terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Voto obrigatório: a sopa dos pobres



Alguns dos mais conhecidos e televisivos alcoviteiros do sistema, decidiram-se pela sugestão do voto obrigatório. Esmagada a instituição que consegue eleger um "presidente" por 23% dos eleitores inscritos, eis a solução drástica para disfarçar a viva repulsa que os "casos", "processos" e más políticas provocam.

De forma aparatosa, também caiu mais um mito republicano, precisamente aquele que aponta a absoluta igualdade na cidadania. Um candidato extra-partidário, o Sr. Coelho, não gozou dos mesmos direitos - e muito menos ainda dos privilégios - de qualquer um dos outros concorrentes à administração dos 16 milhões €/anuais, das dúzias de assessores e do exercício do beneplácito presidencial que providencia o bem estar a muitos. Nem um só debate televisivo - apressadamente antecipados para impedir o "intruso" de neles participar -, nem um simulacro de igualdade de tratamento , enquanto outros, precisamente aqueles detentores das chaves de cofres bem fornidos do pecúlio indispensável aos afazeres de campanha, tiveram a cobertura que desejavam. Ironicamente, com os seus pouco mais de 3.000€ gastos em campanha, o Sr. Coelho obteve um bom resultado, confirmando todas as conversas de café, de fila de supermercado e de hora do barbeiro da esquina. O que o madeirense disse, nada mais foi senão o que a rua abertamente discute há anos, daí a não-surpresa que os quase 5% de votos representaram. É de pasmar não ter obtido um ainda mais expressivo score eleitoral.

No rescaldo da "grande vitória" do "grande homem providencial" e "salvador da Pátria", um discurso inacreditável, num desnecessário ajuste de contas post-mortem. Pelos vistos, o embaixador norte-americano tinha razão quanto às "vinganças" que o Wikileaks divulgou. Longe vão os tempos em que D. Carlos I e Dª Amélia riam a bandeiras despregadas, com as caricaturas que Bordallo desenhava e que tinham como alvo frequente, o trono onde o régio casal se sentava.

Bem vistas as coisas como realmente se passaram, existiu um plebiscito oculto à 4ª República, aquela que alguns querem ver como presidencial. 52,94% de 46% é pouco, para não dizermos mais. Portugal teve a experiência sidonista que terminou como se sabe. Este "novo Sidónio" sem pingalim e a cavalo num Mercedes, terá apenas algo em comum com o original: a evocação da sopa dos pobres.