quarta-feira, 31 de março de 2010

D. CARLOS E O ESTUDANTE REPUBLICANO

«D. Carlos regressava duma das suas viagens - foi em 1901 - e passava num expresso em Coimbra. (...) acabei por me encontrar, no pequeno salão do comboio, só com um homem ainda novo, de estatura regular, apessoado, bem mas despretensiosamente vestido, com um boné de viagem... Pus-me a olhar para ele, e reconheci D. Carlos!
Como ficara ali, sem que ninguém o acompanhasse?
Eu estava de capa e batina...
A natural timidez do Rei seria grande (...) mas foi ele a romper o constrangimento.
Conversámos (...)
E - o que parecerá incrível - também eu quis aconselhar o Rei!
E o Rei disse-me, sorrindo - e esse sorriso quanta bondade, quanta magnanimidade revelava! -:
- É, pois, meu amigo?
(...) ousei responder:
- Vossa Majestade só conhecerá os seus amigos, se um dia for deposto!
D. Carlos estendeu-me as mãos... Beijar-lhas-ia, se não fosse Rei.
Assim, apertei-lhas - e abraçámo-nos!
O comboio partia; saltei do salão - e ainda o Rei me disse, não sabendo o meu nome:
- Adeus, estudante; não o esquecerei...
Não esqueceu!
E eu, republicano, através de tantas lutas, não fui nunca infiel ao generosíssimo coração desse homem tão simples, tão bom, tão patriota, que foi Rei de Portugal, nem olvidarei jamais a sua memória, a memória daquele que pagou com a vida as culpas de todos - as suas e as de todos os portugueses».
in Lopes d'Oliveira, «Rema Sempre! (Memórias - Crítica - Paisagem)», Edições Cosmos, 1940, pág. 41.

Como se fabricou um mártir da república


A posição eminente do psiquiatra Miguel Bombarda no martirológio republicano pode avaliar-se contando o número de placas toponímicas dedicadas a ele por todos os cantos do país. Tal como os arqueólogos deduziram, pelo abundante número de lápides a ele consagradas, que o deus Endovélico era uma das maiores figuras da religião dos lusitanos, também o investigador desse mundo obscuro que é o republicanismo português, avaliará a suma importância deste grande mártir republicano, se viajar de Norte a Sul de Portugal ou de Leste a Oeste, embrenhando-se no interior do país profundo ou deixando-se ficar pela frescura do litoral. Por toda a parte encontrará o nome do ilustre psiquiatra oferecido à veneração pública, nesses autênticos altares do laicismo republicano que são as placas toponímicas. Nas cidades e vilas da república portuguesa não faltam as avenidas, ruas, travessas, praças e pracetas, os largos e os becos com o nome de Miguel Bombarda. Qualquer estrangeiro que viaje pelo país dando atenção às ruas por onde passa, convencer-se-á de que este nome é o de uma das maiores personagens da nossa história. Leia na integra aqui »»»»

Cronologia da república - 31 de Março

  • 1915

O tenente Óscar Monteiro Torres é dado como desertor

  • 1923

Greve dos padeiros

Rebentamento de bombas em Lisboa

Fontes: aqui

terça-feira, 30 de março de 2010

«CARTA A ANTÓNIO ENES SOBRE AS FARRONCAS DOS PORTUGUESES»

Caríssimo
(...) V. próprio teve a oportunidade de assistir (...) às cenas grotescas que o ultimato provocou: à procissão que foi pôr crepes na estátua de Camões, aos caixeiros da Baixa que se queriam bater com Salisbury, à campanha contra os produtos ingleses; à subscrição popular para o cruzador de refugo que iria destruir a esquadra mais poderosa do mundo pela simples virtude da tesura portuguesa (...). Calculo as vergonhas por que V. passou.
Eu, no meu tempo, passei por outras: pelas tristíssimas figuras da "defesa" da India, pelo "orgulhosamente sós" do Prof. Salazar, pela exótica exemplaridade da descolonização (...). O facto, meu caro, é que nada mudou. Ao fim de um século, de um século inteiro, repare bem, continuamos com enormes farroncas e sem qualquer cabeça.
(...)
Há, no entanto, factos que não posso ocultar-lhe, como a recente polémica suscitada por um discurso do Dr. Mário Soares, o Presidente da República (é verdade, eles lá conseguiram) entre o dito Presidente, o Partido Regenerador, que se chama hoje PPD, e o Partido Progressista, que se chama hoje PS.
(...)
O Dr. Mário Soares proclamou num discurso solene que Portugal era perfeitamente capaz de "se afirmar no mundo como nação desenvolvida e de vanguarda" e que, "pela primeira vez, desde a época aúrea dos Descobrimentos" estava "em condições de marcar o futuro da Humanidade". (...) Não se espante. O Presidente da República, coitado, sobretudo quando se ocupa de ciência e de cultura, é atreito à megalomania patriótica.
(...)
A soberania em questão (...) existe apenas no espírito fantasioso do Sr. Presidente da República (...) Não temos qualquer independência ou poder económico. Não temos dinheiro nem gente qualificada para nos desenvolver. (...) Desde 1974 que não temos império (...) temos duas fragatas e uma dúzia de aviões, que não voam por falta de gasolina. E temos, na Europa e no mundo, a exaltante missão politica de fazer recados e não arranjar sarilhos (...).
(23.06.1990).
in Vasco Pulido Valente, «Esta Ditosa Pátria», ed. Relógio d'Água, pág. 28.

HISTÓRIA DE PORTUGAL EM DISPARATES

«A REVOLUÇÃO DE 5 DE OUTUBRO: IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA
" Em 5 de Outubro deu-se a revolução da instauração da ré pública" ou "foi quando se deu a nova República".
Vários foram os chefes do primeiro governo republicano então formado:
- "D. Luís"
- "Rodrigues de Freitas"
- "General Óscar Carmona"
- e o próprio "D. Carlos".
Sentido do termo "República":
- "República é os partidários da monarquia que não desistiam de tomar o poder"
- "República é um governo ser escolhido pelo povo para ser Presidente da República"
- "É um governo provisório, porque tem um presidente e ministros"
Vicissitudes da primeira República:
- "A primeira República teve uma existência instável por causa da ditadura"
- "A primeira República teve uma existência instável, porque houve várias guerras e vários reinados"
- "Foi instável porque os portugueses faziam o que queriam".
Mas, afinal "foi estável, porque ninguém podia dizer nada de ninguém e as pessoas tinham medo e não diziam nada"...»
(compilação de Luis de Mascarenhas Gaivão, prof. de História no Ensino Secundário, assim intitulada, edição de Publicações Europa-América, 1987 - 6ª edição em 1988!)

E os servos de hoje?

foto de Almanaque Republicano (c)

[...]

«No reino de Portugal, todos trabalham para a ascensão de alguns. De hoje em diante, cada um esforçar-se-á para glória comum.


Companheiros! A Monarquia já mostrou bem aquilo que quer do nosso país: uma coutada em que damas e fidalgos brinquem todo o dia à caça e à guerra, sustentados por nós, milhões de servos agrilhoados. É por isso que nesta manhã de Outono, resolvemos transformar o idílio de uns, na realidade de todos»

[...]

«Texto da autoria de Xavier Rodrigues, aluno do 12º ano, turma B, da Escola Secundária c/ 3º CEB Dr. Joaquim de Carvalho da Figueira da Foz, proferido durante as Jornadas Culturais da referida escola, na reconstituição do 5 de Outubro de 1910». Via Almanaque Republicano

Ao que parece faz parte dos programas educativos uma disciplina de Laudatória à República. Isso, ou os professores, tão gratos que estão à República Portuguesa por serem a classe melhor tratada na Europa, se empenham na evangelização dos acríticos alunos, mesmo apesar daquela Associação que escreve cartas a todos e mais algum - a República e Laicidade - condenar veementemente a propagação de crenças religiosas na sala de aula. Esta religião cívica, o republicanismo, que na sua bonomia salazarista apenas convertia crianças do Ensino Primário em devotos adoradores da bandeira e do hino republicano, como símbolos máximos de uma nação maior e impoluta no seu passado recente, está agora a estender-se a toda a escolaridade obrigatória. Noutros tempos e noutros regimes tal aberração propagandística tinha outro nome. Hoje chama-se Cultura.

Cronologia da república - 30 de Março

  • 1911

Greve dos vidreios em Lisboa

  • 1912

É fechado o jornal "O popular" de Lisboa

Casamento de um padre católico em Alcoentre, seguindo-se de uma celebração de missa pelo próprio

  • 1913

É fechado o jornal "O Carbonário" de Évora

  • 1914

É fechado o jornal "O Povo de Braga"

  • 1915

Depois do congresso, o partido democrático, apresenta queixa contra o governo

  • 1918

Dec 3997 - Lei eleitoral

Devido ao facto de Bernardino Machado ter publicado um manifesto no jornal "A Capital", o governo instaura um processo, sob a desculpa deste promover a revolta

  • 1920

Greve nos telégrafos-postais

  • 1921

O decreto 7427, estabelece os documentos que os emigrantes, com a passagem paga, têm de apresentar para embarcarem

Fontes: aqui

segunda-feira, 29 de março de 2010

De volta a Herculano...

