domingo, 14 de setembro de 2008

A I Republica e o crime organizado

É ambígua a relação da República com o submundo do crime. Os marginais aproveitam as constantes crises de autoridade para expandir actividades. Muitos integram as tropas de choque dos partidos. A GNR afirma-se mais como guarda pretoriana do regime (ou até força de intervenção política) do que como dissuasora da criminalidade (que para o fim da década atinge proporções nunca vistas).


A GNR ,antiga guarda municipal da Monarquia, afirma-se mais como guarda pretoriana do regime, do que como dissuasora da criminalidade Um dos seus comandantes, Liberato Pinto, chega mesmo a primeiro-ministro, em Novembro de 1920.

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Durante a I Republica, crescem à margem da lei as casas de jogo ou tavolagem, às quais as autoridades fecham os olhos. «Em frente do Coliseu, o Clube dos Patos, com jogatina e mulheres», testemunha Raul Brandão. «Toda a noite se joga. Automóveis à porta. Vai-se para lá de casaca. Um amador de estatística afirma que as casas de tavolagem, em Lisboa, são quarenta e quatro.» Uma actividade tão conspícua leva André Brun a falar dela pela boca de uma personagem de A Maluquinha de Arroios: «O tal meu amigo explicou-me que, devido ao notável incremento que vem tomando a indústria batotífera, precisava fazer uma chamada de capitais. Eu aceitei. É capital garantido. Aquilo vem a ser o mesmo que uma pessoa ter inscrições de quatrocentos e meio por cento.»

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Nomeiam-se comissões para erradicar o mal das grandes cidades e Sidónio chega a proibir o jogo em Lisboa e Porto. Mas poderosos interesses movem-se nos bastidores para que tudo fique na mesma. Calcula-se que em 1918 estejam empregadas nos casinos de Lisboa quatro mil pessoas, podendo a clientela chegar às 30 mil pessoas (um quinto da população activa da cidade). Com os casinos cresce a vida nocturna na capital, através de uma dúzia de night-clubs, novidade surgida também durante a guerra.

Em 1920, após uma campanha de O Século, encerram diversos casinos lisboetas. Mas as forças ocultas têm outros planos, revelados pelo porteiro de um desses estabelecimentos, citado por Brun em crónica escrita nesse ano: «As batotas estão fechadas por uns dias. Tanto que vai haver três revoluções por causa disso.»

Ricardo Silva

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