«A Junta Revolucionária chama João Chagas à Presidência do Ministério. O panfletário desce do Porto a Lisboa no rápido da noite - 16 de Maio. Vem na companhia da esposa, Paulo Falcão e Carlos de Oliveira (...).
Em Paialvo sobe ao comboio o senador João de Freitas - republicano dorido pelo castigo de João Chagas no pelourinho dos panfletos.
Comboio em marcha, João de Freitas, que subiu para a carruagem da cauda, percorre os compartimentos, observa os passageiros (...).
João Chagas vai à frente, de costas para a locomotiva, a nuca apoiada no espaldar do assento (...) entre a esposa e Paulo Falcão - o seu ministro da Justiça.
João de Freitas atinge a carruagem. Do corredor lobriga João Chagas. Detem-se um instante. Depois, como num acesso de raiva, epunha a pistola, arremete para o adversário e despeja quatro cargas.
Num silvo de ódio e angústia a esposa do ofendido lança-se sobre o ofensor. Paulo Falcão e Carlos de Oliveira arrancam-lhe a pistola da mão. E enquanto a angustiada senhora (...) acode ao marido - um olho vazado e a fronte a sangrar - os demais passageiros invadem o compartimento, apoderam-se do energúmeno, sovam-no a soco e pontapé, abrem-lhe a cabeça à bengalada.
A multidão apinhada na gare do Entroncamento (...).
Mas tudo se cala, à notícia do atentado. João de Freitas desce do comboio, mascarrado de sangue, entregue à autoridade concelhia. (...)
O comboio parte. Estalam tiros na gare. E lá dentro (...) o corpo sangrento do senador escorrega para o chão, a cabeça varada por uma bala»
in Sousa Costa, Páginas de Sangue - Buiças, Costas & Cª, Liv. Editora Guimarães & Cª, 1933, pág.158.
Sem comentários:
Enviar um comentário