«O poder é um árbitro, sem vontade própria, a que cada qual se sujeita por conveniência. À luz do direito, nenhum poder político se pode legitimar porque nenhuma soberania é legítima: a república democrática não tem mais fundamento jurídico que a monarquia. Reduz-se o problema a uma questão de conveniência; e Herculano verifica que a monarquia está enraizada na tradição, é o status quo - razões para ser preferida a um regime novo que obrigaria a uma readaptação custosa. Além disso, a monarquia representativa realiza a teoria do equilíbrio de poderes: a soberania nem está no Rei nem na Nação; isto garante para Herculano uma defesa contra uma soberania popular exclusiva que teria muito mais força contra os direitos individuais do que o tem estas duas meias soberanias que se vigiam com desconfiança e se contêm mutuamente».
in António José Saraiva, «Herculano e o Liberalismo em Portugal», Lv. Bertrand, pág. 252.

Fare niente, champanhe e croquetes



Postagens como esta, são exemplificativas da completa decadência a que Portugal chegou. A falta da mínima preparação para o exercício de cargos públicos, manifesta-se de fio a pavio e o opinionismo imbecil impera, desde que isso implique provento.
Em tempos idos, as embaixadas eram ocupadas por gente que pelo menos, tinha uma certa consciência da história do país que representava. Hoje em dia, atira-se a linha ao lago de todas as promessas e não é com grande espanto que se pesca sempre uma bota rota, ou um pneu centos de vezes recauchutado. O "boyzismo" vaidoso e cretinóide pontifica. Pobre Talleyrand, pobre Metternich, pobre Pde. António Vieira, pobre D. Luís da Cunha, pobre Palmela, pobre Soveral. O que não faltam por aí, são exemplos de ... "grãs-bestas que chegaram a grãs-cruzes". É o azar de tropeçarmos nos seixos dos Costas, ou a gente do "Centenário" no seu melhor!

Ainda a revolta do 31 de Janeiro no Porto

A não perder o interessantíssimo artigo com imagens inéditas do nosso novo colaborador, jurista e literato nortenho João Afonso Machado sobre o a revolta do 31 de Janeiro no Porto. Aqui

Cronologia da república - 29 de Março

  • 1911

Não podem ser professores primários, todos os individuos que forem contra a república

  • 1912

Edward Grey, diz que no âmbito da aliança, a Inglaterra devia defender as colónias Portuguesas, contra os seus inimigos

  • 1917

É fechado o jornal "O Debate" de Coimbra

  • 1919

Os operários da construção civil, realizam um espectáculo de beneficiencia, para a construção de uma escola primária com aulas de desenho

  • 1923

É fechado o jornal "Povo de Leiria"

Fontes: aqui

domingo, 28 de março de 2010

RAMALHO: DE MONÓCULO ATENTO À REPÚBLICA (I)

« (...) a recém-nascida República portuguesa empenha-se em dar ao mundo a mais eloquente lição sobre o modo como se não deve educar um povo.
Infelizmente a Imprensa estrangeira está-nos em cada dia demonstrando que o mundo, a não ser na limitada zona geográfica da rua que em Lisboa lhe tomou o nome, se mostra assaz desinteressada das lições que Portugal lhe propina.
Não me parece, portanto (...) que o Governo Provisório de Lisboa seja mais autenticamente o prefácio de uma liberal República que o da mais despótica tirania.».

in Últimas Farpas (1911-1914), Clássica Editora, pág. 15.

Em ano de bicentenário, recordemos as palavras de Herculano




«Olhamos impassivelmente para as doutrinas republicanas, como olhamos para as monárquicas. Não elevamos nenhuma a altura de dogma. Não nos cega o fanatismo, nem perguntamos qual delas tem mais popularidade. É já tempo de examinar friamente, e de discutir com placidez, qual dos dois princípios pode ser mais fecundo para assegurar a liberdade e, depois da liberdade, a ordem e a civilização material destas sociedades da Europa, moralmente velhas e gastas. Persuadidos de que a monarquia, convenientemente modificada na sua acção, resolverá melhor o problema, preferimo-la sem nos irritarmos contra os seus adversários; sem os injuriarmos, sem acusar as suas intenções, recurso covarde de quem desconfia da solidez das próprias doutrinas. A nossos olhos a monarquia existe pelo povo, e para o povo, e não por Deus e para Deus. A existência de um poder público, de um nexo social, é o que se estriba no céu, porque a sociabilidade é uma lei humanitária. A revelação divina confirmou este facto achado também no mundo pela filosofia política. “Por mim”, disse a voz do Senhor, “reinam os reis, e os legisladores promulgam o que é justo”. A sabedoria suprema supôs a autoridade na terra: não curou de que fosse só um que a exercesse, ou que fossem muitos. Aprendamos a tolerância política nas divinas páginas da Bíblia.»

HERCULANO, Alexandre – Opúsculos. Tomo I. Questões públicas: política. Lisboa: Livraria Bertrand, 1983, pp. 267-268

Sociedades iniciáticas por Pedro Olavo Simões - JN de 28 de Março de 2010

Carbonária foi o motor da conspiração que levou ao 5 de Outubro de 1910, sendo enquadrada por sectores da Maçonaria portuguesa.

Talvez o êxito da revolução republicana tenha assentado na transição da propaganda para a conspiração. Solidificada a ideia de que só pela força das armas cairia a monarquia, havia que preparar o golpe de forma discreta e eficaz, isto é, com protagonistas que não o eram, na sombra permanecendo.
Assim se entendeu a consolidação da Carbonária, sociedade iniciática enquadrada por sectores da Maçonaria e não pelo todo desta, pois aí coabitavam republicanos e monárquicos.
Se o regicídio, a 1 de Fevereiro de 1808, também com dedo de carbonários, deixou num impasse a caminhada republicana, certo é, também, que foi com esta organização que se chegou ao 5 de Outubro de 1910. Se pode a Maçonaria ser apontada como uma organização de elites (nota A. H. de Oliveira Marques que metade dos ministros do Governo Provisório - 1910/11 - eram maçons), a Carbonária era, complementarmente, como nota Joaquim Romero Magalhães, "uma associação popular, deliberadamente interclassista".
O segredo do segredo era, justamente, o segredo. Expliquemo--nos. Com esta organização, formou-se uma vasta teia conspirativa, mas muito poucos eram os que tinham efectivo conhecimento do que era preparado. Para o êxito da estratégia valia a componente iniciática. Os rituais a que os "primos" (assim eram designados, à semelhança dos "irmãos" maçónicos) eram submetidos incutiam-lhes o sentido de discrição e a prontidão para promover a queda definitiva da monarquia. Quando tinham de agir, os "primos" pouco mais sabiam do que a tarefa específica que lhes cabia.
Nomes cimeiros da Carbonária, como o grão-mestre, Artur Luz de Almeida, ou o famoso tribuno António José de Almeida eram, simultaneamente, maçons. Com Luz de Almeida, António Maria da Silva e Machado Santos formavam a Alta Venda do Jovem Portugal, órgão de topo da Carbonária. Deles partia a estratégia e o recrutamento, a nível nacional (Luz de Almeida corria o país, fazendo-se passar por caixeiro-viajante) e estendido, especialmente a partir de 1909, aos militares.
Nem sempre a febre revolucionária dos carbonários estava em harmonia com as cautelas do directório, mas diligências do republicano Magalhães Lima, grão--mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, introduziu novos elementos militares na conspiração, para travar os ímpetos da Carbonária. Sempre em secretismo, e não com o brado popular que, por exemplo, era sonhado por João Chagas, a República foi preparada para ser ganha pelas armas, mas também com o apoio dos cidadãos. Nem revolta popular nem levantamento militar, o 5 de Outubro foi um misto das duas , enquadrado por estas organizações.

Cronologia da república - 28 de Março

  • 1912

Distúrbios em Timor

  • 1914

Greve geral dos fluviais do Porto

  • 1915

É fechado o jornal "O Rebate" de Castelo-Branco

Afonso Costa, no congresso do partido Democrático, diz que Brito Camacho é um 1ºministro doido e traidor, que lidera um governo de insignificantes

  • 1916

A lei 495, remete para a censura prévia, todas as publicações nacionais

  • 1918

Autoriza-se a publicação de jornais e reabertura de centros políticos

  • 1920

Protestos contra o fecho do Jornal "A Batalha"

  • 1921

É detido o conde de Bertiandos, implicado numa conspiração integralista

  • 1924

Por decreto, a CP é autorizada a aumentar o preço das tarifas

O grão-mestre da maçonaria, preside à comissão para a construção do monumento ao marquês de Pombal, em Lisboa

Fontes: aqui

sábado, 27 de março de 2010

RESPOSTA DE SALAZAR (27.7.1958) À CARTA DO BISPO DO PORTO

«A S. Eª Revmª. O senhor Dom António, Bispo do Porto
Recebi em 24 do corrente a exposição de V. Exº. Revmª. que li com a maior atenção
Agradeço a V. Exº. Rev.mª a gentileza de haver nela versado com desenvolvimento alguns dos temas sobre que penso incidisse a nossa conversação. Deste modo foi-me possivel ficar a fazer uma ideia das questões ou dúvidas que na parte que respeita ao Governo tentarei esclarecer o melhor possível. Quando, depois da posse do novo Presidente da República, o senhor D. António venha a Lisboa, peço o obséquio de me fazer avisar do dia ou dias que tenha disponíveis, que com o maior prazer receberei V. Exª. Revmª


(id. pág. 113).

