos respirava-se o ar da felicidade, o povo, no seu todo, vivia feliz com o progresso recém-chegado. Eis o novo mundo:

"Hoje, ante os últimos acontecimentos, no seu duplo aspecto de golpe de estado e de cobardia, eu sinto que para mim desinteresso-me de um regímen cuja agonia ameaça matar a própria. Dizem os papéis que a República está condenada. Pois meu amigo, nunca a via tão próxima do seu fim, ante a repulsa e a antipatia duma opinião que percebe muito bem que a mentira oficial esconde apenas o triunfo efémero de uma demagogia cada vez mais opressiva e tirânica e pressinto que já não é com as reacções internas que nos salvaremos tão cedo do “democratismo”, que em nada escrupulisa.
Oxalá que me engane e que a nação por algum dos seus homens de inteligência e carácter possa sacudir, antes de mais desastres, por um repelão da consciência colectiva, a quadrilha que nos infama.
Até lá, meu amigo, não estou disposto a pegar no andor do Afonsismo bárbaro e vilão. Porque é dar-lhe alento até o combatê-lo. O que é preciso é isolá-lo, abandonando-o ao impulso da sua incompetência e ambição.
Para despertar a consciência pública é necessário que o país fique sozinho e bem em frente do bando democrático, a aparar-lhe os golpes, sem o anteparo das oposições.
E quando sentir quanto lhe doe é possível que tome juízo.
Voltarei, portanto a ser o que dantes era; um amigo seu, devotado mas sincero e orgulhoso do seu carácter e cioso da sua estima.
Á política deu ficar alheio.

Abraça-o

Seu amigo

Adriano Pimenta"

In "Cartas Portuguesas". Luís Bonifácio

1 comentário:

Nuno Castelo-Branco disse...

Isto deve ter sido escrito há poucos dias...