quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Costa de África, ou a "falsa ideia liberal"



O Público continua a sua antologia do disparate. Desta vez, após um fastidioso arrazoado de boas intenções de patrioteirismo republicano-colonialista, a estoriadora Maria Cândida Proença, declara peremptoriamente que o projecto ultramarino da Monarquia, estava ..." imbuído de falsas ideias de liberalismo, ao pretender estabelecer o critério da assimilação dos indígenas como norma de administração das colónias."

A excelentíssima senhora doutora desconhecerá decerto, o que tal assimilação poderia ter significado para o futuro, onde essas colónias irreversivelmente caminhariam para a independência*. A assimilação, pressupunha a educação e consequente formação de quadros locais e até o mais distraído bem intencionado, deveria conseguir entender esta inevitabilidade. A 1ª república foi prolixa, no Parlamento arrancou barbas, retorceu bigodes, berrou até ficar sem fôlego. Pouco ou nada de proveitoso saiu de toda aquela verrina e papelada legislativa, além de vagas memórias de escandalosas alegações de venalidade na administração de Norton de Matos e das derrotas militares impostas pelos alemães e askaris em Angola e Moçambique. A outra que se lhe seguiu, a 2ª, foi mais calma, impôs o Indigenato, ciosamente impediu a partida de colonos, estabeleceu culturas obrigatórias e muito tarde, demasiadamente tarde, deu alguma autonomia e verdadeiro progresso ao Ultramar. Finalmente, o advento da 3ª república, trouxe a caótica "descolonização exemplar", Timor incluído, cujos brilhantes resultados, podem hoje mesmo ser escalpelizados AQUI.

Ao acabarmos de ler o artigo da estoriadora, vem-nos de imediato à memória, aquela saída de Vasco Santana, quando interpretando o seu papel no filme O Costa de África (mais um, parece mania de época), exclamou: "Ó bijagós! Vai ali ao carro e traz a minha chibata. Vou precisar dela e tu também!"

*Futura independência, foi o que desde pequeno, sempre ouvi em Lourenço Marques. Esta palavra saía da boca dos meus pais, avós, outros familiares e amigos que nos visitavam. Não eram comunistas, nem traidores.

1 comentário:

João Afonso Machado disse...

Impressionante como a nossa prezada república não foi capaz de compreender os avanços do Mundo.
A Coroa inglesa pode ser acusada de riquissima. Não podem é imputar-lhe falta de visão. Viva a Commonwelth! dizem eles a rir de nós.