segunda-feira, 31 de maio de 2010

De um combatente monárquico minhoto

Com 24 anos integrou o batalhão civil dos Cadetes d'El-Rei, sendo dos últimos a render-se no Porto. Penou dolorosa reclusão no Aljube e, uma vez liberto, encontramo-lo em Lisboa, onde se solidariza com os monárquicos que participaram na tentativa de Monsanto, muitos dos quais estão ainda sendo julgados. Como se conclui da carta, escrita ao seu Pai (que permanecia no Minho) de onde retiro os seguintes extractos:
«... era julgado e foi condenado à pena máxima um outro rapaz meu condiscípulo do Colégio Militar, outro amigo meu, também oficial de Cavalaria, e tão bom que apesar de ser ainda apenas alferes, era ele o comandante do célebre esquadrão de Cavalaria 7, ao princípio comandado por Teófilo Duarte [tenente, delfim de Sidónio Pais que ao seu comando ficou a dever o triunfo militar] e que era a guarda pretoriana de Sidónio, o seu esquadrão de elite. Este rapaz foi de uma dignidade e altivez rara e assombrosa. Perguntando-lhe o general presidente do Tribunal se tinha alguma coisa a alegar em sua defesa, respondeu que de nada tinha que se defender, que confirmava a veracidade das acusações, tomando a responsabilidade de tudo (..). Levou o seu desprezo por toda esta tropa reles, ao ponto de nem advogado escolher (...). Faz-me o maior nojo e repugnância o vêr esse tribunal de pseudo-oficiais, alguns tendo o descaro de ostentar ainda no peito condecorações que receberam das instituições que miserávelmente trairam. Fez-me nojo a pretensão desses pulhas e toda a hipocrisia de aquilo tudo, a que dão um aparato que se vê ser falso (...). A fingida seriedade desses cabides que apesar de toda a sua pretensão e importância com que se atrevem a ditar sentenças, não conseguem desfazer no nosso espírito a infâmia daquilo tudo e o conhecimento de que esses tipos, a começar pelo general vistosamente aparelhado, se sujam de medo perante qualquer cabo ou corneteiro que democraticamente se lhes dirige, causa arrepios de asco...».
Fonte: Arquivo particular no Minho.

Cronologia da república - 31 de Maio

  • 1911


É fechado o jornal “O Tempo” de Lisboa

  • 1914

Confrontos com a polícia em Coimbra

  • 1917

Revoltas em Lisboa

  • 1918

A associação comercial de Lisboa, pede policiamento eficaz, para evitar os furtos que prejudicam o volume de negócios a efectuar.

  • 1919

É fechado o jornal madeirense “O Germinal”






Fontes: aqui

domingo, 30 de maio de 2010

Cronologia da república - 30 de Maio

  • 1911


Sampaio Bruno. Basílio Teles e Machado Santos não querem os monárquicos numa aliança, que termine com a ditadura do governo provisório

É fechado o jornal “O Povo de Aveiro”

Homem Cristo é preso e conduzido a Lisboa

É fechado o jornal “Diário da Tarde” do Porto

Sampaio Bruno é ameaçado

Basílio Teles, por ter criticado a ditadura do governo provisório, é espancado e apedrejado no Porto

Torna-se adepto da ditadura revolucionária com a restauração da pena de morte, suspensão das “garantias” e fecho das escolas até o país ser estruturado à maneira republicana.

  • 1913

Prisões de vários militares e civis

Prevenção na marinha

  • 1916

Greve dos ferroviários

  • 1921

Dissolução da assembleia da república

  • 1922

No Porto descobre-se uma conspiração revolucionária

  • 1924

Revolta de oficiais em Lisboa

  • 1925

Continuação da censura à imprensa

 
 
 
 
Fontes: aqui

sábado, 29 de maio de 2010

Debate República vs Monarquia em Barroselas (Viana do Castelo)

A Escola E. B. 2, 3/S de Barroselas, no concelho de Viana do Castelo, decidiu promover um debate sobre a questão de regime República/Monarquia, no âmbito das Comemorações do Centenário da República Portuguesa.
Cuidou, por isso mesmo que de um debate se tratasse. E daí o amável convite endereçado ao nosso «Centenário da República» para que um defensor da Instituição Real estivesse presente, com as suas razões históricas e os seus argumentos políticos.
Do lado republicano compareceu o Senhor Dr. Abel Baptista, Dignº. Deputado pelo CDS e Membro da Mesa da Assembleia da República.
Foi com o maior prazer que verificámos não haver práticamente divergências do ponto de vista da factualidade histórica. O regime republicano perfaz, efectivamente, 100 anos e divide-se em 1ª, 2ª e 3ª República.
Centrou-se, por isso, o debate numa interessante e cordial troca de argumentos políticos em que cada interveniente, e a assistência, participando, procuraram fundamentar as respectivas (e diferentes) opções de regime.
De pleno acordo com a Senhora Dra. Rosa Maria Ribeiro Cruz, a Directora do Agrupamento Vertical de Escolas de Barroselas, quando, em jeito de conclusão, afirmou neste debate não ganhou a Monarquia, nem a República, mas antes a Democracia.
Ao fim de alguns anos, o gosto de revisitar Barroselas e a boa hospitalidade minhota.

Cronologia da república - 29 de Maio

  • 1911


Combate no Porto entre as forças republicanas de Luz de Almeida e as forças monárquicas de Paiva Couceiro

  • 1912

Greve dos funcionários da carris de Lisboa

  • 1917

Acerca das revoltas do Porto, Jaime Cortesão diz que o desespero das pessoas por alimentos têm uma organização oculta.

  • 1919

É fechado o jornal açoriano “A Pátria”

A GNR mata 2 tanoeiros no Porto

  • 1920

Greve dos médicos

  • 1922

32 mortos em Macau

Decretado o estado de sítio em Macau

O partido democrático opõe-se à nomeação de Gomes da Costa como governador de Timor-Leste

  • 1925

Deportação de vários presos, sem julgamento, para a Guiné

 
 
 
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sexta-feira, 28 de maio de 2010

XVI Congresso da Causa Real em Viseu


No XVI Congresso da Causa Real que decorre a 19 e 20 de Junho em Viseu a Plataforma do Centenário apresentará uma exposição sobre a perseguição à Imprensa na I República. Conheça aqui o programa oficial.

Eleições - a menina dos olhos da República...