A REPÚBLICA E O BISPO DO PORTO, D. ANTÓNIO FERREIRA GOMES

«É nesse ano de 49 que se abre, pela primeira vez no regime do Estado Novo, uma campanha para eleições à Presidência da República. Foi candidato pela União Nacional o general Óscar Fragoso Carmona, então chefe de Estado, concorrendo pela Oposição o general Norton de Matos, militar prestigiado e com uma notável folha de serviços em África. D. António Ferreira Gomes lembra aos seus diocesanos a "estrita obrigação, para quantos têm esse direito, homens e mulheres, de tomarem parte nas eleições", acentuando que "se bastante esperança podemos ter nas democracias inglesa e americana é porque elas têm uma definida metafísica cristã" (...) em Portugal, a Oposição (..) "ao solidarizar-se efectiva e e confessadamente com o seu passado, não compreenderá que é a grande ou mesmo a única responsável pelo recuo do ideal democrático". D. António Ferreira Gomes revivia ainda nas suas recordações de jovem a turbulência da 1ª República e a hostilidade que nesse período a Igreja sofreu».
in Pacheco de Andrade, «O Bispo Controverso - D. António Ferreira Gomes - Percurso de um Homem Livre», ed. Multinova, pág. 24

Cronologia da república - 27 de Março

  • 1913

Carência de peixe em Lisboa

  • 1919

É fechado o jornal "A Voz da Mocidade" de Lamego

O governo de José Relvas apresenta demissão colectiva

  • 1926

A "Seara Nova", no liceu Camões em Lisboa, realiza um comício antifascista

Fontes: aqui

sexta-feira, 26 de março de 2010

A CARBONÁRIA REPUBLICANA v. A CARBONARA

Manifesto Republicano Académico:
«O documento exibe um forte sentimento anti-britânico (..) recorrendo à História de Portugal para mostrar que a decadência nacional radicava (...) nos monarcas que governavam o país. As palavras usadas são violentas e inequívocas: "É por isso que em ódio embebemos a pena para estigmatizar os sistemas dinásticos, é por isso que levantamos o grito de guerra contra este regime que prostitui a lei e pôs o país em almoeda; (...)
O meio encontrado para travar essa luta era a fundação de "um grémio, cujo principal objectivo será trabalhar pela República».
(...)
No Pátio do Tijolo, à R. D. Pedro V, houve uma carvoaria cujo dono (...) pertenceu à Carbonária. Republicano enérgico e voluntarioso, dominava com as suas maneiras autoritárias os conterrâneos minhotos (...) entregando-os daí a pouco aos comités iniciadores.
(...)
Existem algumas descrições de iniciações carbonárias (...). Os iniciados, desde que eram admitidos, quando se preparavam para conhecer as pessoas que se achavam presentes quando deparavam com quatro ou cinco figuras negras, hirtas, apontando-lhe ao peito o punhal vingador. Era um momento de emoção. Quase todos recuavam.
(...)Depois vinham as perguntas do Primo Presidente ao Primo do Olmo:
- O que se faz aos traidores?
- Matam-se.
- E se ele fugir?
- Procurar-se-à por toda a parte até que o atinja o braço vingador!»


((António Ventura, «A CArbonária em Portugal - 1897-1910, Livros Horizonte, págs. 17-19)

Comunicado oficial da Carbonara e video da operação


Carbonara

Ver mais

Por ocasião do aniversário do nosso Príncipe D. Afonso de Bragança


Uma enorme bandeira da monarquia com 8 m, no cimo do Parque Eduardo VII. O acto é atribuído à Carbonara, Movimento Monárquico de Massas.

Cronologia da república - 26 de Março

  • 1912

Greve dos operários da companhia fabril lisbonense

  • 1914

É fechado o jornal "A União" de Castelo-Branco

  • 1920

São presos mais de 250 grevistas dos correios e telégrafos

Fontes: aqui

quinta-feira, 25 de março de 2010

Acção


Carbonara - Movimento Monárquico para as Massas: prometem animar a república: adere já, antes que seja tarde.

II REPÚBLICA. O PRESIDENTE ACORDOU.

[Marcelo Caetano] tencionava sair de Lisboa durante as férias de Carnaval. Aproveitando essa "ausência", os senhores generais deviam ir "expor" a Tomás as "suas ideias e os sentimentos das Forças Armadas" e "reivindicar para estas o poder". Caso Tomás concordasse, ele não levantaria qualquer obstáculo.
(...)
Sabendo que Tomás nunca o removeria a favor de Spínola, e menos de Costa Gomes, deixava aos generais uma única alterativa: ou a obediência ou o golpe de Estado.
(...).
Passaram os cinco dias sem golpe de Estado, Marcello voltou de férias e foi logo a Belém pedir ele próprio a demissão, sem dúvida para se proteger contra eventuais intrigas dos notáveis integracionistas e conservadores que rodeavam o Presidente. Apanhado de surpresa, Tomás recusou a demissão».

(vd. Vasco Pulido Valente - «Marcello Caetano - As Desventuras da Razão, ed. Gótica, Lda, pág. 133.

Cronologia da república - 25 de Março

  • 1911

É fechado o jornal " A Folha de Viseu"

  • 1912

Assalto ao jornal " Diário do Porto"

  • 1921

A apreensão de azeite pela G.N.R em Penacova levou a motins em Penacova

  • 1922

A portaria 3130 proíbe a venda e fabrico de navalhas de ponta e mola

Fontes: aqui

quarta-feira, 24 de março de 2010

Pérola autêntica ou de viveiro?



Sempre que deparo com o nome de Dª Amélia numa montra de livraria, franzo o sobrolho. As más experiências que a minha curiosidade tem sofrido, ditam a desconfiança. É que não existem Corpechots, Rochas Martins e Ruis Ramos ao virar de cada esquina.

Acabei de ver em escaparate nas Amoreiras, o livro Dª Amélia, da autoria de Isabel Stilwell. Apenas folheei as derradeiras e demasiadamente sucintas páginas referentes à passagem da rainha no Portugal de 1945, parecendo corresponderem à verdade histórica, embora Stilwell pudesse ter sido mais rigorosa no epílogo, quando da imponente e multitudinária manifestação de pesar popular no funeral da Grande. Mas a obra não pretende ser uma análise histórica do momento social e político do Portugal da 2ª república.

Há uns anos, um francês dado actualmente à frenética promoção cor de rosa da "senhora" Sarkozy, decidiu dar o gosto ao dedinho na tecla e aventurou-se a uma espécie de "romance estórico" bastante ficcionado. Teve o descaramento de induzir milhares de leitores em erro, pois intitulou o snack de Eu, Amélia, última rainha de Portugal. Um chorrilho de lugares comuns repescados da intriga republicana, a par de inexactidões, desatentas visitas a um Portugal que conhece através de uma ida aos fados de sexta-feira no Bairro Alto e um cocktail na Caras e pouco mais. Arrota as habituais tranches de merlan aux moules, afirma inequivocamente sem provar através da apresentação de um único fac-simile, enreda-se nos rodriguinhos próprios da mesma lenda negra que acompanha todas as rainhas dos últimos dois séculos. O pior de tudo é julgar-se cheio de talento, razão e sageza. Fazendo pela vidinha, não se preocupou minimamente em ler umas linhas, antes de decidir arrastar a memória de D. Carlos pela lama e no tradicional esbracejar chauvinista gaulês, quis apresentar o casal régio como a perfeita dicotomia sobre a Terra, numa total incompreensão pela realidade social subjacente a um contrato matrimonial - que naquele caso até envolveu uma inicialmente forte atracção física -, à postura de Estado que jamais faltou ao casal D. Carlos e a Dª Amélia. Stéphane Bern "bem serviu os republicanos" e divagou, alimentou com gosto a intrigalhada, rebolou-se em frou-frous, chocalhou braceletes e ajeitou rendas, num grotesco amontoado de folhinhas bem próprias da literatura de cordel da Belle Époque, bem na senda do Marquês da Bacalhoa. Enfim, uma pérola falsa, nem sequer digna de produção em cultura de viveiro oriental. Mau serviço fez à História, péssimo serviço póstumo fez à rainha e à sua hoje controversa famille de France. Para cúmulo e em dia de champanhada - o eterno móbil primeiro -, "monárquicos" houve que até lhe fizeram fosquinhas nas costas!
Não arriscaremos muito ao afirmar que a rainha Dª Amélia foi até aos nossos dias e a qualquer patamar atingível, o derradeiro grande vulto da família real Bourbon (Orleães) que outrora reinou em França.

No ano do Centenário do desastre nacional, surge uma obra que a todos chama a atenção para uma personagem rica, multifacetada e inesquecível da História de Portugal. Oxalá Isabel Stilwell lhe faça a devida honra e evite assim, ver catalogado o livro como peça de estante giratória numa loja de revistas de um qualquer aeroporto perto de si. É que a publicação de uma bela fotografia ou a simples menção Dª Amélia numa capa, é um motivo para best-seller e aí estará o potencial perigo. Vamos ler ?

II REPÚBLICA . ENQUANTO O PRESIDENTE DORMIA

«(...) É necessário cuidar do ambiente moral do País, que está péssimo (...). Os descontentamentos são gerais, antigos e descurados: estão descontentes o Exército, a Marinha, a GNR, a Polícia, o funcionalismo... E tudo se deixa andar, e todas as soluçoes vêm tarde e a más horas, e o Governo só se afirma na repressão.
(...)
Têm ocultado a Vª. Exª. o verdadeiro estado moral do País? O entusiasmo geral pela Rússia? A oposição ao Governo? (...) nos momentos graves o Secretariado da Propaganda Nacional se limite a exibir bailados e a Emissora Nacional pouco mais dê que música de dança.
Os métodos de repressão indiscriminada e brutal não são de força. A força é segura de si, equilibrada e justa. Não deixe Vª. Exª. que os colaboradores percam esta noção.
E creia na sinceridade do desiludido mas fiel
Marcello Caetano»


(carta de Nov/Dez 1943, in «Salazar e Caetano, Cartas Secretas - 1932-1968, José Freire Antunes, Difusão Cultural, pág. 116)

Cronologia da república - 24 de Março


  • 1912

Assalto e vandalização do "Jornal Notícias do Porto"

  • 1914

Bernardino Machado manda encerrar todos os centros académicos



  • 1916

Por decreto, é permitido, que pelo território nacional, em tempo de guerra, possa haver inúmeras mobilizações gerais



  • 1920

Por decreto, é proíbido a exportação de tecidos confeccionados com malha de lã e algodão

São fechados vários sindicatos

É fechado o jornal "A Batalha"

Fontes: aqui

terça-feira, 23 de março de 2010

O PREC DA 1ª REPÚBLICA

Das «Memórias» do Gen. A. Ilharco, quando comandante de Cavalaria 9, no Porto (1912):

«Como a exaltação republicana do comandante de Infantaria 18 se confundisse com a mais completa indisciplina, solicitei ao comando da divisão o instalar-me no novo quartel (...). esta característica era comum aos comandos de todas as unidades da guarnição (...) continuei a desempenhar-me do meu cargo e a servir o meu país (...) cumprimento exacto dos regulamentos sem exteriorisações para armar ao efeito; disciplina suave, mas persistente; instrução dos quadros como o regulamento me impunha.
Esta minha atitude (...) criou-me (...) um certo desdém pela falta de espírito republicano, como eles o consideravam. (...)
Com a substituição do comando da divisão coincidiram as incursões monárquicas. Tudo mudou.
A organização carbonária desenvolveu-se. Os comandos das unidades requisitavam o seu auxílio para a guarda dos quarteis, prevendo um perigo que só na sua mente existia, se não era mais do que um pretexto para exibirem o seu republicanismo. (...)
As prevenções eram frequentes, e em uma noite em que o regimento se achava de prevenção, apareceu junto do quartel um batalhão de voluntários civis, comandado por um deputado, declarando à sentinela que traziam uma ordem do quartel general para o comandante. (...)
O então comissário de polícia, Pereira de Magalhães, ofereceu-se para ir averiguar o que havia. (...) informou que o único regimento que podia prestar qualquer serviço era cavalaria 9 (...). Todos os outros regimentos tinham nos quarteis mais indivíduos da classe civil do que militares, e a desordem era completa».

100 anos da República: portugueses de Macau influenciaram passado da China

Um ano após a implantação da República em Portugal, em 1910, seria a vez da China ver cair a dinastia imperial para dar lugar à república, uma ação onde os portugueses desempenharam um papel determinante.
João Guedes, jornalista e investigador português residente no território defende que a "influência de Macau na proclamação da República da China a 10 de outubro de 1911 é tão evidente, quanto mal conhecida" devido à falta de investigação.
"Uma parte significativa dos revolucionários da segunda metade do século XIX, que contribuíram para a implantação da República da China era originária da província de Guangdong, com destaque naturalmente para Sun Yat Sen", um médico radicado em Macau que viria a ser o primeiro presidente chinês.
Sun Yat Sen nasceu na pequena aldeia de Kui Heng, a pouco mais de 30 quilómetros de Macau e viveu no território onde, confessou, "ganhou consciência social".
Depois de concluir o curso de medicina em Hong Kong, Sun Yat Sen fixa-se em Macau, exerce no hospital Kiang Wu e estabelece um consultório e uma farmácia.
"Ele próprio afirma que o exercício da medicina em Macau visava facilitar as suas actividades propagandísticas contra o Império", sublinha João Guedes.
O jornalista explica que Sun Yat Sen formou em Macau o "bando dos quatro", um "grupo impulsionador da formação dos clubes de leitura que incentivavam a população a ler jornais e levava a cabo sessões de propaganda política."
Viviam no território "alguns dos vultos mais destacados" que a república chinesa haveria de produzir, publicavam-se jornais proibidos no continente e que derivavam de várias orientações políticas e que eram depois distribuídos clandestinamente na China.
João Guedes defende também que o republicanismo que dominava na Maçonaria - que tinha forte implantação em Macau através do Grande Oriente Lusitano - "explica" a cumplicidade de Macau nas actividades subversivas contra a China Imperial e salienta a figura de Francisco Hermenegildo Fernandes, proprietário de diversos jornais em Macau, um maçon que era o contacto entre os republicanos chineses e as autoridades locais.
"Foi Francisco Fernandes que acolheu Sun Yat Sen em Macau após a sua primeira e malograda tentativa de revolta contra o regime imperial (1895), organizando-lhe a fuga para o Japão. Há correspondência entre Francisco Fernandes e Sun Yat Sen, que revelam além do grau de amizade pessoal, a partilha dos mesmos ideários políticos e, em determinados aspetos, os laços de fraternidade maçónica que detinham entre si", disse.
Por Macau passaram também vários ideólogos chineses, desde liberais a republicanos que influenciaram Sun Yat Sen e os seus correligionários, destacando-se Zheng Guan Yin, autor de várias obras de economia - escritas e publicadas em Macau - que refletiam as correntes mais modernas do pensamento económico do liberalismo Ocidental.

RAINHA D. AMÉLIA DE REGRESSO A PORTUGAL

«Durante todos estes longos anos, nunca falei.
É verdade que ainda era vivo o rei D. Manuel, meu filho, todo dedicado à causa portuguesa, e que tenho o orgulho de ter educado no culto da sua pátria. E se agora vivo em França, depois de vinte e cinco anos passados em Portugal (...) as minhas afeições, e mesmo a minha tragédia, fizeram de mim portuguesa até à alma.
(...) pedi que fosse desmentido um dos mais crueis boatos sobre a nossa partida de Portugal. Não fugimos para Gibraltar. Assim que embarcámos na Ericeira (...) tinhamos a intenção de nos dirigir para o Norte e desembarcar no Porto, que reclamava o seu rei. (...) quero desmentir aqui solenemente aqueles que ainda ousam dizer que nos dirigimos para o Sul porque, a bordo, havia duas raínhas em lágrimas. É mentira. (...)
Não chorámos, não nos queixámos, não tivemos medo. Chorei, sim, mais tarde, mas de pena e desespero. Nunca os Braganças foram cobardes! (...) mesmo na morte - amámos a pátria distante».

NOTA: «A viagem da Raínha decorreu de 19 de Maio a 30 de Junho de 1945; foi de Lisboa a Fátima, do Buçaco ao Mosteiro de Alcobaça e Batalha, parando na Ericeira, o seu porto de exílio, e visitando os dispensários que ela própria criara».


(in Stéphane Bern, «Eu, Amélia, Última Rainha de Portugal», Livraria Civilização Editora, pág. 224).

