sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ajudar a república

Vamos lá ajudar o regime a sair da crise, do beco sem saída em que se meteu, mas para isso é preciso acabar com este ‘jogo do empurra’, que consome e arrasa a nação, um jogo infantil em que as sucessivas repúblicas se vão justificando umas à outras – a terceira a garantir que nos libertou da ditadura da segunda, as saudades da segunda a reclamarem o fim da balbúrdia da primeira. Repito, temos que acabar com isto, porque não tarda virá uma quarta república (já se ouvem aliás os seus tambores) que dirá que nos vem libertar das crises internacionais que importamos e com as quais nos desculpamos! E terá por certo razão, como todas as outras, basta-lhe para tanto invocar a realidade insofismável – o fosso entre ricos e pobres não cessa de aumentar, e nesta matéria ocupamos as piores posições em todos os rankings!

Portanto o que há a fazer é o seguinte: em primeiro lugar temos que ser capazes de realizar um referendo, um acto terapêutico que nos liberte dos fantasmas do passado, e que ao mesmo tempo responsabilize os portugueses pelo regime que têm e que afinal escolheram. Não está em causa a vitória da república, que será natural, até esmagadora, o importante será o próximo passo – o que fazer com essa vitória?!
Assim responsabilizados, sem mais desculpas, governantes e governados serão obrigados a olhar para o futuro e se houver alguma lucidez (e humildade) estaremos em condições de nos reconciliarmos com a história, com a nossa história, feita de erros e virtudes, como é uso entre os homens.

Talvez então se imponham (a todos) algumas alterações na estrutura representativa, a benefício de Portugal, como por exemplo: atribuir a um rei e a uma dinastia a representação do vínculo histórico que nos une; incluir nessa representação as várias repúblicas (regiões autónomas que já existem e aquelas que poderão vir a existir) que compõem o universo lusófono; e de uma maneira geral seguir a lógica representativa dos valores que em determinada época se consideram permanentes.
Ao chefe de estado republicano caberia a restante representação, nomeadamente aquela que faz sentido corresponder aos anos do respectivo mandato.

E quem sabe se não descobriríamos (por alguma razão fomos descobridores!) que existe uma duplicação inútil no nosso sistema representativo (onde primeiro-ministro e chefe de estado concorrem na mesma legitimidade) e não suprimíamos um dos cargos!
Uma hipótese para o futuro, um futuro sem preconceitos políticos colectivos nem complexos de inferioridade individuais.

Saudações.

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