Em Novembro de 1925 realizara-me eleições para o Parlamento. Eis como elas decorreram, de acordo com notícias dos jornais Correio da Manhã, Diário de Notícias e A Época:
Em Lisboa: «Os revolucuonários tinham-se colocado à porta da assembleia, impedindo a entrada dos eleitores que lhes não agradavam. A certa altura, quando alguns deles iam a aentrar, o chefe do grupo, um tal Carvalho, disparou contra eles, sendo imitado por alguns facínoras que o acompanhavam».
«Além do escandaloso corte dos eleitores monárquicos, nos cadernos de recenceamento, que só numa das freguesias da capital inutilizou cerca de 700 votos e além da recusa do voto a numerosos eleitores, sob pretexto de não serem conhecidos, cometeram-se em Lisboa as tropelias do costume, que a República reputa indispensável para sua defesa e manutenção»
«Mal deram em ser conhecidos os resultados das eleições, um grupo de indivíduos armados de mocas e bengalões começou a visitar, em atitude de desordem, as várias secções de voto da cidade (...) da freguesia de Santa Isabel e aos "vivas" à república, invadiram a sala, distribuindo pancadaria a torto e a direito. Estabeleceu-se pânico; ouviu-se o disparo de cinco tiros (...). Urnas, mobiliário, cadernos, listas, impressos, tudo se espalhou, feito em pedaços, pelo chão».
Em Matosinhos: «Em Infesta do Balio e Perafita, as assembleias foram invadidas por grupos estranhos que viajaram em camionetas e que, armados de pistolas, cavalos-marinhos e bombas, expulsaram os elitores da lista concelhia»
Em Alcochete: «Houve comício feito da janela do Centro Democrático, sendo maior o número dos oradores que o dos ouvintes, pois a população desta terra é retintamente conservadora (...) Vendo-se perdidos, apenas começou o escrutínio, lidas apenas sete listas, todas dos conservadores, e tendo eles duas, desataram a dar vivas à república, chefiados pelo delegado do Governo, de Aldeia Galega e pelos polícias da S. do Estado, e a expulsarem da assembleia os conservadores. Houve grossa pancadaria, uns saltaram pelas janelas, outros brigavam na rua. Só se ouvia gritos de - MATA! MATA!»
Em Cabeceiras de Basto: «Entre baionetas caladas, procedeu ao simulacro das eleições administrativas, neste concelho, a antiga vereação democrática, que violou o recenceamento eleitoral, passado o prazo legal das reclamações, riscando os votatntes desafectos, com o fim de ser agora reeleita sem oposição alguma, como está sucedendo para "prestígio" da República e do Partido Republicano Português».
Na Golegã: «A eleição correu ilegalmente, negando a mesa o direito de voto a muitos eleitores que se apresentavam com a certidão, e aos quais em caso nenhum podia ser negado esse direito, como é de lei».
Em Mação: «Os democráticos, vendo perdida a eleição, praticaram as mais revoltantes imoralidades, fazendo votar os mesmos indivíduos 3 e 4 vezes e expulsando violentamente os contrários».
Na Figueira da Foz: Nas assembleias de Lavos e Maiorca, onde os monárquicos tinham uma grande maioria, os democráticos roubaram os cadernos eleitorais, não deixando votar os adversários».
Em Alenquer: «A mesa (...) comandada pelo célebre Ramos Rosa, recusou-se terminantemente a abrir a urna e mostrou que nela já havia listas. Em vista de todas essas irregularidades (...) os conservadores resolveram abandonar a eleição (...). Na assembleia de Meca, também os eleitores foram impedidos de votar pela Guarda Republicana que se encontrava a dez metros de distância e protegia os arruaceiros encarregados de impedir a votação. Os eleitores republicanos votaram 5 e 6 vezes cada um».
Em Mafra: «O descaramento e o roubo subiram a ponto de figurarem 710 listas como entradas, quando o número de eleitores inscritos no recenseamento é apenas de 556».
O espectáculo prosseguiria pelas Republicas seguintes. Somente agora sem bengaladas e tiros, com meios mais sofisticados...
Fonte: Costa Brochado, «O Sr. Norton de Matos e a sua candidatura», Portugália editora, 1949, pág. 130.

A república e o sufrágio universal


Antes da tomada do poder o sufrágio universal era um dos pontos essenciais do programa do Partido Republicano Português. A ausência do sufrágio universal na monarquia constitucional foi um dos principais argumentos da falta de legitimidade do regime. Mas poucos meses depois do 5 de Outubro de 1910 essa bandeira perdia vigor, as democráticas intenções eram reavaliadas. Ler mais aqui»»»»

Centenário da República: os amigos e o criado



1 presidente "activo", 3 de reserva, centos de assessores, gabinetes de estudos, fundações privadas com dinheiros públicos, milhares de carros de luxo, viagens em primeira classe e de graça, subsídios, prémios de gestão, gestores e adjuntos, etc, etc. Estamos em ano do Centenário. Aguenta Zé!

Cronologia da república - 28 de Maio

  • 1913


É fechado o jornal “O Dia” de Lisboa

É fechado o jornal “A Nação” de Lisboa

É fechado o jornal “O Intransigente” de Lisboa

É fechado o jornal “O Socialista” de Lisboa

É fechado o jornal “O Sindicalista” de Lisboa

  • 1917

Salazar toma posse como assistente na faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, na secção de jurídico-económicas

  • 1918

O governo regulariza os preços da carne

  • 1920

Greve dos metalúrgicos de Lisboa

Greve dos funcionários da carris de Lisboa

  • 1924

Os ataques bombistas em Lisboa fazem quatro vítimas mortais

 
 
 
 
Fontes: aqui

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A República não está na rua...!


Este Francisco que não é de Assis nem santo, diz que é demagogia numa altura de crise falar na redução do número de deputados! Então quando é que não é demagogia? Ao contrário do verdadeiro santo, este deputado berra a falta que os deputados fazem à democracia e o "oportunismo" da questão! E diz mais: "No dia em que desaparecer a diferença entre o Parlamento e a rua, o Parlamento deixa de ser necessário. E no dia em que o Parlamento deixar de ser necessário a democracia está em perigo”. Pobre República e vesgo deputado. Então ainda não viu que num beco sem saída já estamos há tanto tempo?

Fancarias da república


Ainda a respeito deste texto de ontem sobre a notícia do DN em que a jornalista Patrícia Viegas, em detrimento da substância do discurso da rainha Isabel II, contrapunha ao programa de austeridade anunciado o luxo nos rituais da abertura do novo parlamento inglês, pergunto-me onde pairam estas zelosas consciências republicanas quando confrontadas com os exacerbados gastos com os “eventos”, modernaços rituais fashion de propaganda à nossa pindérica república. É que, sem reciclagem possível, afinal são gastos milhões em cenários feéricos, K-lines, lazers e truques pirotécnicos. E que dizer dos astronómicos despendidos no hemiciclo e da Assembleia com toda a sorte de traquitana tecnológica comprada por grosso cuja utilidade caduca em poucos anos?
Finalmente, nunca será demais relembrar que o site da Comissão do Centenário da República foi adjudicado por ajuste directo por cem mil euros (100.000,00): quem conhece os preços do mercado, entende o escândalo a que me refiro. Todo este despesismo não é mais que uma expressão da nossa mesquinhez, do novo-riquismo desta hipócrita e diletante república. De resto a profunda pobreza do nosso país e ignorância do nosso povo permanece um drama sem resolução à vista.



Na imagem: exemplo de uma tão dispendiosa quanto inútil e redundante operação de marketing a propósito da mais completa vacuidade política: o Tratado de Lisboa.


Descernimento iconográfico

Como comentado em alguns textos anteriores, nalguns jornais portugueses fez furor a imagem da Rainha de Inglaterra na abertura do novo governo parlamentar. Não eram necessárias palavras. Mas alguns "jornalistas" pasmaram-se com o "luxo", a "coroa", a "carruagem", as "jóias", e mais alguma coisa tendo por retranca a crise económica. Os "jornalistas" preferiam, concerteza, que a cerimónia se realizasse de chinelos. Com tais legendas só legendaram a sua própria ignorância. Tenho, todavia, uma segunda teoria. Os "jornalistas" escreveram o que achavam que ficava bem, neste mundo (português!) de modernidades. Fui ver o que os jornais ingleses escreveram: falaram do novo governo – com dúvidas e com esperança. O género de "jornalismo" que se pratica neste país é fruto da orfandade a que estamos votados há cem anos. As nossas jóias da coroa foram roubadas na Holanda e ninguém se escandalizou, os nossos monumentos estão a cair e o povo purga por estádios, o espólio do Museu dos Coches vai ser deslocado para um novo edifício para ser uma referência da "arquitectura".... contemporânea... ....
A rainha de Inglaterra saiu à rua com a coroa e num coche de encantar! Ainda bem. Longa vida e prosperidade a um povo que sabe discernir os seus símbolos e acolhe os seus desígnios, os seus afectos, a sua identidade, sem castrar nem assassinar os que os representam.

