sábado, 21 de agosto de 2010

O salvador da República



Esgotado o inapetecível filão da Cordoaria - onde funcionários há que nos brindam com audíveis ..."esta exposição é um barrete pegado!" -, os do costume optaram por outros truques de verão.
Bem enterrada a fase revisteira de defuntos Parques Mayer, andam "por aí", uns camiões que como exposições itinerantes, espalham velhas lendas e superstições, apresentando um inexistente passado de suspeitas glórias, como se de coisas reais se tivessem tratado. Uns neo-actores na Rua Augusta, vão tecendo loas ao Costa de 1910, talvez sob o bonacheirão sorriso de beneplácito do mais benigno Costa, aquele dos cem anos já decorridos e deste tempo. Os senhores parasitas do Esquema, possivelmente terão entendido que sem comezaina e decibéis à borla - ou por outras palavras, à custa do contribuinte -, não há povo que lhes valha e assim, para os grandes males, o remédio do costume: ruidoso circo até fartar. É o vale tudo e mais alguma coisa. Não meterem o Herman e os Gato Fedorento, até é de admirar.

Se alguém se der ao trabalho de interrogar frontalmente os tais neo-actores, pode crer que o resultado se traduzirá num inicial sorriso embaraçado, seguido da tentativa de totalmente vos ignorar. Não o conseguindo, simplesmente fogem, tamanha é a cavalar ignorância e aquele perfeito sentido de não pertença ao grupo. Afinal de contas, não passam de uns pobres diabos contratados, pagos para o desempenho de um papel. É a velha conversa do mercenário que se revolta, dizendo ..."sou pago, mas não para tanto!"

O que se tornaria mais interessante, seria o recurso esporádico a rábulas que enaltecessem aquele a quem a actual república tudo deve: Salazar. Consolidou-a à força, alijou a ameaça de incursões monárquicas, defendeu-a com uma polícia política que faria a inveja à Formiga Branca, levou o culto à "bandeira" ao extremo do paroxismo, inventou o conceito de Venerando presidencial - tão na moda que se aplica ao primeiro troglodita pago e chapado que chegue a Belém -, adormeceu a Causa com promessas e sempre em reserva mental, equilibrou as finanças de forma mais credível que o velho malabarismo enganador do jogral Afonso Costa. Para cúmulo, libertou o país das garras da "pérfida Albion", sonho primeiro dos republicanos e jamais por eles - os tais verdadeiros e púdicos de 1910 - realizado.
Enfim, tornou a república numa coisa morninha, inócua e como muito bem dizia, onde se "vive habitualmente". Que bom...

Sem comentários: