terça-feira, 15 de dezembro de 2009

É... a culpa deve ser "do Constantino"!



A situação catastrófica que ameaça arruinar o resto da já escassa respeitabilidade do regime grego de 1974, poderá ter consequências até há pouco inimagináveis.

Compreende-se a rápida reacção das autoridades portuguesas que sentem como sua, a situação que hoje se vive na Grécia. De facto, alguns analistas internacionais apontam Portugal como o próximo peão do grupo PIGS (Portugal, Ireland, Greece, Spain) a resvalar para uma situação que ameaça a bancarrota. Os sinais de alarme já foram sentidos nas Instituições do poder que de facto, acabaram por viabilizar a proposta governamental rectificativa do Orçamento Geral do Estado. Se a isto juntarmos a pressa do governo na preparação de factos políticos propiciadores da realização de eleições gerais no mais breve espaço de tempo possível, o quadro parece tornar-se mais nítido. Não seria uma surpresa a contemporização de todas as forças do actual regime, no sentido da obtenção de uma plataforma mínima de colaboração, para isso contando com Cavaco Silva, parte integrante e vital do sistema. PS, PSD, CDS e o próprio PC, são os naturais interessados na manutenção do status quo sistémico, pouco interessando o volátil protagonismo mediático de uma extrema esquerda bastante instável.

Há 35 anos, um referendo apressadamente organizado pela dupla Karamanlis/Papandreu - que conformaria o novo regime -, conduziu ao reconhecimento da república que um ano antes tinha sido proclamada peladitadura dos coronéis. Constantino II foi impedido de regressar ao país após a queda da Junta - nem sequer pôde intervir publicamente na campanha para o plebiscito -, apesar de ao longo dos anos ter poderosamente contribuído para o regresso ao sistema constitucional. Jamais aceitou o seu regresso a Atenas, enquanto a Constituição não fosse reposta.

Conhecemos o percurso declinante da Grécia desde a entrada na então CEE. Tendo beneficiado de um longo período de desenvolvimento económico e social, o país parecia ressarcir-se positivamente do fim da guerra civil que derrotara os comunistas. A partir de 1950 e durante duas décadas,os gregos conseguiram surpreendentes taxas anuais de crescimento (7%), só sendo ultrapassados pelos japoneses. A estabilidade que a Monarquia conferia às instituições, acalmou as paixões políticas, colocou o país a trabalhar, tranquilizou os investidores e atraiu capitais.

Ao longo dos últimos vinte anos, o país resvalou para a conhecida contradança rotativa imposta pela Nova Democracia do clã Karamanlis e pelo PASOK dos Papandreou. Uma autêntica máfia bem instalada, com escândalos de toda a ordem, chefia do Estado nula, públicas e descaradas indecências por parte dos donos do poder, corrupção generalizada, incúria dos negócios públicos, plutocracia larvar, eis o resultado do eclipsar da separação de poderes no sistema constitucional pós-1974. Frenesim despesista, caciquismo demencial, desperdício consumista, especulação financeira ruinosa, confirmam o panorama que Portugal também conhece. Tal como existe, o regime parece ter os das contados e desta vez, não poderá atribuir "as culpas" ao Basileus Constantino II.

Diz agora o 1º-ministro Georgios Papandreu que ..."estamos determinados para fazer o que seja necessário para contrariar o gigantesco défice, para restaurar a estabilidade nas finanças públicas e promover o desenvolvimento. É a única forma de garantir que a Grécia não perderá os seus direitos de soberania".

Se substituirmos os nomes dos protagonistas, compreende-se o nervosismo em Lisboa. É a peça de dominó que se segue.


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