quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Falando em "marquises"...



Após um patético e encomendado intróito grasnado por uma menina muito ao estilo da propaganda do Dr. Goebbels, tivemos o prato forte da ora.
Num razoável e decerto inconsciente exercício de autocrítica com laivos quase maoístas, o Mr. Deficit de serviço contabilizou as oportunidades colocadas em termos de empréstimos sobre as "nossas" mesas ministeriais. Sem proferir uma única palavra relativa à sua ruinosa gestão como primeiro-ministro, o já avançado avô do défice das contas públicas veio dizer-nos que ..."durante alguns anos foi possível iludir o que era óbvio" e viveram-se ..."tempos de ilusões". Num auto-bofetão, acrescentou ainda alguns anos perdidos na ..."letargia do consumo fácil e na ilusão do despesismo público e privado".

Num discurso normalmente escrito por um serviçal disponível entre as grosas de assessores pagos a expensas do contribuinte - eufemisticamente conhecido como Erário Público -, acaba por enterrar quase trinta anos de carreira intensa e exclusivamente política, liquidando de uma penada, as manigâncias pretensamente económicas que abusivamente asfaltaram o país de norte a sul, descalcificando os cofres que abarrotaram de verbas colocadas à disposição pela "Europa" (Alemanha). Coortes de futuros consagrados meliantes arrastados para os lugares chave do poder, centos de milhar de novos funcionários públicos entrando pela porta de serviço do(s) Partidos(s), uma inaudita emergência de yuppies de cabelos compridos e bem oleados de gel, a barulhenta jeepalhada que substituiu tractores e os tais dois pequenos apartamentos T3 de algarvios investimentos que refundiram em betão, aquela traineira da faina outrora familiar. A todo este ridente progresso, acrescente-se o bem cavaquista ímpeto demolidor dos centros urbanos à mercê da cupidez imobiliária, as digestivas brincadeiras bolsistas, os negócios explosivos das amizades escusas, a total e subserviente cedência diante da prepotência estrangeira e pior que tudo, a completa rendição perante os espanhóis. Esta ultrajante República, consegue a proeza de numa brisa de pouco mais de duas décadas, liquidar a presença económica portuguesa no antigo Ultramar e os dados oficiais hoje trauteados pela televisão estatal, remetem as nossas trocas comerciais com os PALOP, ao ínfimo patamar de 1%, ao qual acrescenta-se mais uma unidade no que se refere ao Brasil. É um desastre praticamente irreparável, um verdadeiro Alcácer Quibir sem o remédio que há 350 anos era possível para a ambicionada cura: a posse do conhecimento das redes do comércio internacional de então, a presença pluricontinental e sobretudo, a vontade do querer fazer e de garantir a independência, por muito improvável que ela parecesse.

O nosso Mr. Deficit carrancudamente nos avisa acerca do "vivermos acima das nossas possibilidades" e quase parafraseando Salazar - o reconhecidamente inatingível alter ego -, apela à "austeridade digna", rejeitando-se os "gastos desmesurados" e insistindo no patriótico dever de consumirmos aqueles produtos que ele próprio fez um dia desaparecer das prateleiras dos mercados.

"Valor republicano da austeridade digna", balbucia. Assim sendo, comece ele próprio a dar o exemplo, prescindindo de 50% da lista civil e da criadagem engravatada repescada nos recônditos clubísticos dos interesses de onde ele próprio um dia saiu para a ribalta que nos encadeia e exaure. Siga o exemplo do vizinho João Carlos e passe a consumir uns módicos 8 milhões anuais. Já é muito e chegam e sobejam para este desastroso marquisamento mental a que submeteu este país.

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