terça-feira, 14 de setembro de 2010

JOSÉ LUIS NUNES - dirigente histórico do PS


Eis a que terá sido, possivelmente, a sua última entrevista. Ao Monarquia do Norte, da Real Associação do Porto (Março/1998):
1 - Monarquia e socialismo democrático: é verdade que entre ambos não existe entendimento possivel?
R. - Os países onde os partidos social-democratas são os que têm mais profunda base eleitoral são os países monárquicos.
A questão não teria sentido posta a um norueguês, sueco ou dinamarquês.
Assim como não teria sentido posta a um inglês - Tony Blair é um monárquico - ou a um holandês. Ou a um belga... ou, ainda, a um luxemburguês ou a um espanhol. Quando Santiago Carrillo agradece ao seu Rei...
Na Europa, social-democracia e monarquia entendem-se bem... Muito bem até...
De resto, o Rei não descrimina os cidadãos por nenhuns motivos, principalmente por razões ideológicas...
Em Portugal, nos seus primórdios o Partido Socialista manteve-se alheio ao debate monarquia/república, que não considerava prioritário ou essencial.
2 - A Família Real é, no presente, uma mera referência do passado?
R. - Na vossa questão o essencial é a expressão "referência".
Diria ser a família real uma referência no passado, no presente e no futuro. Como poderá tal referência adquirir relevância no plano institucional é uma outra questão.
3 - Monarquia em Portugal: a questão está definitivamente encerrada?
R. Não existem "conquistas irreversíveis, nem questões "definitivamente" encerradas.
A História faz-se todos os dias e não tem fim, pois não é uma entidade fixa, cindível em compartimentos ou momentos estanques, mas uma convergência de integrantes transformadoras.
Só o futuro dirá como vai ser o futuro...
Uma vez mais, a homenagem de um homem de Direita, livre, a outro homem de Esquerda, livre também.

9 comentários:

Filipa V. Jardim disse...

João, sempre coexistiram e foram amigos homens de direita e de esquerda. Monárquicos e repúblicanos. Pessoas civilizadas que sabem o lugar próprio para esgrimir argumentos e defender opiniões, que não "à mesa". Sempre foi assim, mas infelizmente é-o entre cada vez menos pessoas. A maioria sucumbe às tricas e partidarites.

João Afonso Machado disse...

E sobretudo, Filipa, ´e necessario acabar com os estigmas: direita= ditador; esquerda=democrático.
Ou: sobretudo, é preciso que os porugueses percebam que a questão de regime político (monarquia/república), é um tema. A questão ideológica (democracia-cristã/ social-democracia/ socialismo) é utro tema.
Mas não somos nós que semeamosa confusão.

Francisco RB disse...

Caro amigo, do maurraismo ao socialismo, mas que grande evolução... :)

João Afonso Machado disse...

Meu caro Amigo: Mas é isso !!!
A monarquia dá para todas as opções.
Do meu ponto de vista, aceito-a, e quero-a, enquanto liberdade de cada um escolher o que quer - vale dizer, o povo que escolha. E o Rei aceita essa escolha.
É assim em Espanha.

Nuno Castelo-Branco disse...

E se enviasse este post à sede PS no Rato? É que homens como José Luís Nunes, não abundam por lá. Grande falta faz ao PS.

Anónimo disse...

Publiquei no blog Esquerda Monárquica, já tinha antes publicado a biografia dele mas não arranjava uma foto.
Obrigado

mch disse...

Boa Rui!
Sempre a somar ! E e parabéns aos comentadores também !

João Afonso Machado disse...

Nuno:
Se calhar a sede do PS, mais os seus «serviços secretos», já viram o post. Não comentam. A ver se esquece mais depressa.

Rui Monteiro: fez muito bem. Disponha sempre.

Renato Freire da Paz disse...

Perguntaram um dia a Agostinho da Silva se era monárquico ou republicano e ele respondeu que era canudense, ou seja defensor de uma tribo da Amazónia, como que querendo dizer que perguntas como esta são muito limitadoras, têm uma visão maniqueísta, muito redutora. Eu afirmo que nos falta ouvir de novo Agostinho da Silva. Um dia ele disse-nos que ninguém tem provas que a morte exista. Eu digo que tenho provas sobre uma realidade que nos transcende e haverá de haver sempre homens e mulheres que fazem a diferença, tal como José Luís Nunes, de que me falou há uns anos António Telmo e Augusto Mascarenhas Barreto e o qual procurei hoje na internet e a quem também presto a minha homenagem pela sua atipicidade e coragem.