segunda-feira, 16 de agosto de 2010
"Involução" no Arsenal de Marinha
Foi casa onde se construíram muitos navios da Armada, dando trabalho a operários, mestres navais, engenheiros e militares. Grande obra da reconstrução de Lisboa, assistiu também aos eventos que marcavam as principais cerimónias de um Estado anfitrião dos grandes do mundo. A república deixou-o na mais triste decadência e durante a sua vigência, ardeu a Sala do Risco, perdendo-se preciosidades de incalculável valor.
Entulhou-se a carreira sobre a qual deslizaram para o Tejo, os navios das esquadras de naus que rumaram para a salvação, no Brasil. Ao longo de mais de um século, o Arsenal foi-se adaptando aos novos tempos e produziu corvetas, fragatas e os primeiros navios de construídos em aço. Barcos torpedeiros, contratorpedeiros, canhoneiras e cruzadores ligeiros, atestaram a razoável capacidade de uma indústria que o desleixo vai deixando morrer. Também podemos hoje vislumbrar, na outra margem, uma outra "fábrica de barcos", aquela que foi a maior doca flutuante da Europa. Vazia, como Portugal.
Hoje querem transformar a frente do Arsenal que dá para o rio, num espelho de águas mortas, mas de acordo com aquilo que se vê nas "revistas chiques lá de fora". É o estilo à Wallpaper, tão dilecto dos nossos senhores que decidem e gostam do "querer parecer bem". Se a 1ª República acabou com com os bergatins que douravam a imagem dos grandes acontecimentos públicos e colocou um ponto final na era dos cruzadores da Armada, a 2ª transformaria a carreira, numa estrada destinada à passagem da ruidosa e fumarenta sucata a prazo. Pelos vistos, a 3ª, que pouco cuida da praça adjacente, quer inventar mais um happening, muito de acordo com o betonismo do tal obervatório da droga. A isto, podemos chamar "involução".
*Na imagem, Dª Amélia embarca no Bergatim, dando início a uma cerimónia de Estado.
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2 comentários:
Caro Nuno,
Hoje mesmo escrevi um pequeno post sobre as coisas do mar. Minha revolta pela assinatura do Tratado de Lisboa e a crescente cedência da ZEE só aumenta na medida em que vejo o quanto o mar tem garantido a prosperidade de tantas nações. A própria Islândia, em crise e fragilizada, rejeita entrar na UE por isso mesmo.
Na Europa, basta pensar na Noruega, potencia pesqueira e petrolífera, e na Dinamarca, cuja frota comercial e grupos que actuam no sector dos portos têm presença em todo o mundo, para ver o quanto o mar é fundamental.
Nem falarei muito da História. A construção do poder naval foi sempre a etapa fundamental para a preeminência política. Quem dele prescindiu, logo se arrependeu.
É frustrante ver que estamos a um passo de concretizar o sonho dos nossos antepassados mas que a mediocridade das "nossas elites", que se contentam em ficar com as migalhas dos grandes do mundo em troca de segurança para manter aqui o seu regime de espoliação, nos entalou num problema simples que até parece de impossível resolução.
Caro carlos,
Há uns dias, passei uma vista de olhos num forum espanhol que se dedica às coisas da defesa. Ne3m imagina o que por lá vai, no que se refere a Portugal. Comentavam com desdém as "pretensões" às ilhas Selvagens que no doutor parecer deles, pertencem às Canárias, logo, aos espanhóis. Falam abertamente da "agónica Armada Portuguesa" e do ridículo que representa a outra "pretensão a uma ZEE" impossível.
O problema consiste na estupidez das actuais autoridades. A braços com uma situação desastrosa criada pela classe política em geral, tentam sempre açular a população contra quem não pode responder, ou seja, "a tropa". Guerras na imprensa contra os novos navios, guerras a propósito de veículos blindados que em primeira mão, se destinam a cumprir os compromissos externos gizados pelo poder político, etc. Não pode ser.
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