sábado, 10 de outubro de 2009

A ética será republicana?

Esta é uma ideia cara aos nossos presidentes da República que, perante o calendário de feriados predominantemente religiosos fazem questão, uma vez chegado o 5 de Outubro, de recordar ao país a importância da ética republicana. Cavaco Silva não foi excepção. Não duvido que os presidentes da República que temos tido defendam a ética da República mas daí a dizer-se que existe a ética republicana vai um passo demasiado largo. E no caso português perigosamente largo. Em primeiro e mais óbvio lugar porque não é o facto de o regime ser republicano ou monárquico que o torna mais ou menos ético. Portugal é uma república e a Suécia e a Holanda monarquias mas no que à ética da vida política e pública respeita temos muito a invejar aos súbditos de Carlos Gustavo e de Beatriz. Em segundo lugar esta associação entre a ética e a natureza republicana do regime envenenou-nos todo o século XX e ameaça-nos o XXI pois incapazes que somos de dissociar a ética da República esquecemo-nos da primeira para não nos malquistarmos com a segunda. A nossa incapacidade de debatermos o regicídio, a noite sangrenta ou, no pós 25 de Abril de 1974, a descolonização resultam em grande parte desta atávica associação entre a natureza do regime e a ética da sua classe dirigente. Onde estava em Novembro de 1975, a ética dos militares e políticos portugueses que, como relata Leonor Figueiredo no seu livro “Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola”, deixaram para trás nas prisões e campos de concentração de Angola cidadãos portugueses que tinham sido raptados pelo MPLA?

Enquanto os factos menos nobres praticados na República, a corrupção e o falhanço da Justiça continuarem a ser vistos como notas de rodapé na exaltação mais ou menos folclórica da ética republicana continuaremos reféns daquela divisão jacobina do mundo que envenenou a I República e que, de sinal contrário, se prolongou no Estado Novo, aí com a tentativa inversa de transformar em boa a ditadura com o argumentário da honestidade pessoal de quem a chefiava. A República que somos será mais ética não por ser república mas sim por ter entre os seus políticos e na sua administração quem não veja na condição republicana (tal como outrora o viram na condição monárquica ou em “ser da situação”) um atestado de impunidade.

Helena Matos 8 de Outubro, 2009 no Público

5 comentários:

Anónimo disse...

Finalmente, sou capaz de ler algo sensato, em vez, daquelas crónicas com um discurso em voga há 100 anos

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Nuno Goncalves Pereira disse...

Caro Iberia,

isso de sermos uma "província" de Espanha, já nós somos - só falta formalizar; mas é contra isso mesmo, a razão de nós querer-mos um Rei em Portugal - mas um Rei PORTUGUÊS. Viva D. Duarte e o Príncipe D. Afonso!!!

Nuno Castelo-Branco disse...

Bem hajam, diz o "anónimo" espanhol

Um João Carlos que fala um péssimo português, embora cá tenha vivido anos a fio. Um João Carlos que mal pode ir a Bilbau ou Barcelona e que este "anónimo" quer ver entrar em Lisboa.
Uma "Ibéria" que retiraria de Portugal todas as embaixadas estrangeiras, extinguindo também as portuguesas no exterior. Uma "Ibéria" que significaria o fim da presença das grandes empresas internacionais em Portugal, passando tudo a concentrar-se em Madrid. Fim do nosso exército, da CPLP, dos PALOP. Fim do ensino da História (autónoma) de Portugal e sabendo nós a forma como em Espanha a mania da grandeza deles omite Aljubarrota, o Infante, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque e tantos, tantos nomes? Os espanhóis falam de 1640 como uma traição como se a revolução não tivesse sido a nossa emancipação da tutela, do desrespeito pelo estipulado nas Cortes de Tomar... Como se Portugal pudesse continuar a assistir à liquidação do nosso império no Índio, África e Brasil, às mãos de todos os inimigos da Espanha!?

Trata-se de mais uma tentativa de aliciamento pelo ouro que por sinal, em Espanha começa agora a escassear. Depois da miragem da CEE, agora o incentivo ao "chupismo" em direcção a Madrid. Esta gente não tem vergonha?

Talvez... disse...

Boa réplica, Nuno.