Esta é uma ideia cara aos nossos presidentes da República que, perante o calendário de feriados predominantemente religiosos fazem questão, uma vez chegado o 5 de Outubro, de recordar ao país a importância da ética republicana. Cavaco Silva não foi excepção. Não duvido que os presidentes da República que temos tido defendam a ética da República mas daí a dizer-se que existe a ética republicana vai um passo demasiado largo. E no caso português perigosamente largo. Em primeiro e mais óbvio lugar porque não é o facto de o regime ser republicano ou monárquico que o torna mais ou menos ético. Portugal é uma república e a Suécia e a Holanda monarquias mas no que à ética da vida política e pública respeita temos muito a invejar aos súbditos de Carlos Gustavo e de Beatriz. Em segundo lugar esta associação entre a ética e a natureza republicana do regime envenenou-nos todo o século XX e ameaça-nos o XXI pois incapazes que somos de dissociar a ética da República esquecemo-nos da primeira para não nos malquistarmos com a segunda. A nossa incapacidade de debatermos o regicídio, a noite sangrenta ou, no pós 25 de Abril de 1974, a descolonização resultam em grande parte desta atávica associação entre a natureza do regime e a ética da sua classe dirigente. Onde estava em Novembro de 1975, a ética dos militares e políticos portugueses que, como relata Leonor Figueiredo no seu livro “Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola”, deixaram para trás nas prisões e campos de concentração de Angola cidadãos portugueses que tinham sido raptados pelo MPLA?
Enquanto os factos menos nobres praticados na República, a corrupção e o falhanço da Justiça continuarem a ser vistos como notas de rodapé na exaltação mais ou menos folclórica da ética republicana continuaremos reféns daquela divisão jacobina do mundo que envenenou a I República e que, de sinal contrário, se prolongou no Estado Novo, aí com a tentativa inversa de transformar em boa a ditadura com o argumentário da honestidade pessoal de quem a chefiava. A República que somos será mais ética não por ser república mas sim por ter entre os seus políticos e na sua administração quem não veja na condição republicana (tal como outrora o viram na condição monárquica ou em “ser da situação”) um atestado de impunidade.
Helena Matos 8 de Outubro, 2009 no Público
5 comentários:
Finalmente, sou capaz de ler algo sensato, em vez, daquelas crónicas com um discurso em voga há 100 anos
Caro Iberia,
isso de sermos uma "província" de Espanha, já nós somos - só falta formalizar; mas é contra isso mesmo, a razão de nós querer-mos um Rei em Portugal - mas um Rei PORTUGUÊS. Viva D. Duarte e o Príncipe D. Afonso!!!
Bem hajam, diz o "anónimo" espanhol
Um João Carlos que fala um péssimo português, embora cá tenha vivido anos a fio. Um João Carlos que mal pode ir a Bilbau ou Barcelona e que este "anónimo" quer ver entrar em Lisboa.
Uma "Ibéria" que retiraria de Portugal todas as embaixadas estrangeiras, extinguindo também as portuguesas no exterior. Uma "Ibéria" que significaria o fim da presença das grandes empresas internacionais em Portugal, passando tudo a concentrar-se em Madrid. Fim do nosso exército, da CPLP, dos PALOP. Fim do ensino da História (autónoma) de Portugal e sabendo nós a forma como em Espanha a mania da grandeza deles omite Aljubarrota, o Infante, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque e tantos, tantos nomes? Os espanhóis falam de 1640 como uma traição como se a revolução não tivesse sido a nossa emancipação da tutela, do desrespeito pelo estipulado nas Cortes de Tomar... Como se Portugal pudesse continuar a assistir à liquidação do nosso império no Índio, África e Brasil, às mãos de todos os inimigos da Espanha!?
Trata-se de mais uma tentativa de aliciamento pelo ouro que por sinal, em Espanha começa agora a escassear. Depois da miragem da CEE, agora o incentivo ao "chupismo" em direcção a Madrid. Esta gente não tem vergonha?
Boa réplica, Nuno.
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