quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Miserabilismo



Miserabilismo, dizia o Prof. Cavaco Silva, quando subitamente leu a palavra em qualquer sítio. Usou-a até à exaustão e embora, hoje em dia, dela pareça alheado, por vezes vem mesmo a propósito, mesmo se dela não se sirva em causa própria.
Estamos em vésperas da comemoração de um portentoso "faz de conta" e assim, a simulação de bondade e rigor na despesa de cabedais, está na ordem do dia para "Zé Povinho ver". Na guerrinha bacoca que uma parte do regime decidiu fazer a um desprestigiado Parlamento que já noutros tempos aclamou reis e escutou os Discursos da Coroa, o actual residente de Belém, lembrou-se de mais um argumento na campanha eleitoral que está em curso desde o primeiro dia da sua tomada de posse.
O Público diz que o residente está "surpreendido por não serem abrangidos outros órgãos de soberania que se regem por idênticos estatutos jurídicos em matéria de livre nomeação e exoneração", reportando-se esta surpresa, aos cortes na despesa do pessoal parlamentar e auxiliar. Jaime Gama não quer ficar mal visto e assim "comunicou à conferência de líderes, hoje, que “não fazia sentido” o seu gabinete e dos quatro vice-presidentes ficarem excluídos dos cortes."
Maravilhosa, esta luta pela primazia no corte que se não é da casaca, faz a sua vez. Um dia destes, ainda veremos uns cavalheiros a mostrar em público chancas de solas rotas, smockings comprados na Pull and Bear - sob encomenda, claro e de etiqueta à vista -, pulando para fora de um dos tais "900 novos veículos de Estado".
Esta gente enlouqueceu, pensando passar despercebida. É que todos já entendemos que o problema não está nos "5%" de corte nos salários, mas sim, na imensa catrefada de assessores, cartões de crédito de despesa à conta, comissões - entre as quais a do Centenário dos milionários -, gabinetes, fundações, "encomendas de estudos", adjudicações directas, desperdício decorrente de má gestão de empresas do Estado, contratos de arrendamento lesivos do interesse geral, etc, etc. Para se tornarem mais credíveis, cortem na quantidade de comensais e não nos salários daqueles que deviam ser essenciais e competentes. Os políticos e gestores devem ser bem pagos, em número suficiente e sobretudo, competentes. No entanto preferem disfarçar e disparar noutras direcções: Portugal deve ter fragatas, submarinos, "Pandures" e outros meios de defesa da soberania. Assumam o facto, ou deixem de enviar soldados para cenários de guerra, para nem sequer falarmos da continuidade da presença nacional na OTAN.
O país não necessita de qualquer operação de cosmética, senhor residente. Basta de "primos republicanos", sejam estes de que jaez forem!

4 comentários:

Carlos Velasco disse...

Caro Nuno,

Essa gente percebeu tudo muito bem. Nada do que está a ser feito é fruto do acaso ou do engano, mas de uma obra de implosão encomendada pelos que financiam o sistema.
Há anos que eu, que não sou nenhum especialista, percebi que havia uma lógica clara na sucessão de acções que nos trouxe aqui.
Bem antes da última crise eu já estava preparado para ela, e hoje digo, com desgosto, que o que vem aí é ainda pior.
Se o povo continuar enganado pelas promessas dos senhores do regime e não tratar de meter gente de fora do sistema em posições chave, não acredito que Portugal sobreviva como estado por mais quinze anos. Não arrisco dizer o timming de maneira precisa, mas é claro que a situação já é insustentável.
Bastará que os bancos apertem a corda para que acabemos enforcados.
Depois disso, teremos que aceitar tudo que nos impuserem.

Saudações de um amante apaixonado de Portugal.

Nuno Castelo-Branco disse...

Então, caro Carlos, pode desde já preparar-se para ver riscas, leões e castelos no frontão dos nossos edifícios públicos. Já suspeito que a intenção "dos de cá" é mesmo essa.

Carlos Velasco disse...

Caro Nuno,

Por falar em espanhóis, lembrei de um facto que me tem incomodado muito e já havia esquecido no meio de tanta má notícia.
Vivo muito perto da Área Militar de São Jacinto. Há alguns meses, penso que desde o princípio da primavera, tenho notado uma actividade aérea inédita.
Um C-130 da força aérea espanhola tem voado quase que diariamente por aqui, e hoje mesmo vi cinco aviões de treinamento aéreo espanhóis a voar.
Será que estão a espanholizar essa base?
Tendo em conta que ela é especializada em vigilância marítima, que os espanhóis fazem de tudo para ficar com o comando da Nato nessas partes do Atlântico e que o ataque contra as forças armadas, e em especial a marinha (foi hoje a entrega do Tridente?), está a se intensificar com a crise, dá o que pensar...

Um abraço

Nuno Castelo-Branco disse...

Caro Carlos, nem me diga nada! Os chats militares do lado de lá da fronteira, tratam-nos de uma forma escabrosa e até fico a pensar se cada unidade que se compra, não é um revés para eles. A Armada, então, é sumamente desprezada e já começaram a escarrar sobre o submarino, sobre as fragatas Meko, as Doorman, etc. Para aperitivo, dê uma vista de olhos nisto:
http://www.militar.org.ua/foro/armada-de-portugal-t13483-315.html#1051263