Fialho de Almeida - de «Os Gatos» até 1911...


Em vésperas da subida ao trono d'El-Rei D. Carlos, Fialho escreveu um longo texto satírico - pretensamente uma carta dirigida a Sua Magestade - à qual foi dada a devida publicidade, ou não fosse a Monarquia um regime de liberdade de expressão. Nela ironizava Fialho, em certo passo:
«Porque enfim V. M. não tem agora tão grandes coisas no seu reinado que possa prescindir assim de um regicídio. (...) é pois V. M. o único que intenta penetrar os umbrais da História sem bagagem (...) Como há-de o reinado de V. M. fazer fumo, se ninguém contra ele ainda fez fogo?»
Sobreveio a República.
Em 1911, Fialho de Almeida dá ao prelo o seu livro Saibam Quantos... do qual consta o capítulo «A Morte do Rei»:
«Em plena rua, numa chacina que visava exterminar toda a família, D. Carlos pagou com a vida os crimes do seu povo, crimes já seculares de bestificação, de ignorância, de antipatia pelo progresso, de desamor pelo trabalho, de corruptela, de ambição pessoal, de irrespeito às leis e de indiferença ou burla pelas ideias substanciais de pátria e de nação.
A sua morte pela barbárie sanguinária e cafrealmente besta em que se envolve, e pelas apoteoses abjectas que a seguiram, lança um labéu na terra portuguesa, porque nenhuma obra neste século já se cimenta com sangue, e os que assassinam não podem ser beneméritos da história, por mais que a demagogia o escreva em folhas e ouse insinuar em discurseiras.
Foi a tragédia da Sérvia com as orgias populacho de Paris quando o Terror; e sem o advento de uma vida nova, administrativa e social, que ainda lhe atenuaria a virulência... Mas não! O rei assassinado a 1, e ainda não recluído à sepultura, se ressuscitasse, poderia ver a 2, no governo os mesmos homens, a mesma graxa nas almas, mesma passividade nas ruas, mesmo palavreado nos comícios, e nos jornais os mesmos artigos sem fundo e as mesmas relas palavradas.
Pobre, pobre D. Carlos! Quando se pensa que afinal era mais inteligente, e teve talvez virtudes superiores às dos seus adversários - e por não dizer - às dos seus cúmplices...».
Fialho teve de ver, para comparar e crer. Como S. Tomé. E percebeu, finalmente que era o Rei quem melhor faria o contrapeso entre a Nação e a classe política. Essa que ainda hoje nos atazana e da qual o Presidente da República faz parte.

Cronologia da república - 27 de Maio

  • 1911


Dissolução da companhia do capitão Raul Pinheiro Chagas

  • 1912

Incidentes durante o julgamento dos implicados na conspiração de Castelo-Branco

  • 1918

Manifestação de operários em Lisboa

  • 1922

É fechado o jornal “O operário” da Madeira

  • 1924

É fechado o jornal “A Batalha” de Lisboa




Fontes: aqui

quarta-feira, 26 de maio de 2010

São verdes, não prestam


Talvez sob o patrocínio da Comissão Nacional para as Celebrações do Centenário da Republica do Dr. Santos Silva, o Diário de Notícias titula hoje que a “Rainha pede cortes no meio do luxo” a propósito do discurso na sessão inaugural do parlamento inglês. Este aleivoso título é ilustrado com uma imagem de pompa e circunstância de Isabel II à chegada a Westminster. Num pequeno texto a negrito em baixo pergunta-se, numa tentativa de ironia, se a casa real britânica que cujo orçamento de 2009 foi de 48,2 milhões de euros este ano também vai apertar o cinto.
Espantoso é todo este preconceito alimentado neste país sempre “na crista da onda”, esbanjador e à beira da falência, que pretende, quem sabe, direcionar a ancestral mesquinhez e ressabiamento luso, para os imperialistas da Velha Albion, a mais antiga, estável e prospera democracia do mundo. A rainha deslocou-se numa carruagem dourada usando uma tiara com três mil diamantes preciosos, salienta a jornalista Patrícia Viegas, sem explicar que todos estes artefactos pejados de simbolismo, pertencem ao Estado, e que nestes ancestrais rituais se identifica todo aquele povo empreendedor e orgulhoso. De resto não é feito nenhum estudo comparativo entre os 48,2 milhões e os custos de outras chefias de Estado europeias, como por exemplo a portuguesa: a presidência da república custa a cada português nada menos que o dobro do que custa a cada Britânico a sua Monarquia. A diferença é ainda mais gritante se a comparação for feita em percentagem do PIB (valores Wikipedia para 2007): 0.0115% do PIB em Portugal, 0.0023% do PIB no Reino Unido. De resto, não falemos de eficácia, sobre isso estamos conversados.

Fontes: The British Monarchy e Ministério das Finanças, Direcção Geral do Orçamento

Agradecimentos a Luís Bonifácio

Abolição desta república de côdeas!




Na Câmara dos Lordes, a Rainha leu o discurso de abertura do novo Parlamento, onde o 1º ministro anuncia o programa do seu governo. Os cortes na despesa são profundos e denotam a vontade de saneamento das contas públicas. Um sector atingido é o das mordomias dos políticos que vêem cortados inúmeros privilégios e despesas de ostentação até agora pagas pelo Estado. Limusinas (10 milhões de Libras "trabalhistas" por ano!) - que agora apenas poderão ser usadas em actividades oficiais -, chauffeurs, assessores, prendas e viagens, são alguns dos draconianos cortes que impedirão conhecidos e escandalosos abusos.
Em França, Sarkozy impôs novas regras com a perda de benefícios automobilísticos para numerosas entidades governamentais e do sector empresarial do Estado, suprimindo automóveis de luxo e motoristas, despesas de "representação" e obrigatoriedade do imediato corte de 10% na despesa corrente dos departamentos do Estado. Como nota curiosa, foi publicada uma lista de restaurantes baratos que poderão ser frequentados por ministros e outros titulares de órgãos de soberania. Prevê-se uma abrupta descida no despesismo ostentatório.
Em Espanha, além do corte de 15% dos salários-políticos, desaparecem organismos parasitários, como Fundações fantasma, gabinetes de estudo contratados a apêndices da partidocracia, etc. Enquanto isso, os políticos e autarcas apertam o cinto.

