Não devia haver comemorações nenhumas. É um episódio triste da história portuguesa e não devia haver comemorações nenhumas. Para todos os efeitos foi uma ditadura. A ditadura não nasceu do vácuo, nasceu da República!
Vasco Pulido Valente em entrevista ao Correio da Manhã e à Rádio Comercial sobre as comemorações do centenário da república:
ARF - Vamos comemorar os 100 anos da República. No livro que lançou, sobre no período de 1910 a 1917, é muito contundente com a I República. Diz que foi um regime terrorista. Vamos andar um ano a chamar heróis a cidadãos que usaram o terrorismo?
VPV - Criaram essa República e que conseguiram a partir de 1913 governar em partido único. Esse partido governou sempre, excepto numas interrupções provocadas por golpes militares, pronunciamentos militares, em que usaram, para se manter, métodos terroristas. E que viveu sempre em guerra com o País, guerra aberta com o País.
ARF - E porque é que se comemoram os 100 anos?
VPV - Eu sei porque é que se vai comemorar isso. Porque a República teve uma reabilitação póstuma, que foi a reabilitação salazarista. Como os republicanos eram contra o Salazar e havia muita gente que era contra o Salazar começou-se a achar que a República era boa porque era antisalazarista. Porque os republicanos, certos republicanos, eram antisalazaristas e começou a criar-se a lenda de que se a ditadura salazarista era má a ditadura republicana, a que ninguém chamava ditadura, era boa. Hoje em dia passa por ter sido um regime muito meritório que não foi. Ainda por cima, o nome oficial da República era República Democrática Portuguesa. Tinha lá aquela coisa, mas aquele democrático estava ali como estava nos países comunistas.
ARF - Coreia do Norte e outros.
VPV - Quase a Coreia do Norte. Não era tanto.
ARF - Vai participar nessas comemorações, já foi contactado?
VPV - Não.
ARF - Não foi porque tem essas opiniões?
VPV - Não.
ARF - Não convém às comemorações dos 100 anos?
VPV - Não sei se convém ou não convém. Mas compreendo que pessoas que queiram comemorar não me queiram. Mas houve uma senhora deputada que me veio falar em nome do senhor presidente da Assembleia da República. E eu expliquei à senhora deputada que já não tinha idade para receber recados por interposta pessoa do doutor Jaime Gama, que eu conheço desde os 18 anos. Portanto, se o doutor Jaime Gama me quiser falar não tinha mais que agarrar num telefone e telefonar-me. Não telefonou mais. E foi o único contacto que eu tive. Lembrei-me agora.
LC - Na sua opinião não devia haver comemorações?
VPV - Não devia haver comemorações nenhumas. É um episódio triste da história portuguesa e não devia haver comemorações nenhumas. Para todos os efeitos foi uma ditadura. A ditadura não nasceu do vácuo, nasceu da República.
4 comentários:
Exactamente o regime de Salazar era republicano :)
Antes de mais, os meus SINCEROS PARABÉNS, por esta iniciativa (este site é serviço público).
Neste país onde a “tachocracia farsante! encobre a democracia, e onde a libertinagem se confunde com liberdade, são muito poucas as pessoas que têm dignidade suficiente para falar verdade, principalmente sobre esse (este) período negro da História da Pátria Portuguesa.
É claro que os frutos venenosos de um regime imposto por arruaceiros, bandoleiros xenófobos e mercenários a soldo da carbonária e dos fulanos do avental (maçonaria), nunca poderia dar grandes frutos.
A única coisa de que os ditos se podem gabar, é que foram os primeiros a experimentar as ideias que Hitler poria em prática contra os Judeus.
O Costa e o Bruno, por exemplo, eram demasiados modernos para a sua época – só nos anos trinta se pode ver como as suas teorias eram mimosas, democratas, legais e humanistas!
Estou convosco!
Bem-hajam!
Subscrevo na íntegra. Embora por vezes me aborreça o seu eterno "bota-abaixo", reconheça-se que o Pulido Valente não é propriamente "um qualquer".
Vasco Pulido Valente na sua entrevista só disse "a pura das verdades". E contra factos não há argumentos. Subscrevo o Rui Monteiro: O Estado Novo é herdeiro da 1ªRépublica Portuguesa. Não foi nenhum milagre ocorrido no seminário. São os factos. Uma sugestão: leiam o sexto volume da Hstória de Portugal de José Mattoso e depois leiam de novo esta transcrição da entrevista de Vasco Pulido Valente.
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