Cronologia da república - 23 de Março

  • 1916

A associação de jorrnalistas e homens de letras do Porto, protestas contra a lei da censura prévia, votada no parlamento

  • 1917

É fechado o jornal "O Ligionário Transmontano" de Bragança

  • 1918

Manifestações no Porto

  • 1919

Protesto em Lisboa, contra a utilização dos regulamentos dos Arsenais da Marinha e do Exército

  • 1920

Greve dos ferroviários

Fontes: aqui

segunda-feira, 22 de março de 2010

Querem por as criançinhas a falar sobre isto

A pergunta podia ser: o que é um atentado? Ou, o que é um acto terrorista? Mas não. A "comissão" e os adesivos do costume querem pôr toda a gente a falar sobre isto quando ninguém sabe a história disto. Eles não querem que se fale disto querem é que se fale do que isto gostava de ser....

A República e a Regionalização (I)




“A Nação Portuguesa, organizada em Estado Unitário, adopta como forma de Governo a
República, nos termos desta Constituição”.

Artigo 1.º da Constituição Política da República Portuguesa, de 21 de Agosto de 1911

Os doutrinários da República Portuguesa nunca foram a favor de uma regionalização. A própria ideia de república, colhida nos ventos ideológicos provenientes da França revolucionária, não admitia a repartição do poder.

Cidadão, cidadania, são termos que apelam à cidade, ao espaço cívico por excelência, sem que tudo o resto seja digno de intervenção. Os não cidadãos são os pagãos, que habitam um espaço vazio, rural, esterilmente político. Não há lugar para a ruralidade na república.

A Lisboa pós 1910 é um vórtice. Proclama a república ao resto do país e comunica-o ao resto do país. Nesse sentido a revolução do 5 de Outubro, com mais ou menos participação, conforme a interpretação e a reinterpretação dos documentos disponíveis, é exclusiva, ou seja não admitiu a participação de todo o país, porque o resto do país não era republicano – e isto não no sentido efectivo (o que não deixa de ser verdadeiro), mas simbólico do termo. A república fez-se a partir de liturgias cívicas muito particulares. Apelava para o mundo urbano, através dos seus agentes: advogados, caixeiros, proletários. Buiça e Costa, dois pagãos (um de Trás os Montes, outro do Alentejo), converteram-se em Lisboa à religião cívica.

O que fizeram os republicanos para regionalizar ou descentralizar? Muito pouco. A figura do Governador Civil que vinha do liberalismo passou a funcionar como uma forma de policiamento do avanço da republicanização no interior do país. O maior ataque foi ao controlo dos municípios rurais que, como se sabe, não dispunham em alguns casos de homens fiéis ao regime. O investimento da República na republicanização dos municípios foi gigantesca e nunca houve intenção de repartir o poder para governar.

O poder, em Portugal, foi sempre volátil, dependendo mais de indivíduos, do que instituições.

Onde estava o rei estava a corte, existia centralidade. Onde estavam os bispos, sobretudo depois de Trento, arvoravam-se pequenos séquitos, burocratas – aí formava-se centralidade. À falta de um mapa com circunscrições intermédias, estes pólos de atracção criavam uma descentralização política e burocrática (permitiam o acesso a escrivães, notários, etc).

A grande obra da primeira República foi esvaziar a Igreja Católica da sua influência e substituí-la por comissões cívicas para evangelizar o país com a ideia de cidadania. Mas esse trabalho não pretendia descentralizar e muito menos regionalizar, apenas substituir uma religião por outra, o Catolicismo pelo Laicismo.

Os republicanos sabiam que não podiam dividir para reinar

Cronologia da república - 22 de Março

  • 1911

José Relvas, ministro das finanças, pede demissão

  • 1914

É interrompido um comício católico em Coimbra, onde estão presentes Salazar e Cerejeira

  • 1918

Por decreto é aplicado sobretaxa, nos preços dos bilhetes de casas de espetáculos na cidade do Porto e em toda a sua área distrital

  • 1919

É fechado o jornal "O Correio da Beira" de Viseu

Fontes: aqui

domingo, 21 de março de 2010

DO BISPO DO PORTO, D. MANUEL CLEMENTE

«Na viragem do século a polémica anticlerical agudizou-se quer no meio socialista, quer no meio republicano; confundia-se o Clericalismo e mesmo o Catolicismo com a Monarquia. (...)É neste contexto que Sampaio Bruno publica em 1907 A Questão Religiosa, escrito fundamental do anticlericalismo português.
(...) Para Bruno, a influência do clero na sociedade vem da sua influência na mulher, através do confessionário. É aí que se deve atacar:
"(...) O que dá força ao clero católico não é o dogma: é a confissão auricular". (...)».


(in «Portugal e os Portugueses», Assírio & Alvim, 2008, pág. 30).

Burrices que valem milhões...




Esta entrevista é a prova cabal da inconsistência de um sistema parasitário, que como ontem dizia Rui Ramos no Expresso, parece estar a chegar ao fim.

Mesmo para os seus mais interesseiros apoiantes, este vegetalizado sucedâneo de chefe jamais convenceu alguém de outra coisa, senão a garantia de ser uma perfeita e oportuna nulidade que "não riscava".

Um displicente embaraço para os seus próprios aliados.

Fraca instituição que requer sempre fortes personalidades. Não há remédio, pelo que ainda temos e vemos.

Se Carmona era aceitável pela presença e polidez no trato, nem estes aspectos meramente decorativos poderemos atribuir a este regorgitador de banalidades, cujo mandato se encontra eivado de parvoíces mediáticas ou institucionais, desfaçatezes contra a própria autoridade do Estado - lembram-se da desautorização da polícia? - e claro está, pelos ostentatórios gastos sem medida. Se alguém se atrever, ainda se descobrirão algumas estorietas edificantes. Parcialidade, conluio partidista, reserva mental perante o governo "do outro" e coisas afins. É apenas uma questão de tempo.

Merece bem ser cognominado como o agente 00-Zero do regime. E ainda temos que continuar a pagar estes zurrares...

A presidência enquanto "interferencia" ou porque não acredito em "Presidências"

Eu não demiti o Governo, eu dissolvi a Assembleia. Só demiti o Governo mais tarde, um governo que tem Assembleia dissolvida pode continuar em funções.

Mas podia ter demitido o Governo, argumentando o irregular funcionamento das instituições.
As instituições funcionavam, mas o Governo era mau. O que faltava manifestamente era uma nova legitimação democrática, aquilo já não correspondia ao sentir das pessoas."

Quando um presidente da promíscua república interfere (porque vem de lá!) na gerência da política governativa a "República" está posta em causa.

– "Presidente" de todos os portugueses?


O JANOTA BERNARDINO

Bernardino, sempre bem posto, usa agora um novo plastron.
A avaliar pela escolha, prevê-se para breve nova mudança de regime...
A Comissão de Cultura e Turismo premeia quem adivinhar onde foi feito o cliché.

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

«Havia na Arábia um pequeno povo chamado Troglodita, que descendia daqueles antigos trogloditas que, se acreditarmos em historiadores, se pareciam mais com animais que com homens. Estes não eram assim não eram assim tão disformes: não eram peludos como ursos; não silvavam; tinham dois olhos; porém, eram maus e tão ferozes, que não existia entre eles um princípio algum de equidade e de justiça.

Tinham um rei de origem estrangeira, que, querendo corrigir a maldade da sua natureza, os tratava severamente. Porém, eles conjuraram contra ele, mataram-no e exterminaram toda a família real.

Tendo sido dado o golpe, reuniram-se para escolher um governo, e, depois de muitas dissensões, criaram magistrados. Porém, mal eles foram eleitos, logo se lhes tornaram insuportáveis e mais uma vez os massacraram.

Este povo, liberto deste novo jugo, já só consultou o seu natural selvagem; todos os particulares concordaram que não obedeceriam a mais ninguém; que cada um olharia apenas pelos seus interesses, sem consultar os outros.

Esta resolução unânime seduzia extremamente todos os particulares. Diziam "Para que vou eu matar-me a trabalhar para gente que não me interessa Só pensarei em mim; viverei feliz.

O que me importa que os outros o sejam? Satisfarei todas as minhas necessidades e, uma vez que as satisfaça, não me preocupa que todos os trogloditas sejam miseráveis."

Estava-se no mês em que se semeiam as terras. Todos disseram: "Só lavrarei o meu campo para que ele me forneça o trigo de que preciso para me alimentar; uma maior quantidade seria inútil para mim; não vou ter trabalho sem motivo."

As terras deste pequeno reino não eram da mesma natureza: havia terras áridas e montanhosas e outras que, num terreno baixo, eram banhadas por vários regatos. Nesse ano, a seca foi muito grande, de maneira que as terras que estavam nos locais elevados não produziam absolutamente nada, enquanto que as que puderam ser regadas foram muito férteis. Assim, os povos das montanhas pereceram quase todos de fome pela dureza dos outros, que recusaram partilhar com eles a colheita.

O ano seguinte foi muito pluvioso; os lugares elevados foram de uma fertilidade extraordinária, e as terras baixas ficaram submersas. Metade do povo passou um segunda vez fome; porém, estes miseráveis encontraram pessoas tão duras quanto eles próprios o tinham sido.»