Em Portugal, novas medidas foram tomadas. O 1º ministro vê aumentados para mais treze o número de motoristas disponíveis, não houve o menor anúncio de corte das frotas automóveis à disposição de presidentes, ministros, secretários de Estado, subsecretários de Estado, assessores presidenciais, directores do sector empresarial do Estado, dos juízes de Supremos, PGR, ministérios, etc, etc. Enquanto isso, os jobs for the boys continuam em força, como se nada de extraordinário se passasse em Portugal. A Assembleia da República viu aumentada a sua dotação e comprou novas viaturas de luxo para a sua presidencial Mesa, enquanto o Palácio de Belém bate aos pontos e para mais do dobro, a dotação do seu congénere espanhol. De facto, enquanto aumenta a despesa com subvenções, a despesa de Belém passa para 21.000.000 de Euros por ano, vendo acrescida em quatro milhões, a soma até agora recebida. Além da côdea no activo, contabilizemos as três outras côdeas na "retraite". Note-se que nos finais de 2009, a Casa Real espanhola - 8.000.000 Euros/ano - enviou uma nota ao sr. Zapatero, indicando não querer receber qualquer aumento de verbas para a despesa da representação oficial do Estado. Alegremente, o presidente Cavaco, o 1º ministro, ministros e outras "altas individualidades", vão viajando nos Falcon e sempre que podem, organizam cortejos de limusinas em constante renovação. O OGE prevê 160.000 Euros de despesa de comunicações móveis do gabinete do 1º ministro. Não se vislumbra qualquer corte no subsidismo a Fundações privadas que se erguem com o dinheiro público, enquanto aumenta o clientelismo caciquista. Não se anunciaram medidas de corte na contratação de gabinetes de estudos paralelos a entidades oficiais, nem uma política mais rígida na contratação de assessores e outros quadros técnicos. A república auto-comemora-se este ano, sorvendo cabedais em jantares, conferências, publicações onanistas, visitas de estudo, selectas festas e obras de fachada em Praças e Museus que foram da Monarquia. O monstro está aí, mais gordo que nunca.

Entretanto, procederam a alguns cortes na despesa. Atacam quem menos possui e tem de recorrer ao Serviço Nacional de Saúde. Enquanto os sponsors da banca continuam com impostos abusivamente baixos, a imensa maioria canibalizada por políticas absurdas, paga o que já não pode.

Tudo na mesma. Não aprendem.

Portugal é um país pobre e em dificuldades. Não pode manter a república. Que seja abolida!

Cronologia da república - 26 de Maio

  • 1912


Tumultos em Lisboa

  • 1913

Protestos dos fabricantes de farinha, pela falta de trigo

  • 1915

Manuel de Arriaga demite-se da presidência da república

  • 1920

É fechado o jornal “O Combate” de Lisboa

  • 1926

É fechado o jornal “O Sado” de Setúbal






Fontes: aqui

terça-feira, 25 de maio de 2010

O líder do PS/Porto lamentou que os candidatos a presidentes da República procurem aprisionar os partidos

Tão bem que eles sabem como funciona este regime. E sempre com a papa na língua do "serviço ao país". Concluo, do "país" deles. Como já escrevi: proferir que são "o presidente de todos os portugueses" é um arroto de hálito fétido.

«Portugal Trágico - O Regicídio (I)», de José Brandão


José Brandão nasceu em 1948, em Oeiras. Fez a Guerra Colonial em 1969-71 e foi preso pela PIDE em 1973, sob a acusação de pertencer à Acção Revolucionária Armada (ARA), organização ligada ao PCP. A audiência do seu julgamento, no Tribunal Plenário de Lisboa estava marcada para o dia 25 de Abril de 1974...
Posteriormente, envolveu-se no mundo sindical, na área ideológica do Partido Socialista e da UGT. Viria mais tarde a afastar-se da vida partidária. Colaborou com diversos jornais de âmbito nacional e regional e escreveu livros. De momento, vai trabalhando num projecto literário que denominou «PORTUGAL TRÁGICO», a desenvolver em três publicações: «O Regicídio», «A Morte de Sidónio» e «A Noite Sangrenta».
Deu recentemente à estampa o primeiro deles (Âncora Editora). São palavras do Autor, na Introdução:
«Poucos acontecimentos políticos do século XX são tão enigmáticos e horrorosos como os que ocorreram em Portugal entre 1908 e 1921.
Não há memória de em tão curto espaço de tempo ter acontecido tanta tragédia e tanto mistério como se verificou em Portugal no decorrer desses anos. Morreu um Rei que reinava, morreu um Presidente que presidia, morreu um Chfe do Governo que governava, morreram homens de vulto da política portuguesa, morreram milhares de portugueses nas guerras externas, morreram centenas de portugueses nas revoluções internas.
(...)
Recordar o que se passou em Portugal nestes escassos treze anos de uma História de nove séculos serve, entre outras razões, para conhecer melhor o que aconteceu ontem e, inevitávelmente, para compreender ainda melhor o que acontece hoje».
O desenvolvimento deste trabalho incide sobretudo sobre as actividades da Maçonaria e da Carbonária. Luz de Almeida, António Maria da Silva, Aquilino Ribeiro... tudo são nomes nele assaz mencionados.
A isenção e o rigor com que os factos são apresentados é merecedora do maior realce. Independentemente das convicções ou opções políticas de José Brandão, que desconheço, fica uma noção de justiça e um respeito pela realidade histórica que fazem corar de vergonha todos esses ético-republicanos que todos os dias nos tentam impingir a sua banha da cobra.

Cronologia da república - 25 de Maio

  • 1912


Os operários açucareiros declaram-se em greve

  • 1913

Protestos contra o aumento do custo de vida

Greve de soldadores, em Olhão, com assalto a fábricas

Lançamento de bombas em Lisboa

Prisão de vários sindicalistas

  • 1918

Protestos e prisões em Lisboa

Paralisação de todo o movimento dos carros eléctricos pelo aumento do preço dos bilhetes, em Lisboa

  • 1919

É fechado o jornal “A Voz Socialista” de Coimbra

Greve geral da CUF

  • 1920

Lutas entre o exército e os populares em Beja

São efectuadas 21 prisões

  • 1926

Protestos contra a ditadura do partido de Afonso Costa





Fontes: aqui

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um monárquico na Presidência da República


O Almirante João do Canto e Castro. Inquestionávelmente, o Presidente da República mais discreto e menos recordado. Não se percebe porquê: é ponto assente ter feito o impossivel para evitar a guerra civil, conseguiu ser respeitado e admirado por todos, levou tão a sério o juramento prestado, aquando da tomada de posse na Chefia de Estado, que relegou para segundo as suas profundas convicções monárquicas e, servindo a Nação, teve de servir a República.
Pois. Só pode ter sido por esse motivo - o Presidente Canto e Castro era monárquico! E tanto consideração granjeou, no decurso do seu mandato, que falar nele há-de ser complicado para essa tal "Ética republicana".
Fica um pouco da sua história:
Foi um militar brilhante, com uma brilhante folha de serviços, sobretudo em África. Ainda pensou despir a farda, com o advento da República, mas ficou, conquanto sempre muito distante da política. Até 1917, até Sidónio Pais. Empenhado na luta contra a demagogia dos "democráticos", sobraçaria a pasta da Marinha. Depois de muito instado, porque a sua resposta ao convite em causa era sempre: «É-me impossivel aceitar, sr. Presidente. Sou monárquico e, como tal, não posso servir a república em funções de natureza política...».
"Empurrado" para ministro, "empurrado" seria também para a Presidência da República, após o assassinato de Sidónio. Eleito não já por sufrágio directo, mas pelo sistema da Constituição de 1911, com 137 votos (nunca outro Presidente atingiria, antes semelhante score - Arriaga, 121; Teófilo, 98; Bernardino, 134).
O mandato de Canto e Castro durou menos de um ano. Recusou terminantemente continuar na política, endossou o cargo a António José de Almeida e retirou-se para sempre, coberto de prestígio e com a patente honorífica de Almirante.
Mas os meses na chefia do Estado foram para Canto e Castro um verdadeiro tormento: para honrar o juramento de fidelidade à República, como seu Presidente, houve mesmo de combater a Monarquia e os seus amigos monárquicos. Nem em entrevistas admitia depois falar sobre esses tempo.
Quando morreu Canto e Castro, a familia Real portuguesa fez-se representar no seu enterro. A República ainda não a deixava pôr o pé em teritório pátrio.
Leitura que se recomenda - Maurício de Oliveira, «O Drama de Canto e Castro», Editora Marítimo-Comercial, 1944.

