Esta história da mudança da bandeira do município de Lisboa pela de Portugal pré-1910, içada no mesmo balcão onde a cinco de Outubro daquele ano foi proclamada a República veio esclarecer duas coisas muito importantes. A primeira delas é que no one gives a damn for the portuguese republic. É o mesmo que dizer que os portugueses estão-se nas tintas para a República Portuguesa. Salvo meia dúzia de pseudo-patriotas que apareceram nas várias peças jornalísticas, daqueles para quem o patriotismo máximo é pôr a mão sobre o peito quando toca o Hino nos jogos de futebol, para estes, a República é a nação e, como tal deve ser respeitada. Esquecem-se, contudo, que a nação não se esgota em 100 anos. Compreende-se, porém, a atitude destes pobres cidadãos que de História apenas conhecem o primeiro rei de Portugal, a cronologia da carreira do Cristiano Ronaldo e um ou dois acontecimentos maiores dos últimos 20 anos, talvez a Expo, em 1998, e o Europeu, em 2004. De resto, o acto - quanto a mim genial - de remoção temporária da bandeira do município foi algo que alguns consideraram uma ofensa (no twitter havia dois ou três repúblico-onanistas que batiam contra o teclado como se estivesse em causa a honra da mãe deles) foi uma demonstração de como os símbolos nacionais andam pelas ruas da amargura e de como o fervor republicano morreu pouco depois de 1910. Nos blogues havia gente insuspeitadíssima de todas as idades a comentar o quão bela era a bandeira de Portugal antes de 1910 (detalhes, claro, quando em causa está o futuro de um país), outros dado o inusitado da situação, foram "comparar" regimes e claro, chegavam à conclusão de que uma Europa essencialmente "monárquica" não pode estar errada (muito embora alguns fanáticos continuem a dizer que monarquia não é democracia. Porque no se callan?). Em suma, toda a publicidade é boa publicidade. Aliás, o Bloco de Esquerda sabe-lo bem, é uma das suas estratégias, entrar aos pontapés e urros em celebrações ditas "patrióticas" ou "nacionalistas" com lenços na cara e palavras de ordem (ou antes palavrões de ordem). O mais engraçado é que ninguém espera que eles sejam presos. É normal. São rebeldes. Em segundo lugar, ficamos a saber que, com este acto, e outros com que a ala monárquica do 31 da Armada nos tem já presenteado, inaugura-se um novo período na luta pela discussão da República. É bom que todos percebam que nós, monárquicos, não somos elitistas nem queremos chás dançantes, nem garden partys com tiques aristocratas e pró-restauração de privilégios que nem fazem sentido hoje em dia, nem são a essência de uma monarquia parlamentar, plural e moderna. Aliás, a restauração dos privilégios de uma certa monarquia nunca poderia ombrear com os desta República Portuguesa, tal o número de benesses, cargos políticos e honoríficos que as instituições republicanas distribuem anualmente segundo interesses individuais e corporativos (ordens, comendas, tachos, etc etc). Por isso, pode o movimento 31 da Armada, e todos os que lutem por um Portugal melhor e mais justo, contar sempre com o meu apoio e, neste momento, com a minha solidariedade.
4 comentários:
Falaste com justeza. Li alguns comentários no Público Online, na notícia da troca de bandeiras e lá figuravam muitos ignorantes que acham que a monarquia ainda é o regime arcaico que já se foi há 200 anos.
Acho muito engraçado que vocês, monárquicos, sejam iludidos ao ponto de pensar que um mero acto de troca de bandeiras do balcão da Câmara Municipal de Lisboa, um acto que poderia facilmente ser perpetrado por uma qualquer escória suburbana dos lados da Amadora, seja um ponto de viragem na discussão do tipo de regime político adequado à nação...
Hó "apenas Ninguém disse", então a Amadora tem "escória"? Então vocemessê não se pôe a falar do regime? E isso não é uma "viragem" na melancólica situacionisse republicana?
A república tem os dias contados se contar com a qualidade destes que se dizem republicanos. Acho que já basta...
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