segunda-feira, 21 de julho de 2008

O Kaiser, D. Carlos I e os socialistas




A propósito do post no Combustões Kaisermania, seria muito interessante conhecermos as famosas cartas trocadas antes e depois do Regicídio, entre o Paço das Necessidades e o Partido Socialista de Azedo Gneco Após o 5 de Outubro, foram utilizadas pelos novos ditadores do regime, para a liquidação das veleidades do PS em ir caminhando em direcção á participação no poder. Parece que esses contactos visavam o reordenamento do espectro partidário constitucional, criando verdadeiras alternativas e assim, teríamos no futuro, os Regeneradores-Liberais e os Socialistas. O prp dinamitou a possibilidade. Conhecemos o resultado: violenta repressão sindical, esmagamento do "populacho" nos cadernos eleitorais, liquidação da imprensa independente, coacção física e moral da oposição. O socialismo português - que nada tem em comum com aquilo que hoje vemos - ficou para sempre remetido à simples recordação de uma hipótese perdida. Na Alemanha, o SPD conseguiu mais, muito mais, assim como na generalidade dos países do norte da Europa. Aqui, contentámos-nos com as cartolas e os fraques do Costa e do Bernardino.

 

*Na imagem, o Kaiser  Wilhelm II com D. Carlos I e a rainha D. Amélia (Lisboa, Março de 1905)


quinta-feira, 17 de julho de 2008

A república no seu melhor (1)


Entre Outubro e Dezembro de 1910, Afonso Costa, ministro da Justiça e dos Cultos do Governo Provisório, aboliu os feriados católicos excepto o Natal, que passou a chamar-se Dia da Família. Enquanto se substituía afanosamente a ancestral toponímia das cidades com a nova nomenclatura República Cândido dos Reis, Elias Garcia e demais revolucionários, estalou uma polémica com o inconcebível bolo-rei, que passou a chamar-se "democraticamente" bolo-nacional.
Na imagem caricatura do Thalassa parodia a censura à imprensa promovida por Afonso Costa. Saiba tudo visitando a Plataforma do Centenário.

Frases antigas sempre actuais

Na pesquisa que tenho vindo a efectuar para a Plataforma do Centenário deparo-me às vezes com frases de uma espantosa actualidade

Para certos republicanos a Republica tem sido um pé de cabra com que vêem aumentando os seus haveres.

(Boletim parlamentar do Senado Sessão de 11 junho de 1913).
João de Freitas (Senador—Republicano Histórico).

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Presos Políticos na I República

É com prazer que inicio o meu contributo neste blog e também na Plataforma do Centenário da República, anunciando que já se encontra disponível a primeira página relativa aos presos políticos, cuja secção será actualizada ao longo dos próximos dias com mais informação.

Restos de família

Não procurem neste texto a verdade das ciências ou a fé das religiões, escrevo por instinto e para satisfazer algumas necessidades cartesianas – opino, logo existo. Nada mais. Hoje preciso de falar na família, no conceito que herdei, que me dá jeito, e que Sócrates (o primeiro-ministro) também parece defender!
Foi sem querer, eu sei, serviu apenas para denunciar a opositora, definitivamente enleada na estreiteza do liberalismo.
Manuela e Sócrates não se distinguem neste aspecto, filhos dilectos de Rousseau, ambos se conjuraram para destruir a família patriarcal, onde a comunhão e a solidariedade estavam presentes para além da procriação. Era conceito inclusivo e abrangente, não tinha que ver com os valores efémeros de cada época, consubstanciava uma realidade duradoura.
Porém, a miragem do homem anjo, pré-familiar (!), as necessidades (comerciais) de conquista do poder pela burguesia, esvaziaram o conceito e destronaram a família real – exemplo e representação de todas as famílias. E sem representação política a família desfez-se lógicamente.
Entre os escombros subsistem os restos do antigo agregado mas a confusão está instalada – a (avó) Manuela aprisiona a família na procriação enquanto Sócrates insinua abrangência para a contrariar. Mas não têm (não temos) sorte nenhuma, o mais certo é acabarmos a vida num lar, sem família por perto… sanguínea, ou outra.

domingo, 13 de julho de 2008

1808-1908-2008


«Aberto com a fuga da família real para o Brasil, o século liberal termina com a liquidação física, se não moral, de uma monarquia a quem se fazia pagar, sobretudo, uma fragilidade nacional que era obra da nação inteira»

(E. Lourenço, O Labirinto da Saudade, cap. 1).

sábado, 12 de julho de 2008

a república dos gangs e do porte de arma




À noite, sento-me muitas vezes diante do computador e faço o clic para um programa de jogos de táctica e de estratégia, com cenários de campanha e outros, menos interessantes, de guerrilha urbana. É um passatempo como outro qualquer e oferece a vantagem de aprender qualquer coisa.

