sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A república de Saramago


É este o quadro clínico - reservado e sem apelo - de uma certa conspiração da idiotia que teima em amarrar-nos ao subdesenvolvimento cultural. É evidente que a República morreu no dia 5 de Outubro de 1910. É transparente como a água que a República matou a esquerda decente que havia em Portugal, alienou-lhe o programa de reformas sociais trocando-o pelo patrioteirismo serôdio à Junqueiro e pela "mística" que nunca ninguém conseguiu dilucidar. É evidente que a direita portuguesa - a boa direita, com homens, programas e objectivos de governação - estiolou em resultado da República, passando doravante a alimentar-se de medo, ressentimento e revindicta. É evidente que a República, com a sua tosca falta de consideração pelas crenças que se confundiam com o ser e destinação de Portugal, foi o melhor aliado para quantos não haviam compreendido que a separação entre o Estado e a Igreja constituia,afinal, a libertação da esfera do religioso. É evidente que a República nos atirou para fora da Europa, nos provincializou e fechou portas às grandes correntes do pensamento ocidental. Compreende-se, pois, que só os inimigos da liberdade - à esquerda como à direita - a possam incensar, pois sem ela não medrariam. A República foi a lotaria para os messianismos desvairados e para o fim histórico de Portugal.

Miguel Castelo-Branco no Combustões

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