Tanto para fazer


É chocante ler na internet os comentários despropositados que entopem e desviam o tema, e paciência, aos que realmente se interceptam na matéria. A internet, através do teclado, fomentou uma nova geração de opinadores. Cada teclado é uma imensa tipografia ao serviço da mente do utilizador. Dirão, alguns, um "direito" adquirido, uma "voz" do povo que – agora – não poderá ser calado e desunido. Bem, só posso dizer que a internet e as novas ferramentas de conversação e exposição veio, sem pragmatismos, expor a mediocridade e a excelência. É sobre a primeira que me sobeja escrever e sobre o novo argumento de arremesso: não há "conversa" que não recaia sobre o monarquismo e as monarquias. É bom sinal. Pena os argumentos mirabolantes, medievalistas, primários, assustadoramente confusos (datas, personagens, ficções), infantilmente misturados, incrivelmente ressabiados. A culpa não será concerteza, só, dos "manuais escolares". Há muito de conflito cultural e social, suavemente inconsciente. Uma reminiscência da decepação umbilical, a que o país se sujeitou há cem anos. Nada como uma crise de identidade (e na barriga) para promover o aparecimento das mentes conturbadas. Das mentes construídas a partir do telhado "e depois que se faça o resto". Esta mediocridade está boa para a República pois, em parte, é coisa parida por ela. Ah! Portugal. Tanto para fazer.

Cronologia da república - 24 de Maio

  • 1911


Greve dos tecelões das fábricas do Porto

  • 1912

Decretando o estado de sítio da Índia

  • 1913

O governo autoriza a importação de trigo para o consumo na madeira

  • 1920

O governo pressiona os grevistas

Encerramento de sindicatos

Despedimento de operários da construção civil estatal

  • 1921

Gomes da Costa demite-se da Federação Nacional Republicana, devido a conflitos com Machado Santos





Fontes: aqui

domingo, 23 de maio de 2010

TERRORISMO!


É verdadeiramente espantosa a capacidade que os próceres do politicamente correcto têm, de contemporizar com aquilo que qualquer sociedade ocidental erradicaria de imediato. Houve uma conspiração subversiva. Thaksin é um multimilionário corrupto, ladrão de bens públicos, destruidor de empresas do Estado, controleiro de caciques. Este video prova que o seu grupo esteve sempre muito distante de qualquer intenção democratizante, antes pelo contrário. Tinham um projecto diatorial, o chamado "Estado Novo Tailandês", onde surgia uma confluência de interesses ligados a gente da Wall Street e aos neófitos chineses de Pequim. O controlo das massas de mão de obra barata, torna-se assim mais fácil de exercer, através da organização política e social de modelo chinês. Nada é por acaso e este video é a esmagadora prova da conspiração e do crime consumado.

Em Nova Iorque, Londres, Paris, Berlim ou mesmo em Lisboa - lembram-se do caso da Ponte em 1995? - este assunto teria recebido um tratamento radical e implacável. Em Moscovo ou Pequim, as soluções seriam tomadas segundo o modelo de Tian Anmen. Sem discussão possível

A nossa liberdade condicional

Opinião: Ler aqui


O triunfo da razão


"Com a falta de géneros nos supermercados da capital, fui comer à cantina de um hospital. Por lá encontrei doentes e seus familiares, alguns vizinhos e também estrangeiros afectados pela vaga de violência vermelha que quase imobilizou a Tailândia. Na parede, em grande evidência, o futuro: o Príncipe Dipangkorn Rasmijoti, que um dia ascenderá ao trono. Aqui está o mistério da perdurabilidade das monarquias, a força da renovação perpétua que cruza a memória do tempo longo com o tempo por fazer; o triunfo da monarquia sobre as ditaduras ou sobre os caprichos passageiros. É por isso que sou monárquico."

Miguel Castelo Branco, in Combustões

Cronologia da república - 23 de Maio

  • 1911


É fechado o jornal “O Combate” de Braga

Afonso Costa suspende as suas funções de 1ºministro, por algum tempo, sendo substituído por Bernardino Machado

A Carbonária vigia as ruas de Lisboa, no dia da suspensão temporária de Afonso Costa

  • 1919

Greve dos professores universitários de Coimbra

É fechado o jornal “O cinco de Outubro” da Guarda

  • 1920

Greve dos eléctricos em Lisboa

  • 1921

É fechado o jornal “O Alarme” de Penafiel

Segundo Barros Queirós, em Portugal discutem-se homens para arruinar qualquer ideia política

  • 1925

É fechado o jornal açoriano “A Pátria”

  • 1926

É fechado o jornal “O Notícias da Beira” de Castelo-Branco






Fontes: aqui

sábado, 22 de maio de 2010

II República - pilares constitucionais; o P. R. «pedra angular do regime»..


Já antes de 1926 o executivo exerceu, repetidamente, o poder de forma autoritária. Daí não espante a "Revolução Nacional" haja sido genéricamente bem acolhida, porquanto de quase todos era desejada a ocorrência dos "governos fortes". Até pelos do "reviralho" Um dos mais próximos colaboradores de Salazar, Quirino de Jesus, vinha da esquerda radical da primeira metade da Décade de 20.
Em 1933 surigiu, entretanto, a nova Constituição da República Portuguesa. «Conservar-se-iam a bandeira, o hino e os feriados escolhidos pelo governo provisório em 1910. Mantinham-se a separação republicana da Igreja e do Estado e a enumeração liberal dos direitos e liberdades, bem como os princípios da igualdade de todos os cidadãos perante a lei, divisão de poderes e indepêndencia dos magistrados. (...)
Os elementos propriamente políticos eram os mesmos de sempre: um chefe de Estado, um Governo e um parlamento. (...) um presidente da República eleito por sufrágio directo e individual para um mandato de sete anos. (...) o presidente dispunha de um Conselho de Estado como orgão consultivo, nomeava e exonerava livremente o chefe do Governo e podia dissolver ou interromper o parlamento (...) o chefe do Governo era o único responsável pela governação, mas só respondia perante o presidente. A Assembleia Nacional, eleita cada qutro anos por sufrágio directo, era apenas um orgão de debate político, que discutia e votava as leis e o orçamento proposto pelo Governo (...). Na prática, tudo isto servia para fazer Salazar depender unicamente de Carmona, como durante a Ditadura Militar. O chefe do Governo era o "verdadeiro e efectivo detentor do poder" - mas do "ponto de vista formal, o presidente da república permanece a pedra angular do regime".
O condicionalismo da vida pública não estava na Constituição, que até reconhecia "o direito de resistência às ordens que violem as garantias individuais", mas na legislação reguladora das liberdades, a qual instituiu a censura prévia à imprensa, fez reuniões e associações dependerem da autorização do Governo, e reservou a actividade política legal a uma associação cívica, chamada União Nacional (UN)».
Fonte: «História de Portugal», Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa, Nuno Gonçalo Monteiro, ed. «A Esfera dos Livros», pág. 632.

A grande obra da República: acabar com Portugal.