Montesquieu, Cartas Persas

Craveiro Lopes - visita presidencial ao Minho (1956)

«... uma passagem de nível que se fecha, demoradamente, impertinentemente, tolhendo o avanço da caravana estatal. Aqui no concelho. O lugar-tenente de Craveiro, exasperando-se, intima o guarda-linha:
- Sabe quem vai neste carro? É Sua Ex.cia o Presidente da República! Levante o diabo da cancela!
Responde o visado, com firmeza e serenidade e palavras da melhor têmpera lusitana:
- Nem que fosse o Rei...
E todos ficaram a ver o comboio chegar.»
(in João Afonso Machado, «Famalicão - Uma Vila que se Inova», Biblioteca Oito Séculos, Quasi Edições, pág. 68).
Fonte: quinzenário famalicence «Estrela do Minho».

Cronologia da república - 21 de Março

  • 1912

É fechado o jornal "O Tâmega" de Chaves

  • 1914

É fechado o jornal "A Pátria" de Braga

  • 1918

Por decreto, é permitido contrair um empréstimo destinado à contribuição de Portugal, para erguer o monumento a Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro

  • 1920

Confrontos entre grevistas e a G.N.R em Lisboa

  • 1922

Os trabalhadores da indústria do mobiliário declaram greve

  • 1924

Manifestações sindicalistas contra os empreiteiros especuladores, que não garantiam a segurança dos edíficos que construiam

  • 1925

É fechado o jornal "O Barlavento" de Lagos

Fontes: aqui

sábado, 20 de março de 2010

Cronologia da república - 20 de Março

  • 1911

A morte de dois operários em Setúbal, leva a uma tentativa de greve geral, em Lisboa

Conspiração monárquica em Lamego, liderada pelo major Vieira de Castro com apoios em muitas zonas do país

Convocação de uma greve geral

  • 1915

O general Gomes da Costa passa ao comando da 2ªdivisão do corpo expedicionário Portugues

  • 1916

O decreto 2285, autoriza a mobilização de estudantes universitários para treinos militares

  • 1920

São encerradas a confederação geral dos trabalhadores e os sindicatos instalados no edifício

Fuga de capitais e existência de um mercado clandestino de câmbios

  • 1921

O governo demite o comandante da G.N.R

Fontes: aqui

sexta-feira, 19 de março de 2010

FRANQUISMO - UMA "DITADURA" SEM CENSURA

«O que em Portugal se tem feito em matéria de censura teatral daria um volume humorístico de 300 páginas, e de tantas porque até quadras e actos inteiros do melhor espírito e da mais absoluta moral têm sido impiedosamente eliminados.
A nota política nas revistas é um pratinho predilecto do público. O conselheiro João Franco, a propósito da célebre revista Ó da Guarda! - chegou a dizer aos magnatas: - "Deixem-nos governar a vida, conquanto não insultem o Rei, nem me chamem ladrão". E o liberal-ditador foi, se pode dizer, o triunfo da feliz peça durante um ano, como o foram em recuados tempos, em peças de igual jaez, o Marquês de Valadas, Fontes Pereira de Melo, José Luciano...».

in Carlos Leal, Água Forte (Memórias), Liv. Popular, 1941, pág. 117.

Partido Republicano: as suas proezas em Monarquia

«A cada instante o PRP forçava a legalidade estabelecida: ou seja, não se limitava a usar os seus direitos, mas sistemática e deliberadamente os transgredia. De 1903 a 1908, a imprensa republicana constantemente cresceu em brutalidade e intolerância. Em 1907, por exemplo, O Mundo fez vários apelos explícitos à revolução, lançou uma campanha contra o pagamento de impostos e chegou mesmo a incitar ao assassinio político. Depois da morte de D. Carlos, tratou os regicidas como mártires e abriu - com propositado aparato - uma subscrição a favor dos filhos de Buíça. Também no Parlamento os deputados republicanos não perdiam uma oportunidade de provocação: Afonso Costa não hesitou em ameaçar D. Carlos com o patíbulo; João de Menezes e Alexandre Braga foram suspensos por insultos ao rei; e António José d'Almeida só não os seguiu porque a Câmara não lhe quis dar esse prazer»

(Vasco Pulido Valente, «O Poder e o Povo», ed. Círculo de Leitores, pág. 59)

Cronologia da república - 19 de Março

  • 1912

Os ataques bombistas, no Porto, destroem casas e causam várias vítimas

  • 1913

A duaquesa de Bedford, membro da associação filantrópica Howard e da associação internacional de penintenciárias, visita os presos políticos do Limoeiro, do Aljube e da penintenciária de Lisboa

  • 1919

O decreto 5268, autoriza os ministros a desclassificarem todo o candidato a cargos públicos, que seja contra a república

  • 1920

Tumultos sindicalistas, com disparos sobre a G.N.R e vivas à Rússia bolchevista

A sede da confederação geral dos trabalhadores é encerrada

  • 1922

Greve de fome na prisão de São Julião da Barra e Sacavém

  • 1923

Greve dos metalúrgicos

Greve dos trabalhadores das indústrias de panificação

Fontes: aqui

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sobre um dos "heróis" da república (que estamos a celebrar):

O dr. Affonso Costa faz parte de um grupelho de insensatos e vaidosos, que intentam desacreditar a dignidade politica e pessoal de velhos e lealissimos correligionarios. E' um desleal republicano, se republicano é; tão sómente um ambicioso desregrado e sem escrupulos.

José Pereira de Sampaio (Bruno)
Jornal Voz Publica, 10 de Janeiro de 1902

uma palavra autorizada: a de Ramalho Ortigão

«Pobres homens, mais dignos de piedade que de rancor, os que imaginam que é com um carapuço frígio, traçado à pressa em pano verde e vermelho, manchado no lodo de uma revolta num bairro de Lisboa, que mais dignamente se pode coroar a veneranda cabeça de uma pátria em que se geraram tantos grandes homens, a cuja memória, a cuja memória imperecível, e não aos nossos mesquinhos feitos de hoje em dia, devemos ainda os últimos restos de consideração a que podemos aspirar no mundo! Pobre gente! Pobre pátria!»

(Ramalho Ortigão, «Últimas Farpas (1911-1914), Clásica Editora).

Cronologia da república - 18 de Março

  • 1911

Magalhães Lima, vai ao congresso universal de raças em Londres, em representação do governo Portugues

  • 1920

É fechado o jornal açoriano "A Pátria"

Ataques bombistas em Lisboa

  • 1923

Criação da união anarquista Portuguesa

  • 1924

O efectivo da G.N.R é reduzido

Abandono das repartições pelos funcionários públicos

  • 1925

O governo decide desarmar a Guarda Fiscal

Fontes: aqui

quarta-feira, 17 de março de 2010

Bernardino Machado - Retrato de um Rei feito por um Presidente

«Raras vezes tão preciosos dons pessoais esmaltaram a coroa, como hoje em Portugal. O rei dá o exemplo de estudo, de gosto pelos prazeres intelectuais, naturalista e pintor apreciável, e até o exemplo do enrijamento físico que nos não é menos necessário. Quase todos têm de aprender com ele a amar por igual os exercícios do espírito e do corpo, e a assim preparar-se cabalmente, por de uns e de outros, a bem servir a Nação. Modesto no trato íntimo, a sua palavra tem vibração, sonoridade e calor no meio das assembleias solenes. Não fraquejando nunca nas situações difíceis, a sua coragem é simpática».


(Bernardino Machado, «Notas de um pai», in Instituto, Coimbra, 1901, nº 4)

Cronologia da república - 17 de Março

  • 1911

Afonso Costa, proíbe de realizar-se cerimónias religiosas, fora das igrejas, sem uma autorização prévia

O peixe aumenta de preço

  • 1918

Agricultores e comerciantes de São Tomé e Príncipe pedem medidas urgentes, devido ao esgotamento dos recursos locais

  • 1919

Protestos em Lisboa, contra o alto custo de vida

  • 1920

Greve agitada dos funcionários públicos

É incentivada a actividade dos dinamitadores, devido ao medo da revolução bolchevique

Tumultos sindicais, com disparos sobre a G.N.R e vivas à Rússia Bolchevista

  • 1923

Por decreto, é autorizado a exportação de Trigo, destinado ao consumo alimentar

Fontes: aqui

terça-feira, 16 de março de 2010

Sobre a República:


Quando um regimen se converte assim n'um prostibulo, ou a nação, deshonrada, manchada, emporcalhada, o esmaga ... ... ou está perdida.

