sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Demissão de ex-Vice-Presidente do Ateneu Comercial do Porto

Por causa disto. E porque a história foi isto.

Ex. mo Senhor Presidente da Direcção
Do Ateneu Comercial do Porto,

Os meus respeitosos cumprimentos.
É com profunda e muito sentida mágoa que me dirijo V.ª Ex.ª para solicitar a minha demissão de associada do Ateneu Comercial do Porto.
Esta minha decisão, devidamente ponderada, deve-se à minha total discordância relativamente ao facto do Ateneu ser o organizador de um evento público (no exterior das suas instalações) no âmbito das Comemorações do Centenário da República, em Portugal.
Trata-se, com efeito, de uma atitude que repudio veementemente por escusada e não muito conforme aos princípios do Ateneu Comercial do Porto.
Sócia há mais de 28 anos, continuando a tradição de muitos antepassados e familiares, não me consigo identificar com uma instituição que toma atitudes como esta. Não me é possível participar nestas comemorações que, para mim, evidenciam mais uma incoerência na sociedade portuguesa - todos os dias nos queixamos do sistema e do regime em que vivemos... mas espantosamente toda a gente se prepara para festejar alegre e insconscientemente o triste centenário de um regime imposto pela força e que até hoje nem sequer foi referendado! Pensava que estas manifestações pertenciam ao passado conturbado do republicanismo em Portugal e nomeadamente ao período da I.ª República.
Infelizmente parece que se querem ressuscitar essas práticas que, se violentas nessas épocas, seriam evitáveis na actualidade. Assim, e não cabendo aqui mais considerações deste teor, o que me resta a fazer e faço é desvincular-me do Ateneu Comercial do Porto.
Acreditava sinceramente que se tratava de uma instituição isenta, pluralista! Aqui se receberam – e bem! – individualidades de todos os quadrantes políticos e ideológicos mas, quando se toma uma atitude pública com estas características não mais se recupera essa imagem!
Como é evidente,não estão em causa as cerimónias calendarizadas para o Salão Nobre em que as palestras anunciadas serão certamente interessantes até porque é indubitável o prestígio dos oradores, mas não posso deixar de colocar duas questões :
1 -Para quê a cerimónia de um clube privado, no exterior das suas instalações?
2 - A quem serve este exercício exibicionista de cidadania republicana?

Quem me conhece poderá calcular o sofrimento que me vai na alma!
Nas instalações do Ateneu Comercial do Porto passei dos melhores momentos da minha Vida. Aqui cultivei saberes ,e sobretudo, grandes amizades. Aqui cresci, frequentando assiduamente os seus magníficos salões e a sua inigualável biblioteca, desde os 14 anos, na minha qualidade de filha de sócio. Durante vários mandatos integrei a Direcção quer como Directora quer como Vice-Presidente (a primeira Senhora a exercer este cargo) orgulhando-me da forma como fui desempenhado sucessivamente estes cargos aos quais me entreguei de alma e coração.
Compreenderão portanto o quanto me é penosa esta tomada de posição mas, os meus princípios assim o determinam.
Mais do quer ser associada desta prestigiada instituição, sou uma pessoa livre e, nesta conformidade, continuo a ser monárquica, advogando para Portugal um futuro melhor do que o presente. Como é do conhecimento de muitos dos associados do Ateneu, acredito que o regime monárquico é preferível ao da república pelo que seria incorrecto da minha parte continuar a pertencer ao Ateneu Comercial do Porto, nestas circunstâncias.
A V.ª Ex. ª e a todos os elementos da Direcção desejo, no entanto, as melhores venturas no exercício das V/ funções a bem dessa instituição que tão querida me é e para quem auguro um futuro que não desmereça o seu riquíssimo passado.
Solicito ainda o favor de apresentar os meus mais cordiais cumprimentos a todos os funcionários que sempre tão correctos foram para mim enquanto sócia e durante o exercício das minhas funções.

A Associada ( n.º 542)
Iza Maria Barbosa Flores Marcos
Porto, 27 de Janeiro de 2010

11 comentários:

Anónimo disse...

Grande exemplo! Os meus parabéns pela coragem de assumir com brio os seus ideais. Que as pessoas façam ouvir a sua voz, que não se escondam atrás de oportunismos e receios sem razão.

editor69 disse...

Admirável...
ainda há portugueses com "tomates"...
apesar de ser uma SENHORA!
Para mim já é um exemplo de seriedade,
Parabéns.

Nuno Castelo-Branco disse...

Grande mulher!

Seria bom que o Porto colocasse bandeiras azuis e brancas na zona dos regabofes de domingo: à janela, nas varandas, tanto faz. A banditagem despeseira já está a afiar o dente para o pagode. Os portuenses que me desculpem, mas rebolar-me-ei de gozo, se no próximo domingo cair sobre a cidade, a pior tempestade de há muito tempo!

Anónimo disse...

Uma atitude que marcará a diferença

Unknown disse...

Querida Amiga,
não é fácil, nos dias que correm, encontrar pessoas com a sua envergadura. Este pedido de demissão constitui, por si só, um exemplo dos ideais que se perderam com o regime republicano.
Tanto desemprego, tantas carências e gastam-se milhões a festejar o quê?
ALP

Anónimo disse...

Atitudes destas só caracterizam a intolerância anacrónica de quem as toma.

Viva a República!

Anónimo disse...

Intolerância anacrónica, caro anónimo, é não ter a coragem de deixar o próprio nome. Intolerância anacrónica é a imposição de um regime sem questionar-se os Portugueses. Intolerância anacrónica é o desbarato de 10 milhões para celebrar algo, que muita gente não entende.
Viva o Rei!

Nuno Castelo-Branco disse...

Curiosa, esta gente republicana.
Os seus patrões estão envolvidos em todo o tipo de escrocalhadas, são reconhecidos vigaristas, gatunos, falsários. Usam e abusam dos recursos do Estado e até, dos privados! Agarram-se a Conselhos de Estado, às empresas públicas, ministérios, etc. Não se demitem a não ser que o escândalo público seja demasiado. É a lei da selva, da impunidade total.
Amanhã vão comemorar uma derrota. Pois bem, façam-no e gozem o masoquista momento, até porque este ano terão muitas surpresas desagradáveis e não perderão por esperar.

A senhora do Ateneu demitiu-se por uma questão de Honra, coisa tão rara hoje em dia, como petróleo no Beato. Honra dela e Honra da instituição em que durante décadas participou.

Anacrónicos são os dignos? Grande verdade, senhor anónimo. Uma verdade que nos reconforta, pois então...
Pois divirtam-se, enquanto podem.

João Amorim disse...

Iza Barbosa é uma portuguesa como poucos, uma cidadã que exalta a Res-pública não esta vendalhisse. O "31 de Janeiro" é mais uma das farsas da história republicana.

Nuno disse...

Sr. Anacrónico, o jacobinismo é que anacrónico.
Extinto no resto do mundo, parece que persiste orgulhosamente só e esclrerosado, em Portugal.

Ricardo Gomes da Silva disse...

grande atitude!

Para quem julga que 100 anos apagam tudo...desenganem-se!

bem haja