 

Este fim de semana iniciou-se com um tiroteio como há muito não se via em Portugal. Parecia termos recuado à ominosa 1ª república dos Costas e dos Bernardinos, onde bairros e profissões gostosamente se massacravam a tiro, fazendo do lazer uma escola de partisans para o que o porvir do regime propiciasse. 

 

Existem centos de milhar de armas "de caça" legalizadas e o governo parece disponível para estudar a hipótese de uma certa liberalização do porte de armas de fogo, ditas de defesa pessoal. Continuo a pensar que as armas devem ser privilégio exclusivo das forças policiais e de defesa da soberania, ou sejam, as forças armadas.

 

Sou totalmente contra actividades que impliquem a chacina de animais, onde malucos e disfuncionais descarregam variadas frustrações, no abate de seres indefesos e essenciais à preservação do equilíbrio de uma natureza já muito devastada pelo bicho homem. Ilegalizava a caça, pura e simplesmente. Desarmava os pretensos "combatentes das coutadas", esvaziava os arsenais particulares. Cada rusga das forças de segurança, implica a captura de vultuoso material de guerra, onde não faltam metralhadoras ligeiras, espingardas e pistolas militares e por vezes, granadas ofensivas. Não teremos que esperar muito para surgirem os primeiros LOW ou TOW.

 

Vivemos um período eivado de incertezas. Em cada casa as dificuldades económicas são o reflexo daquilo a que se passa na macro-economia nacional. As mentes andam turvas, o tom do vozear popular atinge já as fronteiras ida insurreição latente. O descrédito das instituições do Estado é total e do primeiro titular dos órgãos de soberania, até ao mais ínfimo subsecretário de Estado, todos são amplamente confundidos numa amalgama de desrespeitoso desprezo, sem que se vislumbre remédio para o mal.

 

Liberalizem ainda mais o porte de arma. Verão no que dá.


quinta-feira, 10 de julho de 2008

História e Teologia

Dentro de dois anos comemora-se o centenário da revolução de 5 de Outubro, que pela força, implantou o regímen dito “republicano” em Portugal.
As comemorações de dita efeméride, tal como até agora foram apresentadas, irão se debruçar não sobre aquilo que a 1ª República foi na realidade, mas sim sobre aquilo que os alegados “herdeiros” desse regímen gostariam que tivesse sido.
Em 2010 vai ser comemorado um regímen que nunca existiu.

Importa por isso fazer um combate. Um combate pela reposição da verdade e nada mais que a verdade.

E a verdade combate-se com FACTOS, factos esses prudentemente arrumados no fundo das gavetas da história, pelos “Historiadores” que nos últimos 50 anos escrevem a versão oficial da História, que na realidade nada mais são que teólogos que buscam apenas a confirmação dos seus dogmas.

Este trabalho de grupo que agora começa a dar os seus primeiros passos, não pretende ser uma obra teológica a qual, contra os dogmas da história republicana, procura contrapor os seus próprios dogmas. Os factos falam por si. Basta contá-los.

Tal como escreveu Ernest Renan na introdução ao 4º volume da História das origens do cristianismo – O Anti-Cristo […] Porque a história é a análise duma vida que se desenvolve, dum germe que se expande e a teologia é o inverso da própria vida. Atento apenas ao que confirma ou infirma os seus dogmas, o teólogo, até o mais liberal, é sempre, mesmo sem se aperceber, um apologista; o seu fim é defender ou refutar. O historiador não tem por missão senão contar […].

