sexta-feira, 31 de outubro de 2008

As Forças Armadas e o momento político



Desde sempre, as Forças Armadas foram vistas pelos portugueses, como o irredutível baluarte que garante a liberdade da nação, encarada aquela sob a forma do pleno exercício da soberania sobre o território histórico delimitado há mais de oito séculos de conquista, povoamento e uniformização pela lei comum.

 

O Exército e a Marinha estiveram no centro dos acontecimentos que paulatinamente elevaram o pequeno reino à inesperada condição da grandeza na História, facto sem paralelo na Europa e que decorrido meio milénio, conseguiu a proeza de elevar a língua portuguesa, à condição de uma entre as maiores no planeta, quase remetendo à condição residual, aquelas faladas por povos de grandes potências, entre as quais decerto pontificarão a Alemanha, a França ou a Itália.

 

Quando da passagem do Centenário do Regicídio, verificaram-se certas movimentações no âmbito castrense e muito sintomaticamente, surgiu o general Garcia Leandro a alertar para as dificuldades existentes no seio das F.A.P. Facto inédito e que pode ser interpretado como aviso, o general tinha como pano de fundo, o antigo - e prestigiosamente verdadeiro - escudo das Armas Portuguesas, aquele mesmo ilegalmente derrubado pela unilateral Constituição de 1911. 

 

A profissionalização das forças armadas, trouxe uma realidade difícil de gerir, habituados como os portugueses sempre estiveram, a um serviço militar obrigatório que aliás, foi um alicerce do próprio Estado Liberal nascido da vitória de 1834. Durante o período das amplíssimas liberdades da Monarquia Constitucional, muitos foram os chefes de governo que saíram das fileiras, normalmente desempenhando cargos políticos e partidários, sem que "o exército" pudesse ser de alguma forma acusado de intervencionismo permanente nos negócios públicos. Foi exactamente a sua abstenção no 1º de Fevereiro de 1908 e no 3-5 de Outubro de 1910, que reverteu a tendência que já há muito se verificava e  remetera as Forças Armadas - então Exército e Marinha - ao seu papel de guardiãs do património territorial e da independência do país. O caos da república, a necessidade premente do intervencionismo no jogo partidário e o sacrifício da sua independência em prol dos interesses sectários, destruíram o equilíbrio  habilidosamente conseguido durante quase setenta anos de regime constitucional. O Chefe do Estado - o rei -, era igualmente e de forma explícita e universalmente aceite, o Chefe das Forças Armadas e por isto mesmo, a garantia formal de independência das mesmas face ao poder dos interesses económicos, políticos e partidários, obviamente cúmplices como é normal em qualquer democracia. O realismo deve ser norma e este é um facto indesmentível que temos de aceitar.

 

A clamorosa e humilhante derrota face às stuermtrueppen do kaiser Wilhelm II, os assassinatos quotidianos, o descalabro financeiro e uma  torrencial legislação eivada de boas intenções mas sem qualquer sentido prático, conduziram o país ao beco da falência do Estado que correu um sério risco de inviabilidade e puro desaparecimento, com o total alheamento das outras potências, mesmo aquela que sendo a Aliada tradicional, esteve prestes a reconhecer o fait accompli de um Finis Patriae lusitano.

 

Não vale a pena continuarmos indefinidamente a proceder a considerações acerca do papel das Forças Armadas durante o Estado Novo, pois foram sendo relegadas à sua missão de garantia de segurança e paz interna dos territórios do Ultramar e da Metrópole e em 1939-45, não foram obrigadas ao sacrifício - previsivelmente inglório - de fazer frente aos ímpetos expansionistas de um Reich que pretendeu ser milenar, nem de se submeter à condição subalterna de tropas auxiliares da Commonwealthanglo-saxónica.

 

Cumpriram de forma brilhante, sacrificada e inesquecível, os cometimentos exigíveis quando da eclosão da Guerra de África, lutando contra imensas e aparentemente insuperáveis dificuldades. Sem aliados que lhes fornecessem o equipamento mínimo, souberam improvisar e acima de tudo, conquistaram o meritório papel de defensoras de populações negras e brancas que se viam ameaçadas pelo ciclo de atrocidades que sob a África se abateram desde o início da cataclismica tempestade dos chamados "Ventos da História".

 

No século XX, o seu intervencionismo político tem ocorrido, sobretudo, quando confrontadas com prementes necessidades de cariz corporativo e sendo um dos fundamentos do Estado, encontram-se paradoxalmente desprotegidas e à mercê da boa ou má vontade dos civis que se alternam na governação. Paradoxalmente, porque não dispõem dos recursos sindicalizantes das hostes civis e porque têm desde sempre garantido, a perenidade de "situações"que se sustentam pela precisa e lógica abstenção das Forças Armadas no jogo político.  Quando o Chefe do Estado - ainda hoje conhecido como presidente da república - era militar, garantia-se pelo menos dejure, uma certa independência na senda do caminho trilhado pela quarta dinastia e podemos mesmo arriscar o nome do general Ramalho Eanes, como um perfeito exemplo da quase unanimidade da vontade nacional, fosse ela civil ou militar.

 

Os portugueses  sentem e querem uma nítida delimitação daquilo que pode ser cedido no capítulo da Soberania Nacional e não existe qualquer comissário ou presidente do conselho europeu - seja ele estrangeiro ou português - que possa convencer este povo do contrário.  Há limites inultrapassáveis e disso têm as Forças Armadas a perfeita consciência, desde o chamado soldado raso ao general do topo da hierarquia. Ainda há uns anos, quando o governo Guterres pareceu considerar a hipótese do encerramento das Academias Militares, atribuindo essas funções formativas à congénere espanhola, o silêncio glacial nos quartéis e a clara oposição da opinião pública, trouxeram o necessário abandono do grotesco projecto. 

Desde então, os sucessivos governos - independentemente dos partidos componentes dos mesmos - se têm servido das Forças Armadas, como um precioso instrumento de publicidade e visibilidade daqueles, em termos internacionais. São enviadas "missões de paz" ao Médio Oriente, África, Oceânia e Balcãs, sem que por isso as F.A.P. estejam devidamente equipadas para um honroso e activo cumprimento das operações que lhes são destinadas.

 

Um exército profissional deve ser isso mesmo, logo bem remunerado e consequentemente afastado das quezílias da jogatina política. Não se lhe pode ser solicitado qualquer sacrifício, se simultaneamente, os mesmos que decidem acerca da sua transferência para cenários de duvidoso interesse nacional, são os primeiros a consentir em campanhas públicas mais ou menos disfarçadas numa imprensa a soldo. O regime sente-se mal com as forças armadas, porque os políticos sabem que tudo lhes devem. Devem-lhes os apetecíveis lugares do Poder, devem-lhes a visibilidade internacional,  devem-lhes a paz interna e a total e inegável abstenção na vida político-partidária. 

 

Dizia o coronel Vasco Lourenço há alguns meses, que ..."não me preocupo com conversas de generais, mas sim com aquilo que dizem ou sentem os quadros intermédios das forças armadas"... (grosso modo foram estas as suas palavras). Passando sobre a insignificância do peso do dito coronel numa hierarquia vertical que nada tem em comum com uma época de sapatilhas rotas, rallyes de Chaimites, barbas à Che ou SUV's, não deixa de ter razão e ironicamente, são esses mesmos quadros intermédios que se tornam cada vez mais audíveis. Estão a um passo do vociferar e em mais um lampejo da minha memória - que, digo-o sem falsa modéstia, é prodigiosa -, recordo-me da entrevista do general Garcia Leandro e do tal pano de fundo. 

