«As teses da biografia íntima do pensador
sublimam as posições da sua biografia exterior»
Orlando Vitorino*
Até falecer, em 1915, José Pereira de Sampaio (Bruno) manteve-se interessado pela sorte da República. A sua independência indomável não lhe permitira manter-se ligado ao Partido Republicano, mas nem por isso abandonara um republicanismo militante. Não era apenas “republicano”: era “um republicano”. A República cruzara-se com o seu pensamento e encontrara aí um lugar acolhedor.
De 1902 em diante, porém, Sampaio Bruno afastara-se do Partido Republicano Português. Quando a Monarquia caiu, em 1910, ele era um homem «acima dos partidos», um republicano sem clube, um pensador livre cuja opinião punha em respeito os homens do novo regime.
Bruno estivera ligado à formação do Centro Eleitoral Democrático do Porto, com Alexandre Braga e Rodrigues de Freitas (este foi, em 1878, o primeiro deputado republicano eleito em Portugal). E, apesar de ter colaborado com Teófilo Braga, Magalhães Lima, Latino Coelho e Alves da Veiga na defesa da «federação ibérica», como meio de contrariar o «colonialismo britânico», rejeitou publicamente, logo desde 1876, a via revolucionária, advogando a luta legal e o reformismo político. É deste republicanismo cívico que Sampaio Bruno se reclama, e que marca as políticas editoriais dos jornais republicanos que fundou, dirigiu ou influenciou.
Bruno vinha da intentona republicana do Porto de 31 de Janeiro de 1891, que era ainda eco das «campanhas patrióticas» contra o Ultimatum inglês de 1890. Foi Bruno quem redigiu o manifesto da revolução. O fracasso das armas republicanas levou o filósofo a um duro exílio em Paris, onde se manteve em estreito convívio político com dois outros conspiradores exilados, Alves da Veiga e João Chagas. São, todos três, «republicanos de sempre» e «republicanos independentes» – isto é, não se confundem com os «aderentes» que, sentindo no ar «o cheiro da revolução», virão a colar-se ansiosamente a um «projecto» cuja vitória se adivinha; e tampouco se confundem com aqueles que, nada tendo para oferecer a não ser a obediência, se submetem às directivas «do Partido».
O impiedoso olhar crítico de Sampaio Bruno sobre a República não resulta, pois (como noutros sucedeu a partir do 5 de Outubro), de «desilusão» ou «desistência» perante o avanço ou o recuo desta ou daquela facção de um regime que mergulha na crise. Bruno não conhece facções: conhece homens. E tanto assim é que, em 1911, tentará ainda, com Basílio Teles e Machado Santos (também eles republicanos «na franja» do regime), dar alento à «Aliança Nacional», uma plataforma destinada a promover «uma república ampla e aberta a todos os portugueses com cérebro e coração de portugueses». Sem resultado.Escrito por Jorge Morais
Fonte : Revista Leonardo
http://www.leonardo.com.pt/revista1/index.php?option=com_content&task=view&id=60&Itemid=116
6 comentários:
Quem mais provas do Iberismo republicano ?
O que tem a ver isto tudo com o "iberismo republicano"? Efim.
"Bruno não conhece facções: conhece homens. E tanto assim é que, em 1911, tentará ainda, com Basílio Teles e Machado Santos (também eles republicanos «na franja» do regime)"
Pois, Basilio Teles, esse "grande republicano" era o tal que queria uma "ditadura temporária" após a implantação da república.
E Macahdo Santos, heroi da República mas que pelos vistos também apreciava os métodos de Basilio Teles, visto que durante muito tempo apoiou o governo de Sidónio Pais incondicionalmente.
Já estou a ver onde vós monarquicos querem chegar ao elogiar figuras desta "eloquência"!
Space estás a enterrar-te :)
Ai eu é que me estou a enterrar? Vê-se
Então não havia Iberismo republicano ? LOL
Já li muitos livros sobre a 1ª Republica e nunca houvi falar de uma faceta iberista defendida algum republicano da época.
Até queria ver as provas que têm de como isso é verdade.
Enviar um comentário