quinta-feira, 28 de abril de 2011

Catarina, Kate (de Bragança)



A 21 de Maio de 1662 casou-se com Carlos II, aquela que até hoje, seria a última Rainha da Grã-Bretanha com o nome de Catarina. Desde cedo se lhe referiam como Kate, tal como agora é popularmente conhecida a futura consorte de Guilherme de Gales. O casamento foi cuidadosamente tratado e se para Portugal significou a garantia da independência em boa hora restaurada no 1º de Dezembro de 1640, para os britânicos marcou decisivamente, o momento da ascensão imperial que levaria a Union Jack a todo o planeta. Não será muito ousado afirmar que essa segurança proporcionaria a Portugal, a manutenção de um império ultramarino que chegaria ao nosso tempo e hoje significa a presença da língua portuguesa em quatro continentes.


Os noticiários têm passado constantes imagens do movimento em torno do enlace daquele que num futuro ainda distante, será o monarca do nosso mais antigo - talvez o único, constante, teimoso e verdadeiro - aliado. A esmagadora maioria entusiasmar-se-á por um espectáculo que segundo os cânones ingleses, surge como uma obra de cinema avidamente seguida por dois mil milhões de espectadores. Se uns tantos criticam o evidente dispêndio de somas destinadas a uma organização que zela para que tudo surja impecavelmente disposto e apresentado, muitos já pasmam com o caudal de ouro que entra nos cofres do Estado. Materialmente, a Monarquia consiste num esplendoroso negócio para a Grã-Bretanha e em qualquer loja de rua amontoam-se souvenirs que podem atingir preços exorbitantes, adquiridos por coleccionadores em todo o mundo. É certo que se o kitsch e a irreverência são parte integrante no conjunto da oferta, há que notar a extraordinária qualidade de peças que vão desde as faianças à joalharia, vestuário e acessórios. O famoso By Appointment of H.M. The Queen, consiste numa inesgotável fonte de receitas para o Exchequer e paralelamente, nota-se a existência de uma próspera indústria que dá trabalho a um importante contingente de cidadãos. A Monarquia é sinónimo de Grã-Bretanha e de Commonwealth e o fraquíssimo e quase caricato "movimento republicano", não passa de uma curiosidade ao nível de anedota cockney.

Para incredulidade dos observadores do continente, a Coroa goza de um imenso prestígio dentro e fora das fronteiras do país, pois soube ser nas horas difíceis, o essencial esteio daquela união popular que permitiu vencer todas as adversidades, por mais gravosas que pudessem apresentar-se. A uma jornalista espantada dizia a Rainha Isabel, a mãe da actual monarca, que "os londrinos esperam ver-me sempre firme e bem apresentada, eles querem ter a certeza de que a Rainha está ali, que não teme nem foge". Se as palavras não foram precisamente as mesmas que aqui deixamos, foi esta a mensagem transmitida. Londres vivia os meses terríveis do blitz imposto pela Luftwaffe e a constante presença de Jorge VI e de Isabel nas ruas de Londres, levaria Hitler a considerar a soberana, como "a mulher mais perigosa da Europa". Para os britânicos, canadianos, neo-zelandeses, australianos, sul-africanos, jamaicanos e tantas outras populações daquilo que conhecemos como Commonwealth, o Palácio de Buckingham foi o centro de uma certa ideia de um mundo livre que para sempre queriam preservar. Os símbolos contam e pelo que se vê, estão longe, muito longe de desaparecerem. Um exemplo é a evidente alegria que varre todo o país, onde os entusiastas colocam ombro a ombro britânicos, as comunidades imigrantes e muitos milhares de turistas que acorreram à capital do Reino Unido.

Amanhã veremos uma cerimónia sem igual, um eco que o passado também já viu desfilar pelas ruas de Lisboa. Imagens de bom gosto, de um imenso orgulho de mostrar ao mundo aquilo que a Grã-Bretanha tem de melhor. Algumas carruagens, talvez bem modestas se compararmos com a quase acintosa qualidade e requinte daquelas que mal conservamos no Museu dos Coches, serão o foco de todos os olhares e mostrando a quem quiser ver, a não cedência perante modas efémeras ou à ausência de convicções de uns tantos ressabiados que diante dos televisores, não deixarão de proferir uns tantos ditos jocosos. Não perdendo sequer uma imagem, contentar-se-ão no ensimesmar de rancores e porque disso estamos seguros, de uma inveja larvar que é bem um sintoma de vários desesperos e desgraças que geralmente recaem sobre as pobres cabeças que dizem governar.

As Monarquias servem sobretudo nos momentos difíceis. Hoje o Reino Unido aproveita esta oportunidade e durante horas a fio, beneficiará de uma publicidade comparável a um evento de nível mundial, estimulando a economia, arrecadando cabedais para o tesouro público e enchendo de contentamento negociantes, políticos e populares que anseiam por melhores tempos. As guerras, as discórdias partidárias, o difícil equilíbrio de poderes ou as crises económicas, causam perturbações à segurança dos Estados e assim sendo, a necessidade de referências comuns torna-se imperiosa. Não é um chefe de partido ou um exaltado mas efémero caudilho, quem conseguirá concitar a quase unânime aquiescência que aqueles momentos exigem. Os ingleses sabem-no bem, enquanto nós, portugueses, fazemos os possíveis para não reconhecer essa evidência. É que bem vistos os factos, também temos a "nossa Commonwealth", ainda tímida e hesitante, mas não menos promissora. Se quisermos.

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