 

A verdade é que os portugueses estão sempre prontos a acorrer às ruas em delírio, manifestando  toda a fé e esperança no rasgar de situações espúrias que rebaixam à condição de vergonhosa prostração, uma História gloriosa da qual hoje somos um débil eco. Não admitirão contudo, o arriscar da tranquilidade cidadã, pelo simples reivindicar deste ou daquele salário ou subsídio. As Forças Armadas foram, são e serão sempre, o braço que empunha o estandarte das grandes mudanças regeneradoras, encaradas estas como um projecto de afirmação nacional, em ordem , segurança e liberdade. E sobretudo, como instauradoras da legitimidade.


Dois Magalhães para Espanha

A história é conhecida, Sócrates resolveu aproveitar a Cimeira ibero-americana, a decorrer em El Salvador, para oferecer um computador Magalhães a cada um dos participantes.
Ora bem, sabendo que são 22 os países representados e sabendo também que Portugal não ofereceu nenhum computador a si próprio, apetece lançar daqui uma adivinha – afinal quantos computadores ofereceu Sócrates?
Fiz a mesma pergunta no centro educativo onde trabalho e a resposta veio óbvia mas errada. Todos responderam 21. Claro que Sócrates ofereceu 22 computadores, tal como Lula o teria feito se fosse ele o ofertante. O vigésimo segundo computador, decerto o primeiro, foi naturalmente entregue ao Rei de Espanha. Zapatero recebeu um computador pela representação dos interesses da Espanha na conjuntura; o rei, que torna compreensível a Cimeira, recebeu o Magalhães da História.
Fácil de entender.
E nós? Nós que somos o outro país ibérico colonizador, onde deixámos o nosso representante?! Aquele que justifica a participação?!
Triste e inutilmente, lá fomos em duplicado, mas a léguas de distância da representação inteira, cabal, com que a Espanha sempre se apresenta!
A história anda de facto à nossa procura… mas a gente tem vergonha… e esconde-se!

Saudações monárquicas.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A República não faz saudade....


Os republicanos não queriam apagar o passado! Queriam fazer o futuro! Está mais que visto e bem vistas as contas eles já previam estarmos na "Europa" e adoptarmos o "euro"... ....

"Vai desaparecer a moeda de "cinco Reis" posta à margem por uma proposta de lei apresentada ao parlamento pelo sr. dr. Afonso Costa, ministro das finanças. A pequenina moeda tem sido chorada em vários tons, chegando a haver quem dissesse que o seu desaparecimento traria grandes prejuizos ás classes pobres (..) e quem sabe uma conflagração europeia. Como tudo o que do outro regime ficou, desaparecerá de vez, sem deixar saudade".

"O Mundo", 1913

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Comemorações do centenário da 1ª vereação republicana em Lisboa

É já no próximo Sábado dia um de Novembro que o regime celebra nos Paços do Conselho da Camara Municipal de Lisboa a vitória do Partido Republicano Português nas eleições municipais de Lisboa ocorridas nessa data há cem anos.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Uma manhã de Rainha D. Amélia



Esta manhã tive de fazer uma visita aos escritórios da EDP, para tratar de assuntos de facturação da empresa de um amigo. Como os ditos serviços se encontram sediados na Camilo Castelo Branco (Mq. de Pombal), levei apenas alguns minutos para lá chegar, tirar a senha e dispor-me a esperar o tempo necessário para estas coisas da burocracia.  Ao meu lado estavam duas senhoras bastante idosas, que  habitualmente vejo nestas redondezas, seja no café da esquina ou no supermercado. 

 

Assim que me sentei, iniciaram de imediato um contacto, que segundo me disseram, já esperavam há muito. É que costumo usar num blusão, uma pequena bandeira nacional de esmalte e já estou habituado à curiosidade do olhar de alguns, ao fácies cúmplice de outros e também, ao evidente desagrado dos patetas  habituais.  As duas irmãs já a tinham visto e perguntaram-me se sabia o que aquilo significava, Não pude deixar de sorrir com esta questão que hoje dia, nesta época de gadgets meramente decorativos, não é assim tão extemporânea. Esclarecidas acerca das minhas razões, sentiram-se então muito à vontade para falar. Surpreenderam-me - ou talvez não -, com um diluviano discurso sobre a rainha D. Amélia ..."uma mulher excepcional, culta, moderna, avançadíssima para o seu tempo, de uma elegância e simplicidade extrema"...  Filhas de um pai que fora republicano até à morte de Sidónio, desde pequenas ouviam falar naquela, que neste país avesso a novidades, insistira em arrastar os portugueses para o século XX da ciência, protecção do património e mais importante que isto, das conquistas sociais. Estas duas senhoras conhecem de cor o papel pioneiro da rainha Orleães. Falaram-me das creches, dos lactários e das cozinhas económicas. Não quis estragar o seu entusiasmo e fingi surpresa por tudo aquilo que me contavam, onde a luta contra a tuberculose, o Instituto Câmara Pestana, os sanatórios e as campanhas de prevenção, encontravam-se no centro da frenética actividade da grande soberana. A minha surpresa deveu-se antes de tudo, à pujante memória de duas mulheres com quase nove décadas de existência e não pude deixar de escutar pequenos episódios relativos a essa paixão que desde novas cultivam. Quando da visita da rainha em 1945, o pai levou-as a todos os locais onde puderam contactar com D. Amélia e orgulhosamente disseram que lhes tinha chamado "minhas filhas", à saída de S. Vicente de Fora, ao mesmo tempo que o pai não se cansava de berrar a plenos pulmões  "viva a rainha!!"

 

Após uma meia hora de emotivas recordações, confidenciaram que ..."sabe, naquele tempo era difícil falar à vontade e o meu pai dizia que aquela senhora representava o último momento em que tinha existido liberdade em Portugal".  Assim que ouvi isto, o meu interesse avivou-se instantaneamente e descobri então com autêntica surpresa, estar diante duas senhoras daquilo a que durante o Estado Novo se chamou de "reviralho". Afinal existia uma oposição que não era PC, nem era exclusiva dos órfãos do Afonso Costa e dos seus bandos de caceteiros e caciques locais. Havia um reviralho azul e branco, discreto, mas de firmes convicções que se mantiveram para além do século mais infeliz da nossa História.

 

Antes de nos despedirmos, ainda tiveram tempo para me dizer ..."que o Sampaio bem podia deixar os preconceitos e prestar uma homenagem pública à rainha que foi a primeira a interessar-se pela luta que ele hoje diz que quer encabeçar!". Mas logo e bastante desanimadamente concluíram que ..."não, é impossível, eles são muito pequeninos, invejosos e mesquinhos. Falta-lhes grandeza"...

 

Uma vez mais, aquelas duas mulheres que recebem duas reformas miseráveis e dependem totalmente dos filhos e netos, têm razão em não crer em milagres. É a nossa sina.


República descapotável... vai uma voltinha?

– Descontraiam, meninos... só vamos dar uma volta ao Terreiro do Paço... isto agora é aproveitar o sol, maravilha, que medo e ditadura é coisa que já foi e não haverá.... é para isso que veio a República... ...!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"FALANGE DEMAGÓGICA"



As greves académicas de 1919 seguiram-se ao movimento da "Falange Demagógica", em 1910, constituído por um grupo radical de estudantes, que assaltava a Academia e pedia a reforma da Universidade. (...)