Homem Christo. Banditismo Político. Madrid. 1913

A república numa pincelada

Amadeu de Souza Cardoso

Nas fontes epistolográficas de Amadeo de Souza Cardoso (1887-1918) encontramo-lo a fazer duras críticas à situação política (republicana) da sua época, registadas numa carta, datada de 13 de Dezembro de 1913, proveniente de Paris:[1]

(...) A política de hoje em dia é uma lástima de intrigas mesquinhas, donde provém sempre a indisciplina e desordem. Dai concluo que, ao lado das toupeiras sinistras da franco maçonaria, se destaca um homem claro, Poincaré, relativamente sympatico no seu campo de ação e fatalmente envolvido, situado pela horda pedreiro-livre….(…)

Noutra carta, Amadeu “Amadeo de Souza Cardoso” manifesta claramente a sua crença monárquica, quando escreve ao tio Francisco, a 28 de Abril de 1914, de Paris[2]:

(…) Estas são razões que me dizem que Portugal não terminou essa raça de fôgo, e que não estamos hoje menos decadentes que no passado século. Ao contrário despertam-se sentimentos que dormiam, a velha paralysia esboça movimentos.
São poucos, mas há portuguêzes de Portugal que sabem ser monárquicos, enxovalhamos o trono, por queremos sê-lo sem saber sofremos ainda a Republica e por ser e saber sê-lo depende o bem da pátria (…)

[1] PAMPLONA, Fernando de – Chave da pintura de Amadeo: as ideias estéticas de Sousa-Cardoso através das suas cartas inéditas. Lisboa: Guimarães Editora, 1983, p 66.
[2] Idem, p 68

Contribuição de Luis Pimenta de Castro Damásio - Historiador /investigador

INIMIGOS, INIMIGOS, NEGÓCIOS À PARTE

«Querido amigo:

Estou em cuidado por não ter respondido ao meu telegrama. Diga como está.

Muitos parabéns lhe sejam e ao seu grande coração. A liberdade condicional será concedida ao pobre rapaz da Penintenciária na primeira assinatura.

Está concluida a sua obra. Ainda parabéns.

Beijo as mãos da Júlia. Estreito abraço do seu amigo dedicado e grato

Bernardo»


«Querido João Chagas:

(...).

Você estragou tudo lançando o meu nome no caso do pobre penitenciário. Se se fala em si acho muito bem porque a si e só a si ele deve a liberdade que está gozando.

Anteontem fui ao escritório do Alexandre Braga, para lhe pedir que não mencionasse o meu nome na tal carta-agradecimento. Não tive a fortuna de o encontrar. (...).

De resto, se o não procurasse, continuaria sem saber, apesar da minha carta de Mafra, se o Alexandre Braga ainda viveria! (...)».


Correspondência entre o Conde de Arnoso, Secretário particular d'El-Rei D. Carlos, e João Chagas, dirigente do Partido Republicano (Fevereiro de 1904).

(in «Correspondência Literária e Política com João Chagas», vol. I, Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1958).

Cronologia da república - 16 de Março

  • 1911

É fechado o jornal açoriano " O Revolucionário"

  • 1913

Protestos em Abrantes e Braga

  • 1918

O decreto 3931 dá ao governo o monopólio de todos os minérios de guerra

  • 1920

Agitação no Porto

O conde de Monsaraz, preso político, foge para Espanha

Fontes: aqui

segunda-feira, 15 de março de 2010

UM MANIFESTO DE «LIVRE-PENSADORES» (livremente deixados pensar)


«Ao povo Português
A todos os que têm fome e sede de justiça: os rebeldes, os fracos e os ignorantes

Faz hoje meio século que um imbecil em Roma se lembrou de dizer que a mulher que pariu Cristo na Judeia ficou virgem, que era por isso imaculada. Isto foi aceite pelos restantes imbecis que o acreditaram e hoje Braga celebra esse acontecimento com músicas, cânticos, militares armados, bispos de mitra, padres de sobrepeliz, santos de todos os tamanhos, andores de todos os feitios.
(...)
Hesitar um momento é recuar um século. A noite espalha-se por sobre toda a terra com a velocidade do raio. É necessário opormos-lhe a clara luz da Razão e da Verdade, aliás tudo ficará soterrado.
Camaradas de todo o mundo - à luta pela Verdade e pelo Bem.
Abaixo todas as religiões e todos os deuses
Coimbra, 11 de Junho de 1904»


(in Américo de Castro , «Últimos Anos da Monarquia», Liv. Fernabdes, 1918, pág. 62.

Cronologia da república - 15 de Março

  • 1911

Boatos no Porto de uma invasão espanhola

Guerra Junqueiro pensa que o governo provisório põe a burguesia contra o povo.

Pensa que à república falta-lhe ideias e dignidade.

Pensa que a invasão espanhola só servirá para digerir o cadáver de Portugal

  • 1913

António José de Almeida é vaiado no Porto

  • 1915

É fechado o jornal "Pátria Nova" de Coimbra

  • 1920

Greve na indústria do mobiliário

É fechado o jornal de Coimbra "O 12 de Outubro"

Fontes: aqui

domingo, 14 de março de 2010

Porto, 19 de Janeiro de 1919

«A cidade aceitou o facto consumado, não houve perturbações da ordem, não se registou qualquer protesto violento ou sem violência, os espectáculos realizaram-se, o povo divertiu-se, as tropas marcharam em várias evoluções pelas ruas, bandeira azul e branca desfraldada ao vento, e as bandas marciais entoaram o hino da Carta. Numa palavra: manteve-se a normalidade. E se os republicanos aceitaram o facto consumado, entendendo que naquele momento nada podiam fazer, como o não haviam de aceitar monárquicos confessos?»

(palavras do advogado republicano portuense Dr. Álvaro de Vasconcelos, durante o julgamento dos membros da Junta Governativa do Reino, em Abril de 1920).

Guerra Junqueiro - um republicano arrependido


Nas vésperas de morrer, Junqueiro exclamava: "Dava toda a minha glória para não ter saído do catolicismo. Errei a minha vida. Quem me dera ter vivido ignorado só para a minha mulher e para as minhas filhas!"
Quando a República, pelo seu exemplo, pelas suas realizações, pelas suas atitudes, leva um homem como Junqueiro, que lhe deu o melhor do seu talento e tudo quanto havia de prestigioso no seu nome, a este remorso, a este arrependimento crescente que termina pelo grito - Meu Deus, levai-me, meu Deus, levai-me! - não é lícito dizer-se ou pensar-se que a República está morta e que urge remover o seu cadáver, para que a Nação não contamine?


in Alfredo Pimenta, «Nas Vésperas do Estado Novo», ed. Nova Arrancada, pág. 10

Contribuição de João da Ega

Cronologia da república - 14 de Março

  • 1911

José Augusto Guedes Quinhones, propagandista do movimento operário, põe termo à vida

O novo decreto eleitoral, para desespero dos monárquicos adesivistas e dos dissidentes progressistas, não retoma à lei eleitoral de 1884. A nova lei mantêm a exclusividade do exercício do poder governamental. Nos círculos onde não aparecessem oposições, não realizaria-se eleições

  • 1915

O Partido republicano manifesta-se contra a construção de uma igreja espanhola em Lisboa

Protestos em Lisboa e Almada, contra o alto custo de vida

Proprietários, são acusados de apropriarem-se individamente de trigo

Tumultos em Aveiro

  • 1916

É fechado o jornal "Alvorada" de Guimarães

  • 1920

Ataques bombistas em Lisboa

  • 1925

Sentimento de mal estar nacional

Fontes: aqui

sábado, 13 de março de 2010

A manipulação dos factos históricos.


A manipulação histórica prossegue através de processos aparentemente simples como este, ou seja colocar, lado a lado, o 5 de Outubro de 1910 e o 25 de Abril de 1974 como marcos idênticos no processo de democratização do país. Se por um cidadão mais ou menos informado,da História de Portugal, crítico, tal poderá ser facilmente desmontado, por alunos desinteressados, pouco politizados e ideologicamente amorfos, a mensagem - ainda para mais quando acompanhada de grafismos modernos - depressa é absorvida. Ora, sabemos que estamos perante uma enormíssima falácia. O processo de democratização das instituições nacionais teve o seu início com a introdução do Liberalismo. Sofreu alguns revezes durante a Monarquia Constitucional e atingiu picos insustentáveis de repressão depois de 1910, nomeadamente durante a II República, entre 1933 e 1974. A 25 de Abril lutou-se contra uma República Ditatorial, convém não esquecer.

Cronologia da república - 13 de Março

  • 1911

É fechado o "Jornal de Bragança"

Protestos contra o aumento do preço da carne

Uma greve ocorrida em Setúbal é reprimida pela polícia

São mortos dois trabalhadores

O jornal "Terra Livre" diz que este dia marca o divórcio da república com o proletariado

  • 1913

Devido às acusações do deputado Eduardo Almeida, Leite de Vasconcelos requere um inquérito aos seus actos, enquanto director do museu etnológico Português

  • 1919

Egas Moniz preside à delegação Portuguesa na conferência de paz em Paris

  • 1920

Por decreto, os particulares não podem comprar moedas ou títulos

Greve da função pública

O deputado Amílcar Ramada Curto declara no parlamento, que os funcionários públicos não tinham direito à greve, por não serem proletários

  • 1922

Limitação dos poderes da G.N.R

  • 1926

É fechado o jornal "O Combate" de Santarém

Fontes: aqui

sexta-feira, 12 de março de 2010

O Elogio da Falta de Vergonha: o situacionismo da República.