São necessárias muitas tropelias para que, ao fim de 100 anos, os portugueses rejeitem a própria nacionalidade:

Quase metade de Portugal quer união com Espanha [IOL]

Cabe recordar, aqui e agora, as palavras de Fernando Pessoa (1912). Segundo este escritor e pensador, a monarquia «era um regime que estava cá há oito séculos, que, pelo menos exteriormente estava identificado se não com a nacionalidade, pelo menos com a existência ostensiva da nacionalidade. Substituí-la por um regime que, além de não ser nacional de modo nenhum, continuava as mesmas tradições (estas sim!) de gatunagem e de incompetência, agravando, se talvez não a gatunagem, por certo que a incompetência - eis uma coisa para que não valia a pena ter derramado sangue, perturbado a vida portuguesa, criado maior soma de desprezos por nós que os que já havia no estrangeiro.» F. Pessoa, Carta a um herói estúpido (o resto, aqui).

Cem anos depois, as palavras continuam actuais. Tristemente actuais.

Cronologia da república - 22 de Maio

  • 1911


Greve dos trabalhadores rurais

Efectuam-se várias prisões políticas no Porto

  • 1915

É fechado o jornal “A revolta” de Coimbra

  • 1916

Fecho de várias indústrias metalúrgicas

  • 1917

O governo decreta o estado de sítio

  • 1918

Descoberta de uma conspiração revolucionária

  • 1921

É fechado o jornal “O Corgo” de Vila Real

  • 1923

Assassino do gerente da CUF: Adolfo Viana em Lisboa

  • 1925

É fechado o jornal “A Notícia” de Coimbra

  • 1926

Greve na universidade do Porto

É fechado o jornal “Gazeta de Braga”



Fontes: aqui

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Cronologia da república - 21 de Maio

  • 1914


Greve dos trabalhadores de Sesimbra

  • 1915

É fechado o jornal “A Pátria Nova” de Castelo-Branco

  • 1917

Assaltos a armazéns, contabilizando-se 22 mortos e 50 feridos graves

Afonso Costa apelida a cidade do Porto como terra de selvagens

  • 1921

A GNR revolta-se contra o governo

  • 1923

Greve dos operários de Setúbal

  • 1925

É fechado o jornal “A Pátria” dos Açores





Fontes: aqui

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Propaganda - a venenosa arma do Partido Repúblicano


Já aqui foi referido no que se resumia a "ditadura franquista": com o Parlamento encerrado por um período indeterminado, a competência legislativa seria, nesse interim, desempenhada pelo Governo. Os partidos do regime não acharam graça, como é obvio - viam-se assim marginalizados. Já para o Partido Republicano tratava-se de uma oportunidade imperdível de propagandear, espalhando o alarme, exagerando e mentindo, acirrando ódios.
Também aqui já foi citado Vasco Pulido Valente, para quem os portugueses eram totalmente estranhos à República, excepção feita à pequena burguesia e ao operariado de Lisboa. Os destinatários desse ódio e de toda a mentira veiculada pela propaganda. Vejamos um exemplo:
Do jornal republicano O País (8-5-1907) - «A monarquia que nos oprime e espezinha, que nos afronta e enlameia perante as nações civilizadas; a monarquia tirana e despótica que nos rouba e manda assassinar - está tremida e fácilmente se derroca! Venha a revolução!»
Um mès volvido, no regresso de João Franco do Porto, espera-o, na estação do Rossio, uma manifestação adversa. Cabeçalho do jornal A Voz Pública do próprio dia: «O DITADOR NO PORTO».
E em Ernesto Rodrigues, 5 de Outubro - Uma Reconstituição:
«Luis Derouet contou n' O Primeiro de Janeiro (29-9-1925) como se organizou na véspera, 17 de Junho, no gabinete da direcção do jornal O Mundo, de França Borges, essa jornada, "que marcou indubitávelmente um avanço na propaganda republicana". O anfitreão recebia Afonso Costa, Alexandre Braga, Bernardino Machado, João Chagas, José Relvas, Alberto Costa (...) e outros. Debateram "sobre a proclamação que devia dirigir-se ao povo de Lisboa para a recepção ao salvador que se anunciava". Às quatro da manhã, ainda se discutia, pelo que o redactor lembrou a necessidade de aprontar o texto, em destaque na primeira página, intitulado "Aclamemos a Liberdade": "Deve, por isso, o povo de Lisboa comparecer hoje na estação do Rossio. E, se houver vivas ao ditador, o povo deve responder com vivas à Liberdade. É absolutamente necessário que isto se faça. O povo de Lisboa não pode aceitar de braços cruzados todas as afrontas arremessadas por uma petulante e atrevida ditadura; nem pode prescindir dos seus direitos (...) Não deixemos que, sem protesto, se aclame em público uma ditadura que é uma vergonha para a Nação e para cada um de nós (...) O ditador chega às 10 e 50 da noite à Estação do Rossio".
(...) Os jornais redobram em interjeições: "ABAIXO OS ASSASSINOS"; e subtítulos "O SANGUE DO POVO", "LISBOA DE LUTO"; "INFAMES! INFAMES!/ A CHACINA DE HOJE" (...) Um exagero, se houve só três mortos, transeuntes inofensivos».
O que se passara de facto: a Polícia foi forçada a intervir para assegurar a integridade fisica de João Franco e a sua comitiva, ao desembarcarem no Rossio, sériamente ameaçada por um bando selvagem de arruaceiros excitados pela propaganda republicana.

Um "feriado" com cem anos


Os deputados socialistas, pela voz de duas senhoras, querem proceder à eliminação de vários feriados – para ficarmos "equiparados" a Espanha – especificamente os feriados "católicos". Ora esses feriados são os Feriados tradicionais e eram tidos para desafogo da participação de fiéis, etc. Os outros foram-se acrescentando para fim de propaganda e festividade pontual, entre outros, refiro-me aos feriados que germinaram no tempo da II República, dos feriados locais das recentes cidades e vilas, do 5 de Outubro, do 25 de Abril. Todavia, não é só cortar, as empossadas senhoras também querem acrescentar/inovar. Numa nota de imprensa fala-se na criação do feriado -"Dia da Família" no dia 26 de Dezembro. Não é mau! Pensei que iam colocá-lo no dia 25 de Dezembro. Temos então 2 dias seguidos de feriado(!). E será que as senhoras deputadas socialistas ainda não enxergaram que de feriado pátrio estamos cheios e vazios!.... de feriado-alheado está o povo face à República há cem anos a esta parte.

Cronologia da república - 20 de Maio

  • 1916


A assembleia revoga o decreto do governo sobre a censura da correspondência postal e concede todos os fundos para a sua execução

  • 1917

O governo suspende a constituição

  • 1923

É fechado o jornal “Semana de Setúbal”




Fontes: aqui

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A nossa homenagem ao Exército Real Tailandês




Não houve qualquer massacre, nem actos de brutalidade sobre os bandoleiros capturados. As perdas foram mínimas e a eficiência, absoluta. Aqueles escudos humanos que temiam pelas suas vidas, foram protegidos, alimentados, tratados e acarinhados pelos soldados de Rama IX. Defendendo o seu Trono, o monarca defendeu as liberdades do Reino e do Povo. Chegou a vez da reconstrução, reforma e imprescindível justiça. Quem é criminoso, não pode ficar impune.

