Começam a surgir à luz do dia as iniciativas da comissão oficial nomeada pelo Presidente da República para as “comemorações” do Centenário da República, centenário que afinal não tem cem anos, mas apenas cinquenta e um, já que o período do Estado Novo é excluído pelas luminárias republicanas, por ter sido uma ditadura: e ditaduras não podem ser republicanas, nas suas cabeças bem pensantes!
O Dr. Santos Silva, presidente da tal comissão, foi logo dizendo que “ Revisitar a ética republicana para conseguir um Portugal melhor” é o objectivo da comemoração do centenário da República (DN de 6.1.2010). Quanto a este objectivo, estamos falados. Todos sabemos como foi a dita ética republicana durante os 16 anos da I República, como foi praticada pelos grandes vultos que a serviram e ainda hoje são o farol dos republicanos que denodadamente a defendem e neles se revêem e continuam a praticar, nas trafulhices, golpadas, escândalos de corrupção, compadrios e caciquismos que infelizmente vamos presenciando nos nossos dias.
“Meio milhar de propostas”, noticia o mesmo artigo do DN, de carácter cultural, em que avulta uma exposição com um extenso nome: Resistência. Lutar pela Liberdade. Da alternativa republicana à resistência á ditadura (1891 -1974). Vai ser inaugurada na antiga Cadeia da Relação do Porto a 31 de Janeiro deste ano. E fica-se sem saber o que pensar. Houve ditadura de 1891 a 1974, incluindo a I República? Houve ditadura na Monarquia Constitucional, para além da já consagrada “ditadura” administrativa de João Franco, que terá levado à insurreição republicana? Estarão a reconhecer a existência da ditadura do Partido Democrático do Dr. Afonso Costa?
Falar das outras iniciativas culturais por todas as bibliotecas, fundações, teatros e lugares bem frequentados, para “aproximar as populações da história portuguesa (DN, idem)”. Mas vale a pena reter a enormidade das declarações da Ministra da Cultura, a pianista Gabriela Canavilhas que, segundo também o DN esteve presente e deu o seu beneplácito: “ Se mais não houvesse, bastava o sufrágio universal e ética republicana para que se justificasse esta celebração”. Ora esta bombástica declaração da Ministra só vem demonstrar a sua profunda ignorância da História de Portugal. A Senhora Drª. Gabriela Canavilhas saberá o que são fusas e semi-fusas, claves de Sol e outras, compassos e escalas, mas não sabe que o sufrágio universal existia na Monarquia Constitucional, que por esse sufrágio foram eleitos deputados às Cortes e vereadores republicanos na Câmara de Lisboa, que a seguir à instauração revolucionária da República o direito de voto foi restringido pelo regime, diminuindo o número de leitores, e que ela, se tivesse vivido nesse período edílico, nem para a Junta de Freguesia dela podia votar, porque o voto estava vedado às mulheres, que só o alcançaram em plena dituadura!
Se não podemos exigir aos nossos Ministros que pratiquem a “ética republicana”, porque só serve para encher a boca com uma expressão vazia de sentido, ao menos podemos exigir que a Ministra da Cultura saiba História do seu País, para além de ler e interpretar pautas musicais, e não diga asneiras. Deturpar a história fará parte também da ética republicana? Parece que sim.
João Mattos e Silva, daqui
2 comentários:
A questão não é haver sufrágio na Monarquia Constitucional, mas sim haver sufrágio para todos os cargos de chefia politica, isso incluí sufrágio para a presidência, não apenas para a assembleia.
Este post, sobretudo na sua parte final é significativo do valor e da ética de quem o escreve. Para além de não perceber o quer dizer "sufrágio universal", que é uma expressão de dois sentidos (quem vota e quem é votado), recusa que o voto universal no primeiro sentido (direito dado a todos) só surge depois da Republica (lá vai dizendo que foi na ditadura, mas sem perceber que se está a referir ao tempo da Republica). E em abono da tese, à falta de melhor, ataca a Ministra de forma bem pouco ética. Bela ética a que aqui nos é demonstrada!
Enviar um comentário