«A ideia republicana já tivera em José Faria Henriques Nogueira (1848), Sousa Brandão, Gilberto Rola, Elias Garcia e poucos mais, um bruxulear indeciso. Só em 1890, oito anos depois de D. Luís ser Rei, surgiram as primeiras publicações republicanas. Um ano depois, a 3.ª República Francesa deu-lhe novo alento, com Oliveira Martins, Antero de Quental, Guilherme Braga, Alexandre Braga, pai, Custódio José Vieira, Vieira de Castro, Amorim Viana, Manuel Emídio da Silva, e alguns mais, e um centro republicano, o primeiro, na rua da Padaria, em Lisboa.

Só em 1874 se publicou o primeiro diário abertamente republicano, a República, com Carrilho Videira, e Consiglieri Pedroso, e dinheiro espanhol!

As continuaram mal. D. Luís conseguira da Imperatriz dos Franceses que as freiras daquela nacionalidade que em Portugal se encontravam recolhessem a França, o que fizeram no paquete Orenoque, e logo a imperatriz viúva de D. Pedro IV, por despique abandonou com as suas damas a protecção que dispensava aos asilos e outras instituições beneficentes de que se diziam desveladas protectoras.

No norte lavrava a desordem. No sul um espectativa [sic] benévola. Herculano, figura austera de português de lei, dava ao país um exemplo nobílissimo rejeitando com altivez eloquência a grã-cruz de S. Diago.

D. Luís casara com D. Maria Pia de Sabóia e foram ambos visitar o País. Em Coimbra, foi um delírio. Os estudantes chamaram a D. Luís o primeiro mestre, o primeiro pai, o primeiro amigo, e meses depois pediram-lhe dispensa dos actos universitários por intermédios do governo, e o governo recusou. E os estudantes levantaram-se e deram vivas a D. Miguel!

Começavam cedo o culto da desavergonha estes alunos de Minerva.

Chegamos a 1863 e o Parlamento fechou com chave de oiro, abolindo a pena de morte. Vítor Hugo exaltava e escrevia a Eduardo Coelho uma carta sublime em que Portugal dava lições à Europa. É desta carta do Grande Hugo, esta tirada magnífica: “A Liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos cidadãos”.

Entretanto, os republicanos agrupavam-se… e dividiam-se. Diziam-se republicanos e insultavam-se. Tinham um pé na República e outro na Monarquia. José Elias Garcia era ao mesmo tempo da Comissão Executiva do partido republicano e secretário do centro monárquico reformista. Ladislau Batalha e Carrilho Videira foram apodados de vendidos. Bernardino Pinheiro era íntimo de Saraiva de Carvalho. Nas eleições de 1878, os candidatos republicanos Pereira de Lima e Elias Garcia foram extra-oficialmente apoiados pelo governo!

A vida portuguesa não se modificara com D. Luís. Mariano de Carvalho escrevia que “o manto real, que sob as pregas devia abrigar o país inteiro, se desdobrava para proteger a ladroagem da penitenciária”, tornando-se “capa de malfeitores e abrigo de malifícios [sic]”. Martins de Carvalho proclamava que o partido de Fontes era o “partido da camadarilha do paço, dos grandes esbanjadores dos dinheiros públicos, dos autores dos maiores escândalos, injustiças e patronatos, - os penitenciados”.

Por seu lado a organização republicana dividia-se em grupelhos: federativos, unitários, socialistas, radicais, oportunistas, e possibilistas

Só os primeiros mantinham intacta a pureza dos princípios. Os unitários “eram” progressistas; os oportunistas, regeneradores; os socialistas, movimentavam-se consoante os ventos, ora progressistas ora regeneradores; os radicais, jogavam de porta.»

FREIRE, João Paulo (Mário) - O Elogio da Falta de Vergonha. Porto: Livraria Nelita, [1940], pp. 193-197.

Brito Camacho - um pluralista


«Lutas politicas entre República e Monarquia? Não: isso passou à História. As lutas políticas do nosso tempo são entre a Democracia e o Despotismo, entre a Liberdade e a Tirania.
Di-lo um grande Mestre do pensamento contemporâneo, Ferrere: - para salvar a civilização europeia, é sobretudo necessário e urgente defender a Liberdade.
(...)
A intolerância é um vício, um defeito da razão ou defeito de que sofre gravemente a moral.
É necessário radicar na criança o sentimento e a noção de tolerância, não apenas da tolerância religiosa, mas também da tolerância política, quase desconhecida entre nós».

in Brito Camacho, «De Bom Humor», Guimarães Editores, pág. 26 e 100.

Contribuição de João da Ega

Cronologia da república - 12 de Março

  • 1911

João de Barros demite-se da direcção da instrução primária

  • 1913

Protestos em Vila do Conde contra a lei da contribuição predial

  • 1915

A estação da CP na régua é assaltada e vandalizada por mais de 500 pessoas.

  • 1916

Greve operária na construção civil em Lisboa

A lei 491 reforça os poderes do governo

  • 1919

Greve dos trabalhadores da fábrica de cerâmica de Sacavém

No contexto da 1ªGuerra, Egas Moniz discursa em Paris

Afonso Costa é nomeado chefe da representação Portuguesa na conferência de paz em Paris

  • 1920

Uma manifestação contra o governo é atacada por bombistas, resultando 4 feridos

Manifestação em Lisboa a favor da ordem

  • 1921

O juiz do tribunal de defesa social, Luís Ferreira de Sousa é assassinado

  • 1926

Manifestações em Lisboa

Fontes: aqui

quinta-feira, 11 de março de 2010

Greves na 1ª república


(...) em 1909, isto é, antes da revolução republicana, se atinge, com o número de 173, o ponto mais alto até aí alcançado pelo movimento grevista em Portugal.
(...)
O muito elevado número de greves após a revolução republicana mostra que a República não dominou o movimento operário, mas sim que este, sem organização forte, sem objectivos politicos, sem um partido politico que disputasse o Poder, não conseguiu traduzir no nível político a inegável influência que exerceu no plano social. E como não conclir o mesmo em relação ao conturbado ano de 1917, em que nas 256 greves contabilizadas em três trimestres se atinge o número de 268.000 grevistas?

(in José Manuel Tengarrinha, «Estudos de História Contemporânea de Portugal», Editorial Caminho, pág. 83.)

Contribuição João da Ega directamente da caixa de comentários

Cronologia da república - 11 de Março

  • 1912

Tumultos em Angola

  • 1915

Motins populares em Tomar

  • 1916

É fechado o jornal "O Liberal" de Castelo-Branco

Brito Camacho diz que só colabora num governo de unidade nacional, se não estiverem representados monárquicos e socialistas

Os monárquicos não são chamados

  • 1917

É fechado o jornal madeirense "O imparcial"

  • 1918

O decreto 3907 estabelece o sufrágio universal

  • 1920

Greve dos operários da construção cívil em Lisboa

Greve dos metalúrgicos

Início de uma campanha nacional com o seguinte slogan: "Trabalhar, economizar, produzir

Fontes: aqui

quarta-feira, 10 de março de 2010

100 ANOS DE CARESTIA DA VIDA. Quantos mais?

"... o ministério dos abastecimentos tem açambarcados 10.000 saccas de feijão, legume que no mercado falta quasi absolutamente. Mas este caso não fica por aqui, ainda. ha mais. E vem a ser que á medida que que o feijão vae apodrecendo, as auctoridades mandam-no para o guano, para onde já foram algumas centenas de saccas. E as 10.000 saccas que restavam ha dias esperam a putrefacção, enquanto, como bem demonstrou o sr. Ladislau Batalha, a raça definha, morrendo lentamente de fome."

Jornal, A capital, 2 de Setembro de 1919
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Cinco de Outubro

Cinco de Outubro é o romance do “nosso” Lourenço Pereira Coutinho recentemente lançado pela pela Sextante, do grupo Porto Editora em ano de centenário da república. Trata-se dum romance histórico em que o autor utiliza os protagonistas da época para retratar os últimos meses da monarquia e a conspiração da revolução republicana.

Sobre o livro: «Junho de 1910: D. Manuel II enfrentava nova crise governamental, após queda do ministério Veiga Beirão. Entretanto, revolucionários e carbonários organizavam reuniões desencontradas para o derrube da monarquia. Cinco de Outubro acompanha os percursos dos principais protagonistas da época – D. Manuel II, Teixeira de Sousa, Paiva Couceiro, Afonso Costa, Machado Santos –, que se cruzam com personagens ficcionados, numa narrativa de intensidade crescente que culmina nos dias da revolução republicana: 3, 4 e 5 de Outubro.

Nos escaparates das livrarias por 16,50€

Lourenço Pereira Coutinho, nasceu em Lisboa em 1973, é autor do ensaio Do Ultimato à República (2003) e dos romances Na Sombra de João XXI (2006), Fim d’Época (2007) e Baile de Máscaras (2008).