Contagiados pela implantação da República em 1910, os estudantes exigiam a extinção da Faculdade de Direito, pois entendiam que ela representava o regime deposto, isto é a monarquia. Exigiam ainda a abolição do juramento religioso nos actos académicos e o fim da obrigatoriedade do uso do traje académico. A resposta ministerial demorou e não deixou os estudantes satisfeitos. A reacção foi rápida e violenta.

A 13 de Outubro a "Falange" invade e ocupa de forma violenta a Universidade. Os retratos dos professores monárquicos são vandalizados, bem como o do Rei D. Carlos. Rebentam bombas na Sala dos Capelos, o vestuário e os trajes dos lentes são destruídos.

A "Falange Demagógica", nasce no rescaldo da greve académica de 1907, mantendo-se activa nos primeiros anos da primeira República, mas em resultado das lutas que travou com o Governo a seguir à revolução na reforma da Universidade, foi desmantelada, tendo os seus cabecilhas sido presos.

Sabe-se que a maioria dos estudantes que compunham a "Falange" eram das Ilhas dos Açores e pertenciam às Faculdades de Direito, Matemática e Filosofia. São também conhecidas as suas ligações à Carbonária de Lisboa, sendo os próprios estudantes os fabricantes das armas e bombas que utilizavam nas suas acções, nomeadamente no assalto à universidade. Pouco mais se conhece.

Mas, não restam dúvidas a "Falange", enfatizou o conferencista, durante alguns anos e sobretudo na reforma da Universidade de Coimbra e no ensino Superior após a revolução republicana, teve um papel preponderante.

Fonte : http://www.onoticiasdatrofa.pt/nt/index ... Itemid=368

Cordialidade


Em República a cordialidade é uma constante. Vejam este simpático momento da greve ferroviária de 1911, na estação de Stª Apolónia! Eles estão em greve, mas contra a monarquia, claro, e convivem cordialmente e civilizadamente com a "Guarda Republicana" durante esse direito oferecido pela República, mais que claro!



Foto de Joshua Benoliel, in Arquivo Fotográfico

E você? Enfia a carapuça??

Que bem desenhava Alfredo Cândido*: 
Da "Coroa" para o "barrete"... em que isto se tornou!!

Eu não enfio a carapuça. 


*caricatura de Bernardino Machado

sábado, 25 de outubro de 2008

A República oferece uma nova "Vista" para o Tejo

Pouco se conhece dos planos do regime que nos governa para a comemoração do centenário.
Por enquanto apenas sabemos que os Lisboetas vão ganhar uma nova vista para o Tejo.
Aproveito aqui para mostar uma ante-visão dessa vista!


Vista do Tejo em Alcântara - Ano 2010

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Como é que eles se foram esquecer???

... mas então, como é que o Afonso Costa e os outros iluminados se esqueceram de um decreto para mudar as figuras do Xadrez??

... então não devia ser o "Sr. Presidente" o cerne do jogo?


... quem quer ter "fé" que acredite na República....


"O catolicismo não tem sido nem é capaz de ser amigo do povo. Mal dêste, se dêle confiasse a resolução do problema essencial da sua existencia. Seria um atraso na vida coletiva, só comparável a um cataclismo que fizesse voar em estilhas o orbe terraqueo!"


Afonso Costa, conferência na Imprensa Nacional de Lisboa, 1914

A História de Portugal...datas importantes para o 4º ano

Tabela cronológica incluida no livro "Outros tempos Outras Histórias" do 4º ano (Porto editora)

Clicar no botão da direita do rato e clicar "ver imagem"

Perante esta tabela suponho que foi a Republica que acabou com o dominio espanhol! isto dá vontade de rir, para não chorar.

Onde está o 1º de Dezembro? O dia da Restauração... supostamente a data mais importante!?

A data da fundação de Portugal... não está aí no dia e més... mas o 25 de Abril está (é a resposta que está no livro e é pedida aos alunos).

O coitado do Viriato foi plantar batatas.

O D. Afonso Henriques é menos importante que a adesão à CEE... nem aparece!

D. João I... Nem vê-lo!

Mas o que eu gosto mesmo é da coroa no meio da Peninsula Ibérica!... Será que temos professores tão maus que nem sabem que a Coroa Portuguesa era independente da espanhola?

As descobertas têm uma referência, mas os últimos 30 anos têm 3!!! Até me admiro o Mário Soares não aparecer nessa tabela, ou o Sampaio ou o Cavaco... já agora o Qim barreiros ou o Ronaldo.

Pobre povo que tem tão pobres espíritos a ensinar as gerações futuras!

bem haja

Portugal medieval explicado ás crianças do 4º ano

No livro do 4º ano de Estudo do Meio, "Outros tempos outras histórias" na página 40 as autoras explicam graficamente o panorama social de Portugal no início das descobertas, portanto séc. XV (portanto já Idade moderna).



Photobucket

A imagem acima só por si dispensa comentários, mas convém referir os erros:

Onde está o Rei? Explicar a sociedade do séc XV sem referir o Rei é como querer correr sem uma perna. Como se trata de um livro do 1º ciclo a intenção é clara:
Omitir o Rei como a peça fulcral da sociedade é um erro muito grave, e a sociedade resume-se a um retalho de grupos que procuram o lucro pessoal.
Traduzindo o que os vários personagens dizem para a mentalidade de uma criança de 8 anos: a Burguesia (curiosamente surge no topo) quer dinheiro, a Nobreza quer dinheiro, o Clero quer mandar e o desgraçado do povo "apenas" "pretende" não ser mais espancado.
Pura ideologia marxista!

Fala-se da "Educação", de que "a Educação" falhou, e que se investe pouco, que os professores isto e aquilo... o problema é este acima focado: nas escolas não se ensina... doutrina-se ideias passadas caducas e fora da realidade actual e factual. A deturpação da História apenas leva à repetição dos erros passados, por isso é que Portugal repete-se ciclicamente desde 1910. Que espécie de adulto teremos se aos 8 anos está a aprender esta "coisa" que de História não tem nada?

bem haja

Ajudar a república

Vamos lá ajudar o regime a sair da crise, do beco sem saída em que se meteu, mas para isso é preciso acabar com este ‘jogo do empurra’, que consome e arrasa a nação, um jogo infantil em que as sucessivas repúblicas se vão justificando umas à outras – a terceira a garantir que nos libertou da ditadura da segunda, as saudades da segunda a reclamarem o fim da balbúrdia da primeira. Repito, temos que acabar com isto, porque não tarda virá uma quarta república (já se ouvem aliás os seus tambores) que dirá que nos vem libertar das crises internacionais que importamos e com as quais nos desculpamos! E terá por certo razão, como todas as outras, basta-lhe para tanto invocar a realidade insofismável – o fosso entre ricos e pobres não cessa de aumentar, e nesta matéria ocupamos as piores posições em todos os rankings!

Portanto o que há a fazer é o seguinte: em primeiro lugar temos que ser capazes de realizar um referendo, um acto terapêutico que nos liberte dos fantasmas do passado, e que ao mesmo tempo responsabilize os portugueses pelo regime que têm e que afinal escolheram. Não está em causa a vitória da república, que será natural, até esmagadora, o importante será o próximo passo – o que fazer com essa vitória?!
Assim responsabilizados, sem mais desculpas, governantes e governados serão obrigados a olhar para o futuro e se houver alguma lucidez (e humildade) estaremos em condições de nos reconciliarmos com a história, com a nossa história, feita de erros e virtudes, como é uso entre os homens.

