No domingo passado, realizou-se uma vez mais, a já tradicional parada militar em Madrid, comemorando o dia nacional do reino vizinho. Os espanhóis gostam destas coisas e sabem organizá-las milimetricamente, nada falhando. A sequência das unidades no desfile é perfeita, a tropa sabe marchar e os passos não claudicam, nem se verifica qualquer tipo de descoordenação. O equipamento exibido impressiona pela modernidade e aspecto impecável e as forças armadas não deixam de orgulhosamente apresentar os nomes das unidades que fazem parte da história e nos remetem para épocas passadas de heroísmo e grandeza. Presidindo à revista, estava o rei Juan Carlos I, a rainha Sofia e o resto da família real, o cimento unificador do Estado. País com sérias dificuldades em lidar com um passado onde o pronunciamiento sempre foi uma constante e o motivo para graves dissensões que desembocaram em fratricidas guerras civis, a Espanha não hesita em demonstrar o seu poder e o prestígio de que desfrutam umas forças armadas que transversalmente sintetizam a sociedade plurinacional que nelas se fundem, tendo como base primeira o interesse comum. E tão importante como isto, têm aquilo que o povo nelas quer ver, o chamado panacheque vai do soldado raso à figura que recolhe a unanimidade: o rei de uma democracia.
Em Portugal, existe uma patológica e inexplicável timidez em tudo o que se refere à simples visibilidade das F.A.P. Dir-se-ia até serem inexistentes, pois há muito nos desabituámos da sua presença nas ruas e até nos simples transportes públicos, como se um terrível cataclismo tivesse ocorrido. Quando nas instâncias superiores do regime se fala na aquisição do necessário equipamento, de imediato se levantam vozes escandalizadas e uma atroadora gritaria imbecil enche os noticiários, fazendo correr rios de lava pelas encostas do autêntico vulcão em que se transforma a comunicação social. Assim, tudo é feito de forma envergonhada e subreptícia e não se compreende bem o porquê do dislate.
Paradas enquadrando a comemoração das grandes datas da nossa história,? Não as vemos há décadas! O 10 de Junho foi ridiculamente conotado com o "fascismo". O 1º de Dezembro, inacreditavelmente foi esquecido, quando pelo contrário, propiciou as mais celebradas vitórias - à escala da Europa de então - das nossas armas, representando o triunfo da nossa liberdade como nação independente e secular. Não existe uma simples menção a Aljubarrota ou ao triunfo sobre a chusma bonapartista que aqui viu pela primeira vez, as suas águias morderem o pó do chão dos campos onde foi derrotada. Nada, não existe absolutamente nada! Apenas uma patética celebração do armistício de 1918, faz bruxulear a luz da memória, talvez piedosamente recordando a mais desastrosa campanha da história do nosso exército. Uma banda desengonçada, uns pelotões que se arrastam sem marchar - ironia das ironias! -ao som do Alte Kamerade do Kaiser Guilherme II e uma cerimónia curta, sem brilho ou a presença de gente cimeira do frágil edifício do sistema vigente. Que tristeza, o que de nós pensarão aqueles adidos militares estrangeiros que cumprem naquela data a sua obrigação de homenagem a este esquecido, fraco e timorato aliado?
E o problema reside no simples e corriqueiro facto de as coisas nem sempre terem sido assim. Quem folheie a Ilustração Portuguesa de há mais de cem anos, vê fotografias de tropas a descer a Avenida da Liberdade, aprumadas, bem vestidas - um tanto ou quanto à prussiana, á certo -, o passo coordenado e os regimentos a perder de vista. Era a sempre aparente- o 1º de Fevereiro e o 5 de Outubro deixaram ominosa e indelével nota de laxismo - demonstração da vitalidade dos defensores primeiros da nação e do Estado. Tal como há dias em Madrid, lá estava o Comandante-em-Chefe, totalmente independente das questiúnculas partidárias e dos grupos de interesses mais ou menos comprometedores. Cumpria o seu papel, e unanimemente era aceite como o natural condutor de quem estava incumbido de zelar pela segurança de milhões.
Hoje, o nosso exército serve apenas para preencher o apertado e oportunista calendário intervencionista além-fronteiras, sem que por isso a sociedade - habituada a uma violenta barragem de artilharia anti-castrense - saiba reconhecer quão penhorado deve estar o regime a umas forças armadas a quem tudo deve. Uniformes velhos e pouco marciais, sem brilho e tristes. Veículos ultrapassados e em escassíssimo número e diversidade. Uma marcha pouco cadenciada que mais parece o desfile de uma agremiação de bombeiros de província. No entanto, um fugaz lampejo de energia ocorre quando surgem as tropas especiais, herdeiras de um passado de sacrifício e abnegada devoção a uma glória de antanho e claro está, o povo delira, quando vê desfilar em tropel os corcéis da Guarda, com a tropa uniformizada à grande, o derradeiro resquício daquela monarquia azul e branca que ofereceu a Portugal a última vitória em longínquos campos de batalha.
