terça-feira, 9 de setembro de 2008

RES PUBLICA - O anti-republicanismo de Antero de Quental

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«O pior que nos pode acontecer é sermos amanhã república .»
ANTERO DE QUENTAL, Cartas

Numa época em que se pretende enunciar os princípios republicanos e socialistas como sendo partes naturalmente integrantes do mesmo edifício político (com manifesto abuso, diga-se desde já), urge como nunca explanar em traços necessariamente céleres, condenados à aridez da simples enunciação, o que foi o desavindo percurso perpetrado por cada dessas escolas ideológicas nascidas sob o úbere pendão das ideias filosóficas posteriores ao ultimo quartel do século XVIII mas que não são - longe disso- definíveis uma pela outra. " Em Portugal» republicanismo e socialismo entram de mãos dadas, embora tardiamente,- com um século de atraso em relação à Europa. Os mais directos responsáveis pela sua introdução no tecido intelectual português, assinalaram o feito com um ciclo de conferências que ficou exactamente conhecido por Conferências do Casino ( 1871).

Antero, o maior vulto dessa novel escola política (socialista e republicana), secundado por alguns mais, cedo se aperceberia da natureza autónoma do ideal do regime e a do sistema político-económico almejado, e bem assim da necessidade de separar as águas adscritas a um e a outro.


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Teófilo Braga

Assim, a clivagem república/socialismo pode ser consubstanciada na disjunção Teófilo Braga/Antero de Quental e verifica-se «a partir do momento em que a Geração setecentista divide o seu caudal, separando-se em dois leitos distintos, o do Partido Socialista (fundado em 1875) e o do Partido Republicano (fundado um ano depois)'»

Ê assim que ainda mal nado, o socialismo português se divorcia do republicanismo e enceta uma clara aproximação ao até aí combatido regime monárquico.

Esse divórcio era ditado pelo mesmo Antero em carta dirigida a Oliveira Martins:

«A fantasia republicana está desfeita de todo o nosso grupo socialista e dou por isso graças aos deuses.É necessário, de toda a necessidade, que quebremos com os republicanos e eu estou resolvido a fazê-lo»(2).

Logo a seguir, declarava a sua «completa isenção «do movimento republicano»(3). Em 1885, o seu descrédito nos decantados benefícios da instituição republicana para suprimento das minguas económicas e sociais do País, vai mais longe:

« (...) Está iminente a bancarrota e uma tremenda crise social; a proclamação da Republica não só não remediaria esses grandes males (...), mas trazia uma complicação e elemento de desordem, como ainda em 1873 se viu em Espanha»(4)


Oliveira Martins, plumitivo de credo monárquico, infatigável teórico da conciliação da doutrina [e] robustecimento do Poder Real com um Socialismo de Estado (5) ,seria a mais bela expressão dessa nova aliança entre o ideário socialista temperado e o regime sete vezes secular. Mesmo depois de ter passado fugazmente pelas esferas do poder, onde o seu sonho de reconstrução nacional esbarrou no imobilismo de um constitucionalismo aferrado e inerte, não cedia a confusões, depois de namorado pelos republicanos para seu deputado pelo Porto:


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Oliveira Martins

- « E quem lhes disse aos senhores, que sou republicano? Não sou, sou socialista..» E acrescentava: «República,anarquia e Castela»(6).

E se assim era no plano intelectual, também na esfera da acção política se verificou a dissensão, acrescida da perseguição que os republicanos começaram a. mover aos movimentos socialistas e sindicais. Em 1885, o Partido dos Operários Socialistas de Portugal acha-se ferido de morte, e mau grado Azedo Gneco tivesse fundado o Partido Socialista Português (1895), e tendo adoptado por estratégia de sobrevivência uma aproximação aos republicanos em 1901 , depois de controvérsia (Luís Figueiredo opôs-se terminantemente e o rompimento definitivo da-se em 1907), o sucesso da táctica era impedido por «uma forte desconfiança.em relação ao Partido Republicano», como escreve António Ventura (7).

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Azedo Gneco discursa

Com a fundação do Partido dos Operários Socialistas de Portugal recrudesce e ganha contornos inauditos de animada aversão o combate aberto que o Partido Republicano move aos socialistas. Estes conhecerão um único e fervoroso coadjuvante: El-Rei-D. Manuel II.

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D. Manuel II

O trecho da carta que de seguida expomos .(dirigida pelo monarca a Venceslau de Lima cm 15.6.1909), é a esse respeito bastante esclarecedora:

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Venceslau de Lima

«(..,) o Partido Socialista encontra-se desorganizado e dividido em fracções desde 1891. O Partido Republicano tem-lhe feito uma guerra de morte e arranjou sempre coisas de maneira que o partido se encontrasse sempre em desacordo („.). O Partido Socialista encontra-se há poucos dias completamente unido: a pessoa que conseguiu isso é o Alfredo Aquiles Monteverde (...). Eu tenho-me interessado muito há já bastante tempo por essa questão, que tenho vindo seguindo e ajudando».


