quinta-feira, 1 de julho de 2010

O defensor de Chaves


Foi um momento inesquecível. Agora mesmo, no programa "Portugal Directo", da RTP1. A reportagem deslocou-se a Chaves, onde decorrem as festas da cidade, especialmente interessada nas comemorações do Centenário da República. A entrevistadora, excitadíssima, chega-se a um cavalheiro de meia-idade, a querer saber da heroicidade dos flavienses na História do Regime. Por quê o «8 de Julho», o «dia da Cidade»?
O entrevistado, que por acaso se chamava Estevão Rei, não sabia. E justificou-se - ele somente fazia parte da Comissão de Festas; para essas coisas da História estava ali o Sr. Pissarra Bravo.
Para quem também não saiba, 8 de Julho foi a data, em 1912, em que a 2ª Incursão Monárquica foi sustada, após demorado e árduo combate em que os republicanos, entricheirados dentro da cidade de Chaves, lograram impôr às tropas monárquicas um número significativo de "baixas" e a total exaustão, à mingua de água, víveres e munições.
Disso mesmo falou o Sr. Pissarra Bravo. Começando logo por declarar que dificilmente encontraria motivo e dia mais triste para celebrizar e celebrar a sua terra.
«Foi uma guerra civil, irmãos contra irmãos. Um meu bisavô, republicano, nesse dia combateu contra outro meu bisavô, monárquico
A entrevistadora principiava a baralhar... Prosseguia o entrevistado:
«Isto não tem nada a ver com monarquias e republicas. As monarquias europeias são as mais cuidadosas defensoras da república».
A entrevistadora, com cara de quem ignora o latim, embasbacava...
«E olhe, eu prefiro mil vezes um D. Juan Carlos que se vira para o outro e lhe diz "por que no te callas?" do que um presidente que diz que não concorda com uma lei mas tem medo de a vetar»...
Pois, pois, - a entrevistadora, desnorteada, tirou a palavra ao Sr. Bravo, antes que ele proclamasse a Monarquia em Chaves, para glória de um seu bisavô e redenção do outro, e chamou a correr outro cavalheiro, mais novo, o responsável por um ciclo de filmes moderno integrado nos ditos festejos.
E enquanto escrevo estas palavras, o "Portugal Directo" ainda permanece lá para aquelas bandas nordestinas. Agora a discorrer sobre o presunto e os pasteis de Chaves, naturalmente.

6 comentários:

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

Aqui está o link para o programa que refere.É na primeira parte.

http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=19455&e_id=&c_id=1&dif=tv

João Afonso Machado disse...

Obrigado Filipa. Gostei de rever a reportagem. Fui bastante fiel no texto escrito de memória.
Como dizia o Capitão Bravo, aqueles soldados todos tinham 4 anos antes jurado fidelidade ao Rei.
E «Defensores de Chaves», como ele também disse mais justamente seriam os que defenderam a cidade nas invasões napoleónicas.

Olhe, vou propor o seu nome à vereação de Chaves para a praça principal lá da terra. Obrigado, uma vez mais.

O Faroleiro disse...

Fantástico pequeno post, tanta imbecilidade junta...

Em sequência de um post do João Amorim, acabei agora mesmo de rever a Cena do Ódio do Almada Negreiros, eternizada ciberneticamente nos anais do youtube pela voz do genial e saudoso Mário Viegas, uma ode ao cretinismo burguês, uma obra prima com laivos de génio.

Aquilo, que foi escrito na sequência da revolta onde participou o "seu amigo" Norton de Matos contra a " ditadura " de Pimenta de Castro em 1915 tem uma actualidade impressionante e encaixa que nem uma luva na burguesia smi-analfabeta-jacobina filha do socretismo e do barrosismo e dos outros "ismos" cretinos !

"Ah! que eu sinto claramente que nasci de uma praga de ciúmes.

Eu sou as sete pragas sobre o Nilo
e a Alma dos Bórgias a penar!..."

de José Almada Negreiros, poeta sensacionalista e Narciso do Egipto.

Brilhante !

João Afonso Machado disse...

Obrigado, caro amigo Nuno. E agora veja o mais impressionante:
Primeiro diz-se que as Incursões foram insignificantes, sem expressão, ridiculas, quixotescas.
Afinal, faz-se o «dia da cidade» a data do comate dessas mesmas incursões.

Chaves já existia no tempo dos romanos (Acqua Flaviae). De certeza que há-de ter dezenas, centenas de outras datas em que a cidade mais se destacou na História. Porquê o «8 de Julho», em que as tropas fieis à república venceram um «punhado» de monárquicos revoltosos?

Pura propaganda de regime, que pelos vistos ainda não é dispensável.

Anónimo disse...

Consegui gravar o som do vídeo, pelo menos isso. Publiquei no Causa Monárquica.

Aqui :
http://causamonarquica.wordpress.com/2010/07/02/dia-de-chaves-8-de-julho/

João Afonso Machado disse...

Excelente, Rui Monteiro.
Creio que vle a pena divulgar o episódio.