É norteado por esta visão de Renan, que inicio aqui e na plataforma a minha colaboração, tal como tenho vindo a fazer desde há três anos e meio no meu blogue Cartas Portuguesas.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A condição feminina e a república


Sabia que, com o advento da república o direito de voto das mulheres foi restringido relativamente à lei do deposto liberalismo? Sobre o assunto encontra-se muito mais no site Centenário da República.

Na imagem: convite para a sessão inaugural da assembleia constituinte onde se pode ler: “Admissão para Homem”.

O Marabuntismo


Consta por aí, que o chefe do Estado promulgou uma controversa lei proposta pela maioria parlamentar, que legaliza em definitivo, a acumulação de reformas de detentores de cargos públicos. Assim, quem tenha sido deputado, ministro, primeiro-ministro, director de empresa e ..., pode, chegando a "retraite", auferir de um pecúlio em nada desdenhável. Os republicanos sabem como fazer as coisas. Importam-se de nos ensinar?

Chagas da república: Paris dos prazeres.


Quando da ocorrência do golpe de Estado de 1910, a Europa vivia os derradeiros momentos da Belle Époque, sem suspeitar que poucos anos depois, todo um mundo desapareceria, vítima da voragem da Grande Guerra. Até ao verão de 1914, as notícias divulgavam o carnet mondain parisiense, as visitas de Estado dos monarcas europeus, o escândalo Calmette-Caillaux e inevitavelmente, a desastrosa situação social, política e económica em Portugal. As correrias nas ruas de Lisboa, as bombas, assassínios e as consecutivas quedas de governos, ofereciam aos leitores interessados, a imagem de toda uma sociedade em conturbada crise identitária, onde uma república fora imposta violentamente pela vontade de associações secretas e de um partido considerado minoritário no arco constitucional português. Com as prisões abarrotando de presos políticos, à Europa chegavam informações de tortura, atropelo aos direitos, ilegalidades e arbitrariedades das autoridades que coagiam uma justiça, que condicionada por grupos de rufiões a soldo dos caciques políticos, desprestigiava os tribunais.

 

Num cenário de catastrófica anarquia, a imagem que os europeus tinham dePortugal, era negativa, pois ainda estava presente no espírito de muitos, o regicídio de 1908, onde a autoria moral e material dos republicanos, não oferecia dúvidas a ninguém. Curiosamente, a imprensa francesa era uma das mais críticas e virulentas na análise da situação portuguesa, surpreendendo desagradavelmente os incondicionais francófilos do prp que na França viam o modelo a copiar pelo regime instaurado a tiro na Rotunda.

 

João Chagas é um homem típico da sua época. Medianamente culto, seguidor dos princípios do politicamente correcto do quotidiano, enfastiava-se facilmente quando era obrigado a prescindir dos círculos aristocráticos ou da alta burguesia parisiense que assiduamente frequentava. Os seus diários são eloquentes quanto ao turbilhão social em que mergulhou durante a sua estadia na capital francesa. Festas, bailes, chás, jogos de sociedade, beija mãos a condessas e princesas, ou tráfico de influências junto ao poder político e da imprensa. Pouco nos diz acerca da sua visão - segundo um programa criteriosamente estabelecido - de um Portugal que pretende inserir-se no século XX das maravilhas técnicas, do progresso social e da liberdade. Não. Entre 1914 e 1921, escreve centenas de entradas que relatam a sua preocupação pelas aparências, as suas dogmáticas e sebastianistas certezas na etérea visão de uma república que é república formalmente e apenas isso. Espanta-se pela revolta latente em Portugal, indigna-se pela pressão das hostes monárquicas e corrobora na necessidade de perseguição às vozes discordantes da situação. Parece que se esquecera dos trinta anos que antecederam o 5 de Outubro, durante os quais o seu partido de tudo se serviu para destruir o regime constitucional - um dos mais livres da época - legalmente estabelecido.

 

O que se torna paradoxal nesta obra, consiste na falta de um projecto, na perfeita inconsciência da realidade, negativa para todos, em que Portugal se encontrava. A sua exclusiva preocupação, resumia-se a uma indisfarçável vanglória, na ânsia de se ver equiparado aos seus colegas diplomatas das potências europeias e, claro está, numa furiosa e constante diatribe contra os seus correligionários do regime, neles vendo a causa do insucesso da sua mirífica ilusão de uma república restauradora de glórias passadas. O resto do texto, é um longo rol de preconceitos, dichotes, intrigas, boatos e campanhas difamatórias - onde uma vez mais a rainha D. Amélia se torna um alvo apetecível - e, finalmente uma exaustiva e interessante informação acerca das casas da alta sociedade parisiense, onde a gastronomia, o luxo e a trivialidade dosfait-divers senhoriais o impressionaram fortemente.

