Incapaz de controlar a sua guerra intestina, a República Portuguesa (3ª Série) acabou por enveredar pelo inconcebível: festejar os seus cem anos, como sempre em profundo desentendimento consigo mesmo. A velha cicatriz, permanentemente a reabrir, da sua 2ª longuissima série. Até que as mais autorizadas e isentas vozes vieram dizer isso mesmo: a comemorada era apenas a 1ª Série. Os tais 16 anos de Ética e Democracia.
Nasceu mentirosa, a República Portuguesa, e mentirosa há-de morrer.
De João Paulo Freire (in O Livro de João Franco sobre oEl-Rei D. Carlos): «Os senhores desculpem mas eu sou um ignorantão chapado nestas coisas de política... Nunca percebi porque diabo a ditadura dum homem é um crime, e a ditadura dum partido o não é!
Em ditadura, e ditadura do pior, governou o sr. Afonso Costa. em ditadura temos nós vivido permanentemente, constantemente, sob o regime democrático. Ditadura fez o sr. Norton de Matos. Ditadura fez o sr. Coronel António Maria Baptista, cuja honorabilidade era tão grande como a sua igómínia de homem público. Ditadura e da mais vergonhosa e da mais afrontosa fez o sr. Liberato Pinto, antes de ser governo com o papão da Guarda Nacional Republicana, e quando governo com o papão da sua energia. Ditadura fez ainda o sr. Álvaro de Castro. De maneira que a gente é forçada a chegar a esta conclusão mirabolante: ditadura é todo aquele governo que não seja apoiado pelo partido democrático...».
Os nomes acima pertencem todos à 1ª Série da República Portuguesa. Dez milhões de euros não deverão chegar à 3ª Série para os fazer esquecer.
9 comentários:
Caro amigo, diga assim, 1ª série, 3ª portaria, da triste aventura que foi a I república, o meu amigo foi logo buscar a "melhor parte" a dos últimos anos...
O meu amigo é tremendo !
Não meu caro, a 3ª Série quer festejar o quê, senão a 1ª. Alguém se atreve a comemorar a 2ª? Isso é, além do mais, politicamente incorrecto. Proibido.
A série eepecial de filatelia comemorativa só fala na 1ª e nos seus heróis. O resto parece que se chama Estado Novo (por contraposição ao Velho?) e nele vive sozinho um tal Salazar. Mais ninguém, a não ser o facto do assassinato de H. Delgado...
Eu expliquei mal.
A I Série é a I República, os três blocos em que a divido são o afonsismo, o sidonismo, e a traulitada com a GNR no poder.
Você que é tremendo, lá foi buscar os exemplos dessa malfadada última fase da I república onde encontra nomeadamente a noite sangrenta e outros episódios quase tão grotescos.
Pela II república eu tenho um respeito especial; tal como no sidonismo, Salazar foi a solução necessária para tempos conturbados, respeito a figura e sempre gostei de a estudar, e quando a estudo mantenho-me sempre o mais isento possível em relação aos clichés, por isso me tornei num apaixonado pelo tema, não tanto pela pessoa mas pelo tema sim.
Compreender Salazar ajuda a compreender o mundo nos negros anos das duas guerras mundiais e o choque entre o tradicionalismo e o mundo industrializado.
H Delgado teria sido o corolário perfeito da II republica, foi uma pena, talvez H Delgado tivesse vindo a ser um logro, nunca o saberemos, mas perdeu-se a oportunidade de dar o salto do catolicismo totalitário de Salazar para o que poderia ter sido uma democracia, num tempo em que Portugal já se podia considerar uma nação, e esse mérito ao Salazar ninguém o tira.
Um abraço.
Percebi mal.
No mais, concordo com a sua realista visão dos acontecimentos ao longo das 3 séries (na minha nomenclatura). E gosto de quem alinha as suas ideias sem pensar no que está na moda ser pensado.
Mas, justamente, este livro de onde tirei a citação foca isso: foi escrito nos finais dos Anos 20 e faz a apologia de J. Franco, Sidónio e o Governo forte que já aí vinha (embora não fale ainda em Salazar). E depois critica os «afonsistas» nos termos que transcrevi - chamando-lhes ditadores também.
Noutra questão tenho acerteza que concordará comigo: se for aí visitar qualquer blog de cariz republicano (e a comemorar o centenário) verá que os temas são sempre o ataque à Monarquia (mas isso é normal) e o ataque à Ditadura - isto é, a evocação dos gloriosos tempos de Oposição de que Soares e Alegre serão dos poucos sobreviventes.
Isso significa que a República se comemora e se ataca a si própria em simultâneo: comemora 1910-26 e 1974-2010; ataca 1926-74. Continua a «guerra civil» portanto; Vantagem de 4 pontos (52-48) para os «encarnados».
Um boa dia para si.
A "esquerda" Portuguesa é uma coisa fantástica, faz lembrar uma grande empresa onde todos se põe em bicos de pés para apanhar a promoção, se têm mérito ampliam, se não têm, inventam.
O PREC foi isso mesmo, uma invenção, quando ninguém esperava, Spinolas, Costa Gomes, Soares, Cunhais e quejandos; os capitães saem à rua; depois foi um ver-se-te-avias, todos os dias lá chegava um "estadista" no avião a reclamar para si a autoria moral do golpe e o seu passado de luta; antes desta gente parece que Portugal era o deserto e eles é que eram os messias.
Hoje isso ainda dura, quando ouço falar de Abril já me começo a rir !
Mais uma vez o amigo lembra a velha questão, qual das 3 repúblicas foi a melhor (ou a menos má)...
Poderiamos considerar que houve uma república de 100 anos com um interregno de 48 anos.
Antes do intervalo (interregno) foi aquela bandalheira, e a seguir ao intervalo continuou aquela bandalheira.
Agora estamos à espera que venha outro intervalo ditado por Bruxelas.
Europeasvezes:
Eos 48 anos, o que foram?
Uma monarquia, não, de certeza.
João Afonso Machado,
Eu não lhe chamei monarquia aquele interregno.
Ao chamar interregno quis apenas chamar "intervalo".
Foi um parar para pensar(mos), meditar(mos).
E será que pensámos? meditámos o suficiente?
Penso que falta mais um travão, e agora virá de Bruxelas, porque só por nós não vamos lá.
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