É certo que a democracia é de muito comer. Por isso preveni Portugal de que a república não lhe sairia barata. Come já muito, mas por enquanto ainda come mal. Enche de mais a boca, põe os braços em cima da toalha, dá cotoveldas no vazio das pessoas que lhe ficam à ilharga, quebra palitos, faz bolas com o miolo do pão, limpa os dentes com a lingua, e, quando se faz representar pelos seus leaders mais retintamente radicais, não desdobra o guardanapo, come com faca as ervilhas e com o garfo da carne assada penteia o bigode ao pedir a sobremesa. Veste-se geralmente mal e pior ainda se vestirá agora que se lhe foi embora para o Novo Mundo o conjunto mais válido dos nossos cérebros.
(Acabadinho de redigir por um lúcido qualquer).
CORRIGENDA:
Onde se lê, respectivamente, «Por isso preveni Portugal», deve ler-se «Por isso Gambetta prevenia a França»; «agora que se lhe foi embora para o Novo Mundo...», «agora que se lhe foi embora para o Brasil o Amieiro»; «(Acabadinho de redigir por um lúcido qualquer)», «Ramalho Ortigão, "Últimas Farpas (1911-1914)"».
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