Talvez então se imponham (a todos) algumas alterações na estrutura representativa, a benefício de Portugal, como por exemplo: atribuir a um rei e a uma dinastia a representação do vínculo histórico que nos une; incluir nessa representação as várias repúblicas (regiões autónomas que já existem e aquelas que poderão vir a existir) que compõem o universo lusófono; e de uma maneira geral seguir a lógica representativa dos valores que em determinada época se consideram permanentes.
Ao chefe de estado republicano caberia a restante representação, nomeadamente aquela que faz sentido corresponder aos anos do respectivo mandato.

E quem sabe se não descobriríamos (por alguma razão fomos descobridores!) que existe uma duplicação inútil no nosso sistema representativo (onde primeiro-ministro e chefe de estado concorrem na mesma legitimidade) e não suprimíamos um dos cargos!
Uma hipótese para o futuro, um futuro sem preconceitos políticos colectivos nem complexos de inferioridade individuais.

Saudações.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Cem anos ao desbarato

A menos de dois anos do centenário da república, quando se rebuscam em desespero motivos para uma efeméride pouco menos do que ridícula, convém atender aos números que ainda este ano foram divulgados sobre a qualidade prática das democracias europeias: Portugal, com menos de 34 anos de democracia formal, comparativamente com os restantes 26 países da UE ocupa o quinto lugar a contar do fim da tabela. A qualidade da nossa democracia apenas supera quatro repúblicas ex-socialistas saídas do mapa político do pós-guerra: Lituânia, Polónia, Roménia e Bulgária, países recém-chegados à “Europa” na sequência do desmembramento da Cortina de Ferro nos anos 90.
Significativo também é o facto de nos primeiros cinco lugares deste “índex democrático europeu” constarem quatro monarquias, e nos dez primeiros pontificarem sete.
É neste quadro que, iludidos por um suposto progresso material, os portugueses, acríticos e amesquinhados, amarrados a uma História ficcionada e instrumental, desistiram de construir a sua história e o seu futuro. Até ver.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Tributar para bem da República... e dos "republicanos"



"(...) Um imposto que, em 1.600.000 contribuintes, sómente carrega 30.000, que são ipso facto os mais abastados, aliviando todos os outros, não pode nunca chamar-se injusto. É preciso esclarecermos bem a situação. Não basta alardear amor à terra natal em palavras que soam falso como moedas falhadas. São precisos actos. Ninguem ignora que o pais precisa não só equilibrar as suas finanças, como avançar nas sendas do progresso moderno. Isto não se faz sem dedicação, sem sacrificio, sem patriotismo. Mas quando se requerem os meios de se efectuar esta obra, todos prégam, não se véem senão vultos que pretendem esquivar-se áquilo mesmo que reclamaram. Pois é preciso agarrá-los, e fazê-los ir para a frente, com a espada nos rins, como se faz, numa batalha, aos desertores que fogem."

Publicação do Novo Imposto sobre Contribuições; "O Mundo", Almanach, 1914

Uma audácia...


“Falei então ao sr. de Almeida sobre a visita às prisões e Lisboa. Foi motivo para que ele verberasse, uma vez mais, os processos do sr. Afonso Costa.
– Contra estes processos, disse-me, já eu protestei na Camara e não cesso de protestar, tanto no meu jornal como nas assembleias publicas. (...) Comtudo não posso admitir que qualquer individo suspeito de preferencias pelo monarquismo seja preso pela mais arbitraria das formas e acho perfeitamente intoleravel que os presos estejam, até ser julgados, numa longa detenção preventiva – e as mais das vezes ainda em que escandalosas condições! Repito o que já disse este regime que não tem nada de republicano, que é a propria negação de Republica, não pode continuar durando. E é que não durará. Dê lá por onde dér, e no intuito de lhe por côbro, empregarei toda a minha energia...
– Quando ia retirar-me perguntei ao sr. de Almeida se julgava possivel uma restauração monarquica.
– No estado de anarquia em que nos debatemos pode vingar um golpe de audácia. 
(...) ”

Jornal “República”. Entrevista a António José de Almeida, 4 de Novembro de 1913.


E no estado de anarquia em que nos debatemos fará sentido que Comemoração?
Isso é que é uma audácia!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Celebremos então!


Após quase cem anos de republica Portugal é um dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) com maiores desigualdades na distribuição dos rendimentos dos cidadãos, ao lado dos Estados Unidos e apenas atrás da Turquia e México (Ler mais aqui no Público).

Ler os outros

Coragem e dever

5 de Outubro de 1910. Cruzador Adamastor. Porto de Lisboa. Revoltosos entram a bordo do navio provocando um motim para se apoderarem de munições e apontar canhões para o Terreiro. O tenente Mendes Cabeçadas aponta uma arma à cabeça do capitão-mar-e-guerra Augusto Carlos Saldanha e diz: Dá-me a chave do paiol. Uma resposta: Só dou a chave a quem me confiou. E atirou-a ao mar! Os revoltosos demoraram 4 horas a rebentar com a porta-cofre. Foi o seu acto de coragem que influenciou a decisão de o manterem vivo. O resto, tortura, prisão por vários anos e não progressão na carreira. 14 de Maio, de 1915, quartel de Alcântara, Lisboa. "Repúblicanos", "civis" e militares saqueiam e assaltam pela cidade de Lisboa à procura de comida, no que se viria a transformar num "movimento revolucionário" que custa centenas de mortos. Estando nesse dia de serviço, no Batalhão Naval, Augusto Carlos Saldanha opôem-se à desordeira ocupação do quartel por simpatizantes monárquicos que o conheciam e que queriam tirar partido do facto. Foi alvejado com 6 tiros. Sobreviveu. Por mérito, foi Grande-Oficial da Ordem de Aviz e da Ordem de Torre e Espada e membro do Conselho das Ordens. O seu nome não consta no Museu da República.
Nos Carvalhos do Paraíso por João Amorim

domingo, 19 de outubro de 2008

Não à Laicidade ,”A César o que é de César, a Deus o que é de Deus”


Nos últimos 3 anos assistimos a um crescendo de atentado à Liberade Religiosa em Portugal da parte do regime vigente. As pessoas vivem numa republica dita laica mas será que se sentem republicanas ? Obrigam a que se retire os símbolos religiosos das escolas e até chegaram a obrigar a mudar o nome de escolas com santos … recuaram. Confundem o que é de Deus com  a Ética Republicana ou será Maçónica Não Regular ? O problema não é retirar um “Santo António” de um nome de uma escola, o problema é não permitir que uma escola se chame “Dailai Lama” ou “Siddhartha Gautama” ou “Maomé”.Esta é a Ética republicana  ou não será esta a violação da Liberdade de ter uma confição e uma fé ? Estão a confundir o que é de César e o que é de Deus, o Estado não tem o direito e nem o dever de se intrumeter no íntimo só porque meia dúzia que reaccionários neo-carbonários-sindicalistas netos de republicanos se lembram de instaurar a ditadura moral no nosso País.

Não à Laicidade da Sociedade de Deus mas sim à Laicidade do Estado de César.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O boné da república



Nunca entendi, nem me preocupei em perceber minimamente, as lógicas inerentes aos mercados, investimentos, correcções bolsistas. Jamais dediquei um segundo que fosse, à descodificação para uma plena  percepção, do palavrório adstrito aos negócios, aos sharessubprimesoff-shores, etc. Não me interessam mais que o jogo do pau, a canasta ou o aborrecido golfe, este último aliás, um quase refém dos especialistas da finança e a sua visível adjacente, a politiquisse.

