É pena que o caríssimo Luís Naves não tenha notado que, para além de comentários irados, que vieram de ambos os lados em contenda (veja-se o post do caríssimo João Tordo, um primado de equívocos que genericamente preside a quem fala daquilo que desconhece e não se dá ao trabalho de se informar, como é claramente o caso, desculpe-me lá caro João - creio que será a este tipo de coisas que o Luís se refere quando fala de emoções básicas, ou estarei enganado?), também tal debate originou textos interessantíssimos e de uma rara qualidade na blogosfera lusa.
Da minha parte, continuando à espera de uma resposta por parte do Tiago Moreira Ramalho, prefiro notar que a Monarquia tem sim interesse histórico, como o Luís Naves refere, mas a História não é algo que trate apenas do passado, é que não se pode projectar o futuro sem conhecer o passado caro Luís. E como tal, aqui deixo algo escrito ontem à noite para outro âmbito:
(...) na busca da “verdade”, se é que existe tal, a academia tem um papel fundamental a desempenhar. A imparcialidade na análise histórica, se é impossível, tem que ser pelo menos um objectivo para o qual tendamos. Se em Ciências Sociais um dos primeiros ensinamentos é o da inexistência da neutralidade, pelo menos no que à História concerne há que clarificar devidamente o passado para poder projectar o futuro.
Essa mesma falta de imparcialidade e de clarificação do passado recente português, em conjunto com a politização exagerada operada em determinadas disciplinas académicas, agravada pela demagogia, desinformação e desinteresse individual pelo cultivo do saber, tem ferido de morte o nível educacional de uma nação que desde a Revolução Liberal de 1820 não vive em paz consigo própria. As constantes dualidades e incoerências que já se tornaram características da psique lusitana, onde não faltam comunistas a defender ideais demo-liberais com os quais a prática do comunismo é incompatível, democratas do pensamento único que fazem lembrar a personagem do Fidalgo em o Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, conservadores católicos que fazem lembrar a personagem do Frade dessa mesma obra, e, a mais irónica das incoerências, os republicanos laicos que não dispensam as regulares idas à Igreja, são precisamente sintomas de uma sociedade que prefere a propaganda demagógica à coerência e argumentação justificada.
Os tempos passam, os conceitos evoluem, mas a confusão permanece generalizada. Quando os fantasmas da direita e os complexos da esquerda politicamente correcta extravasam o circunscrito campo do jogo político-social e chegam até à academia, resta a tentativa de através dessa esclarecer devidamente os objectos de estudo, almejando prosseguir o mui republicano ideal da educação do povo, que, no que à disciplina da História diz respeito, significa, pelo menos, retirar ilações dos erros do passado para evitar cometê-los no futuro.
Porque invocando Jacques Le Goff e Aimé Césaire, é na memória que cresce a história. E um povo sem memória é um povo sem futuro.
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