Feitas as diligencias régias para que o Partido Socialista ganhasse uma compleição de poder, estudado o respectivo programa enviado por Gneco. Monte verde dirige-se desta parte ao Rei: «Venho agradecer reconhecidíssimo o bilhete e a carta que V.M. houve por bem enviar-me e o interesse que V.M. continua a tomar pelos seus operários. Mal sabem eles do alto patrocínio que tão eficazmente os está auxiliando neste momento». (8)

Após o advento da República, o Partido Socialista, no seu "Manifesto", perfila-se como oposição e não tem pejo em proclamar.

«O Partido Socialista entende que deve ser lançada aos actuais dirigentes e aos elementos mais preponderantes da República Portuguesa a inteira responsabilidade por todas as perturbações de ordem ultimamente havidas e por todas as que parecem prestes a haver ...»(9).


A repressão republicana contra o operariado, revestiu-se de contornos dignos da mais acerba dás tiranias. Em 1912, na Greve Geral de Lisboa, os grevistas foram duramente reprimidos e submetidos a degradantes prisões. Um ano depois o democrático (!) «governo de Afonso Costa proibiu o cortejo e o comício do 1º de Maio...» (10)

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Afonso Costa

Meses antes, o Anti-Cristo de Seia (o epíteto é do seu ex-colega de partido Cunha e Costa) assinava no jornal "O Mundo" um artigo em que demonstrava descrer no futuro do socialismo e bem assim no movimento das cisasses operárias e sindicatos. (11)

E dando vazante à ideia de enfrear o operariado, conta Carlos Mailheiro Dias que os proletários acusaram a «república de ter mandado fuzilar os operários grevistas de Setúbal como nunca-se tinha feito rto tempo da monarquia: (...) de decretar uma lei eleitoral mais reaccionária que qualquer das que estiveram em vigor no antigo regime» (12).

Em 1914 é fundada a União Operária Nacional, que o governo de então logo se apressou a extinguir, sendo reorganizada em 1917. Em Maio desse ano, como protesto contra a falta de pão em Lisboa, quatro milhares de pessoas manifestaram-se no Rossio e a Guarda Nacional Republicana recebeu ordens governamentais para dispersar os civis pela violência, O confronto saldou-se em dezenas de mortos e 547 prisões. (13)
Mas o conflito entre republicanos e socialistas, não se confinaria à I República (onde de resto, nas diversas legislaturas, apenas foi eleito um máximo de dois deputados socialistas, o equivalente a deputados miguelistas). Na II República foi o que se sabe; o socialismo seria banido oficialmente do solo português e o sindicalismo decretado, tal como na I República. adverso ao Estado» Só após o 25 de Abril os socialistas se puderam organizar livremente, como queria 65 anos antes, o Rei D. Manuel II.

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Por este apontamento poderemos ver que socialismo e república, andaram desavindos durante mais de cem anos. e só muito recentemente se reconciliaram...

J. Mendes Rosa

notas
1-João Medina "Antero e Teófilo"

2- Cartas inéditas de Antero de Quental a Oliveira Martins,1, Univ. de Coimbra, Coimbra 1931, pp 17-18

3-Ibiden

4- Carta a S. Costa Botelho de 1-VIII-1885, "Cartas II", p 746


Fonte : Blog Esquerda Monarquica : http://esquerda-monarquica.blogspot.com/
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7 comentários:

Anónimo disse...

Não existe II República, só se for a actual.
E para haver conflitos de mortos e feridos entre grevistas e GNR só pode etr sido porque os protestos eram violentos, provavelmente feitos por anarco-sindicalistas que aproveitaram o factod e se poderem manifestar para causar disturbios.
Enfim

Anónimo disse...

LOLOLOLOLOLOLOL

Não existe 2ª República ? LLOLOLOLOLOL Então o que me diz de um regime não herditário como o Estado Novo ? É Uma Monarquica ?

Por favor mais vale estar em silêncio pois as suas observações são ridículas.

Anónimo disse...

1ª República é 1ª República.
2ª República é irreal, é uma ditadura anti-republicana, o Estado Novo.
3ª República sim já existe.

Anónimo disse...

ditadura anti-republicana com um presidente da republica à cabeça o que é ? Pá o silêncio por vezes vale ouro e com republicanos deste calibre ... é o melhor que há para dar umas gargalhadas heheheh

Anónimo disse...

presidente da republica à cabeça?
Você considera um militar presidente da República?
Anda a ver muitos livros de desenhos animados

Anónimo disse...

Então meu caro Watson o 25 de Abril como foi feito por militares não deve ter legitimidade segundo a sua óptica miúpe.
Desenhos animados até são porreiros se forem tipo "As Aventuras de Michel Vailant" ou "corso maltese" até porque não o famoso Asterix ... mas vossa excelência parece ter mais medo que lhe caia o céu na sua caixa de hastes do que o Astérix.
Enfim divirta-se, a minha testa está bem levezinha.

Anónimo disse...

Lol, vi logo que isso eram desenhos animados a mais.
Mas fique descansado que eu não tenho medo que me caia o ceu em cima.
Sou ateu.
O 25 de Abril foi um golpe de estado realizado obviamente por militares, mas em consequencia deu lugar a uma revolu~ção realizada pelo povo nas ruas e a um PREC (processo revolucionario em curso).