 

Hoje foi um dia em grande, pois fez-se jurisprudência. Pela primeira vez, uma medida governamental levou em menos de vinte minutos, a chancela presidencial. Com o seu mais rasgado e prognático sorriso,  o presidente da "república" fez notar a sua pressa em aquiescer ao diploma-emergência postado pelo governo e com fortes emanações odoríferas de uma AR rendida à evidência do momento.

 

O argumento é conhecido, pois em primeira mão, visará garantir a cobertura dos depósitos de milhões que pouco mais possuem, além dos seus magros salários. Se assim fosse, a medida de resgate não tropeçaria em qualquer tipo de obstáculo, recolhendo a unanimidade dos portugueses. No entanto e dado o já longo historial de tropelias, desfaçatezes, esbulho, tráfico de influências e larvar vigarice que a imprensa tem ingenuamente desmascarado nos últimos anos, o diploma surge desde logo salpicado de suspeita. É que afinal, não serão os contribuintes uma vez mais imolados à conveniência de tapar os buracos-negros de um sistema corrupto, incapaz de gerar verdadeira riqueza e que neste preciso momento ameaça fazer ruir a economia global, abrindo a temível perspectiva de convulsões despoletadoras do totalitarismo? Não estará o dinheiro de quem pouco pode, destinado a salvar a solvência de um bando de vigaristas sem escrúpulos?

 

Não servirão estes biliões para recomeçar todo o ciclo de canalhices, destruição do aparelho produtivo e do ambiente, enriquecimento acelerado e descontrolado de uma meia dúzia de oportunistas, com a consequente extinção da classe média? 

 

O "presidente deles" assinou e fez aquilo que lhe competia. Na esteira do seu antecessor, o sempre solicito ouvidor das embaixadas de banqueiros e de reuniões supra-nacionais em Seteais, garantiu o balãozinho de oxigénio aos seus amigos que passavam até hoje, por um sufoco que todos gostosamente esperávamos com um certo saborzinho de vingança sob a língua.

 

É que para certa gente, deixar o "mercado funcionar", pode ter diversas leituras, consoante a conveniência. Se as empresas fecham e quem nela trabalha há décadas é posta no olho da rua, isto é o "mercado a funcionar". Se uma empresa cheia de vitalidade é alvo de uma OPA hostil e depois desmembrada e destruída, isto chama-se também "mercado a funcionar". Se apartamentos que não valem mais de 50.000€ são vendidos pelo quádruplo do seu valor, escravizando os incautos compradores para o resto das suas vidas, isto será igualmente o "mercado a funcionar".  Se o parque imobiliário histórico está ao abandono e é quotidianamente vítima primeira do camartelo especulativo, lá está o "mercado a funcionar".

 

No momento em que os bancos praticamente faliram pela incompetência, má gestão e porque não dizê-lo?, actividades lesivas do bom nome - que nunca teve - do sector, o mercado não funcionou. Funcionou isso sim, a continuação e insistência no crime. E para isso, lá está quem assine. É a república.


terça-feira, 14 de outubro de 2008

As Forças Armadas Portuguesas: paradas no tempo



 No domingo passado, realizou-se uma vez mais, a já tradicional parada militar em Madrid, comemorando o dia nacional do reino vizinho. Os espanhóis gostam destas coisas e sabem organizá-las milimetricamente, nada falhando. A sequência das unidades no desfile é perfeita, a tropa sabe marchar e os passos não claudicam, nem se verifica qualquer tipo de descoordenação. O equipamento exibido impressiona pela modernidade e aspecto impecável e as forças armadas não deixam de orgulhosamente apresentar os nomes das unidades que fazem parte da história e nos remetem para épocas passadas de heroísmo e grandeza. Presidindo à revista, estava o rei Juan Carlos I, a rainha Sofia e o resto da família real, o cimento unificador do Estado. País com sérias dificuldades em lidar com um passado onde o pronunciamiento sempre foi uma constante e o motivo para graves dissensões que desembocaram em fratricidas guerras civis, a Espanha não hesita em demonstrar o seu poder e o prestígio de que desfrutam umas forças armadas que transversalmente sintetizam a sociedade plurinacional que nelas se fundem, tendo como base primeira o interesse comum. E tão importante como isto, têm aquilo que o povo nelas quer ver, o chamado panacheque vai do soldado raso à figura que recolhe a unanimidade: o rei de uma democracia.

 

Em Portugal, existe uma patológica e inexplicável timidez em tudo o que se refere à simples visibilidade das F.A.P. Dir-se-ia até serem inexistentes, pois há muito nos desabituámos da sua presença nas ruas e até nos simples transportes públicos, como se um  terrível cataclismo tivesse ocorrido. Quando nas instâncias superiores do regime se fala na aquisição do necessário equipamento, de imediato se levantam vozes escandalizadas e uma atroadora gritaria imbecil enche os noticiários, fazendo correr rios de lava pelas encostas do autêntico vulcão em que se transforma a comunicação social. Assim, tudo é feito de forma envergonhada e subreptícia e não se compreende bem o porquê do dislate. 

 

Paradas enquadrando a comemoração das grandes datas da nossa história,? Não as vemos há décadas! O 10 de Junho foi ridiculamente conotado com o "fascismo". O 1º de Dezembro, inacreditavelmente foi esquecido, quando pelo contrário, propiciou as mais celebradas vitórias - à escala da Europa de então - das nossas armas, representando o triunfo da nossa liberdade como nação independente e secular. Não existe uma simples menção a Aljubarrota ou ao triunfo sobre a chusma bonapartista que aqui viu pela primeira vez, as suas águias morderem o pó do chão dos campos onde foi derrotada. Nada, não existe absolutamente nada! Apenas uma patética celebração do armistício  de 1918, faz bruxulear a luz da memória, talvez piedosamente recordando a mais desastrosa campanha da história do nosso exército. Uma banda desengonçada, uns pelotões que se arrastam sem marchar - ironia das ironias! -ao som do Alte Kamerade do Kaiser Guilherme II e uma cerimónia curta, sem brilho ou a presença de gente cimeira do frágil edifício do sistema vigente. Que tristeza, o que de nós pensarão aqueles adidos militares estrangeiros que cumprem naquela data a sua obrigação de homenagem a este esquecido, fraco e timorato aliado?

 

E o problema reside no simples e corriqueiro facto de as coisas nem sempre terem sido assim. Quem folheie a Ilustração Portuguesa de há mais de cem anos, vê fotografias de tropas a descer a Avenida da Liberdade, aprumadas, bem vestidas - um tanto ou quanto à prussiana, á certo -, o passo coordenado e os regimentos a perder de vista. Era a sempre aparente- o 1º de Fevereiro e o 5 de Outubro deixaram ominosa e indelével nota de laxismo -  demonstração da vitalidade dos defensores primeiros da nação e do Estado. Tal como há dias em Madrid, lá estava o Comandante-em-Chefe, totalmente independente das questiúnculas partidárias e dos grupos de interesses mais ou menos comprometedores. Cumpria o seu papel, e unanimemente era aceite como o natural condutor de quem estava incumbido de zelar pela segurança de milhões.