Os boys da República (1911)

«Senhores Deputados. A vossa comissão de petições examinou cuidadosa e escrupulosamente os documentos com que um grupo de indivíduos, alegando os serviços prestados como revolucionários para a implantação da República, instruiu as respectivas petições. São todas elas no sentido de serem colocados em cargos públicos onde possam ganhar a vida de uma forma modesta mas honrada, visto encontrarem-se todos em difíceis circunstâncias, e tão difíceis que chegam para alguns à extrema miséria.

Na selecção feita pela vossa comissão foram em numero de 48 os indivíduos que, não só pelos documentos apresentados como por informes particulares, provaram a sua interferência dedicada e patriótica nos movimentos revolucionários que levaram à implantação da República; e sendo a sim concorda a vossa comissão na justiça do pedido, é ela do parecer que os indivíduos mencionados na lista junta sejam pelos diversos Ministérios colocados em empregos públicos, conforme fossem sendo necessários, e segundo as suas aptidões e habilitações.

Segue a respectiva lista:

José Sales Sousa.
Albino Francisco Fernandes.
Adriano Alberto Pires.
Ernesto Cirilo de Carvalho.
Alfredo Lopes.
Artur Evaristo Ferreira Peixoto.
Armando Assis.
João Jeremias Profeta.
Manuel da Rocha Júnior.
Ezequiel de Morais.
Modesto Duarte Garcez.
José Maurício Guimarães.
José Salvador Correia.
António Joaquim.
José Vitorino.
Adriano Cardoso.
António Gregório de Sousa Mascarenhas.
António Augusto Baptista.
Carlos Henriques Garcia.
Alfredo José da Silva Banha.
António Delgado Louro.
António Faria.
Manuel Lourenoo Godinho.
António Manuel de Vilhena.
Eduardo Gomes da Silva Neves.
António Francisco.
Luís Dias.
António de Almeida.
José Seabra Ramos.
José da Costa.
Manuel Joaquim Paulo Freire.
João Vilhena de Lagos.
António Antunes.
Manuel Ferreira Migueis.
Armando da Silva Almada.
Álvaro Franco Ramos.
José Egídio Marques.
Francisco Cintra.
José Manuel de Deus.
Augusto Fernandes Vaz.
António de Alcobia.
Manuel Joaquim Fontão.
Joaquim Lopes de Abreu Castelo.
Alberto Carlos Cardoso e Sousa.
Davi Fonseca.
Augusto Duarte.
Eugénio Alves.

Lisboa, 17 de novembro de 1911. - José Afonso Pala (Presidente) = António Caetano Celorico Gil = João Luís Ricardo = Vítor Hugo de Azevedo Coutinho = José da Silva Ramos (relator).»

Diário da Câmara dos Deputados, ano de 1911.

José Relvas - algumas proclamações suas sobre os seus.


José Relvas foi um riquissimo proprietário de Alpiarça. O seu "Solar dos Patudos" é hoje um museu dedicado à arte da fotografia, que Relvas praticou e aperfeiçoou com esmero. Aderiu ao Partido Repúblicano em 1907. Talvez pensando num Portugal de Progresso, decerto bem-intencionado. Era um "dandy", foi um lutador por quanto acreditava. Coube-lhe proclamar a República, em Outubro de 1910, da janela da Câmara Municipal.
Ocupou cargos públicos e nunca deixou a fotografia. Dos seus "companheiros de estrada" fez alguns retratos, como os a seguir transcritos. Bem pouco "fotogénicos".
Sobre Teófilo Braga (Presidente do 1º Governo Provisório e Presidente da República em substituição de Manuel de Arriaga): «Nunca houve fama e prestígio menos merecidos (...). Há no seu aspecto externo um desleixo miserável. Sem hábitos sociais, (...) dotado de uma natureza fundamental e incorregivelmente plebeia, avarento, fazendo livros sem probidade, atacando sinuosamente os homens em que receia competidores, descendo até às vis insinuações (...) ambicioso, mas de uma vulgar e baixa ambição, sem a nobreza de quem aspira a um alto destino para a realização dum grande ideal, Teófilo Braga exterioriza o tipo de adelo, coçado ao balcão, em que tem vendido a algumas gerações uma obra feita de retalhos (...) em que as botas cambadas e rotas dos pontapés que deu a Herculano e Castilho emparelham com a casaca de casamento com que teve o impudor de se apresentar na primeira festa diplomática (...)!
Fez do primeiro Governo da Revolução um corpo acéfalo, desprestigiou numa figura sem grandeza a mais alta magistratura da República, atravessando os onze meses de ditadura revolucionária a sofismar (...). É o maior responsável da falta de unidade, que teria desde a primeira hora assegurado a obra de regeneração nacional (...)».
É CASO PARA PERGUNTAR- ENTÃO A REPÚBLICA SALVÍFICA NÃO ARRANJAVA MELHOR PARA COMEÇO DOS SEUS DIAS?
Depois, sobre Bernardino Machado, viciado em Ministérios e por duas vezes Presidente da República: « Nem João Chagas nem Afonso Costa queriam acreditar na duplicidade do homem que fora ministro da Monarwuia com João Franco e que tinha feito em singulares condições o mais entusiástico panegírico da Família Real num banquete dos agricultores de Santarém, do homem que desde os seus primeiros actos de solidariedade como Partido republicano traía, para quem o ouvisse com prevenção, as intenões de supremo domínio, que jamais o abandonaram através de todas as fases da propaganda, da implantação e da evolução das novas Instituições. Foi preciso pôr diante desses dois chefes da democracia as provas evidentes de toda a trama que ele urdia na sombra (...)».
VAMOS TENTAR DESCOBRIR COMO BERNARDINO JULGARIA RELVAS E OS DEMAIS?

Cronologia da república - 19 de Maio

  • 1911

É fechado o jornal “ O Athleta” dos Açores

  • 1915

É fechado a publicação “O Jornal” de Lisboa

  • 1917

Tumultos e assaltos em Lisboa

Tumultos e assaltos no Porto, contabilizando-se 24 mortos

  • 1918

É fechado o jornal “O Independente” de Abrantes

  • 1920

O governo restringe o consumo de luz pública e privada

Encerramento da sede da confederação geral dos trabalhadores

É fechado o jornal “A Batalha” de Lisboa

  • 1924

As câmaras municipais estabelecem a forma de abastecimento de açúcar e os preços de venda em cada concelho

  • 1926

O governo ordena aos seus funcionários que ocupem a companhia dos tabacos





Fontes: aqui

terça-feira, 18 de maio de 2010

Citações (I)

«Para ser franco (e não franquista) direi mesmo que julgo que tudo continuará na mesma miséria; a questão não é de sistema político, de instituições, de dirigentes; é do grau de moralidade de todos, e tal grau já baixou abaixo de zero».

Venceslau de Morais, em 1906.

