quarta-feira, 28 de julho de 2010

de República em República


Incapaz de controlar a sua guerra intestina, a República Portuguesa (3ª Série) acabou por enveredar pelo inconcebível: festejar os seus cem anos, como sempre em profundo desentendimento consigo mesmo. A velha cicatriz, permanentemente a reabrir, da sua 2ª longuissima série. Até que as mais autorizadas e isentas vozes vieram dizer isso mesmo: a comemorada era apenas a 1ª Série. Os tais 16 anos de Ética e Democracia.
Nasceu mentirosa, a República Portuguesa, e mentirosa há-de morrer.
De João Paulo Freire (in O Livro de João Franco sobre oEl-Rei D. Carlos): «Os senhores desculpem mas eu sou um ignorantão chapado nestas coisas de política... Nunca percebi porque diabo a ditadura dum homem é um crime, e a ditadura dum partido o não é!
Em ditadura, e ditadura do pior, governou o sr. Afonso Costa. em ditadura temos nós vivido permanentemente, constantemente, sob o regime democrático. Ditadura fez o sr. Norton de Matos. Ditadura fez o sr. Coronel António Maria Baptista, cuja honorabilidade era tão grande como a sua igómínia de homem público. Ditadura e da mais vergonhosa e da mais afrontosa fez o sr. Liberato Pinto, antes de ser governo com o papão da Guarda Nacional Republicana, e quando governo com o papão da sua energia. Ditadura fez ainda o sr. Álvaro de Castro. De maneira que a gente é forçada a chegar a esta conclusão mirabolante: ditadura é todo aquele governo que não seja apoiado pelo partido democrático...».
Os nomes acima pertencem todos à 1ª Série da República Portuguesa. Dez milhões de euros não deverão chegar à 3ª Série para os fazer esquecer.

9 comentários:

O Faroleiro disse...

Caro amigo, diga assim, 1ª série, 3ª portaria, da triste aventura que foi a I república, o meu amigo foi logo buscar a "melhor parte" a dos últimos anos...

O meu amigo é tremendo !

João Afonso Machado disse...

Não meu caro, a 3ª Série quer festejar o quê, senão a 1ª. Alguém se atreve a comemorar a 2ª? Isso é, além do mais, politicamente incorrecto. Proibido.
A série eepecial de filatelia comemorativa só fala na 1ª e nos seus heróis. O resto parece que se chama Estado Novo (por contraposição ao Velho?) e nele vive sozinho um tal Salazar. Mais ninguém, a não ser o facto do assassinato de H. Delgado...

O Faroleiro disse...

Eu expliquei mal.

A I Série é a I República, os três blocos em que a divido são o afonsismo, o sidonismo, e a traulitada com a GNR no poder.

Você que é tremendo, lá foi buscar os exemplos dessa malfadada última fase da I república onde encontra nomeadamente a noite sangrenta e outros episódios quase tão grotescos.

Pela II república eu tenho um respeito especial; tal como no sidonismo, Salazar foi a solução necessária para tempos conturbados, respeito a figura e sempre gostei de a estudar, e quando a estudo mantenho-me sempre o mais isento possível em relação aos clichés, por isso me tornei num apaixonado pelo tema, não tanto pela pessoa mas pelo tema sim.

Compreender Salazar ajuda a compreender o mundo nos negros anos das duas guerras mundiais e o choque entre o tradicionalismo e o mundo industrializado.

H Delgado teria sido o corolário perfeito da II republica, foi uma pena, talvez H Delgado tivesse vindo a ser um logro, nunca o saberemos, mas perdeu-se a oportunidade de dar o salto do catolicismo totalitário de Salazar para o que poderia ter sido uma democracia, num tempo em que Portugal já se podia considerar uma nação, e esse mérito ao Salazar ninguém o tira.

Um abraço.

João Afonso Machado disse...

Percebi mal.
No mais, concordo com a sua realista visão dos acontecimentos ao longo das 3 séries (na minha nomenclatura). E gosto de quem alinha as suas ideias sem pensar no que está na moda ser pensado.
Mas, justamente, este livro de onde tirei a citação foca isso: foi escrito nos finais dos Anos 20 e faz a apologia de J. Franco, Sidónio e o Governo forte que já aí vinha (embora não fale ainda em Salazar). E depois critica os «afonsistas» nos termos que transcrevi - chamando-lhes ditadores também.

Noutra questão tenho acerteza que concordará comigo: se for aí visitar qualquer blog de cariz republicano (e a comemorar o centenário) verá que os temas são sempre o ataque à Monarquia (mas isso é normal) e o ataque à Ditadura - isto é, a evocação dos gloriosos tempos de Oposição de que Soares e Alegre serão dos poucos sobreviventes.
Isso significa que a República se comemora e se ataca a si própria em simultâneo: comemora 1910-26 e 1974-2010; ataca 1926-74. Continua a «guerra civil» portanto; Vantagem de 4 pontos (52-48) para os «encarnados».
Um boa dia para si.

O Faroleiro disse...

A "esquerda" Portuguesa é uma coisa fantástica, faz lembrar uma grande empresa onde todos se põe em bicos de pés para apanhar a promoção, se têm mérito ampliam, se não têm, inventam.

O PREC foi isso mesmo, uma invenção, quando ninguém esperava, Spinolas, Costa Gomes, Soares, Cunhais e quejandos; os capitães saem à rua; depois foi um ver-se-te-avias, todos os dias lá chegava um "estadista" no avião a reclamar para si a autoria moral do golpe e o seu passado de luta; antes desta gente parece que Portugal era o deserto e eles é que eram os messias.

Hoje isso ainda dura, quando ouço falar de Abril já me começo a rir !

Francisco RB disse...

Mais uma vez o amigo lembra a velha questão, qual das 3 repúblicas foi a melhor (ou a menos má)...

europeàsvezes disse...

Poderiamos considerar que houve uma república de 100 anos com um interregno de 48 anos.

Antes do intervalo (interregno) foi aquela bandalheira, e a seguir ao intervalo continuou aquela bandalheira.

Agora estamos à espera que venha outro intervalo ditado por Bruxelas.

João Afonso Machado disse...

Europeasvezes:
Eos 48 anos, o que foram?
Uma monarquia, não, de certeza.

europeuàsvezes disse...

João Afonso Machado,

Eu não lhe chamei monarquia aquele interregno.

Ao chamar interregno quis apenas chamar "intervalo".

Foi um parar para pensar(mos), meditar(mos).

E será que pensámos? meditámos o suficiente?

Penso que falta mais um travão, e agora virá de Bruxelas, porque só por nós não vamos lá.