 

Hoje, o nosso exército serve apenas para preencher o apertado e oportunista calendário intervencionista além-fronteiras, sem que por isso a sociedade - habituada a uma violenta barragem de artilharia anti-castrense - saiba reconhecer quão penhorado deve estar o regime a umas forças armadas a quem tudo deve. Uniformes velhos e pouco marciais, sem brilho e tristes. Veículos ultrapassados e em escassíssimo número e diversidade. Uma marcha pouco cadenciada que mais parece o desfile de uma agremiação de bombeiros de província. No entanto, um fugaz lampejo de energia ocorre quando surgem as tropas especiais, herdeiras de um passado de sacrifício e abnegada devoção a uma glória de antanho e claro está, o povo delira, quando vê desfilar em tropel os corcéis da Guarda, com a tropa uniformizada à grande, o derradeiro resquício daquela monarquia azul e branca que ofereceu a Portugal a última vitória em longínquos campos de batalha. 

 

O actual exército português, é o exército de uma democracia, tal como os seus congéneres de Espanha, do Reino Unido, Tailândia, França ou Bélgica. As forças armadas não intervêm na política doméstica, nem apontam o alçamento deste ou daquele caudilho. O serviço militar voluntário, deverá ter em princípio, a vantagem de fazer ingressar nas fileiras, aqueles que gostam e se orgulham do ofício da defesa e que decerto querem apresentar-se  de forma visível e desomplexada. São afinal, o elo mais forte de uma soberania de quase um milénio e que todos querem ver eternizar-se no porvir. Como nota anedótica (?), não será possível recorrer-se aos benefícios de uma certa globalização e encomendarem-se novos uniformes à China, assim como instrutores que ensinem a mancebagem a apresentar-se condignamente? Não será desejável fazer algo para que os nossos oficiais superiores deixem de se parecer com porteiros de casino, passando a ostentar outras vestimentas mais consentâneas com a tradição que hoje encarnam? O país não detesta as forças armadas, mas apenas deixou de respeitá-las, de tão invisíveis se tornaram.

 

Sigam o exemplo espanhol e imponham uma rotina de liquidação dos complexos que não têm razão de ser. No entanto, há que reconhecer que o pódio cimeiro, o do Comandante-em Chefe, continua vazio, porque ao contrário de Espanha, Portugal ainda não é uma monarquia. E isso faz toda a diferença.

 

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A fidalguia republicana


Ingenuamente os mais encarniçados republicanos vangloriam-se com uma das primeiras medidas dos revolucionários do 5 de Outubro: a abolição dos títulos nobiliárquicos. Acontece que, por ironia do destino, essa medida do governo provisório apenas vigoraria três meses: tendo em vista as revindicação dos altos funcionários que aderiam ao novo regime o uso de títulos foi legalmente restabelecido em Dezembro de 1910. Saiba tudo, visite o site Centenário da República
.
Na imagem: Visconde da Ribeira Brava

sábado, 11 de outubro de 2008

Cavaco Silva lança critica aos monarquicos

Na inauguração do centro de interpretação da Batalha de Aljubarrota, o PR aproveitou para tecer algumas criticas... ver aqui

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a História «não deve ser objecto de qualquer tentativa de apropriação, seja pelo próprio Estado, seja por quaisquer grupos ou facções».

«A História tem de ser objectiva e isenta, pois só assim será honesta consigo própria. A História não pode estar ao serviço de ideologias, de visões subjectivas do mundo, de concepções parcelares da realidade», afirmou.

é a primeira vez ao fim de mais de 30 anos que ouço um governante dizer que a História está ao serviço de um grupo com "visões subjectivas (...) de concepções parcelares da realidade"

para bom entendedor meia palavra basta, mas ser mais directo só lhe ficava bem...

Senão arriscamo-nos a ter um entendimento "parcelar" e "subjectivo" do que o PR disse ..algo parecido com trocar "Batalha Real" por "Batalha de Aljubarrota" só para apagar o facto de que era um Rei que estava à frente dos portugueses por aquela que é considerada uma das datas fundadoras do sentimento nacional português.

Realmente no que toca a realidades "parcelares" e "subjectivas" os Republicanos são verdadeiros mestres

bem haja

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Manifesto do Partido Socialista Português de 1911

Em Agosto de 1911 o Partido Socialista Português dava a conhecer ao público a opinião das classes proletárias, de quem se afirmava íntimo amigo e confidente:

“Na consciência pública principia a despontar a suspeita, que julgamos deveras arrojada, de que todo o trabalho de demolição feito pelos apóstolos da República, longe de se basear na legítima aspiração de um ideal infindo, teria tido por mero e desprezível objectivo a conquista do poder por motivos de ordem mercantil.
Não o quere assim acreditar o Partido Socialista Português; mas como, pela índole e natureza dos seus ideais, mergulha no mais fundo das numerosas falanges do proletariado, nele surpreende a formação sempre crescente e cada vez mais nítida desta deplorável corrente de opinião.
Nas falanges anarquistas, tanto como entre os sindicalistas e socialistas, e mesmo na opinião mais ou menos hesitante dos chamados indiferentes; no seio, enfim, de todo o proletariado português lavra profundo desgosto, e até revolta, contra o triste espectáculo que ao país e ao mundo estão dando neste momento os mais denodados caudilhos da democracia republicana.
(…) E, mais do que isto, o Partido Socialista entende que deve ser lançada aos actuais dirigentes e aos elementos mais preponderantes da República Portuguesa a inteira responsabilidade por todas as perturbações de ordem últimamente havidas e por todas que parecem prestes a haver, incluindo as responsabilidades duma possível Guerra Civil (…)

Lisboa, 31 de Agosto de 1911 - O Partido Socialista Português”.

Comunicado transcrito nas Memórias de Raúl Brandão, Vol. II.

A Causa Monárquica explicada aos sindicalistas

Um presidente da república é um rei a recibos verdes. Os monárquicos são contra o trabalho precário. Defendem a integração do presidente no quadro. Fonte: 31 da Armada

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Antes da moral, a justiça republicana...


Ontem como hoje uma real independência entre os poderes judicial e político era ponto de partida para mais elementar justiça. No auge da euforia revolucionaria, a 21de Dezembro de 1910 quatro juízes do Tribunal da Relação de Lisboa eram expulsos para a Índia pelo governo provisório, como retaliação ao arquivamento do Processo dos Adiantamentos instaurado a João Franco. Leia mais aqui no site do Centenário da República.

Na imagem: Ministro da Justiça Afonso Costa

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Agostinho da Silva - 1ª República, Ditadura, Restauração

Em Fânzeres já não há republicanos como antigamente

Noticiou o Almanaque Republicano, que no passado fim de semana, o CENTRO REPUBLICANO E DEMOCRÁTICO DE FÂNZERES completou cem anos de existência.

Ao ler o programa, constatei com alguma surpresa, pois assegura o Almanaque que esta agremiação tem vindo "[...]de forma continuada tem procurado manter os ideais republicanos vivos no Norte do País", que as comemorações incluíam uma Missa, em memória dos Sócios falecidos.
Não contactei o Instituto de Geofísica, para indagar que escala atingiu o abalo de terra no cemitério de Fânzeres, provocado pelas inúmeras piruetas que estes sócios falecidos, principalmente os "fundadores", deram nos seus sarcófagos, enquanto o reitor da paróquia orava pelas suas almas, pedindo o perdão pelos seus irreflectidos actos, entre os quais se encontram, quase de certeza, o de terem enviado este grupo de conterrâneos monárquicos para as masmorras de Caxias.