 

A opinião que tem do regime dos seus, é má,  pois "...a República...dá-me a impressão de uma desordem que cada vez mais se agrava, em que já há facadas, em que já corre o sangue, e a que eu assisto de longe, com o coração aos pulos, mas de braços cruzados". Entre um jantar de gala onde brilhavam senhoras altas, bem vestidas e ostentando portentosos decotes e uma amena charutada com homens públicos, Chagas encontra palavras de incontornável desprezo relativo aos representantes de nações extra-europeias "... à minha direita uma grande mulata que não sabe uma palavra de francês, mulher do ministro de San Domingos... a pobre mulher acha muito boa la comida del palacio e bebe todos os vinhos que o criado lhe serve". Tudo o mais consiste na enumeração dos convivas para os habituais ágapes, onde pontificavam príncipes, condes, duques e alguns homens do Estado francês, zelando de forma obsessiva a sua aparência, onde o bem vestir era, segundo facilmente se depreende, uma condição incontornável para se ser considerado.

 

Chagas sente um nítido desdém pela qualidade intelectual e moral dos seus pares e acalentou ódios que duraram até ao fim dos seus dias. António José de Almeida, Brito Camacho, Bernardino Machado, entre muitos outros - afinal o essencial do regime republicano -, são crismados com epítetos que fazem empalidecer aqueles outrora outorgados à classe política da monarquia. De resto, a imprensa francesa não lhe dá tréguas, relatando detalhadamente as greves, levas de presos, perseguições e abusos de poder em Portugal, o que perturbava a sua ronda pelos bailes do Eliseu, as visitas ao fotógrafo Nadar, as idas ao teatro ou furtivas espreitadelas aos roliços colos das damas do corpo diplomático. Facto espantoso, é a sua surpresa perante o estilhaçar do serviço diplomático português, queixando-se amargamente da falta de contacto com o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Lisboa, do qual raramente recebia notícias ou directivas, dependendo totalmente da imprensa internacional. De facto, o novo regime não podia prescindir dos quadros oriundos do seu predecessor, pois a imensa maioria dos membros do prp, não era gente capaz ou idónea para preencher os requisitos para a normal gestão do Estado, nem se encontrava inserida na vital rede de contactos e relações pessoais da diplomacia internacional. Os jornais estrangeiros são a constante preocupação de Chagas que por todos os meios tenta mitigar a opinião desfavorável que tinham da república, pois o relato das constantes ocorrências em Portugal, destruíam a imagem ideal e propagandeada de um país renovado e aberto ao futuro. Estava em causa, afinal, a sua própria reputação em Paris. No entanto, como o autor expressamente declara, a maioria das publicações trazem "...artigos tremendos contra a República. Em appoio das suas affirmações esses jornaes reproduzem opiniões de republicanos portugueses". A imprensa lisboeta vai divulgando as "tumultuosas e escandalosas sessões na Camara. O senador João de Freitas disse ao Alexandre Braga: v. Exa. é um miserável apache. O Braga não se mostrou sensível à affronta. O João de Menezes pegou-se ao socco com o presidente da Camara. Foi preciso separá-los. Um horror". Estes episódios eram recorrentes e assim, Chagas vai reproduzindo aquilo que a imprensa publica, como os escândalos de corrupção "...a crise (...) provocada pela questão da concessão das águas do Rodam, feita em favor de António Maria da Silva, deputado (...) que chamou canalha a um deputado. Este por sua vez chamou-lhe tolerado (...) as galerias intervieram na contenda e deram morras a Affonso Costa. Nos Passos Perdidos houve bofetões. Toda a gente andava armada" (17 de Junho de 1914). Um mês depois, a 15 de Julho, Chagas escrevia que "...em Portugal novos acontecimentos anormaes de que a imprensa de Paris esta manhã se occupa. Os amigos de António José d'Almeida, reunidos aos anarchistas, promoveram em Lisboa um comício durante o qual se comparou o Affonso Costa ao Diogo Alves e ao José do Telhado. À noite desordens no Rocio. O Café da Brazileira foi assaltado por um grupo (...) aos gritos de - Abaixo a formiga branca! Dispararam-se muitos tiros de revólver. Parte do café ficou em estilhas". Os pequenos compadrios e situações de nepotismo, mereceram inúmeras referências "...o António Bandeira (...) vai (...) occupar finalmente o seu logar de ministro em Berne, que conquistou sem grande esforço. Apenas o trabalho de ser primo do Bernardino Machado". Na necessidade premente de encontrar quadros afectos ao novo regime "... fui eu o primeiro homem que em Portugal lembrou este Teixeira Gomes (...) um pouco poseur (...) e que não se arranjava mal (...) Bernardino Machado (...) não gostou d'elle, por lhe parecer impertinente, ou desrespeitoso. O amor próprio de B. Machado não suporta aparencias altivas (...) como sempre, porém, fez uma tolice e em vez de o collocar em Madrid, onde elle não estaria muito fora do seu logar, no meio um pouco cigano da Hespanha, colocou-o em Londres, onde está inteiramente deplacé. Teixeira Gomes é uma especie de Oscar Wilde, com alguns vícios d'este e sem o seu talento (...) não é feio homem, mas falta-lhe nobreza (...) parece um clown enfarinhado".Brito Camacho é outro dos ódios pessoais de Chagas, chamando-lhe "...estúpido até à torpeza".