O exemplo espanhol

Depois de todas as crises e perplexidades por que temos passado, não sei que exemplo mais claro poderia ilustrar a tese monárquica, do que o caso de Espanha. Não bastava já a lição de 1976, quando a presença do Rei à frente do Estado — por ser uma presença nacional, vinda do fundo da História para salvar a História — salvou a Espanha de uma nova guerra civil. Não bastava a continuada lição destes cinco anos de metapolítica em que a Realeza tem sido o grande factor de equilíbrio, de unidade e de justiça, no convulso panorama dos interesses, dos direitos e das próprias culturas em conflito. Veio agora a força da Monarquia revelar-se no seu mais claro rosto: apenas uma palavra, como imagem racional da Pátria comum; apenas uma vontade, definida na hora própria como expressão de um querer colectivo paralisado pela surpresa e pelos fantasmas.
Forma política, exactamente por se situar no plano transpolítico em que o Povo é cultura e espírito, a Monarquia pode acompanhar todas as experiências históricas e encaminhar para a liberdade as pessoas e as comunidades.
Quando se diz que D. Juan Carlos salvou a Democracia espanhola (e provavelmente o destino da Espanha) por ser o chefe supremo das forças armadas, é preciso acrescentar e esclarecer que de nada lhe valeria ser, na letra da Constituição, comandante supremo, se essa qualidade lhe não viesse do «ofício» de reinar. Nas horas em que o curso da História está suspenso e tudo é possível, não é bastante nenhuma formalidade — e o supremo comando, em República, não passa de formalidade. Em vão esbracejaria, numa Espanha republicana, o pobre detentor a prazo de uma ficção jurídica. Não é a fórmula que cria a realidade. No plano meramente legal, é a Constituição que faz do Rei comandante supremo das forças armanadas. Mas o que dá profundidade e dimensão histórica à Constituição é, neste ponto, a legitimidade institucional.
Saibamos nós recolher a lição deste exemplo.

Henrique Barrilaro Ruas in Amanhã!, órgão oficial do Partido Popular Monárquico, n.º 5, 1980, p. 1

Contribuição de Vasco Rosa publicada também aqui


A república das asneiras

O Quim e o Manecas vão ser ressuscitados pelas mãozinhas da comissão do centenário da república. As adultas-crianças partidárias do Afonso Costa e da traulitada estão de volta sem nunca terem partido. Nunca, como agora, foi tão actual o revanchismo, a inveja, a injúria, a perseguição pelas diferenças, o sentido do pensamento único, correctinho, caladinho que senão apanhas.
Ai! República que nunca deixas-te de ser um orfanato medrado por garotada asneirosa.

Cronologia da república - 18 de Maio

  • 1911

Efectuação de várias prisões políticas em Coimbra

  • 1919

Protestos de trabalhadores rurais em Évora





Fontes: aqui

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Porque a República precisa de mais impostos

Cerca de um Mês depois de perder 25 deputados, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista decidiu aumentar o seu quadro de pessoal com 14 novos Tachos para Boys.

«Rei D. Carlos - O Martirizado» (Ramalho Ortigão)


É o título do célebre opúsculo que Ramalho dedicou a El-Rei D. Carlos, logo após o seu assassinato.
(Meu Caro Nuno: vale a pena lê-lo!).
El-Rei herdou o Rotativismo. E o Rotativismo (que VPV - já o publicitei aqui - comparava ao jogo PS/PSD da actualidade) estava dando conta do País. João Franco e o seu Partido Regenerador Liberal (resultante de uma dissidência do Partido Regenerador) surge como uma terceira alternativa. Tal qual na Grã-Bretanha actual. É um momento em que o Rei considera dever intervir.
Do prefácio de Rui Ramos à reedição fac-similada de «Cartas d' El-Rei D. Carlos a João Franco Castelo-Branco seu último Presidente do Conselho»:
«Perante um conflito entre o parlamento e o governo, o rei tinha duas opções. Ou demitia o governo, ou encerrava o parlamento e dissolvia a câmara dos deputados, convocando novas eleições. Só que a convocação de novas eleições não tinha de ser imediata. Podia demorar. Durante esse interregno, os governos continuavam em funções, e havia até o precedente de emitirem legislação por decreto. Chamava-se a isto "ditadura". Não afectava os direitos dos cidadãos, mas apenas a relação entre os poderes do estado».
A reacção dos dois partidos históricos foi a pior: temiam a ascenção de um novo partido, capaz de escangalhar o status quo.
D. Carlos tomou posição. Não sem que proclamasse - «Governem bem, e contem comigo».
De 1906 a 1908 houve bastante correspondência entre o Rei e o Presidente do Ministério. Este veio mais tarde a publicá-la. Excertos:
«Governe-se com o Parlamento, é esse o meu maior desejo, mas para isso é necessário que ele também faça alguma coisa. É preciso obras e não palavras. De palavras, bem o sabemos está o País farto».
«A minha confiança no resultado final é cada dia maior, e cada vez mais, tu e os teus colegas, podem contar com o meu completo e mais decidido apoio».
Muitos dirão que o Rei agiu politicamente mal. São opiniões. O que não se poderá dizer é que não agiu. Ou que foi gozando os seus dias a caçar e a pintar, ou a navegar. Até porque a sua opção lhe custou a vida.

A maçonaria e a «ética republicana».




Por coincidência derivada da investigação para um trabalho académico, dei comigo a folhear uma revista intitulada «Grémio Lusitano». O periódico, edição de boa qualidade gráfica, é uma espécie de órgão oficial da maçonaria portuguesa, de carácter semestral. A edição que me veio parar às mãos no depósito da biblioteca de uma faculdade do Porto, era já o número 15 (1.º semestre de 2010), de uma tiragem de 1000 (!) exemplares, de periodicidade semestral (!).
Folheei-a.
Noventa e seis páginas onde vários autores, «anónimos», a coberto do seu nome simbólico, discorriam sobre «Ética republicana», «Educação, Cidadania e Desenvolvimento», «Cidadania, credibilização do Estado e Maçonaria», «Ética maçónica, republicanismo e casamento», entre outros aspectos mais relacionados com factos históricos e do património, como as abordagens ao Palácio Pombal, em Oeiras, e a Revolta de 3 de Fevereiro de 1927 ou, ainda, as «origens da maçonaria especulativa».
Pela actualidade do tema, o título «ética republicana» atraiu-me, impelindo-me a ler o parecer do autor, - um tal de Aramis, da Loja Acácia. Segundo o articulista em Portugal o «diálogo político-filosófico é inexistente» [e] «aceita[-se] como constitucionalmente protegida a organização republicana do Estado». Por isso, não querendo o Aramis cair «na estafada argumentação de que a Ética Republicana deve ser um conjunto de actos governativos virtuosos e honestos», presta-se a um ensaio que considera ser do plano «do pensamento político». Fala em Cícero, Maquiavel, Locke e Montesquieu, como convém a todo o bom orador de tribuna que verse sobre tal assunto e passa à tirada: «as figuras que defendem sistemas de governo ou formas de Estado diferentes assumem a dimensão patética ou trauliteira da sua argumentação». Acrescenta, «ninguém consegue explicar coerentemente porque devem existir pessoas com títulos nobiliárquicos, numa época onde se premeia o mérito e não o privilégio de nascimento».
Prossegue, falando sobre tópicos que são pertença das grandes ideias de Ética, independentemente do seu amesquinhamento segundo as formas de governo. Mas, resgatando esta última ideia do Aramis, eu perguntaria: será que alguém consegue explicar coerentemente porque alguns razão indivíduos se reúnem em lojas, envergando aventais e reivindicando para si uma lógica solidária que devia ser apanágio de todos os mortais e não só de iniciados e irmãos escolhidos?
A maçonaria, no seu carácter intrínseco de agremiação exclusivista, de subterfúgio de grupo para-oculto é a anulação da ideia de Bem Comum, de Solidariedade. Não é república, nem é monarquia, é a aristocracia aristotélica ou seja, o governo de poucos sobre muitos. E afinal, quem atribuiu o direito de exclusividade a esses poucos?
Onde está, nesta ideia de elite supranatural, a tal «ética republicana» a Liberdade e o Bem Comum?