Prisão de Caxias 1912 - Grupo de Presos políticos Monárquicos de Fânzeres
Fotografia postal escrito por um preso de nome Tomé dirigido a Albino Martins de Castro, residente no Lugar da Igreja em Fânzeres - Colecção do Autor
Nota: O postal foi interceptado e nunca chegou ao seu destino

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Condição da Criança na I República (III)

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Desenho de Stuart, também de 1923 no "A BATALHA"

bem haja

Condição da Criança na I República (II)

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Desenho de 1923, publicado na "A BATALHA" em Dezembro, da autoria de Stuart Carvalhais

Creio que na época actual ,infelizmente, sabemos muito bem o que está retratado no desenho

bem haja

Condição da Criança na I República

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Sem comentários!

bem haja

As críticas à República

Texto dePaulo Bruno Alves

Dias depois de ser implantada a República em Portugal, o primeiro jornal da Diocese de Viseu, A Folha (1901-1911), lançava as primeiras críticas ao novo regime. O jornal apresentava uma lista de algumas instituições ligadas à Igreja que estariam na iminência de serem visitadas e encerradas pelos republicanos. As congregações religiosas começavam a ser banidas de Portugal que também iria começar a ter um ensino laico, isto é, sem quaisquer referências – nos livros escolares – a Deus ou à doutrina católica. Os clérigos, em especial os jesuítas, começavam a ser «(...) expulsos da republica, depois de lhes terem sido assaltadas as residencias, de os prenderem com mais ou menos violencia, e nem se lhes respeitando o direito de propriedade, pois lhes vão ser confiscados os bens». Também o curso de Teologia da Universidade de Coimbra iria ser extinto. O jornal não compreendia como era possível fazer-se isso num País de milhões de católicos, a quem pedia para se unirem e lutarem. Mas com toda a legitimidade. Sensivelmente um mês depois da proclamação, a República era analisada pel’ A Folha: «(...) a obra do governo provisório tem sido uma obra estreita e sectaria, imposta pelas lojas e centros revolucionarios. (...) O governo provisorio está-se desecreditando pela sua incompetencia».

Perante esta esterilidade governativa mergulhada num clima de grande perseguição à Igreja, o povo demonstrava todo o seu desânimo pela República através do uso da greve que o jornal atribuía à má gestão do actual Governo.

Havia um natural desconforto entre a população, que A Folha aproveitava para fazer valer os (já poucos) créditos dos nacionalistas e mostrar-se esperançada pelas manifestações que eclodiam por todo o País (em especial no Norte), manifestando-se contra a aplicação das medidas anti-católicas e «(...) affirmando cunjunctamente a sua dedicação e fidelidade á Igreja».

Fonte :  Jornal do Centro
ed. 342, 03 de Outubro de 2008



domingo, 5 de outubro de 2008

Centenário na imprensa IV



No Jornal de Notícias hoje - Dois artigos de Isabel Teixeira da Mota a ler aqui e aqui.

No Público hoje - Quem era o Almirante Reis? E o Barata Salgueiro? Pelo Paulo Moura aqui na edição impressa.

As mulheres, na I República, foram vaiadas e consideradas más mães quando lutavam pelos seus direitos



Lisboa, 04 Out (Lusa) - As mulheres, na I República, foram vaiadas e consideradas más mães quando lutavam pelos seus direitos e, embora desiludidas por não conseguirem o acesso ao voto, continuaram fiéis ao regime, ao contrário dos homens, que abraçaram a Ditadura.

A tese foi defendida, em entrevista à Agência Lusa, pelo historiador João Gomes Esteves, autor do livro "Mulheres e Republicanismo (1908-1928)", apresentado sexta-feira, na Biblioteca-Museu República e Resistência, em Lisboa.

A obra, editada pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, retrata, nas palavras do historiador, "vinte anos da luta política" de duas mil mulheres "em torno do ideal que é a República", apesar das "suas limitações feministas".

"São vinte anos de uma luta esquecida no tempo", que envolveu professoras, médicas, enfermeiras e jornalistas.

Entre 1908, ano do regicídio de D. Carlos, e 1911, um ano depois da Implantação da República, as mulheres "intervinham constantemente" em debates, reuniões e sessões e eram ouvidas pelos deputados.

Pediam a revisão do Código Civil, que as consagrasse como pessoas e não "como loucas" ou gente "menor", o direito ao voto, à instrução e educação, e o fim da mendicidade infantil.

"Centenas e centenas de artigos polémicos foram produzidos, assim como editoriais e primeiras páginas de jornais", adiantou João Gomes Esteves, reforçando que as mulheres "foram extremamente combativas, não abdicaram de emitir a sua opinião", ao ponto de serem "insultadas, vaiadas, apontadas na rua" e de serem "consideradas mais homens do que mulheres e más mães de família".

Contudo, já com a República em curso, o activismo político feminino, caracterizado por "intervenções polémicas e fracturantes", esmoreceu.

Aumentaram as cisões entre mulheres, com o aparecimento de diferentes organizações, e um direito ficou pelo caminho: o do voto.

"As mulheres depositam muita confiança no regime que as vinha beneficiar, melhorar a sua condição social, económica e política", sustentou o historiador.

"Mas, com a não concessão do direito de voto, a desilusão vai-se instalando", acrescentou.

Só que, ao contrário dos homens, as mulheres, embora desiludidas perante as "falsas promessas" do regime, continuam "coerentes com os princípios, acreditam mesmo nos valores republicanos e laicos da educação, liberdade, igualdade, fraternidade e de um mundo melhor".

"Muitos homens vão-se acomodando e passam para o outro lado, para a Ditadura", por quererem chegar ao poder, defendeu João Gomes Esteves.

Apresentando-se em formato de livro de bolso com 111 páginas, "Mulheres e Republicanismo" reproduz o discurso de Ana Castro Osório na sessão fundadora da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 1908, a mensagem da Liga no Congresso Republicano de Setúbal, em 1909, e o pedido de concessão de direito de voto às mulheres ao Presidente da República Sidónio Pais, em 1918.

João Gomes Esteves integra o projecto Faces de Eva - Centro de Estudos sobre a Mulher, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sendo um dos responsáveis pelo Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX).

É autor de livros, artigos, biografias e comunicações sobre o movimento feminista nas primeiras décadas do século XX.

ER.

Lusa/Fim

sábado, 4 de outubro de 2008

A falta de honestidade intelectual da república sem republicanos

Acabo de ouvir no telejornal da SIC uma artista plástica convidada para algo a respeito das comemorações do 5 de Outubro no Palácio de Belém, de nome Joana Vasconcelos, afirmar que "a 1.ª República trouxe o direito de voto às mulheres". Para além de ser falso, creio que só ficava bem à SIC rectificar tal errónea afirmação. E se necessitarem de justificação factual é só consultar este artigo de João Távora e Carlos Bobone na Plataforma do Centenário da República.

Os ataques dos republicanos e os boatos da Lei de Separação



Texto dePaulo Bruno Alves



Numa altura em que a República se instalava por todo o País os ataques perpetrados contra a Igreja Católica eram cada vez mais frequentes. O primeiro jornal diocesano de Viseu, A Folha (1901-1911), apresentou um caso em que um grupo de republicanos de Coimbra entrou nas instalações do Centro Monárquico (que mandara rezar uma missa pelo aniversário da morte de D. Carlos e do príncipe Luís Filipe) e do Centro de Democracia Cristã (onde iria ser inaugurado o retrato do Papa Pio X), destruindo todo o seu interior, «(...) furtando objectos, e lançando fogo aos destroços». Perante este cenário de destruição «a autoridade manteve-se impassivel, e a policia viu com indifferença os assaltantes, que nem sequer foram presos...». Por diversas vezes, questionou o Governo Provisório se essa era a tal liberdade que proclamavam. A Folha considerava que não.