O actual exército português, é o exército de uma democracia, tal como os seus congéneres de Espanha, do Reino Unido, Tailândia, França ou Bélgica. As forças armadas não intervêm na política doméstica, nem apontam o alçamento deste ou daquele caudilho. O serviço militar voluntário, deverá ter em princípio, a vantagem de fazer ingressar nas fileiras, aqueles que gostam e se orgulham do ofício da defesa e que decerto querem apresentar-se de forma visível e desomplexada. São afinal, o elo mais forte de uma soberania de quase um milénio e que todos querem ver eternizar-se no porvir. Como nota anedótica (?), não será possível recorrer-se aos benefícios de uma certa globalização e encomendarem-se novos uniformes à China, assim como instrutores que ensinem a mancebagem a apresentar-se condignamente? Não será desejável fazer algo para que os nossos oficiais superiores deixem de se parecer com porteiros de casino, passando a ostentar outras vestimentas mais consentâneas com a tradição que hoje encarnam? O país não detesta as forças armadas, mas apenas deixou de respeitá-las, de tão invisíveis se tornaram.
Sigam o exemplo espanhol e imponham uma rotina de liquidação dos complexos que não têm razão de ser. No entanto, há que reconhecer que o pódio cimeiro, o do Comandante-em Chefe, continua vazio, porque ao contrário de Espanha, Portugal ainda não é uma monarquia. E isso faz toda a diferença.
7 comentários:
Parabéns Nuno Castelo Branco!
Mas, quqndo, neste País desgraçado o próprio Presidente da República - Comandante Supemo das Forças Armadas Portuguesas - omite deliberadamente do seu "curriculum" que prestou serviço no Norte de Moçambique como Alferes Miliciano na Guerra do Ultramar - ESTÁ TUDO DITO!
É preciso mais?
Cumprimentos.
Pedro Santos da Cunha
belíssima análise!
Obrigado, caro anónimo. Quanto ao que o PSC diz, não estou nada admirado, pois o "fazer de conta" sempre foi apanágio dele e do seu partido que sempre "fez de conta" que é social-democrata, quando sempre foi direita. Tudo normal. Lembra-se do Carneiro dizer ao gen. Kaúlza que ..."o senhor é o comandante de um exército de ocupação em território estrangeiro"... ? Pois é e o que andaram eles a fazer em 74 e 75, senão a colaborar na famosa "descolonização exemplar"?
Concordo em absoluto com que se diz neste artigo.Portugal perdeu o brio em tudo o que diga respeito á celebração da sua existençia.Os feriados que em outros paises são celebrados com pompa e orgulho no nosso pais não passam de cerimonias semi escondidas do publico,em que estão presentes alguns "passarões"da nossa lamacenta classe política,que vociferam discursos enfadonhos .Quanto á presença das F A P essa reflecte a vontade desses mesmos politiqueiros,que temem que se dê um sinal de patriotismo,alias eles odeiam tudo o que tenha que ver com Portugal.Mas na minha opinião a comunicação social também não ajuda,enquanto que nos outros paises fazem das paradas militares e dos desfiles dos respectivos dias nacionais emissões especiais,transmitindo em directo,por cá não aconteçe isso.Por exemplo no 10 de junho nos telejornais so se veêm algumas imagens e isto se o discurso do PR tiver "picado"alguma politica do governo.
Portugal investe mais em termos de eprcentagem do PIB ancional no exercito do que Espanha, Alemanha, Itália, Irlanda, e boa parte do leste europeu.
Só para falar na Europa.
Mas os monarquicos, como entusiastes defensores de regimes como o da Arabia Saudita, que investe 10% do PIB no exercito, acham que ainda é pouco.
Não quero com isto dizer que as forças armadas não andem mal geridas, e não se façam maus negócios na compra de equipamento.
Mas essa pressa em modernizar as forças armadas, algo que enste momeento não é prioritário, é que é responsável pelos maus negócios.
Lá está o made in USA space_aye a colocar na nossa boca, coisa que não dissemos. Desde quando é que nos ouviu defender o regime da Arábia Saudita? Defendemos tanto a coisa, como o da Coreia do Norte, um dos seus preferidos, até aposto...
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