 

Os relatos do seu diário dos primeiros sete meses de 1914, focam genericamente os mesmos temas: a imprensa estrangeira, bastante cáustica em relação ao desvario político, económico e social imposto pelo novo regime em Portugal; a imprensa portuguesa, uma preciosa fonte de informação - e de aflição -, para um diplomata que carecia das mais elementares directivas para a prossecução da defesa dos interesses nacionais em Paris; e uma infinidade de almoços, jantares, visitas a teatros, clubes privados, casas da nobreza, ao palácio presidencial, além de uma vertiginosa agenda de festas bailes, soirées lúdicas e apreciação da moda feminina. A profunda antipatia para com os menos bafejados pela fortuna denota o seu carácter, preocupado em alcandroar-se a um lugar cimeiro, de onde julgava impiedosamente o valor de outrém, disso dependendo a sua apresentação física, os seus gostos, modos e maneira de vestir. João Chagas era um impenitente dandy, mais impressionado pelos roçagantes fru-frús das sedas e rendas das merveilleuses da época, que com aquilo que verdadeiramente interessava: a procura de um rumo e de um projecto paraPortugal. Tal como o regime implantado com o tiroteio na Rotunda, dava mais relevo ao acessório, porque de facto, o essencial desvanecera-se na meramente virtual demagogia dos seus pares. Nunca compreendeu que era parte integrante de um sistema e de uma forma despreocupada e irresponsável de conduzir os destinos de um país. Portugal pagaria bem caro esta incompetência e neste centenário da república, urge desvendar factos que ao longo das décadas foram sendo esquecidos ou habilidosamente adulterados pela propaganda oficial.

 

(continua).

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Uma marca de sobriedade

Foi publicado no Portal do Governo no passado dia 16 de Maio a composição da Comissão Nacional para as comemorações do Centenário da República acordada entre o Chefe do Estado e o Governo. Sob a presidência do Dr. Artur Santos Silva, a comissão integra como vogais executivos a Doutora Fernanda Rolo e o Prof. Doutor João Serra e como vogais o Dr. Francisco Sarsfield Cabral e a Prof. Doutora Raquel Henriques da Silva.
Com estas nomeações, que serão oportunamente empossadas pelo Sr. Dr. Cavaco Silva, espera-se uma marca moderação e sobriedade para as comemorações oficiais que decorrerão entre 31 de Janeiro e 5 de Outubro de 2010.
Festejar o regime chancela de quase cem anos de instabilidade politica, incompetência, iletracia e atraso económico, exige de facto bastante comedimento. A Plataforma do Centenário da República tudo fará para colocar um pouco de verdade e esclarecimento na rememoração dos acontecimentos que há quase cem anos condicionaram irremediavelmente o curso da nossa história.