Nesta fase tão conturbada, a situação do Clero foi sempre analisada tendo, como pano de fundo, a tão afamada ‘Lei da Separação do Estado da Igreja’. Circulavam muitos boatos e alguns receios, especialmente entre os nacionalistas mais pessimistas, que essa lei iria constituir uma verdadeira ‘Lei de Apropriação’ por parte do Estado face à Igreja. Já o tinha sido no passado, porque não se repetir o mesmo?

Quem questionava essa lei era, naturalmente, quem mais com ela sofria. A Folha não acreditava que a referida lei fosse benéfica para a Igreja, muito pelo contrário: acusava o Governo Provisório de sectarismo e favorecimento nesta matéria. Desejava uma real ‘Lei da Separação’ que permitisse à Igreja gozar de todos os privilégios que reclamava como pertença do seu domínio, como por exemplo, o direito de propriedade

12 de Setembro de 2008
Fonte : Jornal do Centro

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A Folha e Afonso Costa, o ‘anti-Cristo’

Imprensa em Vizeu

A Folha e Afonso Costa, o ‘anti-Cristo’

Texto dePaulo Bruno Alves

A poucos meses da revolução republicana de 5 de Outubro de 1910, o primeiro jornal diocesano de Viseu, A Folha (1901-1911) afirmou que o avanço dos republicanos era cada vez mais real. Nesse sentido, atestou que não terá sido surpresa, para os próprios membros do jornal, os editoriais escritos no fim de Maio de 1909 que descreviam a corrida ao armamento por parte dos republicanos, perante, mais uma vez, a inércia do Governo, uma dupla situação que preocupava, de sobremaneira, os nacionalistas.
Era cada vez mais uma relação de ódio aquela que os católicos mantinham com os republicanos e os sucessivos acontecimentos apenas ajudavam a deteriorar-se cada vez mais.
De certa forma, para o jornal, Afonso Costa representava o ‘anti-Cristo’. As críticas que eram feitas aos republicanos também lhe eram dirigidas, porque ele era visto como o seu chefe máximo. Em Junho de 1909, A Folha apresentou um editorial em que era analisada a conduta «(…) dessa multidão de malfeitores» que, dizia, representava o inimigo da Monarquia e que o jornal comparava com Afonso Costa. Este, sim, era o principal visado nas críticas que o jornal escrevia, dizendo: «(…) [A multidão] estava no Rocio em 4 de maio e em 18 de junho. Não compareceu inteiramente no Terreiro do Paço, em 1 de fevereiro, para não despertar desconfianças e para não fazer gorar a infame emboscada. Mas quinze dias depois comparecia no cemiterio, em apotheose á memoria de dois covardes assassinos [Manuel Buíça e Alfredo Costa]; (…) Nas ruas são constantes os conflitos com os polícias, que, alvejados por pedras, (…) teem de disparar os revolveres para conter os agressores a distancia. Eis o indice da situação actual de Lisboa».

ed. 341, 26 de Setembro de 2008
Jornal do Centro

Os republicanos e o descanso semanal

A instituição do descanso semanal obrigatório dos trabalhadores em discussão na Europa no final do Séc. XIX entrou na agenda política portuguesa em 1904. Então, os republicanos, com Teófilo Braga como protagonista, opuseram-se veementemente a tal prerrogativa, com o argumento de que: o descanço dominical, isto é, a morte de toda a actividade intellectual e fabril de um paiz, é o tédio ou a ruína. É o suicídio social para a gente fina que se diverte. Um domingo de Londres é, para os habitantes de Londres, o peor e o mais negro e húmido dos seus nevoeiros. Saiba mais aqui

Imagem: Calceteiros em obras municipais de Joshua Benoliel 1907 daqui.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Alguns apontamentos sobre eleições "republicanas"

Perante este texto de Artur Mendonça, um dos escribas do Almanaque republicano, o qual critica, no bom sentido do termo diga-se, a iniciativa da nossa comemoração do Centenário da republica

Sobre o texto de Artur Mendonça já respondi genericamente na sua caixa de comentários. No entanto, e para mais alicerçar a nossa posição resolvi abrir as “hostilidades” com algum material que me encontro a preparar para a Plataforma.

Diz Artur Mendonça que […] Na Monarquia já existiam eleições, mas também se sabe que elas de livres tinham só o nome. Mais, os monarcas tiveram o cuidado de votar leis que podiam impedir o progresso eleitoral dos republicanos criando círculos eleitorais mais amplos nas regiões urbanas de Lisboa e do Porto, onde tradicionalmente havia maior votação no Partido Republicano, para conseguirem realizar mais facilmente as famosas chapeladas (colocação de votos nas urnas)[…].
Nenhum de nós contesta esta afirmação, o que nós contestamos é que a partir de 1910, a situação alterou-se para … pior. 
A legitimidade das eleições republicanas foi durante todo o período da 1ª republica ainda menor que na Monarquia Constitucional. 
Este facto, vai fazer com que mais de 90% da população portuguesa esteja de facto fora do sistema de decisão, fazendo com que o regime ficasse completamente à mercê de golpes de Estado. Para a grande maioria da população portuguesa antes de 1926, ter um governo eleito ou ter um governo de ditadura era exactamente a mesma coisa, nenhum dos dois lhes pedia a opinião. Assim que uma ditadura esfriou os ânimos e sossegou o país, ficou calmamente no poder, durante 48 anos até cair, quase por acidente, de pura velhice.
O gráfico seguinte (ainda incompleto) representa o número de eleitores e votantes em todas as eleições desde 1834 até 1925. Os dados foram retirados da página da Biblioteca Nacional "Materiais para a história eleitoral e parlamentar 1820-1926"
Neste sítio não se apresentam explicações para a ausência do número de votantes em várias eleições.

A risca preta representa o início do período republicano. Se descontarmos o ano de 1918, eleição directa de Sidónio Pais, que a historiografia republicana oficial não considera como eleição mas plebiscito, vemos que durante o período republicano, com excepção de 1911, o número de Portugueses com direito a voto esteve ao nível dos últimos anos da monarquia e similar aos anos 1870 quando a população era 50 % inferior. 
Longe ficaram os tempos de 1891-1895 quando 90% da população Portuguesa masculina maior de 21 anos (Então o universo legal de votantes) tinha direito a voto.
Mas se verificarmos o número de votantes, as diferenças ainda são mais gritantes. Nunca em 16 anos de república o número de votantes foi superior ao número de votantes do tempo da Monarquia Constitucional.
Quanto às chapeladas republicanas, que a história oficial afirma nunca terem existido aqui deixo dois exemplos:

Carta de Afonso Costa (então primeiro-ministro) a aconselhar um presidente de câmara, a dois dias de ser nomeado governador-civil que "não se perdesse por causas meramente formais um só dos nossos votos".

A segunda missiva vem de Luís Filipe Rodrigues, notário de Monção, aconselhando o meu bisavô, Raimundo Meira, então candidato a Senador, a enviar 800 listas (boletins de votos) para entrarem nas urnas de modo a garantir a sua eleição.

Que coisas destas aconteceram na Monarquia, sim, ninguém duvida disso. Mas o que a história oficial afirma é que entre 1910 e 1926 as eleições foram livres, justas, o que está tão longe da realidade quanto a história da Carochinha.

Nota: Este apontamento faz parte de um trabalho mais alargado sobre eleições no regime republicano a publicar na Plataforma